POV Thalia
Poucos dias da minha vida conseguiram ser piores que aquele. Percy passou o dia inteiro perguntando se eu estava bem, o que, obviamente, eu não estava. Até porque as pessoas costumam ficar suuuuuuper felizes ao reencontrar seus ex-namorados do mal. Super.
E, o pior. O "estágio" era de monitor, junto com aquela vaca oxigenada ridícula, popularmente conhecida com Palmer. Ou seja: fui obrigada a aguentar dois loiros oxigenados burros e egocêntricos atrás de mim o dia inteiro, o que tornou tudo mais horrível.
E, pra fechar com chave de ouro! Luke teve uma super ideia, daquelas bem bombásticas mesmo. Ele decidiu que nós iríamos, ao invés de cumprir as atividades normais do acampamento Mato, Lama e Bosta de Vaca, encenar uma peça. Eu não fazia ideia de que porcaria nós iríamos montar, apenas confiava que a burrice de Luke fosse suficientemente burra pra bolar alguma coisa difícil o suficiente para que eu pudesse me esforçar.
Então ele chamou a gente pra um prédio que eu nem tinha visto, acho que mais porque eu estava me concentrando em odiar completamente aquele lugar.
– Muito bem, pessoal. Estão todos aqui - ouvi Luke dizer, ao abrir a porta.
Sentei em uma cadeira isolada, bem lá no fundo. Com sorte, eu pegaria um papel fácil. Um arbusto ou algo assim.
– Thals! Minha Julieta finalmente chegou, garotas. - Luke abriu um sorriso largo e debochado. Eu realmente pensei que ele estivesse meio grogue, mas aí eu recebi uma apostila grossa, meio surrada. Dizia "Romeu e Julieta". QUE???????????
– Primeiramente eu não sou sua, segundamente, eu me recuso a encenar a minha peça favorita com um mico leão dourado na direção. - grunhi.
– Primeiramente, não existe segundamente. - mostrei o dedo mais lindo da minha mão pra ele, que começou a rir desesperadamente.
– Vocês não deveriam fazer testes primeiro? Pra ver quem é mais apta pro papel e tal? - o encarei. O sorriso continuava no rosto de Luke, intacto. Será que alguém tinha grampeado aquilo na cara dele???
– Eu escolho quem vai fazer o que aqui. E acabei de decidir que você vai ser a minha Julieta.
– E quem vai ser meu Romeu? Você? Seu bosta. - revirei os olhos.
– Na verdade, eu ia fazer os testes para o papel de Romeu agora, mas você me deu uma ideia ótima! - ele beijou minha bochecha, e eu limpei. Que coisa repulsiva.
Onde Percy estaria? Por que ele não podia simplesmente aparecer lá e socar a cara daquele cretino do Castellan?
Abri a apostila e me deparei com um texto horrível. Pior que aquilo só discurso de propaganda eleitoral. Era alguma coisa sobre uma garotinha cheia de problemas, toda revoltadinha com a vida, e um Bad Boy da escola. E eles não podiam ficar juntos, porque o pai dela era presidente da Nike, e o dele, da Adidas.
Comecei a rir, bem alto. Até ficar vermelha.
– Quem escreveu essa merda? - berrei, ainda gargalhando.
– Obrigada pela parte que me toca. - Luke fez uma reverência completamente sarcástica. - Fui euzinho aqui.
– Ah, claro. Por que eu não pensei nisso antes? O pior texto do mundo, escrito pelo pior cara do mundo. Tô me sentindo uma burra. - sorri, com mais ironia do que o planejado.
Percy escancarou a porta, sorrindo. Acho que ele era o único dali que realmente tinha uma alma ou algo assim, porque eu só havia chegado há uns dez minutos e estava perdendo a paciência.
– Oi gente - ele cumprimentou coletivamente, pra se sentar ao meu lado. Que bonitinho.
– Você estragou a porcaria da peça. - suspirei.
– O que eu fiz? - Percy perguntou.
– Ah, não, não era com você. Eu estava falando com a Britney Spears com pênis ali na frente. - resmunguei.
– Uaaaaau, que massa. O pai dela é presidente da Nike, e o dele, da Adidas??? Que romance épico. - Percy ironizou.
Luke olhou pra nós dois, repulsivamente. Ele merecia uma floresta inteira enfiada no talo do rabo dele.
– E quando nós vamos encenar isso? - perguntei.
– Hoje a noite, oras. Daqui a - ele olhou no relógio - Três horas e meia.
– É muito pouco tempo. E isso vale nota. - olhei pra ele, que parecia se divertir muito.
– Isso não é problema meu, Thals. Ninguém mandou você se agarrar no mato com esse coitado aí no meio da madrugada. - Luke falou.
Então era por isso. Ele tinha visto. Tinha visto eu e o Percy nos pegando loucamente naquela árvore.
– É por isso que você quer me foder academicamente? - perguntei. As pessoas na sala estavam quietas, apenas observando a enorme treta que iria se desenrolar.
– Não apenas academicamente, querida. - ele sorriu. Senti meu rosto queimar. Seria raiva ou vergonha?
– Vai se foder! - Percy falou.
– É, vai se foder! - acompanhei, no mesmo tom de voz que o dele.
– Ela não é a sua namorada, meu caro. Pra quê tanta possessividade? Essa garota é menina do mundo.
– Você tá me chamando de vadia? - cerrei os dentes.
– Talvez. Seu figurino está pendurado logo ali, onde está escrito "Julie Eta". - olhei pro cabide. COMO ASSIM ELES ERRARAM O NOME DA PORCARIA DA JULIETA? ELA É A JULIETA, CARA. A JULIETA.
– Na verdade é Julieta. - Percy corrigiu.
– Nós adaptamos os nomes. Julie Eta e Roger. O público nem vai perceber.
Fui até o cabideiro e tentei achar meu figurino, mas ali só tinha uma blusa vermelha brilhante, toda cheia de lantejoulas, e uma jaqueta de motoqueira fedendo a cigarro de palha e cecê.
– Você não colocou meu figurino. - eu disse, pra Luke.
– Claro que eu coloquei. Está ali. Tem até uma jaquetinha pra você não passar frio, benzinho. - ele beijou o topo da minha cabeça, e eu pensei que fosse vomitar. Quando aquilo acabasse, eu iria tomar um banho químico pra tirar toda a baba dele de mim.
– Aquilo é uma blusa. - eu não estava entedendo nada.
– O que você queria? É uma adaptação. Nada de vestidos rodados. Fora que, a Julie conhece o Roger em uma super balada no centro da cidade. - Luke retrucou, como se não fosse nada. Como se aquilo não fosse uma blusinha.
– Eu não vou usar aquela coisa. - eu falei.
– Vai, porque segundo a sua professora linda, e minha amiga Palmer, se você não tirar a nota máxima, vai repetir o ano.
– Droga. - sussurrei.
– A Thalia não vai usar a blusa. - Percy impôs.
– É um vestido. E vai ficar muito lindo nela, com o batom certo. Que tal um vermelho bem provocante, que nem aquele que vcê usava sempre que a gente saía? - Luke espetou.
– Você só está se aproveitando da situação pra ver as pernas dela. - Percy cruzou os braços.
– Eu não sou tão baixo quanto você pensa. Eu também já gostei dela.
– E ainda gosta, pelo visto. Tudo bem ela ser a Julie Eta. Mas eu sou o Roger. - Percy disse.
– Eu decido quem é o que aqui. Quantas vezes eu vou ter que repetir isso, Meu Deus? - Luke perguntou, olhando suplicante para o alto.
– Você é um babaca. - eu sabia que Percy era lerdo, mas foi vacilo ele ter chegado a essa conclusão dois anos depois de mim.
– E você ganhou um zero e está fora da minha peça. - Luke finalizou, com aquele sorriso horroroso no rosto.
– Você não pode fazer isso. Não pode tentar acabar com todos os caras que chegarem perto de mim só porque você não me quis mais. - bufei.
– Eu não vou deixar ela aqui, sozinha com você. - eles falavam de mim como se eu não estivesse ouvindo.
– Eu disse SAI. Você é surdo? Tá fora, amigão. Completamente fora. - Luke deu um passo a frente, e Percy também, e eu pensei que eles fossem brigar. Ou se beijarem.
– VOCÊS DOIS PODERIAM PARAR, POR FAVOR? - berrei. As pessoas começaram a olhar pra mim, e eu fiquei com vergonha de ter gritado tão alto. - E vocês com certeza tem coisa melhor pra fazer. - rapidamente, elas se viraram. Escutei algo parecido com "ela tem uma barra de ferro".
– Não - os dois responderam ao mesmo tempo.
– Eu não vou fazer a peça. Simplesmente não vou, se vocês dois continuarem brigando pelo papel de Romeu. - suspirei.
– Roger - os dois corrigiram.
– Foda-se. Eu não faria essa peça com vocês nem se o Percy fosse o Batman e o Luke, o Homem Aranha.
– Mas...
– Mas nada! Sem mas. Nenhum de vocês vai ser o Roger. Se quiserem que eu seja a Julie, é claro. - olhei pra eles. Pareciam estar pensando.
– Tá bom. - responderam em uníssono. De cabeças baixas.
– O Nico vai ser meu Romeu. Percy, você vai ser um... arbusto. E Luke, você vai ser ... uma árvore. - sorri.
– Mas que merda é essa? Você virou a diretora agora? - Luke perguntou.
– Desculpa, pensei que você me quisesse como Julieta. - eu preferia tirar zero a fazer aquela coisa obrigada. Só estava lançando aquele joguinho porque queria tirar umas fotos do Percy vestido de arbusto.
Os dois saíram, e eu fiquei parada ali, encarando aquele lindo vestido vermelho que com certeza iria me deixar parecendo uma piranha.