Charlotte se encontrava em completa escuridão.

Não havia barulho, nem nenhuma sensação. Apenas a escuridão e o completo vazio.

Seu corpo estremeceu por um instante. Sentiu o vento acarinhar sua pele esbranquiçada. Sentiu um nó na garganta, que implorava para Charlotte abrir a boca e deixar escapas tantos anos de palavras contidas. Engoliu em seco. Os olhos tremiam, também implorando para receberem o beneficio da luz, das cores, da observação.

A Charlotte que se lembrava, que se importava, queria acordar. Mas Charlotte não. Ela estava morta.

Agarrou-se ao lençol, sentindo o maxilar deslizar para a esquerda. Sentindo a pele do rosto se abrir em cortes, sentindo seus orgãos serem esmagados e seu sangue escorrer por seus orificios.

Como defesa, naquela infinita escuridão, com os dedos frios e tremulos ao redor do pescoço da Charlotte que sabia, que se lembrava da dor, tudo acabou. Aperto-o e, após um estralo, largou o corpo magro no chão.

A dor havia sumido. Deu lugar a um bipe continuo e irritante.

Charlotte abriu seus olhos para o teto que passou tantos dias olhando. A frente de sua cama hospitalar, sentada em uma poltrona branca, Charlotte descobriu uma mulher de feições orientais e cabelos -estranhamente- ruivos. Olhos escuros escondidos por um par de oculos e o corpo metido em uma saia preta justa e uma camisa social branca, parcialmente escondidos por um jaleco.

"Finalmente você acordou." verbalizou, irritada. "Achei que ficaria assim pra sempre. Quanto tempo mais pretendia ficar dormindo? Até me quebrar? A proxima vez que você ficar em coma, arranje outro para te bancar, Thompson."

Confusa, vendo os labios avermelhados se moverem de forma urgente mas sem nada ouvir, Charlotte levou as mãos às orelhas, fitando a asiatiaca.

"Mas quem é você?"