Rubi Vermelho Como Sangue escrita por Lucy Himeno


Capítulo 8
A escola


Notas iniciais do capítulo

Sim, eu demorei muito! Mas fiz um cap. grande! Meus problemas se resolveram em partes e eu já voltei para casa também... Nesse cap tem personagem novo, huhu



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 Passei o resto do dia entediada e sem nada importante para fazer, mas resumindo foi assim: Rabisquei por horas no paint com meu netbook sem internet, levei água e uns quatro ou cinco sanduíches de queijo para não precisar sair do quarto e dar de cara com meus pais, se bem que foi um esforço desnecessário, pois assim como no dia anterior eles saíram sem dar notícias. Não iria me preocupar desta vez. Tentei abrir o tal diário, sem sucesso, tomei um banho de banheira, desta vez não tão traumatizante como a outra, e vesti um lindo vestido preto com bordados dourados (seria ouro?!) para esperar Gabriel e pedir algumas explicações. Mas foi em vão. 

 Caiu a noite e ele não apareceu. Resolvi trocar de roupa antes que meus pais voltassem e vissem aquele vestido, não queria ter que dar explicações. Vesti uma roupa de dormir normal, ao invés daquelas camisolas exuberantes, um short curto e uma camiseta comprida, ambos de cor preta, estava ótimo, afinal, aparentemente Gabriel esqueceu de mim. Não que eu me importasse. Prendi meu celular ao elástico do short e desci para levar o prato dos sanduíches para a cozinha, agora restavam apenas migalhas. É, se eu continuasse assim acabaria engordando...

 Subi as escadas novamente, examinando meu celular e tentando descobri porquê até agora eu não tinha recebido sequer uma mensagem dos meus amigos. Apenas um ponto de área que de vez em quando sumia, ainda assim, com um pouco de esforço eles conseguiriam me enviar alguma! Mas se ninguém tomava a iniciativa, não seria eu quem tomaria. Aparentemente, todo mundo esqueceu de mim mesmo. Cheguei frente à porta do meu quarto mas antes de abri-la olhei para a direita e vi aquela porta, quase invisível, camuflada apenas pelo papel de parede destacado ao seu redor. Como ninguém além de mim havia prestado atenção nela?

 Girei a maçaneta, pronta para dormir, talvez hibernar, não queria ter que ir para uma escola nova. Ser transferida em pleno mês de Junho, antes das férias, que tipo de pessoa faz isso, ainda mais no primeiro ano?! Eu não queria nem pensar em quanta atenção eu chamaria. Entrei e me surpreendi ao ver aquela figura alta e esguia revirando as gavetas da minha cômoda.

-Gabriel! O que você está fazendo?!

-Ciao, Ruby! - Virou-se para me cumprimentar (em italiano?!), sem parecer acuado com minha presença, mesmo mexendo nas minhas coisas sem permissão - Eu estava à procurar algo que... Que trajes são esses?! - Prestou atenção nas minhas roupas e tentou desviar o olhar, ficando um tanto quanto ruborescido, mas sem deixar de encarar minhas pernas "disfarçadamente" vez ou outra.

-O que há de erado com minhas roupas? São apenas para dormir! - Acabei ficando envergonhada e tentando esticar a camiseta para cobrir as pernas .

-Não deverias dormir apenas com a roupa interior, podes se resfriar... - Disse ele, sem saber mais para onde olhar.

-Roupa interior? O que significa... Ei! Não são "roupas interiores" coisa nenhuma! - Corri para a cama e me escondi debaixo das cobertas. Droga, por que ele tinha que ficar me encarando?! Não era pra tanto, é normal usar roupas confortáveis pra dormir! E roupa interior? Quem ainda fala assim?! Ele por acaso não é deste país?!

-Como se eu nunca houvesse visto... - resmungou baixinho, rindo-se.

-O que você disse?! - Eu só queria me certificar antes de fazer um barraco.

-Nada, nada... - Desconversou, se aproximando da cama e sentando-se abaixo de onde estavam meus pés - Mais importante que isto, aquele maldito... Quero dizer, se vizinho não deve mais incomodá-la. - Disse com um olhar sério, e ver seus olhos decididos me fez perceber que havia um machucado cicatrizando acima do seu olho direito.

-O que aconteceu?! Meu Deus, não acredito que você foi arrumar briga com um desconhecido, o que você fez?!

-Escute-me com atenção, Ruby. - me encarou, ignorando todas as minhas perguntas como quase sempre fazia - Não importa o que aconteça, mantenha distância deste... Deste rapaz.

-Eu nem sequer o conheço, mas quem você pensa que é para vir aqui me dando ordens assim?!

-Eu sinto muito, mas... - Ele não teve tempo de terminar sua frase, antes disso caiu sobre a cama e sobre minhas pernas, seu peso me impedindo de me mexer.

-Gabriel? Gabriel, acorda! - Sacudi ele pelos ombros, tentando tirá-lo de cima de mim - Eu não sei como cuidar de uma pessoa desmaiada!

-Ruby, eu estou fraco... - Falou num tom baixo,mal conseguindo abrir os olhos.

-O que aconteceu?! Você tem pressão baixa?!

-Eu não me alimento há dias... - sua voz era como m sussurro, mal conseguia ouvi-lá.

-Por que?! Você quer que eu traga algo para você?! Eu vou descer e...

-Não é necessário. - Me interrompeu, e como se gastando suas últimas forças, puxou meu cobertor para baixo, ficando com a cabeça diretamente apoiada sobre minhas pernas.

-O que..!

Não tive tempo de falar mais nada, apenas senti uma repentina dor aguda. Ele, sem nenhuma hesitação, agarrou mordeu minha coxa. Não uma mordida erótica, e sim uma mordida violenta, sedenta, seus dentes afiados mais pareciam agulhas, senti-los rasgando minha carne com voracidade, senti seus lábios sugando meu sangue rapidamente, ainda assim, nenhuma gota escorreu ou manchou a cama. Eu estava desde o começo, tentando empurrá-lo com toda minha força, mas só agora pareceu ter algum efeito. Ele parou e lambeu onde havia mordido, pude ver duas marcas já cicatrizando na minha coxa direita. O que foi aquilo?!

-O que você é?! - Perguntei, quase aos gritos.

Ele me abraçou pela cintura, com tanta força que doeu. Parecendo decepcionado ou irritado consigo mesmo, apenas me disse sem me olhar nos olhos:

-Perdão, perdão, per...

 Sua voz parecia cada vez mais longe, minha vista cada vez mais turva, senti meus olhos se fecharem pesadamente, e como num piscar de olhos, tornei à abri-los, porém já era dia. Estiquei o braço e desliguei o despertador, que estava fazendo muito barulho às seis e meia da manhã. Me ergui e notei que tanto Gabriel quanto a marca da minha coxa haviam sumido, mas desta vez eu não seria tão incrédula, aquela dor foi muito forte para ser ilusão. Eu deveria ter medo, mas não era isso o que eu sentia,e sim uma espécie de incerteza, sim, eu estava intrigada com tudo aquilo. Vampiro? Não, muito estúpido para ser verdade. Seria Gabriel um daqueles malucos de tribos urbanas que vivem tal como vampiros?! Mas como algo assim existiria aqui, nessa cidade minuscula, que não tem nem shopping e tem apenas três colégios? Falando nisso...

 Me levantei, um pouco fraca, talvez por ter perdido tanto sangue ultimamente. Eu tinha que me arrumar, porque hoje iria fazer a tal matrícula do tal colégio. Ah, não queria nem pensar nisso! Melhor me arrumar logo, antes que minha mãe venha gritando para me acordar, como sempre. É isso, vou vestir qualquer coisa e descer. Lavei o rosto e escovei os dentes, fui no guarda roupa e coloquei uma calça jeans, uma blusa de alças e um casaco de capuz, claro que tudo preto. Penteei o cabelo e passei muito lápis preto nos olhos, ajustei o pingente do meu colar, que estava para trás. Aliás, por que eu não tirava esse colar nem pra dormir?! Minha pele até estava marcada pela corrente! Ah, chega de superstição! Hoje eu deixaria o colar em casa! Guardei-o no porta-jóias da gaveta da penteadeira e saí.

 Essa escada era tão grande e cansativa que minha vontade era descer ela deslizando sentada pelo corrimão, mas claro, eu não tinha coragem para isso. Desci os degraus pulando dois por vez e fui pra cozinha. Por sorte, hoje eu estava sozinha ali, faria meu café e comeria em paz, sem cenas melosas que me dariam ânsias. Resolvi mudar do pão com queijo de sempre, e comi uma tigela de cereal de chocolate com leite. Eu ainda tinha que subir para escovar os dentes pela segunda vez e pegar minha mochila. Aquelas escadas acabariam deixando minhas pernas musculosas! Entrando no quarto, quem estava lá? Gabriel, é claro! De pé formalmente, parecia estar ali imóvel há muito tempo.

-Bom dia, senhorita Ruby.

-Bom dia, senhor psicopata!

-Ruby, sobre ontem, eu...

-Eu não quero ouvir nada! Você é algum tipo de louco que acha que é um vampiro não é?! 

-Louco? Não, eu não acho, eu...

-Olha aqui, eu não quero ouvir suas explicações! Eu tenho que me arrumar para o colégio!

-Colégio?

-Sim, sabe, professores ensinando, alunos aprendendo...

-Ah, então é isso! Incrível! Sempre imaginei que um dia as mulheres teriam o direto à educação!

-Mas o que... Ora, seu maldito machista, fora daqui!

-Hm? O que ouve? Eu disse algo ofensivo? O que é machista?

-Sem tantas perguntas! Apenas saia daqui, eu estou ocupada agora!

-Como quiser, senhorita. Novamente, perdão Ruby.

Gabriel moveu-se até a sacada e pulou tão rapidamente que eu não tive tempo de fazer mais nada. corri até o parapeito e vi que ele estava lá em baixo,próximo ao muro que pulara da última vez, e estava bem e de pé.

-Você precisa começar a usar a porta como uma pessoa normal! - gritei

-Eu não sou uma pessoa normal! - Disse ele, virando-se para me olhar, e dando um sorriso de canto virou-se novamente e pulou o muro com tamanha destreza que causaria inveja à qualquer um que visse.

-Esse cara é muito louco... - pensei comigo mesma, e neste momento minha mãe entra no quarto. 

-Ruby, você já está de pé?

-J-já estou pronta mãe... - Gaguejei, meio tensa. Que sorte! Já pensou se ela chega e o encontra aqui?!

-Já?! Então vamos? Já são quase sete horas, é bom chegar cedo para resolver tudo...

-Ok, pode ir na frente que eu já desço.

-Tudo bem então, não demore, você sabe como seu pai é...

Ela fechou a porta e desceu. Muito estranho, ela estava quieta demais, e o jeito que ela falou do pai... Será que brigaram? Até parece, eu nunca vi os dois brigando na minha vida!

Peguei minha mochila e desci, ainda pensei em pegar meu colar e colocá-lo de novo... Não! Esse apego não é saudável! Sai e tranquei a porta da frente, fiz o longo caminho de descida e quando cheguei do lado de fora vi minha mãe sentada no banco de trás do carro! Corri para saber o que estava acontecendo.

-Mãe, porque a senhora não está na frente?

 Ela não me respondeu, meu pai, ao volante, também não dizia nada. Não acredito, eles estavam brigados mesmo! Por hora, resolvi ignorar e entrar no carro. Aliás, não sei porque fomos de carro, não demorou nem cinco minutos e já estávamos no colégio. Era lindo! 

Descemos do carro e eu aproveitei para olhar tudo pelo caminho. Hortências coloridas estavam plantadas em canteiros por toda parte, excerto nos caminhos que davam para o único e enorme prédio. A porta enorme da frente era uma igreja, mas uma lateral, um pouco menor, dava acesso à escola. Aparentemente, ali antigamente era um colégio masculino, e como não poderia deixar de ser em uma cidade pequena, acabara de torna-se misto. Ótimo, uma novata já chamaria atenção em circunstâncias normais, imagina em um colégio com poucas garotas?!

 Me distraí tanto com meus pensamentos e com a paisagem que meus pais foram na frente! Não posso me perder! Corri para tentar encontrá-los e pisei em alguma coisa que me fez escorregar. 

-Ai! - Exclamei quando caí no chão.

-Você está bem?! - Me perguntou um garoto de cabelos castanhos claros e olhos verdes, mais ou menos minha idade, talvez mais novo, que estava agachado cuidando das flores.

-O que você acha?! - falei grosseiramente

-Olha, eu sinto muito... foi na minha pá que você tropeçou, eu devia guardar minhas coisas melhor... - disse ele, pegando e me mostrando a pequena pá de jardim, um pouco envergonhado por minha grosseria.

-Me desculpe também, eu fui muito grossa, eu só... Estou nervosa, acabei de chegar na cidade e não conheço nada por aqui... sinto falta dos meus amigos... 

-Ah, eu sei como é ter que sair do lugar onde você viveu a vida toda, eu também vim para essa cidade há pouco tempo, com meu irmão... - disse ele, que mesmo me olhando parecia com o olhar distante.

-Hm... Enfim, eu preciso encontrar meus pais e ir para a diretoria agora... Você pode me dizer para onde fica?

-Ah, é só seguir pelo corredor, é a primeira sala... - Disse ele, se levantando e me puxando pela mão para me ajudar - Não tem erro! - Disse, sorrindo, com as bochechas coradas, aquele tipo de sorriso que deixa quem sorri com furinhos nas bochechas. Foi quando reparei que ele era realmente um garoto bonito, e mais menos do que eu esperava, ainda assim devia ser uns cinco centímetros maior que eu... Espera aí, por quê ele ainda não tinha soltado minha mão?!

-Foi bom falar com você, mas eu tenho que ir fazer minha matrícula e ir pra aula... - disse, soltando minha mão da dele e esperando que minhas bochechas não estivessem muito coradas quanto eu achava que estava. - Até mais. - Disse-lhe, dando as costas, mas ele me surpreendeu me segurando pelo ombro.

-Pra você. - Disse ele, colocando um raminho com umas três ou quatro hortências detrás da minha orelha - A... A propósito, meu nome é Abel! - disse, gaguejando um pouco. É, ele era um garoto tímido.

-Você pode me chamar de Ruby, muito prazer -disse-lhe, dando um sorriso de canto - Agora eu realmente preciso ir, até mais!

-Até mais, Ruby... - falou entre um sorriso largo, com aquelas barroquinhas nas bochechas.

Eu dei as costas e caminhei à passos largos até a porta. Por que eu me deixei abalar tão facilmente por um garoto, talvez mais novo que eu, que só estava sendo gentil? Gentil até demais... E que sorriso contagiante... Ah, tenho que parar com isso! 


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Notas finais do capítulo

Dessa vez eu me superei, mais de 2000 palavras! :o
Eu demorei porque eu tinha prometido mostrar a escola, mas não achava uma brecha para isso, haha.

O que acharam do Abel? :3

à propósito, alguém ainda usa a palavra barroquinha? Sabem aqueles furinhos nas bochechas que algumas pessoas ficam quando sorriem?

No próximo cap. vocês vão saber quem é o irmão do Abel