A Lenda Dos Encantrios escrita por Any Queen


Capítulo 8
Disparidades




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Dessa vez ela não sumiu, eu queria levantar ou dizer algo, mas Brian estava logo atrás de mim, ele acordaria com qualquer movimento brusco meu. A respiração dele já estava regular, mas fazia pouco tempo que ele havia deitado, não queria acordá-lo ele parecia cansado quando veio aqui.

                Acho que a mulher fantasma leu a minha mente, tudo no quarto começou a sumir e de repente estávamos no que parecia ser uma sala totalmente preta, não tinha visão para nada aos lados, mas eu e a fantasma emitíamos uma luz própria. Ela chegou mais perto de mim.

                - Quanto tempo! – ela suspirou.

                - Quem é você? – perguntei vagarosamente, eu estava mesmo falando com um fantasma?

                - Eu não sou um fantasma, se é o que está pensando. – ela deu a volta em mim me examinado de cima a baixo – Sou uma alma perdida, espírito que vagueia por essa terra sem poder descansar, porque ainda temos um destino a ser cumprido.

                - Mesmo depois de mortos? – perguntei surpresa.

                - O destino...

                - É tudo, eu sei, eu sei. – disse preguiçosamente.

                - Ele não pode ser interrompido nem pela morte, tudo tem que ser cumprido. – ela sorriu de repente – Quando a vi pela última vez você era tão pequenina, sua mãe sempre soube que seria linda – eu abri a boca, mas ela me cortou – não querida, não a mulher que criou você, a sua mãe de verdade.

                - Maia é a minha mãe de verdade! – protestei.

                - Eu sei que a Senhora Maia te criou, mas Kassie, você nunca percebeu o quão você é diferente de sua família?

                - Não gosto de pensar assim. – falei rápido – Não gosto de falar sobre isso, ainda mais com estranhos.

                - Eu sei Kassie, mas veja bem quando eu falo do meu destino eu falo de você. – ela percebeu minha expressão confusa – O Destino sabia que você voltaria para casa sem respostas e sem saber o que fazer, eu estou aqui para isso, sou as respostas para a maioria de suas perguntas.

                - Maioria? – indignei – Agora eu tenho uma alma penada como guardiã?

                - Alma perdida. – corrigiu ela – Eu morei aqui – ela disse depois de uma pausa – fui a mãe da criança da boneca, quer saber o que aconteceu? – assenti – As sombras atacaram, querendo nossos poderes, eu sobrevivi, meu marido e minha filha... – ela secou uma lagrima que caia em sua bochecha.

                - E por que eu tenho a sensação que te conheço?

                - Porque nós, almas, assumimos a forma das pessoas que mais nos amaram na vida.

                - E quem é essa mulher?

                - Sua mãe, é claro, eu não posso mentir Kassie, e nem posso assumir a forma que eu quero. – ela passou a mão na minha bochecha – Eu sei que é tudo confuso, você cresceu em outro mundo e de repente o peso de sua linhagem cai sobre você.

                - Eu não pedi nada disso. – me abracei.

                - Eu sei, você é mais forte do que pensa, é mais poderosa que qualquer feiticeiro que tenha sobrado nesse lugar. – os olhos dela eram cheios de ternura, mesmo dizendo algo que me fez estremecer até a espinha – Seus pais não deixaram você, eles jamais deixariam, mas em tempos de guerra temos que preservar nossas únicas esperanças.

                - Guerra?

                - Sempre há guerra, mas agora acorde querida. – ela sorriu carinhosamente – Você tem coisas importantes a fazer hoje.

                - Quando eu a vejo novamente? – apressei-me.

                - É só tocar no broche que você achou e eu aparecerei no mesmo instante. – ela me abraçou e eu senti seu abraço, aquela ternura inconfundível que toda mãe tem. – Boa sorte. – ela beijou minha testa e sumiu como fumaça.

                Eu abri os olhos no mesmo momento. Estava de volta ao quarto da casa abandonada, estreitei meu olhar e vi Brian me encarando. A luz da manha entrava abundante pela janela, o que fez meus olhos doerem no mesmo instante, pisquei e voltei a encarar Brian. Ele ainda estava sem camisa o que não foi bom para mim, seu cabelo parecia um ninho de passarinho, mas ele ficava lindo daquele jeito, seus olhos ainda estavam sonolentos e ele estava apoiado pelo braço, com a outra mão segurando a minha.

                Virei de modo a ficar de frente para ele, vê-lo do meu lado de manhã me fez estremecer, era tão reconfortante, não como quando dormimos no quarto de nossos pais, mas algo tão bom que te faz sorrir inconscientemente.

                - Por que está me encarando? – ele colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.

                - Bom dia, - ele sorriu, tinha que parar de sentir um friozinho na barriga toda vez que ele sorria. – você faz careta enquanto dorme.

                - E por que você estava me encarando por isso? – escondi meu rosto com as minhas mãos, não tinha percebido que estava na beirada da cama, cheguei mais para o centro da cama pousando a cabeça no canto do seu braço, sentindo o cheiro dele, rosas misturadas com limão.

                - Porque é a coisa mais fofa que eu já vi. – ele riu e tirou a mão do meu rosto e as beijou.

                - Temos que ir. – eu não queria sair dali, queria passar o dia todo assim, conversando com ele perguntando como foi a sua vida e passando a mão em cada centímetro do seu cabelo – Estamos perdendo tempo.

                - Ninguém veio chamá-la ainda. – ele beijou minha testa e se sentou – por mais que eu não quisesse sair da cama e desapontar você com a minha saída, é melhor eu descer antes que acordem.

                - Tudo bem. – levantei e soltei o meu cabelo do que um dia foi um rabo de cavalo.

                - Você fica linda de cabelo solto – ele riu e chegou mais perto de mim, eu nunca havia percebido que era mais baixa que ele, minha testa batia no seu queixo – vou descer, mas te vejo assim que se ajeitar. – ele pegou minha cabeça e levou até ficar bem perto da sua.

                - Amigos esperando no que vai dar. – lembrei o.

                - Isso não impede que eu realize o seu sonho, que é o sonho de todo mundo. – ele sorriu e me deu um selinho. – Mas entendo que você acha que não é certo enquanto não nos decidimos.

                - Pode acrescentar ler mente na sua lista de qualidades incríveis. – beijei sua bochecha e foi encontrar minha mochila.

                - Já está lá, perto de totalmente irresistível e logo abaixo de o mais gato do mundo. – ele abriu a porta e olhou no corredor. – Não tem ninguém, eu vou me arrumar e acordá-los, mas se quiser fazer isso...

                - Assim que eu pegar minhas coisas. – ele me deu uma piscada e saiu do quarto.

                Fiquei passando nossas conversas na cabeça varias vezes, será que eu iria voltar a acordar com Brian do meu lado? Eu esperava inconscientemente que sim, e fosse muitas vezes. Afastei esses pensamentos por algum tempo e voltei-me para a minha mochila.

                Ela já estava suja e eu só estava nesse lugar há três dias, quando eu abri vi que tinha roupas novas e um bilhete, peguei o papel e li:

                “Bom dia Kassie, espero que ainda esteja viva depois dos dragões, eu fiz questão de comprar roupas para todos vocês e espero ter acertado, assim que se juntarem novamente uma mesa de café da manha aparecerá. Quando chegar a Villa Quantieres procure meu amigo, Harlem, pode confiar nele e cuidado com a Morte, ela pode ser um pouco violenta. – Roterford.”

                Ele era doido, mas certamente a melhor pessoa que eu já conheci. Peguei as roupas cuidadosamente dobradas e estiquei. Era um vestido em algum tom de verde, longo, da cintura para baixo ele tinha babados que iam até o chão, e, amarrada na altura da cintura, havia uma faixa rosa. Ele não tinha acertado, vestido? Eu não gostava de usar vestidos, nunca me senti bem. Joguei o vestido na cama e um bilhete surgiu em cima do vestido. Peguei e li:

                “Acho que você não gosta muito de vestidos, mas a Villa Quantieres é nobre, só se entra com trajes de gala, não me culpe.”

                - E como eu vou montar em um dragão, o que eu não sei, de vestido? – perguntei para o nada.

                Relutante, peguei o vestido e coloquei, coube perfeitamente. Olhei no espelho quebrado no canto do quarto. Eu não me achava linda havia muito tempo, mas esse vestido ficou deslumbrante, com caimentos perfeitos e um decote não muito exagerado. Ele realçava a cor do meu cabelo e era tão confortável quanto o possível. Peguei a capa e coloquei mesmo assim, ainda estava frio e eu não queria deixar meu ombro de fora. Continuei com as botas, que eu realmente tinha amado, e fui chamar os outros.

                                               ***

                Dez minutos depois estávamos todos do lado de fora da casa, Brian disse que era mais ou menos oito da manha, uma mesa surgiu a nossa frente e eu expliquei que era de Roterford. Todos se sentaram e comemos felizes, as frutas de ontem podiam ter matado a fome, mas ainda sim eu estava faminta, comi tudo o que tinha direito, quando seria que nós íamos comer novamente.

                Todos estavam trajando roupa de gala. Frank estava usando um sobretudo bem luxuoso com calça de pano, Liam estava usando um terno bege que combinava muito com ele e Brian um terno casual preto, seus cabelos estavam brilhando com o sol, estava lindo, como sempre. Durante todo o café fiquei alternando o meu olhar para ele e Frank, tentando resolver a minha situação.

                As meninas estavam igualmente belas, até mesmo Mindy, ela usava um vestido azul, que fazia seu cabelo ser mais vivo do que era, e realçava bem seus olhos verdes, atrás e alguns detalhes na frente, era um bordado mais claro, era fino e o tecido parecia ser de ceda, na sua cintura tinha um cinto cintilante, era esvoaçante e tinha uma manga bem curta, ela tinha prendido o cabelo em um coque que certamente eu nunca teria feito igual. Lily usava um vestido vermelho bem forte, com babados e pregas até o pé, seus cabelos negros caiam em seu ombro direito em cachos.

                Quando levantamos para ir embora a mesa sumiu e ficamos nos encarando, todos fazendo a mesma pergunta: E agora?

                - Alguém sabe como tirar os dragões do colar? – Lily perguntou.

                - Dracon... – comecei.

                “Fale ‘saia’, sinceramente garota, seus pais não te ensinaram nada?”

                - Fique quieto Dracon, saia! – o colar se desfez do meu pescoço da mesma forma que apareceu, Dracon cresceu, era ainda mais assustador do que eu me lembrava.

                Os outros fizeram o mesmo, meio indecisos, mas o resultado foi a coisa mais incrível que eu já tinha visto na vida, existia criaturas mais deslumbrantes que aquelas que se encontravam a minha frente? Um por um, os o seis dragões se alinharam deslumbrantemente. Mindy acariciou o grande dragão azul, os olhos eram verdes e suas asas apareciam barbatanas, seria lógico se aquele animal pudesse nadar tão facilmente quanto um peixe. O passarinho de Lily, que se transformara em um dragão, era pequeno e parecia indefeso, mas seu olhar era intrigante e intimidador, era de diferentes tons de verde e suas escamas pareciam mais pequenas folhas.

                O de Frank era assustador, era de algum tom de azul muito escuro, as asas eram circundadas por raios que iam e vinham sem fazê-lo mal, seus olhos não tinham pupila nem íris, eram totalmente negros, ele tinha uma cara de: “Se continuar me olhando vou te matar”.  Desviei o olhar para Brian, ele também me olhava, quando nossos olhares se encontraram ele sorriu e eu retribui, o dragão que estava perto dele era de todas as cores de um chama, vermelho, laranja e amarelo, e todos os tons entre eles, tinham olhos azuis idênticos aos de Brian, chamas flamejavam nas pontas das asas e na sua respiração saia fumaça. Por último, Liam, cujo dragão era bem baixinho, tinha jeito de um grande furão ou algo do tipo, olhos castanhos e era todo marrom, como casca de árvore, cada vez que se movia terra caia no chão, ele não possuía asas.

                “Agora o que vamos fazer?”

                Os dragões voltaram a falar na minha cabeça, essa voz emanou do dragão de Mindy.

                - Mindy qual é o nome do seu dragão? – perguntei não desviando o olhar da criatura.

                - Ela se chama Aqua, por que o interesse no MEU dragão? – ele levantou a voz.

                - Nós vamos para Villa Quantieres, sabe onde fica? – me dirigi ao dragão.

                “Todos sabes, senhorita, você me entende?”

                - Sim, - me virei para que pudesse ver todos – Poderiam nos ensinar a voar em vocês?

                “Claro” – disse, eu acho, o dragão do Liam, que eu não fazia ideia como sabia o nome dele, Roque.

                “Ainda mais para uma garota linda.” – Dragão do Brian, Fire.

                Ruborizei com o elogio, olhei para os humanos, que não entendiam nada, mas não fizeram perguntas.

                - Pode nos incluir no assunto? – Frank sorriu e chegou bem perto de mim. – Pode entende-los não é? – não tinha soado como uma pergunta, eu só assenti.

                “Vocês sabem com fazer” – Disse mentalmente o dragão da Lily, Butterfly.

                “Eu acho que não, Butterfly, pelo visto não sabem de nada” – Indagou Dracon.

                “Dê um tempo para eles, Dracon, são jovens e não sabem a história que os circunda.” – Explicou Fire.

                “São burros, em minha opinião, fadados ao fracasso.”

                “Deposite sua confiança no que o destino apostou, e os ajude, meu velho amigo, não estamos falando do futuro de todos, e isso inclui seu ego.” – disse Aqua.

                - Chega de conversas que eu não entendo, vamos, não temos tempo. – eles se calaram e se abaixaram, eu não sabia com iria montar de vestido, mas tentei.

                Frank chegou perto de mim e segurou na minha cintura me dando impulso, Dracon era maior que todos, ao contrario de todos os outros, que se encaixavam perfeitamente em cada um de seus donos, Dracon parecia completamente desproporcional para mim, foi mais difícil, mas no fim eu consegui, ainda meio desajeitada e tremendo, não estava frio, mas eu não parava se sentir arrepios.

                Os outros montaram com muito mais facilidade, era realmente um extinto.

                - Vamos Fire, nos leve até essa Villa. – gritou Brian e seu dragão tomou impulso.

                Nós seguimos logo atrás, Dracon deu uma guinada que eu quase cai, não sabia onde me segurar, me agarrei no seu pescoço enquanto ele ganhava altitude. Liam estava logo abaixo de nós, correndo na terra, tão rápido quanto. Quando tive coragem de levantar, perdi o fôlego, estávamos muito alto, o vento soprava muito forte, mas eu não me importei, era uma sensação incrível. Pássaros passaram ao nosso lado, todos estavam tão confortáveis que era de se estranhar.

                - Uau! – deixei escapar. – Incrível!

                “Você não viu nada ainda”

                Com essa declaração, Dracon passou por entre as nuvens e mergulhou para baixo, chegando bem perto do lago que estava abaixo de nós, peixes voadores passavam perto de mim, eu podia ver varias espécies diferentes de animais marinhos abaixo. Dracon deu outra guinada e subiu novamente, virando para passar entre alguns pedregulhos, pareciam mais monumentos para mim. Soltei o pescoço de Dracon deixando meus braços abertos, possibilitando que todo meu corpo sentisse o ar a minha volta, meus cabelos dançavam, em uma dança frenética, era bom a ponto de nunca querer parar.

                Não percebi quando o caminho tinha acabado, só quando Dracon pousou com uma graça incrível no chão, ele abaixou e eu saltei, logo em seguida ele voltou a ser um colar, sem dar nenhuma declaração, agradeci por isso.

                Estava em frente a entrada da Villa quando os outros chegaram perto de mim. Se a Villa Daque era bonita, a Villa Quantieres era deslumbrante, era muito maior que a outra, e não era simples ou azul, só tinha casas lindas e grandes, em varias cores, as ruas eram de pedra e tinham postes em cada esquina, só passava pessoas usando roupa de gala, em carruagens ou a pé. Perguntei-me onde estaria o olho da morte ali.

                - Queira me acompanhar, senhorita. – Frank pegou meu braço, como se fazia nos filmes e me guiou para dentro da Villa.

                - Temos que nos passar como gente dessa época, temos que ser normais. – falei baixinho.

                - Acho que será impossível, se você contar que nada disso é normal. – nós rimos juntos.

                Perguntamos a primeira pessoa que vimos onde morava Harlem, ela disse que ele morava em uma propriedade rosa na Rua Lines Arque, numero 210, demoramos um pouco até encontrar, tentamos não chamar atenção, mas a impressão era que todos nos olhavam. Quando achamos batemos na porta e o Mago apareceu bem do nosso lado, sem nem abrir a porta, dei um pulo de susto, mas logo me recompus.

                - Atrasados! – ele gritou, sua voz era fina, mas era de se entender, já que falávamos com um anão, ele batia na altura da minha cocha, tinha cabelo grisalho e usava uma calça com suspensório e uma camisa branca, parecia muito irritado. – Eu cancelo todos os meus compromissos do dia por vocês, mas os senhores não têm que se importar, não é mesmo? São poderosos o bastante para chegarem a hora que quiserem.

                - Desculpe senhor, mas não sabíamos que tinha horário. – explicou Lily, ela esboçou um sorriso para tentar ser educada.

                - Jovens irresponsáveis! – ele bufou – Mas não vamos gastar mais tempo, vamos ao interesse, quem de vocês vai ver a Morte?

                - Acho que ninguém aqui pretende morrer hoje – falou Brian.

                - Mais respeito, Jason! – ele apontou o dedo fino para Brian.

                - Meu nome não é Jason, é Bri...

                - É Jason sim, seus pais escolheram esse e pronto, não gosto desse nome, Brian – cuspiu – Achei que Lennon escolheria melhor.

                - Como conhece meu pai?

                - Eras atrás, enfim, a garota ai vai ter que ir – ele apontou para Lily.

                - Ela não vai a lugar nenhum. – Liam se pronunciou.

                - Então vocês também não. – Harlem cruzou os braços, irritado.

                - O que tenho que fazer? – Lily chegou mais perto do Mago – Morrer?

                - Oh não, a Morte é brava, meio irritante, mas ela não vai matá-la, nenhum animal pode machucá-la querida, a Morte também não.

                - A Morte é um animal? – perguntou Mindy surpresa.

                - Um dragão na verdade, cheio de olhos, olhos por toda parte, só precisam pegar um. – ele olhou profundamente nos olhos de Lily – agora vá, não temos tempo. – ele deu uma risadinha e sumiu.

                - Louco! – gritou Frank, as pessoas que passavam na rua fizeram caretas para ele.

                - Você não vai Lily! – Liam pegou a mão da namorada.

                - Vou, ele me mostrou onde fica, ela não pode me matar, - ela sorriu enquanto Butterfly crescia – e, além do mais, é a minha vez de ser salvadora da pátria.

                Ela montou e voou antes que alguém pudesse impedi-la, ficamos nos encarando até Mindy puxar Brian em direção as ruas.

                - Não vou ficar parada aqui, vamos Jason. – ela puxou Brian.

                - É Brian! – irritou-se.

                - Fica lindo do mesmo jeito! – então eles sumiram.

                Liam sentou em uma pedra olhando para o céu, com certeza com medo de que algo acontecesse a Lily, eu também estava, ela poderia ser forte, mas sem treinamento algum, enfrentar um bicho assim? Não sei como Liam não estava tendo um ataque do coração.

                - Quer passear? – Frank perguntou gentilmente.

                - Não, obrigada, vou ficar com Liam. – me sentei ao lado dele.

                - Tudo bem, volto já. – com isso ele sumiu entre as ruas.

                Liam e eu ficamos rindo por um tempo tentando distrair a cabeça enquanto o tempo passava, falando sobre livros que lemos, mas a alegria não durava muito, só até lembrarmos o que estava acontecendo.

                                               ***

                 Depois de algumas horas minha barriga já estava roncando, cheiro de almoço pairava no ar, o que só dificultava a minha situação. Brian e Mindy apareceram e depois Frank, tivemos que segurar Liam varias vezes quando ele tentava invadir a casa do mago. Depois foi minha vez de sair.

                Andei por varias ruas sem sentido tentando distrair a cabeça, meus pensamentos voaram tanto que não percebi quando trombei com alguém. Acabei caindo no chão, mas o garoto foi educado e esticou a mão rindo. Ele não estava usando roupa de gala, ao contrario, usava uma calça marrom comum, uma blusa de alça larga, ele sorriu quando eu fiquei em pé.

                - Desculpa, eu não queria estar tão avoada. – ele riu com a palavra, o garoto era lindo, tinha olhos azuis e seu cabelo era castanho claro, algumas mexas claras caiam nos seus olhos.

                - Henry, prazer. – ele fez uma reverência, eu fiz uma careta até perceber onde eu estava, isso deveria ser comum aqui.

                - Kassie. – ele me encarou e depois riu.

                - O que uma senhorita tão linda faz nesse lugar?

                Eu não tinha percebido onde estava, deveria estar em algum lugar de desembarque de comida, porque homens passavam caixa de um lado para outro, aquele lugar não era deslumbrante, ficava atrás de uma casa grande que não era muito visível.

                - Eu me perdi. – olhei em volta, eu não sabia como voltar a casa do Mago.

                - Quer uma ajuda? – ele se sentou em um amontoado de caixa e pegou uma maça, eu não queria ter encarado aquela fruta, mas eu estava com muita fome. – Pegue. – ele pegou uma maça e me jogou.

                - Obrigada, você sabe onde fica a Rua Lines Arque?

                - Sei, - ele se virou para um cara loiro mais velho que estava carregando algumas caixas. – Kyle, eu vou levar a senhorita para a Rua Lines, volto já.

                Ele se levantou e colocou a mão nas minhas costas e me guiou para uma rua, que começava a ficar do mesmo modo do resto da Villa.

                - Você mora aqui? – ele riu, mas quando percebeu que eu não estava brincando respondeu.

                - Não, não tenho condições de morar aqui, eu só entrego cargas aqui de vez em quando. – ele me encarou – não me lembro de tê-la visto por aqui.

                - Não moro aqui, - disse rapidamente – onde você mora?

                - Na Cidade do Fogo, a maioria lá é trabalhadores, somos a mão-de-obra desses riquinhos mimados.

                - Deve ser terrível – declarei – mas por que você não simplesmente não se muda para cá?

                - Há, eles nunca deixariam, o Conselho dos Magos nunca deixariam, - enfatizou – mas não que eu me importe, gosto da Cidade do Fogo.

                Passamos por crianças brincando, logo depois eu já avistava a casa do Harlem, me virei para agradecer o Henry.

                - Muito obrigada, Henry, se não fosse você estaria perdida. – sorri, ele ajoelhou e pegou minha mão, era estranho tanta educação, ele a beijou e se afastou.

                - Quando for a Cidade do Fogo, não deixe de me visitar.

                - Não vou. – ele sorriu e sumiu.

                Andei até a casa, Liam, Frank e Brian estavam sentados com um mapa entre eles,  Mindy estava encostada numa árvore lixando as unhas. Frank e Brian me encaravam quando eu chegava mais perto. E nada da Lily.

                - Quem era aquele idiota? – perguntou Frank.

                - Pela primeira vez concordo com esse idiota aqui. – Brian apontou para Frank.

                - Ele não era um idiota, se chama Henry, e ele me ajudou a encontrar o caminho de volta.

                - Era lindo, abalando corações em Kassie. – Mindy riu e chegou perto olhando para o céu. – Eu estou começando a ficar preocupada...

                - E eu? – Liam levantou – Posso invadir a casa dele agora?

                - Espere, - falei – talvez eu possa falar com Butterfly.

                - Quem? – perguntou Brian.

                - O dragão dela. – declarei, tentei me concentrar o máximo. – Butterfly, onde vocês estão? Estão bem?

                Não demorou muito para a resposta:

                “Não! Nós nos distraímos por um tempo, a Lily caiu num buraco e está desacordada, não consigo alcançá-la”

                - Onde vocês estão? – perguntei desesperada – Onde Butterfly?

                “Liam, mande ele ver, eu não sei onde estamos, foi Lily que me guiou, eu não sei.”

                - Tudo bem, já falo com você. – olhei desesperadamente para Liam, que estava a ponto de ter um treco, eu peguei o mapa do chão e o entreguei. – Ela caiu num buraco e está desacordada, Butterfly não sabe onde elas estão, ela disse que você pode ver.

                - Ah Lily, ela está machucada? – perguntou tentando segurar as Lagrimas, eu neguei com a cabeça e ele olhou no mapa – eu não sei como posso saber.

                - Terra Liam, - todos olharam para Mindy – Ah, não me digam que vocês não perceberam que todos temos um tipo de elemento? – ela simulou aspas com as mãos – Liam é terra, ele pode ver onde ela está se Lily está na terra.

                - Nossa Mindy! –falou Frank surpreso – Não é uma má ideia, é muito boa.

                - Eu sei, fui eu que pensei. – ela sorriu feliz com a ideia.

                - O problema é como, como eu vou “ver”?

                - Tenta sentir, - declarei – eu não sei como, mas eu posso sentir as coisas ao meu redor, os movimentos, as respirações, não é uma coisa que eu quero, não tenho como deixar de sentir.Só se concentra nela.

                Ele me olhou surpreso, mas colocou as mãos no chão e sorriu.

                - É, da para sentir os passos de todos, até animais. – ele fechou os olhos e sorriu mais uma vez. – Incrível!

                - Agora a Lily, Liam. – lembrou Brian.

                Ele se concentrou mais, só que dessa vez ele não sorriu, fez uma careta e levantou irritado.

                - Posso senti-la, mas ela não está fazendo muito movimento, só a respiração, consigo senti-la, mas é muito pouco, quase imperceptível.

                - E Butterfly? – perguntou Frank – Ela é bem grande, pode senti-la?

                - Não conheço Butterfly para me concentrar nela. – ele bufou irritado.

                - Kassie... – disse Mindy, com uma gentileza que eu estranhei – se ela está respirando, você não pode sentir?

                - Não sei se consigo, ela está muito longe. – abaixei a cabeça – Não consigo escolher o que eu sinto ou não. 

                - Não podem trabalhar juntos? – perguntou Brian colocando a mão no meu ombro – Você e Liam. Kassie você fez coisas incríveis ontem, você pode fazer isso. Pensa na sua amiga.

                Olhei para aquele mar de intensidade que chamavam de olhos, aquilo nunca seriam somente olhos para mim, seriam um porto seguro e eu sabia disso. O toque dele no meu ombro era aconchegante e quente, talvez até mais quente do que o normal. Afastei-me dele e cheguei perto de Liam:

                - Por ela. – ele sorriu e pegou a minha mão.

                Tentei pensar na Lily. A amiga que eu tinha conhecido aos sete anos, quando me mudei para aquela cidade estranha, a menina que me julgava quando eu era fraca, que me ajudava quando eu queria comprar um livro sobre ficção e meus pais não deixavam ler esse tipo de coisa. Tentei lembrar-me do cheiro do perfume dela que era tão comum quanto o meu próprio. Quando abri os olhos uma brisa estranha passou por mim. Eu já sabia em que direção ir.

                - Sentiu? – Liam me perguntou feliz.

                - Sim. – olhei para o restou do grupo – Por aqui. – e corri na direção que eu sabia que era a certa.

                                               ***

                Butterfly estava com a cabeça estava dentro de um buraco, mas levantou assim que chegamos. Os olhos do dragão estavam cheios de preocupação, me peguei pensando se um dia veria aquela expressão no rosto de Dracon, tentei dissipar o pensamento.

                Lily estava em um buraco irregular a metros de onde estávamos, demoramos horas para consegui tirar ela do buraco com cuidado, ela ainda estava desacordada, mas já estava escuro, algo me dizia que devíamos sair de lá no mesmo instante.

                Quando ela foi repousada no chão algo passou por cima de nós, derrubando todos. Levantei-me correndo a tempo de ver as criaturas que nos circundavam. Eram sombras, como os dementadores de Harry Potter, não era uma comparação muito boa, mas era como se encontravam, talvez por serem muito mais pretos, só via os olhos brilhantes dos bichos, eram cerca de seis Sombras.

                Elas vieram para cima de nós, todos ao mesmo tempo,  meu reflexo me fez abaixar e levantar o antebraço com o símbolo. O que ajudou, algo invisível, com um parede, se fez entre mim e a sombra. A única coisa que pensei foi em proteger a Lily, se eu tinha um modo de me proteger, tinha que ajudá-la de algum modo. Coloquei-me entre a sombra e a Lily impedindo os ataques daquele monstro, mas cada ataque era como um soco forte no estomago. Meu coração estava a acelerado e eu não sabia o que fazer, não sabia o que os outros estavam fazendo, só ouvia gritos por todas as partes, eram tantos que eu duvidava que eram apenas dos outros que estavam tentando se salvar.

                A sombra que estava nos atacando desistiu e me deu tempo para olhar e ver se Lily estava bem. Mas um grito cortou meus pensamentos, porque foi dentro dele, era Brian. Depois disso eu não sei dizer ao certo o que aconteceu, eu corri na direção do Brian e me coloquei na frente da sombra, algo pontudo passou pela minha barriga, gritei e cai no chão, a ultima coisa que vi foi a expressão de raiva no rosto de Brian, depois seus olhos ficaram vermelhos e eu apaguei.

                - Me deu um baita susto, querida. – estava de volta a sala preta com a alma perdida sentada a minha frente.

                - Eu morri?

                - Não, está bem viva, só bem fraca, perdeu muito sangue. – ela sorriu tentando me animar.

                - O que aconteceu? – perguntei apertando minhas têmporas.

                - Vocês encontraram algumas da muitas sombras que existem em Pórfiron. – eu permaneci calada – Você se colocou na frente do menino, foi um ato de muita coragem.

                - Eu nunca perguntei... – olhei nos seus olhos – qual é o seu nome?

                - Leonor.

                - Você era uma feiticeira?

                - Era, como todos os outros, mas o Rei percebeu que era melhor nós sermos apenas Normais.

                - Por quê? – perguntei indignada.

                - Porque Ele anseia por poder, cada força que poder ser adicionada ao seu exército, para Ele, é indispensável, estávamos sendo mortos em massa por isso.

                - Quem é “Ele”? – mas a imagem começou a tremeluzi e meus olhos se abriram, não recebendo muito bem a luz do dia.

                Levantei rápido, mas me arrependi no mesmo instante, uma dor cortante passou por todo meu corpo tendo inicio na minha barriga, pontos pretos dançaram e me fizeram cair novamente. Tentei encontrar o ar que faltava em todo meu pulmão, a dor era latente e insuportável. Mãos se pousaram no meu ombro me obrigando a me deitar enquanto outra colocava algo gelado no meu ferimento. Depois panos encobriram meu corte, quando a dor foi amenizada eu pude ver quem estava do meu lado.

                Liam estava segurando meus ombros enquanto Lily terminava de enfaixar, eles tinham voltados a usar as roupas que usaram no primeiro dia. Liam tinha um corte horrível na testa e Lily um arranham na boca, eu não queria nem ver como estavam os outros. Quando ela terminou de apertar eu deixei sair um grito de dor, Liam me soltou e botou um pano brando e molhado na minha testa, não consegui pronunciar nada, não encontrava força em lugar algum.

                - Talvez devêssemos sedá-la novamente, ela deve estar sentindo muita dor. – disse Liam.

                - Ela está sedada a horas, não quero arriscar dar muito dessa coisa. – Lily passou a mão no meu cabelo e sorriu fraco.

                Meus olhos ainda estavam semicerrados, mas deram para perceber que eles montaram um acampamento improvisado, colchonetes estavam postos no chão envolta de uma fogueira. O dia estava claro e limpo, mas mesmo assim estremeci de frio, tentei mover a minha cabeça para olhar para Lily, ela puxou mais um cobertor e enrolou em mim.

                - Você perdeu muito sangue – explicou -, depois da nossa pequena luta, Roterford apareceu e me ajudou a cuidar você. Brian ficou todo poderoso e dispersou as sombras, pelo menos foi isso que eu ouvi, fiquei desacordada o tempo todo. – ela sorriu e virou para Liam. –Vai chamar Roterford, talvez agora ele possa ajudá-la com a dor. – ela voltou a olhar para mim – Ele está nos treinando, - ela riu – ele disse que temos que aprender feitiços básicos de defesa, para isso não acontecer de novo.

                - Os... – tentei reformular uma frase – Outros... Estão bem?

                - Ah sim, Frank machucou um pouco a perna, nada que aquele mago não desse um jeito, o seu já foi mais profundo, ele não queria arriscar. – ela segurou a minha mão e eu tentei apertar. – Você nos deu um baita susto, quando te vi caída no chão... – ela balançou a cabeça.

                - Não vai se... livrar de... mim. – sorri torto.

                - Só nos dando sustos em Kassie – Roterford sorriu a chegar perto de mim – Vá treinar com os outros Lily, preciso falar com a sua amiga e me concentrar no feitiço.

                Lily pareceu hesitar, mas se levantou e sumiu do meu campo de visão, Roterford sentou do meu lado, ele usava um palito bem chique, que ficava estranhamente perfeito nele.

                - Eu não posso curar seu machucado, mas posso amenizar a sua dor.

                - Por... favor.

                Ele colocou a mão na minha barriga, não tirando os cobertores de cima,Roterford entoou algumas palavras estranhas, então a dor começou a amenizar, mas não sumiu, continuou escondida em um cantou escuro. Depois, podia respirar direito e tentei levantar devagar. Roterford colocou alguns travesseiros encostados na árvore e eu me escorei lá, ainda com muita dificuldade.

                Quando parei de me mexer pude ver os outros, treinando em uma clareira. Saiam fogo, água, raios e terra por todos os lados, não sabia que ele eram tão capazes assim.

                - Impressionante, não é mesmo?  - Roterford sorriu – Lembro-me de como seus pais eram promissores assim.

                - Conheceu meus pais? Quero dizer os verdadeiros?

                - Ah sim, ótimas pessoas, sempre souberam que você seria poderosa.

                - Qual nome eles escolheram para mim? – perguntei curiosa.

                - Clarissa, a chamavam de Clara, porque aqui o nome tem muito peso sobre a personalidade e o destino, seus pais esperavam que você pudesse ser a luz em todos os momentos.

                Ele não disse mais nada, seu rosto escurece e logo mais ele se levantou, voltando para seus alunos. Brian chegou perto de mim e sorriu, ele estava suado e não usava camisa, seus olhos azuis estavam mais vivos do que eu me lembrava, estremeci.

                - Está com frio? – eu assenti , ele se sentou ao meu lado e passou os braços envolta de mim, ele estava incrivelmente quente, mais do que uma pessoa fica quando estava com febre, mas ele não parecia doente – Roterford disse que quanto mais usarmos nossos poderes mais eles se manifestaram  em nós, por isso estou tão quente.

                Encostei minha cabeça no seu ombro e fechei os olhos.

                - Obrigada por salvar a minha vida, só não faça mais isso, me deu um baita susto. – ele riu – O estranho é que fiquei com tanta raiva daquela sombra que depois eu me descontrolei, não sabia mais o que estava fazendo. – concordei.

                - Sei como é... – ficamos em silêncio por um tempo  - Por quanto tempo eu dormi?

                - Algumas horas. Já vai escurecer. – ele me apertou mais e eu agradeci.

                - Vocês vão ter que ir sem mim. – o senti enrubescer – Não sei quando vou melhorar, e se as sombras voltarem? E mais dessa vez?

                - Chega! Não vou deixar você Kassie! É loucura, ninguém aqui vai deixá-la. Estamos treinando para não deixar o que aconteceu ontem vier a se repetir. E, além do mais, Roterford disse que os dragões chamaram atenção, por isso vamos de barca até a Ilha da Tristeza, pegar o Cálice de Fogo. – ele parou e respirou – você salvou a minha vida, não vou deixar que morra.

                - Não posso contradizer com isso.

                - E nem vai. – ele me virou gentilmente e me deu um beijo – Eu sei que você acha melhor não, mas eu pensei que nunca mais ia poder... – ele não precisou terminar.

                Eu deixei ele me beijar gentilmente mais algumas vezes ante dele insistir para que eu comesse alguma coisa.

                               ***

               

Depois de algum tempo, escureceu, Brian insistiu em ficar de guarda, mas Frank não deixou e acabou ficando, quando todos dormiram ele veio até mim.

                - Tenho um jeito de te curar. – ele se abaixou colocando os braços em posição para me levantar, ele olhou nos meus olhos, a luz da fogueira ele transmitia um ar assustadoramente confiante. – Confia em mim? – Hesitei, eu confiava nele?

                Mas acabei assentindo, eu não podia deixar que todos se atrasassem por minha causa. Frank me levou por entre árvores, em caminhos estranhos que não faziam o menor sentido para mim, e também não sabia como faziam sentido para ele.

                Paramos em frente a um lago escuro, tudo era escuro , fiquei com medo de que as sombras voltassem a aparecer, mas Frank não pareceu se importar. Ele parou na borda do lago e eu o encarei.

                - Estou aqui. – gritou – cadê vocês?

                Eu não entendi o que estava acontecendo, até pequenas lusinhas aparecerem em nossa volta. Quando pararam de brilhar eu pude ver que não eram lusinhas, eram Fadas. Pequenas criaturas cintilantes, com asas que pareciam pétalas e flor, uma meio azul chegou mais perto.

                - Precisamos ter certeza que vai cumprir com a sua promessa, Filho do Trovão.

                - A minha palavra basta, vou cumpri-la. – ele falou com convicção.

                - Frank... O que está acontecendo? – tentei perguntar, mas ele ignorou.

                - Façam a sua parte direito e eu faço a minha. – falando daquele jeito ele não parecia o meu Frank, doce e carinhoso, ele estava aterrorizante, e as Fadas também perceberam isso.

                As pequenas criaturinhas se pousaram no meu ferimento e começaram a brilhar, um choque passou por todo meu corpo e eu gritei, depois tudo escureceu, novamente.

                - Estou aqui, querida. – o homem que tinha me dado o colar estava gritando. – Venha até mim, preciso de você.

                Levantei suando. Deixei meu coração parar de bater tão forte e me levantei.  Ainda era noite, mas não era mais o turno de Frank. Brian estava sentado no colchonete, mas se levantou assim que me viu em pé. Meu ferimento tinha cicatrizado, aquilo não havia sido um sonho, eu tinha mesmo visto as Fadas. Encarei Brian e depois sai correndo para escuridão da floresta em saber muito bem o que estava fazendo.

                Brian correu atrás de mim, para o meu azar ele era mais rápido que eu, logo me alcançou e me puxou pelo pulso.

                - Está maluca? Você não vai correr numa floresta escura assim, machucada.

                - Eu estou bem, Brian... – olhei com pressa para a floresta – Aquele homem está aqui, eu preciso encontrá-lo.

                - Você está machucada! Não pode ir!

                - Não estou mais. – Puxei a blusa fina que eu usava para mostrar-lhe a pequena linha rosa que passava na minha barriga.

                - Como? – perguntou estupefato.

                - Não sei. – menti – Me deixe ir.

                - Eu vou com você.

                Ele soltou meu pulso e eu corri, sem saber muito bem para onde estávamos indo, só deixando que meus pés fizessem o caminho. Corremos muito rápido, mas nem eu nem ele nos cansamos, até que ouvimos um rugido, paramos extintamente.

                - O que é isso? – perguntou Brian.

                - Não sei, mas é bem grande. – segurei na sua mão.

                -Vai ficar tudo bem.

                - Como pode saber?

                - Eu não sei. – ele apertou minha mão até ela ficar dormente

                Ficamos quietos escutando passos rápidos e pesados, cada segundo era mais perto e meu coração ficava mais acelerado. Dracon se agitava no meu pescoço, eu tinha me esquecido que ele estava ali. Depois que alguns segundos se passaram um homem atravessou a mata e ficou na nossa frente, logo trás dele um monstro gigante estava quebrando as árvores, eu já tinha visto um monstro daqueles na minha aula de história. Uma Hidra.

                Fiz o que mais me pareceu conveniente naquela hora:

                - Dracon saia. – gritei, o homem veio na nossa direção e parou perto dos meus pés, Dracon pulou e começou a atacar o mostro.

                - Fire vai! – gritou Brian, segundos depois, se recobrando do susto.

                Os monstros começaram a lutar, Dracon e Fire lutavam bravamente, mas a Hidra era muito mais rápida e tinha a vantagem das cinco cabeças. Tentei não olhar para aquela batalha horrível me concentrar no homem a minha frente. Abaixei-me encostando as mãos em seu ombro, dessa vez ele não era um holograma.

                - Você veio. – ele sorriu e me entregou o livro, ele estava do mesmo jeito que nas outras vezes que eu o vira. – Tome, tome, não temos tempo, você precisa me matar.

                - O que? – perguntei surpresa. – Não vou matá-lo!

                - Mas precisa, só assim que esse monstro vai morrer, você precisa! – ele implorou, eu não teria coragem de matar alguém.

                - Eu faço. – para minha surpresa Brian se abaixou do meu lado empunhando uma adaga de ferro que eu não sabia que ele tinha.

                - Perfeito meu garoto, está na hora dessa agonia acabar, me anima a ideia de não virar uma alma perdida. – ele me olhou e eu pude ver seu rosto, como se não tivesse envelhecido tantos anos, o rosto que aparecera em meus sonhos.

                - Jared. – deixei escapar.

                - Envelheci, não é mesmo? – ele riu, mas depois fez um careta de dor.

                Dracon urrou na batalha que acontecia, uma pequena pontada de dor apareceu no meu tendão, tentei ignorar e olhar novamente para Jared.

                - Querida, veja só o que o livro quer te mostrar, mais nada, esse livro é mais velho que tudo que há em Pórfiron, mas velho que a própria Pórfiron, ele não dará o que você quer sem querer algo em troca. Prometa-me! – ele pediu urgência.

                - Prometo. – disse rapidamente.

                - E você, meu garoto, assim que me matar, pegue a coisa branca que vai sair do meu coração, são as minha memórias, vivi anos com seus pais, acho que vai gostar de vê-los.

                Antes que Brian pudesse dizer alguma coisa, Fire foi jogado para as árvores. Jared me olhou e assentiu com a cabeça. Brian não recuou e enfiou a adaga no coração de Jared, quando a coisa branca começou aparecer a Hidra desapareceu. Tudo ficou em silêncio, Dracon voltou para o meu pescoço sem que eu pedisse, Fire fez a mesma coisa. Brian chegou seu colar mais perto do ponto branco que já havia se desprendido do corpo e jazia no chão, o objeto sugou a coisa branca para si.

                Eu desci meus olhos para o livro sobre as minhas pernas. Diatiz Encantrios. Ele era de coro, e bem grosso, era exatamente como no meu desenho, só que bem mais velho. O livro abriu na primeira página, era encardida, mas os escritos eram bem visíveis, tinha vários nomes escritos, mas só um brilhou:

                “Leonard Lewis”

               

                ***

                Voltamos ao acampamento em silêncio, nenhum dos dois sabiam o que falar. Na manha seguinte voltamos a Villa, mas dessa vez com as capas escondendo nossos rostos. Na mesma hora chegou a barca, idêntica as embarcações gregas, somente pela diferença de voar. Tempo depois as escadas desceram e cerca de vinte pessoas subiram com a gente. Mas pararam na entrada e eu ouvi um grito de uma mulher. Nós passamos por entre a multidão que tentava correr para fora do barco.

                Era de se entender porque a mulher tinha gritada, eu mesma sufoquei um grito. O capitão, ou que deveria ser ele, estava caído no chão, com os olhos abertos de susto e, no seu peito, se encontrava uma adaga completamente preta. Sangue escorria pelo barco, deixando aquele cheiro metálico no ar. Chegamos perto relutantes, a adaga atingira seu coração, mas eu crachá ainda era legível:

                “Leonard Lewis”


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