Will olhou para Mari e notou que lágrimas surgiam em seus olhos, foi então que ele começou a entender, ele pensou em como pôde desconfiar de um ser tão frágil, um ser que estava ao seu lado, mostrando um momento que provavelmente era íntimo dela, ele não sabia como reagir a essa situação, ela virou o rosto constrangida e pediu desculpas. O cenário escureceu novamente e mostrou ela andando em um beco escuro na forma humana, depois de alguns passos, a cena que Will viu o chocou, era ele, sendo atacado pelo cara da faca, a cena cortou novamente para mari que estava se transformando em uma besta, ela saltou entre os homens e os matou, logo após fixou os olhos em Will e ele se lembrou de todo o inferno que tinha passado e de toda a esperança que havia recebido, porém agora ele notou um detalhe que havia passado despercebido, a besta, o mordeu no braço, exatamente onde estava a mancha atualmente.

A Besta se virou exatamente como ele tinha visto antes, porém aquela sala escura mostrava o que ele viu e o que ele também não havia visto, agora ele conseguia notar as lágrimas nos olhos da besta, que agora ele sabia ser Mari, a sala ficou mais uma vez escura e o silêncio tomou conta do lugar, não era o silêncio que demonstrava a paz e sim, que algo muito importante havia ocorrido. Mari limpou as lágrimas com a mangá da camiseta que estava usando e começou a explicar:

– Aquele que você viu morto no chão em Tóquio, era meu marido, ele se chamava Danilo, estávamos casados fazia duas semanas, eu estava muito feliz e acabei esquecendo dos meus deveres como líder do bando, os de olhos vermelhos se aproveitaram a oportunidade e começaram a mexer com coisas novas, coisas com que nunca se devia brincar, eles estavam usando símbolos sagrados para criar algo que se soubéssemos na época, teríamos impedido o desastre que está ocorrendo neste momento. Uma lágrima cai do olho esquerdo dela.- Nós recebemos um sinal de ataque as pessoas de Tóquio por uma besta dos olhos vermelhos, eu teria ido sozinha até lá, afinal, estava me sentindo mal por deixar tudo abandonado, mas meu marido disse que iria, eu tentei impedi-lo, mas eu notei o fogo em seus olhos, ele queria mais que tudo mostrar como tinha forças o suficiente para me proteger, me arrependo até hoje de te-lo deixado ir.

Mari desaba e cai de joelhos, afundando o rosto nas mãos, não conseguindo conter um choro histérico, Will toma coragem e a abraça, ela levanta, os dois ainda abraçados, ela apoiando o rosto no ombro dele, sem forças, continua contando:

– Ele foi sozinho até Tóquio, pelo menos, era o que eu deixei ele pensar, fui escondida no avião e o segui até Tóquio, por alguma coincidência da evolução, nós de olhos verdes e eles de olhos vermelhos, nascemos com um sensor, assim podemos identificar uns aos outros em meio a multidões, Danilo seguiu esse sensor, chegando a casa que você viu anteriormente, ele entrou sem cuidado nenhum e foi pego em uma armadilha, quatro bestas de olhos vermelhos tinham cercado ele, eu nunca havia visto uma cena dessas em todos os meus anos de vida, que lhe garanto que não são poucos. Ela se afastou de Will e ele notou o brilho nos olhos dela ao falar de Danilo.- Ele conseguiu derrotar sozinho três deles e conseguiria facilmente derrotar o quarto, porém, quando foi ir atrás dele, não encontrou ninguém e decidiu vasculhar a casa, mais um erro, a besta o pegou por trás e apunhalou Danilo pelas costas, ele se transformou em humano e foi nesse momento em que eu corri desesperadamente atrás dele. Will notou as pernas dela fraquejarem novamente e correu para segura-la. - Obrigada, quando nós, "bestas", casamos, temos uma ligação diferente, sabemos quando o outro está sofrendo, na hora que, o que eu poderia chamar, da pior sensação que já passei, uma pontada atingiu meu coração e um arrepio passou pelo meu corpo e eu sai correndo desesperada pela rua até chegar na casa, mas quando cheguei lá foi tarde demais, eles já tinham feito "aquilo", eu me transformei em humana e chorei ao ver meu marido, morto e esfaqueado, porém, nós fomos feitos com coração forte e não podíamos fraquejar, é o exemplo que os humanos tem que receber, a esperança, mas algo me atingiu mais forte que qualquer medo, foi um olhar, da pessoa que havia matado Danilo, não era igual ao dos outros, tinha uma coloração roxa e meus membros pareciam estar sendo esmagados, eu não tinha forças o suficiente naquele momento para matá-lo, meu pacto de amor com Danilo havia sido interrompido fazia pouco tempo e minhas forças demorariam pelo menos duas semanas para voltarem ao normal, eu tentei levantar para fugir mas quanto mais eu tentava, mais força era imposta aos meus membros, então a besta de olhos roxos disse;– Esse é só um começo para a evolução, acho que a senhorita, líder do grupo dos olhos verdes nunca se interessou em saber do líder dos olhos vermelhos não? Eu sou ele e uma nova era irá começar, deixarei você viver para ver tudo que lhe tem valor ser destruído, esses seres humanos estão com os dias contados e você irá se arrepender de preferir eles a nós.- Eu desmaiei e acordei novamente aqui, nesse quarto, os membros de nosso grupo haviam feito uma busca e me acharam desmaiada, trouxeram eu e meu marido, fiquei internada com problemas psicológicos por trinta e um anos, a humanidade sofreu as consequências, a guerra mundial estourou e só parou em 1918, porém, tive uma recaída e a segunda começou, em 1945 eu finalmente me recuperei e então a paz se restabeleceu aos poucos, eu demorei para voltar a ativa, fiquei apenas comandando operações e observando como as relações humanas estavam indo, então em 22 de fevereiro de 1994 você nasceu, foi uma mera coincidência, ou talvez não, eu ter visto essa cena, então, decidi que iria acompanhar sua vida, notei que você não se comunicava muito com os outros no colégio e formou uma opinião diferente de todos os humanos que eu havia estudado até agora, você não amava sua espécie, não era orgulhoso, não tinha paixões, não tinha o defeito humano, a ganância, você tinha uma alma instável, com emoções desequilibradas, foi nesse momento que meu foco virou somente na sua vida, aos sete anos de idade eu vi seus pesadelos começarem, foi assim que notei como você era mais especial do que eu pensava, os de olhos vermelhos estavam com um interesse em você.

Will estava agora olhando para Mari com um olhar assustado, ele disse:

– Então fui minha vida inteira observado?

– Todos são, desde que nascem, nós usamos salas como essa para observar qualquer problema com as bestas de olhos vermelhos. Respondeu Mari.

– Está bem, continue. Disse Will, na verdade, ele não queria que ela continuasse, pois ele sabia que a próxima parte da história iria fazer sua alma desabar.

– Então aos oito anos, exatamente um ano após os pesadelos começarem, seus pais foram mortos, a polícia nunca soube o motivo e arquivaram o caso, isso foi o suficiente para você se trancar completamente da sociedade. Will estava irritado, pois ela falava como se ele não soubesse de nada disso. - O que você não sabe, é que foi o líder das bestas de olhos vermelhos que assassinou seus pais. Will não suportou e agora quem estava chorando era ele, após anos de sentimentos trancados no seu coração, ela colocando tudo isso a prova, fez ele desabar, nenhum humano conseguia segurar um sentimento daquele nível e Mari sabia muito bem disso e estava dizendo tudo aquilo de propósito.- Após isso eu decidi que iria tomar os devidos cuidados a esse caso, pesquisei em livros sobre os símbolos sagrados e descobri o que os de olhos vermelhos estavam pesquisando.

Ela parou de explicar e Will que estava chorando olhou para ela, Mari estava com as mãos cruzadas no peito, Will viu suas bochechas ficarem vermelhas e antes que pudesse completar a lógica dos acontecimentos ela já o estava beijando, a mancha no braço dele ardeu como se chamas estivessem criando um buraco na área, porém ele não ligou, pois uma sensação mais forte, de tranquilidade estava sendo passada pelo beijo de Mari.