À Prova De Som escrita por Tenteitudo


Capítulo 4
E Tudo Era Música


Notas iniciais do capítulo

Obrigada por todos os comentários até aqui! Foi muito bom compartilhar essa história com vocês e eu espero que gostem do final...

Só para constar, sem a Quinn e todo o drama da gravidez and all that jazz, o Glee Club é um pouco menos problemático..

Enfim, boa leitura (:



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Capítulo 4 – E Tudo Era Música...

Idade, 16 – alguns meses depois.

Alguns meses se passaram depois do pequeno encontro entre elas e Sam e apesar de serem vizinhas, as duas meninas mal conseguiram se ver depois daquilo. Rachel estava envolvida com o Glee Club, que por incrível que pareça, conseguiu arrecadar membros suficientes para competir nas Seletivas. Quinn, por sua vez, tinha se inscrito em um programa extracurricular para ajudar colegas com dificuldade em inglês e também estava fazendo aulas extras de arte. Tudo em prol de um bom currículo. Ela queria entrar em uma boa universidade, de preferencia em NY, aonde sabia que sua melhor amiga estaria.

Os poucos momentos que elas compartilharam, porém, foram tão bons quanto sempre eram. A familiaridade que uma encontrava na outra era tranquilizadora em tempos caóticos e elas gostavam de simplesmente conversar, ou andar de balanço e até mesmo dar voltas pelo shopping (sem Sam). Quinn só mencionou seu amigo uma vez brevemente para dizer que ele tinha sérios problemas para lembrar a ordem das letras quando escrevia.

Mas agora já fazia três semanas que elas realmente não conversavam e Rachel estava louca de saudades. Ela chegou em casa no final de uma terça feira particularmente cansativa de ensaios e bateu na porta dos Fabray's, sendo atendida por Quinn, que misteriosamente havia 'ouvido' a campainha tocar.

Atrás dela estava uma Judy com as unhas recém feitas, o que solucionava o mistério. Ela sorriu e abraçou a loira, sem se deixar entrar, sabendo que se entrasse não conseguiria sair (e ela realmente tinha muitas coisas para fazer).

"Rachel, querida.. Você não vai entrar?"

"Hoje não, Judy... Só passei para dar um oi."

"Muitas coisas no colégio? Quinn me contou sobre seu clube de canto..."

"Sim, vamos nos apresentar essa quinta." Ela falou, traduzindo para Quinn o que havia acabado de dizer.

"Oh... Tenho certeza que você será ótima!" Ela exclamou, antes de desaparecer para dentro do casarão, deixando as meninas sozinhas.

"Já?" Pediu Quinn. Ela sabia que sua amiga ia se apresentar, mas não imaginava que fosse tão cedo, muito menos que seria em um dia de semana. Seus olhos percorreram o rosto da pequena morena. "Nervosa?"

Rachel mordeu o lábio e fez que sim com a cabeça.

"Não fique..." Ela começou a sinalizar, mas a morena segurou suas mãos.

"Eu sei que você tem a monitoria de inglês nas quintas de tarde, mas eu gostaria muito que me visse cantar." Quinn olhava dentro de seus olhos, mas Rachel sabia que ela também prestava atenção em suas mãos. "Vai ter um coral de surdos concorrendo comigo."

"Hoverbrook?" Lima tinha duas escolas para surdos, uma particular, onde a loira estudava e a pública, Hoverbrook.

"Essa mesma..."

"Bem, é obvio que vocês vão ganhar... Teriam que ser muito ruins para perder de um coral de surdos..."

"Quinn!" Rachel exclamou, batendo de leve em seu ombro, não conseguindo conter uma risadinha. "Não seja má!" Ela falou enquanto sinalizava.

"Mas é verdade!"

...

Quinta feira – Seletivas.

Horas de ensaio por nada! Pensou Rachel, amassando o programa das apresentações e jogando-o violentamente em uma lixeira, bufando quando a bolinha falhou em cair dentro da cesta. As duas músicas que eles haviam ensaiado com tanto cuidado haviam sido roubadas pela competição e ela não podia estar mais frustrada.

"Ok, Mercedes, você tem alguma outra música no seu repertório?" Ela perguntou, tentando manter a calma.

"Não." Mercedes respondeu de seu lugar no sofá. "O combinado era que eu cantaria 'And I Am Telling You'..."

"Sim, mas isso obviamente esta fora de questão e..."

"A verdade, Rachel," Kurt a interrompeu, parecendo contrariado com relação ao que dizia. "é que você é nossa melhor cantora."

"Mas..."

"Qual é, Rach, eu sei que você tem uma música pronta pra isso..." Cortou Noah, se levantando e parando ao lado dela com os braços cruzados.

A morena sorriu involuntariamente. "Bem, eu tenho algo em que venho trabalhando desde que tenho 4 anos..."

"Ótimo, então já temos um solo. Agora precisamos de um numero para o grupo." Artie bateu palmas, tentando soar animado.

"Que tal 'Somebody to Love'?" Sugeriu Tina. "Todo mundo ama essa música."

"Certo..." Puck falou sarcasticamente.

"Eu acho que tenho uma solução..." Finn interviu, entrando na sala com um bolo de folhas na mão.

"E onde você estava?" Perguntou Santana, que nem ao menos havia sentido falta de seu colega mais espaçoso.

"Eu invadi a sala dos jurados para imprimir isso..." Ele sorriu torto para seus amigos, especialmente para Rachel, jogando as folhas em cima da mesa. "Nós podemos ganhar esse negócio, pessoal."

...

E eles ganharam.

Rachel cantou como nunca, colocando toda a sua alma na música. Sua performance sem falhas somada a espontaneidade do número grupal lhes garantiu o primeiro lugar. Eles receberam o troféu e trocaram abraços apertados em cima do palco sob uma chuva de papeizinhos brilhantes. Era bom ganhar para variar... Era quase mágico..

O grupo se dividiu para trocar de roupa depois da apresentação e ficou determinado que eles se encontrariam no ônibus em uma hora. Rachel se vestiu sem pressa, abotoando a frente de seu vestido xadrez e pensando em passar na casa de Quinn para contar as novidades quando chegasse.

Ela pegou seu casaco vermelho em um braço e a bolsa no outro, saindo do camarim para dar de cara com a pessoa que tinha seus pensamentos.

"Quinn!" Ela exclamou surpresa. Sua amiga estava escorada na parede em frente a porta dos camarins. Ela estava linda como sempre, com seus cabelos presos em um rabo de cavalo e usando um suéter marrom clarinho com fios dourados que brilhavam preguiçosamente. "Você veio! Eu não te vi na plateia..." Ela sinalizou, deixando-se abraçar por sua melhor amiga.

"É claro que eu vim, é o seu dia especial e você é especial pra mim..." Ela sorriu e Rachel a abraçou novamente, sem conseguir se conter.

"Obrigada.."

Quinn murmurou seu "mmmhmm" suavemente. "Na verdade eu só vim pelo coral de surdos." Ela fez o sinal do sarcasmo quando terminou de falar e Rachel mostrou a língua em sua direção.

Elas caminhavam lentamente até as portas de vidro. "Então, o que você achou?"

"Bonito." Quinn começou a andar de lado para poder enxerga-la melhor. "Você estava linda. Eu só não gostei da escolha de músicas."

"Por que não?" Rachel perguntou em voz alta enquanto sinalizava. Quinn não respondeu, apenas arqueou uma sobrancelha e a morena arregalou os olhos, entendendo a ironia. Quinn fazia pequenas brincadeiras sobre ser surda o tempo inteiro e Rachel sempre demorava a entender (era muito difícil reconhecer sarcasmo sem ter uma variação de voz para ajudar). Às vezes ela ainda esquecia que sua amiga não podia ouvir.

"Tem uma coisa que eu quero te perguntar.." Quinn declarou, parecendo um pouco consternada.

Rachel respondeu com um olhar curioso.

"Aquele cara alto e esquisito é seu namorado?"

"Finn?" Ela riu baixinho. "Não! Mas acho que ele gostaria de ser."

"Você gosta dele?" A morena teve a impressão de ver uma sombra percorrer os olhos de sua amiga, mas provavelmente era apenas sua imaginação.

Rachel parou para pensar. Ela gostava de Finn, ele era um bom amigo, entre outras coisas. E eles haviam saído junto duas vezes e ele a beijara, como era de se esperar que acontecesse, mas ela não sentira nada do que imaginara que sentiria quando beijasse o amor de sua vida pela primeira vez.

Por algum motivo ela havia falhado em falar para Quinn sobre tudo isso. "Todas as meninas gostam dele. Ele é popular, bonito e gentil também..."

Quinn estava começando a sinalizar mais alguma pergunta - por que Rachel realmente não havia esclarecido nada com sua resposta - quando o assunto da conversa literalmente as interrompeu.

"Hey, Rach! Eu achei que você já estivesse no ônibus!"

"Ainda não... Essa é minha amiga, Quinn." Ela apresentou e Finn se virou para a loira, percebendo-a pela primeira vez e lhe oferecendo um sorriso que considerava charmoso antes de se voltar para Rachel.

"Escuta, eu estava pensando, aquele dia em que fomos no boliche foi muito legal e eu queria... Você não quer ir jogar de novo hoje a noite?" Ele perguntou, sorrindo de lado, do jeito que fazia todas as meninas dizerem que sim.

A morena analisou seu rosto antes de lançar um olhar para sua amiga, que encarava a nuca de Finn com uma expressão de ódio mortal.

"Desculpa, Finn, mas eu já tenho planos com Quinn hoje à noite." Ela mentiu sem saber exatamente o porque (ela nunca parecia encontrar os porquês quando se tratava da loira). Ela estava feliz que sua amiga tivesse vindo assisti-la, e realmente gostaria de fazer algo com ela, mas nada estava realmente planejado.

"Ah..." Os ombros dele caíram e ele coçou a própria nuca. "Quem sabe outro dia então, talvez?"

"Talvez, Finn..." Ela sorriu e ele respondeu ao sorriso tristemente antes de ir embora.

Quinn o seguiu com os olhos. "Abobado..." Ela oralizou baixinho, pegando Rachel de surpresa e fazendo-a gargalhar com o comentário. A loira riu também e Rachel respirou contentemente. Ela amava aquela risada.

Elas voltaram a andar. "Então, o que ele queria?"

"Me chamar pra sair." Ela suspirou.

A loira piscou algumas vezes e olhou para baixo. "Desculpa se atrapalhei."

"Não atrapalhou. Eu não queria sair com ele."

"Ahh.." O som escapou pelos lábios da loira, que não conseguiu evitar sorrir. Ela não havia gostado nem um pouco desse tal de Finn.

"Berry..." Santana cumprimentou com a cabeça quando elas estavam saindo do teatro. "Quem é a loira?"

"Santana, essa é Quinn."

A líder de torcida arqueou as sobrancelhas. "Ela é mesmo real... Isso é novidade."

Rachel revirou os olhos, acostumada com aquele tipo de comentário vindo da latina. Quinn a cutucou no ombro levemente.

"O que ela disse?"

Rachel traduziu rapidamente e a loira lançou para Santana o mesmo olhar que havia direcionado pra Finn alguns segundos antes.

"Espera, ela é surda?" Santana riu desdenhosamente. "Isso explica por que ela é sua amiga. Só uma pessoa surda para aturar os seus monólogos sem fim..."

A pequena cantora fechou a cara para sua colega e traduziu para Quinn o que havia acabado de ouvir.

A loira olhou novamente para a latina, dessa vez de cima a baixo e com tanta frieza que um arrepio chegou a percorrer a espinha de Santana. "Ela só tem inveja por que você canta melhor." Quinn sinalizou. "E também por que, de alguma forma, ela consegue ser mais baixinha do que você..."

Rachel não conseguiu conter uma risada e ficou na ponta dos pés, beijando o rosto de Quinn em agradecimento.

"Por que você está rindo? O que ela disse?"

"Não interessa, Lopez." A morena respondeu, acenando brevemente antes de pegar a mão de Quinn e puxá-la em direção ao estacionamento. "Como foi que você veio até aqui?"

A loira apontou para seu New Beatle vermelho (presente de 16 anos de seus pais), estacionado a alguns metros de onde elas se encontravam. "E você?"

"Ônibus."

A loira mordeu o lábio, afastando alguns fios loiros que haviam escapado de seu rabo de cavalo para trás da orelha. "Quer ser minha companhia na volta?"

"Eu adoraria." Rachel respondeu sem pensar duas vezes.

"E ai, Rach, quem é a sua amiga?"

Ela olhou por cima do próprio ombro para encontrar Puck empurrando a cadeira vazia de Artie na direção do ônibus. Por um segundo ela quis perguntar onde estava o dono da cadeira, mas acabou decidindo que era melhor não.

"Olá Noah..." Ela sorriu. Rachel gostava dele. "Essa é Quinn." Ela o apresentou para a loira brevemente.

"Ela é gostosa..."

Rachel traduziu e Quinn franziu o nariz. "Ele é nojento.."

A morena limpou a garganta. Ela não iria dizer aquilo para seu amigo. "Ela disse obrigada..."

"Você tem o meu numero, né, Berry?"

"Sim, por quê?"

"Diz pra sua amiga me ligar um dia desses..." Ele piscou para Quinn e Rachel suspirou ao traduzir.

A loira fez uma careta, chacoalhando a cabeça sem entender. "Por que eu iria querer fazer isso?"

Rachel mordeu o lábio com força para não sorrir. "Ela disse que te manda uma mensagem..."

"Valeu..."

"Noah, você pode avisar a Srta. Pillsbury que vou voltar para casa com Quinn?"

"O que eu ganho com isso?"

"Eu já vou dar seu número para ela. O que mais você quer?" Ela perguntou, não se sentindo nem um pouco mal por mentir para ele. Nunca, nem em um milhão de anos, ela daria o numero de Noah para sua melhor amiga, e era reconfortante saber que mesmo que desse, Quinn jamais ligaria.

"Humm, justo..." Ela concordou com a cabeça, acenando para elas antes de continuar a atravessar o estacionamento.

Rachel entrelaçou seus dedos aos de Quinn alegremente. "Vamos?"

...

A viagem até Lima foi silenciosa, uma vez que Quinn não podia sinalizar e dirigir ao mesmo tempo e também não tinha um rádio dentro do carro, mas Rachel não se importou. Ela ainda estava contente pelo fato de que sua melhor amiga havia ido vê-la e por eles terem realmente ganho o primeiro lugar.

Elas voltaram a conversar na casa dos Fabray's, sentadas lado a lado no grande sofá da sala...

"O que você sentiu quando estava cantando?"

"Não sei explicar... Eu senti como se nada mais existisse, só eu e a música e o calor das luzes do palco. Como se de repente, eu não fosse mais de carne e osso, só som..."

Quinn adorava ver Rachel falar sobre música, ela sentia como se, por um momento, pudesse entender e compartilhar os sentimentos que a música evocava em quem realmente podia ouvir.

"Você cantou Don't Rain on my Parede, né?"

Rachel arqueou as sobrancelhas. "Como você sabe?"

"Eu ouvi…" Quinn piscou um olho com um sorrisinho. "É a sua música favorita, eu já te vi cantando mil vezes... E você sempre tem a mesma expressão quando canta." Explicou a loira.

Rachel sorriu para ela.

"Você pode traduzir a outra pra mim?"

A morena fez que sim. "You Can't Always Get What You Want, dos Rolling Stones."

"Rolling Stones." Quinn franziu a testa. "Eu realmente não entendo... Por que alguém chamaria uma banda de pedras rolantes?"

Rachel se endireitou para responder quando percebeu que sua amiga tinha razão. "É uma boa pergunta." Ela murmurou, mais para si do que para Quinn, que pareceu ler os seus lábios.

"Canta pra mim?" A loira sinalizou, chegando um pouco mais perto de sua amiga e hesitando por um momento antes de colocar uma mão em seu rosto, como sempre fazia quando queria sentir as vibrações de sua voz.

Rachel sorriu e começou a cantar suavemente enquanto sinalizava a letra para Quinn.

...

A loira tinha um sorriso diferente no rosto, mais expressivo do que o normal, ainda que Rachel não soubesse dizer exatamente o que ele expressava. Os olhos esverdeados encaravam os seus intensamente e a morena tinha certeza que se parasse de sinalizar, Quinn nem ao menos perceberia.

E foi isso que ela fez, suas mãos pararam de se mover no meio do refrão e sua voz tremeu, cessando logo em seguida. Ela piscou algumas vezes e umedeceu os lábios, sentindo sua boca secar de repente. Então, sem nem ao menos perceber o que fazia, ela se inclinou um pouquinho para frente. Uma faísca de dourado percorreu os olhos de sua amiga, que moveu o polegar contra sua bochecha, se inclinando também e fechando o espaço entre elas com um beijo suave em seus lábios.

Rachel não respondeu a princípio, chocada demais para comandar seu próprio corpo. Os lábios de Quinn eram tão gentis e suaves e ela se viu sem ação, até que sua amiga começou a se afastar e a morena levou uma mão a sua nuca, soltando seu rabo de cavalo para poder sentir a maciez dos cabelos dourados em seus dedos e prolongando o beijo, sentindo sua amiga sorrir contra sua boca. As duas meninas se afastaram um pouquinho para respirar depois de alguns segundos e Quinn descansou a têmpora contra a da morena.

"Rachel..." Ela murmurou, fazendo o coração da pequena cantora parar. Ela nunca havia ouvido Quinn oralizar seu nome antes. Ela sabia que sua amiga tinha voz, mas também sabia o quanto ela odiava usa-la, uma vez que tinha dificuldade em controlar volume e intensidade. De qualquer forma, a voz de Quinn nunca soara tão linda quanto naquele momento.

Elas compartilharam mais um beijo, um pouco mais intenso e terno, e Rachel sentiu um nó se formar em sua garganta, percebendo o quanto havia querido sentir aquilo durante toda sua vida. Ela nunca havia notado o quanto realmente amava Quinn até aquele instante e tudo o que queria fazer era beija-la e abraça-la e nunca mais soltar...

Mas então ela ouviu o som da porta de entrada se abrindo e quebrou o beijo abruptamente, seu coração partiu com o olhar de dor que passou pelos olhos da loira quando elas se afastaram.

"Seus pais chegaram." Ela se apressou em explicar, sentando um pouco mais para trás no sofá.

Quinn deu de ombros, como se dissesse "E dai?".

"Eles iam ver a gente se beijando."

Mais uma vez, a loira deu de ombros. Ela realmente não se importava que seus pais vissem, principalmente por que pretendia beijar Rachel muitas outras vezes, agora que o primeiro beijo havia acontecido.

Rachel, por outro lado, não tinha certeza sobre como reagir. "Lembra como o seu pai ficou bravo quando tínhamos oito anos e ele viu Fran beijar aquele menino depois da formatura?"

"É diferente, eles gostam de você..."

"Eu não acho que eles gostariam se vissem o que a gente estava fazendo..."

"Rachel!" A voz de Russel veio de trás dela e ela se virou lentamente, tentando não demostrar a culpa que sentia. "Eu achei que Quinn estivesse sozinha..."

"Oi, Senhor Fabray... Precisa de ajuda com as compras?"

"Não, querida... Pode deixar..." Judy passou por ele, pendurando a chave do carro no ganchinho acima do telefone e tirando uma sacola de suas mãos. Durante o tempo todo, Rachel pode sentir o olhar de Quinn em seu rosto.

Assim que eles entraram na cozinha, os dedos da loira envolveram seu queixo, forçando-a a olhar em sua direção.

"Por que você acha que eles deixariam de gostar de você?"

"Você é católica, não é meio óbvio?"

Mais uma vez ela deu de ombros. "Eu nunca prestei atenção na igreja."

"Bom, a sua religião diz que ser gay é pecado." Rachel se sentiu muito hipócrita no momento em que percebeu o que havia acabado de dizer.

Elas se olham por um longo minuto.

Os olhos de Quinn eram suaves. "Você está com medo?"

Rachel suspirou e a loira prendeu uma mecha de cabelos escuros atrás de sua orelha gentilmente. Judy saiu da cozinha naquele momento e a morena puxou seu braço para baixo antes de fazer que sim, seus olhos estavam cheios de água.

"Por favor, não tenha medo... Eu gosto tanto de você..."

"Eu também gosto de você.." Ela respondeu, sentindo uma onda de desespero repentino. "Eu não quero te perder."

"Você vai ficar para o jantar, Rachel, querida?"

Ela levantou a cabeça para encontrar os olhos azuis de Russel. "Hoje não, eu tenho... coisas." Rachel mordeu o lábio e ficou em pé, pegando sua bolsa.

Quinn também se levantou. "Rachel... Não..." Ela falou de novo em voz alta, ganhando um olhar surpreso de seus pais. A pequena morena a abraçou, beijando sua bochecha rapidamente e sinalizando depois longe dos olhos dos Fabray's antes de ir embora.

...

Quinn

Judy abriu a porta do quarto de sua filha cautelosamente, fazia 40 minutos que ela e Russel haviam visto Rachel ir embora e Quinn correra para o andar de cima. Ela sentou na cama ao lado da loira, que deitava de barriga para baixo com a cabeça enterrada no travesseiro.

Russel apareceu alguns segundos depois para encontrar sua esposa acariciando as costas de sua filha mais nova, tentando fazê-la virar para cima. Quinn sempre fazia isso quando algo a incomodava, desde que era criança. Ela fechava os olhos e literalmente se desligava do mundo.

Ele começou a puxar seu pé de maneira irritante até que ela se virou, com olhos vermelhos carregando um olhar homicida.

"O que aconteceu?" Ele perguntou, cruzando os braços e sentando ao pé da cama.

"Você e Rachel brigaram?" Judy questionou, passando uma mão pelos cabelos dourados desordenados de Quinn.

O lábio inferior da loira mais nova tremeu e seus olhos se tornaram impossivelmente tristes. Judy a abraçou com força e permitiu que ela chorasse antes de perguntar mais uma vez o que havia acontecido.

"Eu gosto da Rachel. Muito." Ela falou, ainda chorando, mas um pouco mais calma.

"O que ela fez pra te deixar assim?" Russel perguntou, genuinamente preocupado. A única vez que havia visto sua filha chorar daquela forma foi quando ela caiu do balanço aos 5 anos e se assustou com a quantidade de sangue que saiu do corte em seu lábio.

"Ela disse que vocês não iam gostar mais dela se vissem a gente."

Os dois Fabray's trocaram um olhar confuso, sem saber o que aquilo significava.

"Eu acho que ela gosta de mim também, mas ela tem medo que vocês fiquem brabos." Quinn fungou, secando as lágrimas com as costas da mão e assoando o nariz no lenço que sua mãe lhe alcançara antes de continuar a sinalizar. "Ela disse que vocês acham que é um pecado."

"O que é um pecado, Quinn?" Judy já imaginava a resposta, mas se forçou a perguntar mesmo assim.

"Ser gay."

Ela e Russel trocaram mais um olhar, em parte chocado, em parte perdido. Quinn nunca havia dado sinais de que poderia se interessar por outras meninas. Se bem que também nunca tinha demonstrado interesse em garotos. Apenas Rachel. Sempre Rachel.

"Você tem certeza disso?" O senhor Fabray se abaixou um pouco, tentando encontrar o olhar de sua filha.

Quinn respirou tremulamente, mas sua resposta foi firme. "Sim."

"Certeza que o que você sente pela Rachel não é só amizade?" Ele continuou questionando, querendo esclarecer bem a situação antes de intervir de forma exagerada.

"Eu sinto amizade. E amor também." Ela secou seus olhos vermelhos mais uma vez. "Eu sinto ciúmes quando ela está perto de meninos como aquele que cantou com ela hoje e eu senti meu coração doer quando nos beijamos, mas a dor foi boa."

"Oh, céus..." Judy murmurou, sem saber o que falar naquela situação.

Quinn assoou o nariz novamente. "Você acha que é errado?" Ela olhou diretamente para seu pai ao perguntar, sentindo que a opinião dele seria muito mais importante que a de sua mãe (ele sempre conseguia influenciar Judy, de uma forma ou de outra).

Russel respirou fundo, sentindo milhões de coisas contraditórias ao mesmo tempo. Parte dele queria dizer que sim, que era errado, que não era normal, mas ao mesmo tempo, como podia ser errado? Rachel tinha dois pais e Leroy e Hiram eram um dos casais mais estáveis que ele conhecia. E Quinn...

Ele simplesmente não conseguia ver toda aquela dor dentro dos olhos esverdeados de sua filha. "Não, não é errado." Ele falou em voz alta, segurando as mãos dela nas suas e vendo-a acompanhar o movimento de seus lábios.

A loira mais nova o abraçou antes que ele pudesse dizer qualquer outra coisa.

Judy ainda hesitou por um segundo, tentando engolir a notícia que havia acabado de receber. Ela passou uma mão pelos ombros de Quinn, fazendo-a soltar Russel e olhar em sua direção. "Eu nunca poderia ficar brava com você por amar alguém..." Ela sinalizou, puxando sua filha para um abraço também, trocando um sorriso tremulo com seu marido antes de beijar os cabelos dourados suavemente.

...

Rachel

"Você está muito estranha. Ela não está estranha, querido?" Hiram perguntou, apontando o tomate em seu garfo na direção de sua filha, que sentava em silencio na frente deles, brincando com a comida em seu prato.

"Sim... Acho que eu nunca vi ela tão quieta assim..." Respondeu Leroy, franzindo a testa.

"Você acha que pode ter sido o choque de ganhar as Seletivas mesmo depois de terem sido sabotados?"

"É uma possibilidade." Ele concordou com a cabeça. "Mas ela parecia animada quando ligou para avisar."

Rachel levantou o rosto, sentindo-se cansada e transtornada e irritada com seus pais. "Eu estou sentada bem aqui!" Ela exclamou, empurrando o prato para frente e cruzando os braços sobre a mesa.

"Então por favor, esclareça o motivo do mau humor." Leroy solicitou, começando a se preocupar. A menina a sua frente parecia uma Rachel completamente diferente da que ele conhecia... Ela cresceu tão rápido... Ele pensou, apoiando o queixo em um punho cerrado.

Rachel amassou e desamassou seu guardanapo em uma espécie de tique nervoso. Ela queria falar com seus pais sobre o que havia acontecido com Quinn e sobre como se sentia, mas tinha medo que eles ficassem desapontados com ela por ter se apaixonado por outra menina, por sua melhor amiga.

"Você sabe que pode conversar com a gente, não é mesmo, estrelinha?" Hiram alcançou por sua mão em cima da mesa e a morena suspirou.

"Aconteceu uma coisa hoje e..." Ela cobriu os olhos com uma mão. "Eu não sei o que fazer..."

"O que aconteceu?" Leroy questionou suavemente ao notar a trilha brilhante de lágrimas que surgira nas bochechas de sua filha.

"Quinn, ela... A gente..." A campainha escolheu aquele momento para tocar e Rachel estremeceu com o barulho. Ela engoliu suas palavras e se levantou. "Eu atendo." Ela faria qualquer coisa para protelar aquela conversa e não tinha orgulho disso.

Ela engoliu em seco quando abriu a porta. Suas entranhas pareceram derreter e ela se sentiu extremamente nauseada. Russel e Judy Fabray a encaravam estranhamente e uma Quinn de nariz vermelho mordia o lábio ao lado deles.

Rachel abriu a boca para falar, mas nenhum som saiu, ela passou uma mão pelo rosto percebendo que ainda chorava quando a voz de Leroy veio do corredor.

"Quem é, filha?" A morena olhou para ele, encurralada. "Russel, Judy? Aconteceu alguma coisa?" Ele perguntou, parando ao lado dela.

"Sim." Judy respondeu em um suspiro.

"Acho que precisamos ter uma conversa, Rachel..." Russel falou, olhando diretamente para a morena com um olhar que Rachel interpretou como intimidador.

Leroy encarou sua filha e viu culpa estampada nos olhos castanhos. "Rachel, o que você fez?"

...

Na sala (sem Quinn).

Rachel se sentia absurdamente pequena sob o olhar dos Fabrays. Ela estava sentada na poltrona da sala enquanto eles a encaravam do sofá. Ninguém havia falado ainda e ela não tinha certeza se devia dar ou não o primeiro passo. Sua educação dizia que ela devia se desculpar, mas seus instintos não concordavam com isso.

Então ela ficou em silêncio, desejando que Quinn não tivesse ido esperar em seu quarto. Ela queria poder ver a loira naquele momento. Talvez vê-la ajudasse a esclarecer o que se passava em sua cabeça.

"Então, Rachel..." Russel começou, apertando a mão de sua esposa. "Quinn nos contou o que aconteceu."

A morena sentiu seu rosto esquentar e seus olhos voaram para seus próprios pais, que estavam parados perto do piano, acompanhando a conversa. Ela gostaria que eles estivessem em qualquer outro lugar.

"Sinceramente, não sabemos como proceder aqui." Continuou o senhor Fabray. "Ela... Nossa filha... Ela..."

"Ela gosta muito de você, Rachel." Judy completou suavemente. "Por isso viemos conversar."

A morena olhou de um para o outro, tentando ignorar a expressão de confusão de seus pais. Ela não conseguia definir o que os Fabray's realmente sabiam e muito menos a posição deles a respeito daquilo.

"Nós não estamos com raiva, Rachel."

"E nem vamos deixar de gostar de você, ou de te receber na nossa casa por causa do que aconteceu."

Rachel apertou os lábios, expirando pelo nariz pela primeira vez desde que havia atendido a porta. "Vocês... Não?" Ela limpou a garganta. "Vocês sabem o que aconteceu?"

Russel fez que sim.

"Quinn me beijou." Ela esclareceu, um pouco cética, ganhando um murmúrio de surpresa de Hiram. Ela desviou os olhos ao continuar. "E eu beijei ela de volta."

"Ela nos contou, querida..." Judy confirmou. Seus olhos verdes eram ao mesmo tempo tristes e cheios de aceitação (que era a ultima coisa que Rachel esperava encontrar neles).

"Rachel..." Russel chamou, seu tom de voz a fazia querer chorar (ela não sabia o por que). "Nós não estamos aqui para julgar você ou Quinn. Vocês duas já são praticamente adultas. Não podemos controlar o que vocês fazem e muito menos o que sentem..."

Ela passou uma mão pelos cabelos, percebendo que tremia. Um pequeno sorriso chegou aos seus olhos. Aquilo significava que estava tudo bem? Ela queria que estivesse...

"Você a faz tão feliz, desde que ela é criança..." Judy murmurou.

"Ela sempre fica diferente quando você está por perto, melhor, sem deixar de ser a nossa Quinn..." O sorriso no rosto de Russel fez o seu próprio aumentar milimétricamente. "Eu não estou dizendo que você tem que ficar com ela, eu nem ao menos sei se você gosta dela dessa forma, mas se você gostar, nós só queríamos dizer que..." Ele trocou um breve olhar com sua esposa. "Bem, você sempre vai ter a nossa aprovação, Rachel."

A pequena morena perdeu o controle sobre seu sorriso, que se expandiu a potência máxima. Algumas lágrimas (novas, por que mais uma vez ela havia começado a chorar) salgadas entraram em sua boca e ela riu baixinho e nervosamente, sem acreditar no que havia acabado de ouvir.

Ela sentiu uma mão em seu ombro e olhou para cima, encontrando os olhos muito escuros de Leroy.

"Você sabe melhor do que ninguém que amor nunca vai ser um pecado.. Pelo menos não na nossa casa."

Hiram concordou com ele. "O que você sente pela Quinn, estrelinha?"

"Eu não sei... Eu acho que... Eu acho que posso ter me apaixonado por ela." Ela respondeu, pensando sobre isso claramente pela primeira vez. "Na verdade, eu meio que tenho certeza disso..."

Russel suspirou audivelmente. "Então acho que você deveria dizer isso pra ela..."

...

No quarto.

"Rachel..."

O estomago da morena se encheu de borboletas e seu coração deu uma cambalhota quando foi recebida em seu próprio quarto pela voz de Quinn. Ela nunca se cansaria de ouvir seu próprio nome naquela voz.

A loira se levantou da cama e a encarou com uma expressão cautelosa. Seus olhos ainda insistiam em chorar, por mais que ela quisesse que eles parassem. As lágrimas pareceram acentuar a mistura de cores dentro deles e apesar de desolada, Quinn nunca parecera tão linda para Rachel.

A morena não falou nada, nem gesticulou, por que ela havia aprendido o quanto era importante respeitar o silêncio, e também por que palavras não eram necessárias. Ela se aproximou devagar e Rachel percorreu a trilha avermelhada de lágrimas na pele muito branca de sua amiga com o polegar.

Um olhar carregado foi trocado entre elas e a morena se espichou, unindo seus lábios tentativamente. O beijo não foi desajeitado como havia sido com Finn, nem superficial como o de Noah, mas sim delicado. Quinn não tentou enfiar a língua dentro de sua boca, nem nada assim, apenas moveu seus lábios suavemente em uma série de pequenos beijinhos.

E foi tão intimo, de certa forma, pois ambas se entregaram totalmente ao que sentiam e mesmo que não fosse o mais profundo dos beijos, certamente era o mais perfeito. Rachel procurou as mãos de Quinn em suas laterais e brincou com seus dedos, fechando e abrindo-os algumas vezes sem quebrar o beijo.

Foi só quando elas se afastaram que Quinn percebeu que Rachel tinha os ajeitado para formar um sinal e uma risada úmida borbulhou de seu peito quando ela se deu conta do que aquilo significava. Ela abraçou a cintura de Rachel e beijou mais uma vez, ainda rindo contra seus lábios antes de dobrar os dedos de sua melhor amiga para combinarem com os seus.

Elas olharam para o sinal por um momento, sabendo que aquele sinal significava que tudo iria ficar bem... Rachel descansou a cabeça no peito de Quinn e sorriu suavemente para suas mãos.

O sinal dizia: eu te amo.

...

Epílogo? (mais ou menos)

Se alguém perguntasse como era amar Rachel, Quinn iria dizer que era como música, por que ela não sabia explicar, apenas sentir. E era tudo tão intenso, e às vezes ela tinha vontade de chorar (de felicidade) ou rir sozinha...

E ela estava tão feliz por que finalmente havia entendido (à sua própria maneira) o que música significava.

Música era Rachel.

Ela amava música.


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Notas finais do capítulo

O sinal de eu te amo é universal, é uma união das letras 'I', 'L' e 'Y' (I Love You). Consiste nos dedos mínimo, indicador e polegar levantados e os outros dois dobrados na palma da mão. Ele tem o mesmo significado em todos os países, o que de certa forma significa que o amor é também universal...

Espero que tenham gostado da história.. Sei que não posso mais extorquir comentários por atualizações, mas se tiverem achado que essa história valeu a pena, por favor comentem... (ou deixem uma recomendação..)

Abraços e até a próxima.