Às vezes invejo os mortais. Mesmo com seu destino sendo a morte eles estão sempre se enchendo de esperanças.

Estou no momento sentada no meu trono observando meus filhos. Desvio os olhos quando as portas da sala se abrem e meu pai, o poderoso Zeus entra enraivecido. Ultimamente ele vem bufando mais do que o costume, provavelmente pelo seu orgulho ter sido ferido.

Ele ainda não aceitou que semideuses, nossos filhos, terem nos salvado. Na verdade minha filha ter nos salvado. Se não fosse por ela Cronos teria nos aniquilado. Mais ainda não havia acabado algo estava muito errado, principalmente com Hera.

Não era de o meu costume me interessar pelas as coisas que Hera fazia ou deixava de fazer, mas ela estava muito estranha, como chegar tarde a sessões de recuperação de casais que ela há séculos estava tentando convencer o meu pai de fazer.

– O que houve, dessa vez? - perguntei a ele que estava vestido com um terno risca de giz. Seus olhos azuis elétricos me fitaram já percebendo o tédio em minha voz.

– Como assim, Atena?

– Além de ter fechado o Olimpo? - perguntei com a voz calma e tranquilizadora.

As vantagens de ser a filha favorita do Senhor dos Céus, era que ele nunca ficava bravo por muito tempo.

– Ainda quer saber o motivo de eu ter o fechado?Eu já não a respondi?

– Sim e não. Orgulho ferido pai, puxei isso do senhor, eu sei do que falo. - já tínhamos conversado sobre isso varias vezes.

Nenhum dos deuses podia falar com seus filhos, embora Ártemis estivesse dando seu jeito para falar com as caçadoras e com nossa irmã, Thalia. E Hera que tinha seus meios...

Ele não me respondeu, nisso confirmei. Meu orgulho tinha feito muitos inimigos para mim e para meus filhos. Zeus não era diferente, meu pai tinha muitas vezes olhado para a glória de seus poderes e sucumbido ao medo, como com a minha mãe, que eu nunca conheci, agora ela esta em algum lugar do Tártaro.

Mas isso não queria dizer que eu não a ouvia de uma vez ou outra. E isso era estranho ela não deveria poder falar ou algo assim, mais como Cronos ela poderia se remexer e acumular poder para certas coisas. Retirei-me da sala e fui para o meu templo só que ele estava ainda sendo reformado, então mudei o meu percurso e fui para meu apartamento aqui mesmo em Manhattan. Ele era pequeno mais ainda assim confortável e cheio de livros espalhados: cozinha, sala e quarto. Não fiquei muito observando até porque eu já sabia de cada detalhe e imperfeição que ele tinha, estava curiosa sobre um novo livro que eu tinha adquirido então fui busca-lo no meio daquela bagunça. Como deusa eu poderia muito bem arrumar tudo com um aceno de mão, mas isso seria muito tedioso e sem sentido.

Senti uma presença forte as minhas costas, nem precisei me virar para saber quem era. Eu estava um tanto informal para receber visitas, ainda mais da rainha dos deuses. Eu estava trajando uma calça jeans e uma regata cinza.

– Olá Hera, o que devo o... Prazer? - falei um tanto de mau gosto.

– Oras, eu não posso visitar minha... Filha? - ela falou sarcasticamente eu sorri depois me virei ainda com o sorriso.

– Desde quando sou sua “filha”? - falei. - O que quer?Tenho muitos livros para ler._falei rudemente apontando para o lugar.

– Conversar. - ela fez um aceno e os livros se arrumaram em estantes, por ordem alfabética.

– Hum, bajulação. Desde quando se indigna há isso? - falei me sentando e abrindo o livro que estava em minhas mãos.

– Tome cuidado com o que fala. Já percebi de onde Annabeth tirou o gênio, pensei que só viesse do mortal pelo qual você teve... Sentimentos? - ela ironizou.

Se fosse com Ares ele se levantaria já com uma espada em mãos, se fosse com Afrodite... Esquece. Comigo é bem diferente, não deixo meus sentimentos interferirem com meus deveres e nem os revelos para qualquer um. Hera vive achando que sou como ela, que faço tudo por raiva e rancor. Ela pode ser ate perspicaz e engenhosa, mas nunca vai chegar ao meu nível. Convencida?Nem um pouco. Sou realista.

– Pensei que tivesse vindo conversar. - falei com um tom forte, o mesmo tom de meu pai quando quer impor algo ou quando quer que ela vá embora.

Hera se sentou no sofá de dois lugares preto, alisou o vestido formal e com muitas cores, como um pavão e limpou a garganta. Sua postura era confiante e determinada e com toda a certeza eu iria concordar com o que ela dissesse.

Enquanto ela falava eu começava a entender o porquê dela estar tão sumida. Tudo estava fazendo sentindo, principalmente o sumiço do filhote de peixe (Percy, para quem não entendeu).

– Hum. - eu disse enquanto virava uma pagina do livro que eu estava lendo. - Entendo agora, o sumiço de Perseu. Você está apostando alto Hera, e mesmo que ganhe conseguirá duas coisas ao mesmo tempo. - ela me observou sorrindo. - Uma vitória e uma vingança,tudo ao mesmo tempo.

Completei sem emoção. Minha mente trabalhava a mil por hora, isso explicava ela ter interferido na missão de Annabeth pelo o labirinto, mas ela não era a única a formular planos. Ela pareceu ter se esquecido de que mesmo na minha forma romana eu sou a deusa da sabedoria e da guerra, dos planos e da trapaça.

Isso era uma oportunidade, além de agora, fazer sentido a profecia.

"A filha da sabedoria caminha solitária, a Marca de Atena por toda Roma é incendiária."

É claro que sei quem deve cumprir essa profecia, afinal é um de meus filhos. Mas, minha forma romana teima em mandar todos para a maldita Roma. Observei Hera que sorria para mim como se esperasse que eu a parabenizasse pelo o plano brilhante que ela e sua forma romana – Juno – bolaram por anos. Hera poderia ser muito bem a deusa do casamento e fidelidade, mas como mãe era péssima.

– Sabe que há outro problema não é? Sabe quem está se remexendo com Gaia?! – perguntei temendo que sua resposta comprovasse meus medos.

Ela fechou o sorriso e confirmou. Depois se levantou e olhou em volta analisando o pequeno apartamento onde eu me escondia para pensar.

– Sabe, Afrodite tem uma mansão em Paris. Achei que você tivesse melhor gosto Atena. – disse olhando a cozinha minúscula. – Bem, adeus.

Assim ela se foi numa explosão de cores deixando um cheiro enjoativo pelo local. Fiquei parada por um momento pensando, pensando e pensando. Os romanos estavam se movimentando e os gregos também. Não demoraria agora para eu e a maior parte dos deuses perder o controle. E eu sabia que a partir de agora tudo seria um tormento!!!