Cecília escrita por Claire Capelotti


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Capítulo finalizado.



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Estava tudo pronto, não faltava nada para ir depois que John nos deixou na minha casa e Chay subiu para me ajudar com o que faltava da arrumação.

- Que papéis são esses? – Chay disse pegando minhas anotações anuais em cima da cama – Posso ler?

- Pode – Dei de ombros e continuei colocando roupas na mala.

Ele sentou no chão encostando as costas na minha cama e ficou por alguns minutos em silêncio lendo.

- “Não quero largar minha amiga, nem ele. Ele tem nome, Chay.” – Ele riu e veio até mim, segurou meu queixo com a ponta dos dedos, olhando nos meus olhos – Eu gosto de você. E a coisa mais fodida que já aconteceu foi você ter que ir morar a um oceano de distancia, como eu sou azarado! Quando finalmente encontro alguém para amar, essa pessoa vai embora. E o pior de tudo é que não consegui perder a virgindade contigo!

Dei risada. Era a coisa mais escrota e gentil que alguém já tinha dito para mim, estava feliz, mas ao mesmo tempo constrangida – parando para pensar a maior parte do tempo ele me deixa assim. Chay não tirava os olhos de mim, me olhava tão profundamente que chegava a perfurar a alma.

E nos beijamos. Mais uma vez. Mais um beijo de centenas. Mais um beijo com essa coisa que deixava mil borboletas agitadas no meu estômago. Eu sentia nossos corações batendo forte e rápido ao mesmo tempo. Na minha garganta uma frase estava presa. Uma frase com três palavrinhas. Será que três semanas. Menos de um mês. É capaz de fazer alguém amar?

***

Assim que Chay foi embora meu pai me ligou dizendo que iria me levar para o dentista. Eu ia tirar o aparelho.

Quando na sala de espera a recepcionista chamou meu nome senti uma felicidade brotar dentro de mim. Em seguida eu estava na sala do dentista, deitada, com ele arrancando aqueles metais dos meus dentes, era um alivio a cada pedacinho retirado.

No fim, o dentista me deu um espelho e eu pude me ver.

- O que achou? – O Dr. Fernando perguntou.

- Estou tão... Estranha. – Respondi.

Na verdade eu estava bonita, estranha, mas bonita, queria andar sorrindo só para o mundo ver como eu tinha ficado.

***

Minha última noite no Brasil. Marquei de encontrar Chay na casinha, iríamos dormir lá depois de umas partidas de UNO e xadrez como fazemos sempre. Avisei aos meus pais que iria dormir fora para eles não terem um ataque e chamarem a policia, bombeiros, sociedade protetora dos animais ou sei lá.

Pela primeira vez fui à casinha sozinha – o que era muito bizarro porque era como se eu estivesse em um filme de terror até chegar a salvo na casinha e ver sinal de luz dentro dela.

Quando abri a porta dei de cara com a sala tomada por velas vermelhas acesas exalando um perfume doce, uma mesinha redonda coberta por uma toalha de mesa xadrez como de piquenique arrumada com pratos cobertos por aquelas tampas de inox que gente rica usa em jantares, taças e uma vela preta no centro acesa. Era um encontro.

- O que é isso? – Perguntei sorrindo.

- Nosso jantar de despedida – Chay respondeu e puxou uma cadeira de frente a ele para me sentar – Não vou poder ir ao aeroporto amanhã... Meio que fugi do trabalho hoje e vou ter que repor.

- Ah... Tudo bem. Isso aqui está bem romântico...

- Eu sei que você quer dizer meloso, mas obrigado pela consideração de usar outro adjetivo.

- Eu sei ser uma moça comportada em encontros.

- Isso é um encontro?

- Podemos dizer que sim.

- Se você diz...

Chay tirou as “tampas de inox” (que eu não sei o nome chique, porque certamente deve ter) e no prato ao invés de alguma refeição descente tinha uma caixinha preta de veludo. Ah, não, porra! Pensei. Por sorte meu celular tocou, a telinha dizia “Manuvisqui”.

- Eu... Preciso atender, tipo eu avisei que iria dormir fora, então pode ser alguma coisa importante, tipo... Um apocalipse zumbi! – Ele riu – Alô?

- Saia. Daí. Agora!

- Quê? Por quê?

- Olha eu não queria ser tão direta, mas... Chay é amiguinho da Marcela, algo assim, eles tem um acordo, ela pagou-o para fazer você se apaixonar e depois te ferir sentimentalmente. Essa é a noite. Então saia daí! Por favor!

Eu acreditava em Manu mais que em qualquer outra pessoa, ela sempre quis meu bem, estava enchendo meu saco para eu e ele darmos certo, mas se ela ligou para dizer com isso certamente não seria uma brincadeirinha de mau gosto, Manu queria me proteger.

- Você é um idiota! Eu te odeio! Nunca mais me procure!

- Quê? Quem era? – Chay segurou meu pulso.

- Não ouse me tocar! – Puxei meu braço – Adeus!

Saí da casinha atordoada, chorando desesperadamente, como eu o odiava. Chay gritava logo atrás de mim, mas eu corria e não queria ouvir qualquer palavra dele.

Eu poderia fazer isso, como qualquer garota normal atingida por uma noticia dessas faria, mas eu não sou uma garota normal.

PONTO DE VISTA DO CHAY

- Quem era? Algo sério?

- Era Manu, mas não era nada sério, apenas umas recomendações. Se é que você me entende. Ela é meio louca, me liga para dizer essas coisas...

- Entendo – Ri e segurei as mãos dela que estavam na mesa. – Cecília. Aqui estamos.

- É. Aqui estamos. – Sorri.

- Não acredito que estamos assim, essa noite, juntos e... Meu Deus, isso é meio ridículo. – Sorri e peguei a caixinha do prato dela.

Cissy estava olhando para a caixinha preta de veludo que tinha uma aliança dentro e assim que eu abrisse faria o pedido de namoro. Era esquisito, porque no dia seguinte ela estaria em outro país. Bem longe de mim. Sem previsão de quando nos veríamos novamente.

Então Cissy fez uma coisa diferente. Ela ficou de pé e parou ao meu lado, virei para olha-la, ela segurou a gola da minha camisa, fiquei em pé e ela me puxou para perto do corpo dela, quase nos beijamos, mas ela não deixou nos levando a passos lentos até a cama do quartinho onde ela me sentou e ficou parada na minha frente.

- Que tal pularmos a parte burocrática? – Cissy sorriu. Sem o aparelho. Um sorriso lindo. Quis parar o tempo para poder dizer “Uau, como você está linda! Seu sorriso está incrível”. Ela me deitou na cama e sentou nas minhas coxas, beijou meu pescoço.

As mãos dela percorreram minha barriga e tirei a camisa, ela me arranhou devagar me deixando arrepiado, continuava concentrada no meu pescoço, com beijos, lambidas e chupões excitantes.  Logo eu estava só de cueca enquanto ela continuava vestida com sua calça jeans e camiseta branca, tentei puxar a camisa dela para cima, mas ela respondeu com um sussurro no meu ouvido.

- Que tal um strip tease?

PONTO DE VISTA DA CECÍLIA

Quando tirei a calça de Chay, ele tentou tirar a minha camisa também, mas sussurrei em seu ouvido que faria um strip tease e senti-o sorrir animado com a ideia contra meu pescoço, sua respiração estava acelerada, mexi um pouco nas coxas dele e senti que estava excitado, me inclinei sobre Chay e passei a mão delicadamente perto da sua parte intima, então acariciei sua bochecha e dei-lhe um tapa. Ele gemeu.

- Sexo selvagem. Ok. – Ele riu. Apenas ignorei.

Então dei um tapa mais forte e arranhei seus braços, me ajeitei sentando de pernas abertas na sua coxa, puxei-o para fazê-lo sentar e cravei a unha nas costas dele. Ele gemeu mais alto, agora com tom de dor.

- Você acha que sou idiota? – Gritei – Ninguém parte o meu coração, seu estúpido!

Soquei-o, várias vezes, na barriga.

- Seu merda! Pau no cu!

Bati mais, com ódio. Ele tentou me segurar, mas eu estava por cima dele o que já era vantagem.

- Cissy, que porra é... – Mais um soco, dessa vez no seu rosto. Ele urrou.

- Você e Marcela acham que sou uma idiota? Eu não sou! – Gritei e dei um ultimo tapa.

- Quê? – Chay disse gemendo. Saí de cima dele que se contorcia de dor com a mão na barriga. – Cissy!

Chutei a mesinha da sala, as velas tinham se apagado e saí da casinha marchando. Estava escuro, mas eu nem ligava, estava pouco me fodendo para isso naquele momento. Escutei Chay gritar alguma coisa como “me escute”, mas meu coração batia muito forte nos ouvidos e não entendi mais nada, apenas corri até meu pulmão doer e pedir por ar.

Cheguei à rua e saí andando enquanto algumas lágrimas de ódio corriam por meu rosto, esbarrei em algumas pessoas que reclamaram. Estava atordoada demais. Sentei na escada de entrada de um prédio qualquer e me acalmei.


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