Lado A Lado - O Amor E O Tempo escrita por Márcia Pelosi


Capítulo 29
Capítulo 29 - Fomos descobertos


Notas iniciais do capítulo

Oi meninas,

Em decorrência da epidemia de mal humor das LaurEds no dia de hoje, aqui está mais um capítulo para vocês! Dá pra ver que as peças vão se encaixando e Laura está atenta a tudo em relação à Júlia! Não me matem agora não, viu? Mas era preciso a diretora fazer o que fez, para abordarmos o preconceito contra nós mulheres no início do século XX na Educação (Tema de meu trabalho da Faculdade). Muito obrigada a todas vocês que comentaram! Se estão gostando recomendem a leitura aqui no site!
Grande beijo!



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Capítulo 29

Laura e a diretora entram na sala da direção da escola. A diretora senta-se atrás de uma mesa de madeira bem grossa. Vários papéis sobre a mesa denunciam que a senhora estava no meio de uma arrumação. Ela é uma mulher de uns 55 anos. Rosto marcado pelo tempo, algumas rugas desenham sua face. Trajando um uniforme todo preto e uma blusa branca por baixo, D. Ana ainda ostenta um penteado com os cabelos presos em um coque. Ela indica a cadeira para Laura sentar-se a sua frente. Quando Laura se acomoda, ela começa.

D. Ana: Senhorita Laura, acho que precisamos esclarecer algumas coisas que, pelo que vejo, não ficaram bem entendidas pela senhorita!

Laura sabe que lá vem preconceito e injustiças contra as crianças. Utilizar castigos físicos não é o método utilizado por Laura para disciplinar seus alunos. Ela acredita que o interesse pelos estudos vem de uma didática inovadora, capaz de estimular as crianças a tomarem gosto por conhecer o desconhecido, explorar novas possibilidades. Ela limita-se a responder, tentando manter-se calma e serena.

Laura: Pois não, D. Ana.

D. Ana: Em primeiro lugar, quero deixar claro que a sua aceitação nesta escola foi em decorrência de um pedido muito especial do Sr. Ricardo Pereira, filho de uma grande amiga e colaboradora neste projeto.

Laura: Sou muito agradecida ao Ric... Ao Sr. Ricardo por esse ato!

A professora preferiu manter certa formalidade na sua amizade com o rapaz, para evitar interpretações equivocadas por parte de D. Ana.

D. Ana: Continuando... A senhorita não me parece ser uma pessoa de poucas condições financeiras e bem se vê que tem berço.

Aquele tipo de conversa estava enojando Laura, mas ela se manteve firme. Ela se sentia como se estivesse diante de sua mãe, com tantas normas e padrões de comportamento “aceitáveis” pela sociedade.

Laura: D. Ana me desculpe! Não querendo, de forma alguma, ser indelicada com a senhora. Mas as crianças me aguardam e acredito que a senhora não me chamou aqui para falar sobre minha condição financeira, não é?

Pela primeira vez, Laura percebe que D. Ana é direta quando fala.

D. Ana: Não estou gostando nada de seu jeito de tratar as crianças. Com abraços, manifestações de carinho, afagos! Elas devem ver a senhora como uma autoridade constituída para moldá-las a viverem em sociedade e não como uma amiga.

Laura: D. Ana, mas isso é um absurdo! A professora não deve ensinar seus alunos a serem robôs, e sim a serem pessoas que conhecem as coisas do mundo, que fazem descobertas, que aprendem as primeiras letras, cidadãs, que são capazes de escolher e tomar suas decisões. E discordo quando diz que uma professora não deve ser amiga de seus alunos, carinhosa com eles. Elas devem ter confiança em mim. Para poder ajuda-las, quando se fizer necessário, e além do mais, elas são crianças, D. Ana!

A diretora sorri com ar de cinismo. Depois começa a alterar a voz.

D. Ana: Muito bonito seu discurso senhorita Laura! Para ser usado em outra instituição de ensino! Mas aqui dentro temos regras, disciplinas que devem e vão ser respeitadas, estamos entendidas? Se quiser continuar conosco, deve respeitar as normas.

O sangue de Laura está fervendo. Mas ela sabia que mais cedo ou mais tarde teria de enfrentar o preconceito das pessoas por seus métodos de ensino. Ela não se formou para estimular as crianças a ganharem rótulos, a seguirem padrões de comportamento, mas para serem pessoas capazes de decidir, pela felicidade delas, o que devem ou não fazer. Ela lembrou-se de suas alunas, principalmente de Júlia. Ela não poderia deixar a menina sozinha ali. Ela precisava ajuda-la. E essa ajuda não viria, com toda certeza, de D. Ana. Mas Laura não seria contraditória em seus pensamentos e ações e assim respondeu.

Laura: D. Ana, não se preocupe! Darei o meu melhor pelos meus alunos.

A diretora limitou-se  a dizer.

D. Ana: Assim espero!

Laura finalmente pode sair daquela sala e daquele ambiente e respirou fundo. Ela se lembrou de Edgar! Ele era tão compreensivo! Estava louca para encontra-lo e desabafar sobre as coisas horríveis que escutou. Mas lembrar-se do homem que a fazia ser a mulher mais feliz do mundo acalmou seu coração e ela pode voltar à sala de aula.

Ainda tentando ganhar a confiança de seus alunos, afinal era sua segunda aula, Laura perguntou a cada um deles o que lhes agradava fazer. Um por um foi respondendo. Quando alguém falava algo engraçado, todos riam. Era uma aula descontraída! Seus alunos estavam sorrindo e quando Ritinha contou que gostava de vestir as roupas e usar os sapatos de sua mãe para brincar de tomar chazinho com as amigas e imitando como fazia, todas riram. Laura olhou para Júlia e percebeu que ela também deu um tímido sorriso. Laura continuou a dinâmica.

Laura: E você, Júlia? O que gosta de fazer?

A menina ficou um pimentão. Quase ninguém falava com ela, mas a professora Laura sempre que podia puxava assunto. Ela falou com dificuldade.

Júlia: Eu go...gosto... de olhar a chuva cair na janela.

Laura se emocionou. A menina devia ser tão sozinha que o que mais apreciava fazer era em um momento de solidão! Só dela e da chuva.

Neste momento o sinal tocou. Laura iria infringir a “lei”, mas não deixaria de abraçar cada uma de suas alunas. De repente ela viu uma sombra, uma silhueta vinda do corredor. Ela pensou ser a diretora e logo se preocupou! Seria mandada embora! Laura respirou aliviada quando viu que a sombra era de outra professora da escola, Clara. Ela era uma jovem bonita. Loira com os cabelos cacheados e os olhos verdes. As duas já haviam conversado durante o recreio, e pelo que Laura percebeu Clara também pensava como ela. Ela viu na colega de profissão uma aliada. A moça exclamou.

Clara: Laura! Essa foi por pouco! E se fosse a D. Ana?

A professora suspirou fundo.

Laura: É! Por hoje escapei! Mas não consigo ser um robô, sou uma mulher! Tenho sentimentos! E elas são crianças.

Clara: Também penso como você, Laura! Mas precisamos ser cuidadosas.

Laura: É verdade!

As duas se despedem e Laura se dirige para a porta de saída. Quando ela deu o último passo para fora da escola, percebeu que o carro que trouxe Júlia, estava saindo naquele momento. Ela andou mais um pouco e encontrou Ritinha toda feliz, mostrando o Bartô para todas as coleguinhas de turma! Menos Júlia que já havia ido embora. A menina se dispersou das coleguinhas e andou em direção de Laura. Ela segurava Bartô no colo e a professora aproveitou para fazer um carinho no bichinho. Ela puxou a saia de Laura e pediu para a professora abaixar que ela precisava falar um segredo. Ela fez uma conchinha com a mão, colocou na orelha de Laura e disse bem baixinho.

Ritinha: Senhorita Laura, eu fui brincar um pouquinho ali na pracinha e eu vi aquele moço bonito que trouxe a senhorita! Eu acho que ele gosta da senhorita que nem o príncipe da princesa. Ele já beijou a boca da senhorita, já?

Laura tenta desconversar. Ela aperta as bochechas da menina e com uma carinha fofa, fala. Mais uma vez ela distrai a menina e não responde. Ela abaixa o corpo.

Laura: Ritinha! Você é impossível, sabia? Mas, falando em princesa... quem é que lê os livros de princesas para você? Sua mãe?

A menina mexe a cabeça negativamente e fala.

Ritinha: Não senhoritaaaa Lauraaaa...! Nem a minha mãe e nem meu pai sabem ler. Quem lê é a Rosa. A filha dos patrões da minha mãe. Ela é tão supimpa!

Enquanto as duas estão nesta conversa, Edgar já está impaciente na pracinha. Ele está louco para tê-la em seus braços novamente. Ele percebe que ser somente namorado de Laura tem esse problema. Não pode chegar perto da escola com ela. Ele está fora do carro, encostado. Laura finalmente consegue se despedir das crianças e vem vindo em direção a Edgar. Ela está com um sorriso lindo e ele paralisado na mesma posição, completamente abobalhado com a beleza de seu amor! Ela se aproxima e fala baixinho.

Laura: Oi...

Ele totalmente inebriado, desencosta do carro e se aproxima mais dela com seus braços voltados para os dela.

Edgar: Oi...

Num impulso, Edgar procura os lábios de Laura em um rápido beijo e é censurado...

Laura: Edgar... Aqui não... As crianças ainda estão por perto e você foi descoberto aqui, sabia? Parece um gato com o rabo de fora!

Os dois riem da brincadeira de Laura.

Edgar: Sério? ... Conta isso direito!

A professora apressa o rapaz para entrarem no carro.

Laura: Conto! Mas lá em casa, senão não respondo por mim e acabo te beijando aqui mesmo!

Os dois entram no carro e seguem para casa. Quando chegam à porta de casa, Edgar está fazendo cosquinhas em Laura que tenta escapar e se proteger das investidas do rapaz. Eles se beijam. Os dois estão tão entretidos um com o outro que só percebem que não estão sozinhos quando escutam um barulhinho de alguém limpando a garganta.

Assunção: Rhum! Rhum!

Os dois ainda abraçados, como se tivessem feito a maior travessura do mundo, olham ao mesmo tempo e falam surpresos na mesma hora.

Laura: Pai?

Edgar: Dr. Assunção?

Não se sabe nesta sala quem está mais envergonhado! Se Laura e Edgar pelo flagra ou se Dr. Assunção por pegar sua filha e seu genro em situação tão íntima. Laura e Edgar se desgrudam e a professora consegue falar tentando prender o riso. Neste momento ela ouve um pequeno ruído de riso preso e leva um beliscão do marido para tentar impedir que os dois caiam na gargalhada na frente da visita inesperada.

Laura: Papai! Que surpresa!

O médico sorri sem jeito. Ele fala recuperando a cor aos poucos. Ele vai em direção à filha que já está de braços abertos, esperando pelo abraço do pai.

Assunção: Filha... Não foi só você que foi surpreendida! Pode ter certeza disso!

Edgar está ao lado de Laura e também recebe um meio abraço com algumas batidas no ombro. O advogado fala.

Edgar: Como vai, Dr. Assunção?

Assunção: Vou bem, meu rapaz... Mas vocês... Aqui... Juntos... Não me diga que? Vocês reataram?

Edgar puxa Laura para mais perto e toma o braço da moça.

Edgar: Desta vez ela não me escapa!

Laura está segurando no braço do rapaz com uma mão, com a outra acaricia o seu braço. Ela fala sorrindo.

Laura: E quem disse que eu quero escapar?

Assunção abraça os dois juntos.

Assunção: Meus filhos! Fico muito feliz por vocês!

A filha do médico sorri e responde.

Laura: Eu sei papai! Estamos muito felizes também! Mas eu queria te p...

Antes que Laura terminasse de dizer a frase, ela é interrompida.

Assunção: Já sei, já sei filha! Pode deixar que não conto para a sua mãe que vocês reataram. Mas me digam! Quando voltam para o Rio?

Os dois se olham cúmplices. Laura prefere conversar com o pai a sós e pede.

Laura: Depois falamos sobre isso, papai! Mas... O senhor fica para almoçar conosco?

O medico responde sem graça.

Assunção: Bom... ! Eu vinha com essa intenção, mas ... Diante desta surp...

Ele é interrompido.

Edgar: Que é isso meu sogro! A casa é do senhor. Eu que estou de intruso!

Laura sorri e gosta de ouvir Edgar chamando seu pai de sogro. Ela fala animada.

Laura: Bem! Não tem nenhum intruso aqui, viu Dr. Advogado Edgar Vieira! E sua presença é maravilhosa, papai! Vamos ficar os três usufruindo da companhia uns dos outros! Certo?

Ela está radiante, afinal está ao lado dos dois homens que mais ama no mundo: Seu amor e seu pai.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram? A opinião de vocês é muito importante! Nem acredito, mas estamos chegando aos 200 comentários! Postei de brincadeira, mas a brincadeira cresceu, e graças a vocês que comentam, acompanham e recomendam chegamos a esse número! A pessoa que fizer o comentário de número 200, poderá fazer uma pergunta por mensagem para mim sobre a história! Mais uma vez, muito obrigada!
P:S Gostaram do flagra?? rsrs