You Promised

by: Hunter Demigod

Já era tarde da noite. A chuva tinha parado de cair do lado de fora, mas Mia sentia que tinha alguma coisa de errado. Gabriel já havia saído a um tempo, dizendo que voltaria logo, mas até agora, nada.

Ela se levantou e resolveu procura-lo, mesmo ele tendo sido bem claro que ela não deveria sair dali. Ela precisava saber se ele estava bem.

Gabriel que cuidava dela... Sempre cuidou. Sua irmãzinha. Tão pequena e inocente em mente e alma que ele não podia deixar que quebrassem isso dela... Não podia deixar que a tirassem isso.

Ele havia levado ela consigo após deserdar o céu. Não podia deixa-la com Miguel, não confiava em ninguém para cuidar da sua pequenina. Por mais que seu receptáculo fosse uma garota de 21 anos, ela tinha o comportamento de uma criança de 7.

Ela parou em um hotel. Olhou em volta confusa. Sentia que ele estava ali, mas não havia ninguém.

–Gabriel? –ela sussurrou e caminhou entre os corredores

Não havia nada nem ninguém. Talvez seus sentidos estivessem errados. Voltou a pequena casinha e resolveu esperar um pouco mais.

Ele havia achado essa casinha no meio do nada, abandonada e sem donos, e resolveu usa-la como abrigo. Era pequena, porém aconchegante. Pelo menos, Mia achava isso.

O sol apareceu no horizonte e nada. Gabriel não havia voltado. Mia ficou com medo, estava sozinha.

Talvez ele tenha ido se encontrar com outras daquelas mulheres..., ela pensava. Mas, conforme o passar do tempo, menos ela acreditava nisso. Resolveu que deveria voltar a aquele hotel em que estivera.

Chegando lá, voltou a caminhar pelos corredores... Novamente, nada. Mas então, viu um lugar onde não havia procurado. O salão. Ela entrou, olhando para as mesas e cadeiras jogadas para o lado, não havia nada ali. Até ela perceber um curioso desenho no chão. Asas.

Foi então que ela percebeu que não era um desenho. As marcas eram cinzas de asas. Correu até o anjo cujo elas pertenciam e lágrimas se formaram em seus olhos. Lá estava ele. Estirado no chão. Morto.

Ela pulou para perto dele balançando ele devagar sussurrando seu nome entre os soluços de um choro. Nada. Ela segurou seu nariz e balançou como fazia quando ele caía desmaiado depois de beber. Nenhum movimento.

–Não! Gabriel! Você não pode morrer! Eu não deixo! –ela gritou

Ela agora o sacudia sem piedade, tentando acorda-lo. Mas era completamente inútil. Ela se deitou encostando a cabeça no peito dele enquanto chorava.

–Você prometeu! Você prometeu que ia cuidar de mim! –ela gritava

Tentou novamente sacudi-lo, mas nada funcionava. Deitou novamente, encostando a cabeça nele e as lembranças começaram a voltar...

Uma em especial, a que ela mais se confortava em lembrar.

Eles estavam perto de um lago. Mia corria por entre as árvores atrás de uma borboleta, e Gabriel apenas a observava rindo. Ela finalmente conseguiu pegar a borboleta e levou correndo feliz para mostrar ao irmão mais velho.

–Olha, eu consegui! Eu consegui! –disse Mia sentando-se ao lado de Gabriel e abrindo as mãos com cuidado mostrando-lhe a borboleta

–Parabéns. –ele falou sorrindo-lhe

A borboleta bateu as asas mas não voou, ficou na mão de Mia enquanto ela a admirava.

–Eu acho elas incríveis... –Mia comentou

–Elas quem?

–As borboletas... Antes eram apenas lagartas... Mas depois de um tempo criam asas, e voam por si próprias... Além disso são muito bonitas... –Mia falou e riu quando a borboleta pousou no seu nariz

Gabriel a encarou sorrindo levemente.

–Nunca pensei nisso. –confessou

A borboleta bateu as asas e voou para longe, deixando Mia um pouco despontada.

–Acho que seria legal ser uma borboleta... –Mia disse inocentemente

–Você iria voar pra longe e iria me deixar aqui? –Gabriel perguntou a encarando

A borboleta voltou, e pousou novamente na mão de Mia. Ela sorriu.

–Mas eu voltaria.

–E eu ficaria esperando... –ele falou

Mia voltou a realidade. Olhou novamente para o rosto de Gabriel. Calmo.

–Não me deixa... –ela suplicou mais uma vez

Passou alguns minutos encarando o corpo dele, esperando um milagre. Esperando que fosse só mais uma brincadeira dele. Que ele abrisse os olhos e desse aquele sorriso brincalhão e a abraçasse a chamando de pequenina. Mas isso não ia acontecer.

Ele segurou um dos braços dele e o levou para um campo. Ele a havia levado ali uma vez. As mesmas belas flores ainda estavam ali. Era estranho. Ele havia morrido, nada deveria ser mais tão belo.

Ela usou um dos truques que ele a havia ensinado, que com muita dificuldade ela conseguiu fazer, e uma pá apareceu. Ela cavou com as lágrimas descendo de seu rosto. Ao fazer um buraco fundo colocou o corpo dele lá. E com muita dor, o enterrou.

Fez aparecer uma pedra bem acima da cova improvisada com o nome “Gabriel”. Olhou mais uma vez.

–Não quero mais ser uma borboleta... Só quero ser sua pequenina... Você prometeu! –ela falou chorando, ajoelhada em frente a cova

E ali ela passou o dia. Repetindo as mesmas palavras: “Você prometeu”.