Sedução Da Noite escrita por Leelan Schaffer


Capítulo 28
Boas idéias estão nos lugares mais improváveis!


Notas iniciais do capítulo

So many questions, so much on my mind
So many answers I can't find
I wish I could turn back the time
I wonder why...
— Avril Lavigne



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Elas estavam com um sério problema nas mãos.

Alexya não sabia se era a iminência do campeonato que havia deixado as meninas nervosas a ponto de não conseguir se manter em ordem quando formavam a pirâmide, ou se realmente elas não eram tão boas atletas quanto ela havia pensado. Talvez fosse um pouco dos dois.

O fato era que ela precisava achar uma solução para esse problema, e rápido.

Alexya olhava para a parte de baixo das arquibancadas enquanto milhões de possibilidades passavam pela sua cabeça. A grama contra sua pele fazia cócegas nas partes em que seu uniforme de ginástica não cobria e seu braço – que servia de apoio para sua cabeça – já começava a formigar.

– Tirando um cochilo, huh? – A voz de Kyle flutuou até onde Alexya estava e ela se recusou a olhar em direção a ele.

– Se eu quisesse tirar um cochilo, te garanto que eu escolheria um lugar mais confortável. – Como nos braços do Josh.

Merda, garota. Esquece isso. Sua mente ralhou com ela. Os braços dele não são mais teus.

– Eu não sei... Dizem que é melhor pra coluna deitar em lugares assim. – Kyle sentou-se ao lado de Alexya e cruzou as pernas.

– Eu vou começar a me preocupar com a coluna na mesma época em que minha maior preocupação for encontrar Alma de flores pra vender em uma farmácia. – Alexya virou sua cabeça para poder enxergar Kyle melhor.

Ele vestia Jeans e uma camiseta preta. A combinação ficava bem nele.

– Por incrível que possa parecer, eu não imagino você como uma velhinha que usa alma de flores. Provavelmente porque até você atingir essa idade já terão inventado outro perfume insuportavelmente doce e que todos os velhos irão usar. Eu me recuso a acreditar que daqui a 300 anos ainda vai existir essa merda. – Ele sacudiu a cabeça, consternado.

– E o que te faz acreditar que eu viverei tanto tempo? – Alexya quis saber.

– Ou é isso, ou você vai ser uma vampira. E aí é que você realmente não vai usar alma de flores. – Kyle dá de ombros.

– Pode ser. – Alexya cede. – E o que você está fazendo aqui?

– Ué, me disseram que ia ter uma festa do pijama com direito a guerra de travesseiro aqui. Acho que aquelas garotas estavam brincando a respeito daqueles baby dolls. Uma pena, você sabe. Não existe nada mais sexy que uma mulher de Baby Doll. – Kyle divaga.

– Corta o papo furado, Kyle. – Alexya olhou feio para ele.

Kyle pegou um maço de cigarro e um isqueiro do bolso. Malboro Blue Ice, dizia na embalagem.

– Me falaram sobre a competição. Eu achei que você poderia precisar de um cigarro. – Ele deu de ombros, de repente sério.

– Eu não acho que um cigarro vá resolver meus problemas. – Ela diz com um suspiro. Seria bom se fosse tão simples.

– Bom, pode ser que não resolva seus problemas, mas pode te acalmar um pouco. Minha vó sempre dizia que quando você pensa muito tentando encontrar a solução de alguma coisa, ela acaba fugindo com medo da intensidade como um gato arisco. O jeito é deixar sua mente serena. E a resposta vai vir pra você. – Ele disse, enquanto acendia um dos cigarros e dava uma longa tragueada.

Alexya pensou sobre isso por um momento. Realmente, parecia como algo que sua própria avó diria a ela.

– Sua avó parece sábia. – Ela comentou.

Kyle soltou uma gargalhada.

– Tá mais pra uma velha louca. Mas ela diz algumas coisas sábias às vezes. E, ela não tem medo do que ela não conhece. A velha é corajosa.

– Você parece gostar dela.

Kyle assentiu.

– Ela é a única que não achou que eu estava me drogando quando as mudanças começaram. Eu estava com dezesseis anos e agindo feito um viciado em crack sem dinheiro pra manter o vicio. Vivia irritado e me metendo em brigas por qualquer coisa. E quando vinha a lua cheia, eu chegava a ficar três dias sem aparecer em casa. – Kyle tragueou o cigarro novamente.

– É tão ruim assim? A mudança, eu digo. – Alexya perguntou enquanto se sentava e ficava de frente pra ele.

– É uma merda. No começo dói, mas depois da terceira vez você só sente como se estivesse com uma câimbra no corpo todo. O pior é a oscilação de humor. Você fica puro instinto, e se alguém te olhar enviesado você já ta em cima do cara antes que possa pensar sobre isso.

– Você não me parece o tipo brigão. – Alexya declarou. – Quero dizer, você tem toda essa coisa de bad boy e tudo mais, mas eu não vejo você partindo pra cima de alguém só porque te olharam torto.

– Bad Boy, huh? – Kyle sorriu lascivamente. – Continue me elogiando assim e eu vou começar a pensar que você quer um pouco de calor na sua cama, Alexya.

– Ah, cala essa boca. Eu tenho um lençol térmico na minha cama e isso é todo o calor que eu preciso. Você não faz meu tipo. – Alexya virou os olhos.

– Hey, só porque eu estou vivo? – Kyle sorriu ironicamente.

– Não. É que eu não sou muito chegada em pelos. E, por Deus, morro de medo de pegar pulgas! – Ela estremeceu.

– Pulgas? – Kyle parecia genuinamente perplexo. – Tu me paga.

De repente, Kyle estava em cima dela enquanto fazia cócegas pelo corpo inteiro de Alexya. Ela se contorcia e gritava enquanto rolava pela grama tentando se esquivar. Tentava em vão tirar as mãos dele de cima dela, mas só quem já sofreu por cócegas sabe qual é a impotência que se sente quando seu corpo não consegue mais respirar por causa dos espasmos. O corpo de Alexya tremia e ela soltava gargalhadas sem som.

– Para! – Ela berra quando consegue que um pouco de ar entre em seus pulmões.

– Então retira o que você disse. Eu não tenho nenhuma maldita pulga. – Kyle disse enquanto ria e fazia mais cócegas em Alexya.

O maldito estava se divertindo com a agonia dela.

– Ta bom, ta bom. Você não tem pulgas. – Alexya declarou. Kyle afastou as mãos do corpo dela e ela deitou na grama lutando para respirar.

– Espero que isso tenha servido de lição. – Kyle tinha um sorriso travesso no rosto.

Alexya puxou o ar e lutou para se sentar novamente.

– Sim, eu aprendi que você não gosta do fato de eu saber que você é um cão pulguento. Já entendi. – Alexya disse a ele, enquanto gargalhava com a expressão no rosto de Kyle.

– Ta querendo ser torturada de novo? – Ele perguntou.

– Não! – Ela arregalou os olhos. – Eu não acho que aguentaria passar por aquela agonia novamente. Sério. – Alexya sacudiu a cabeça.

– Então, xiu! Sem falar sobre pulgas. – Kyle avisou.

– Tá, eu não vou mais falar das tuas pulgas. Prometo. – Alexya colocou sua mão sobre o peito, como se estivesse jurando de coração.

Kyle apenas lançou um olhar de esguelha para ela, mas não disse nada.

– Eu soube que você e Josh terminaram. Sinto muito. – Kyle disse depois de algum tempo de silêncio.

– Sabe, eu acho que eu vou aceitar aquele cigarro que você me ofereceu. – Alexya desconversou.

Kyle olhou para ela longamente, mas apenas assentiu e cavou em seu bolso em busca da carteira de cigarros e isqueiro. Ele estendeu a ela e Alexya pegou um. Ela apertou o filtro enquanto estourava a bolinha de menta que ali continha e em seguida levou o cigarro a boca e, enquanto fazia uma concha ao redor da chama para que ela não apagasse por causa do vento, acendeu o cigarro e deu uma hesitante tragueada. O sabor de menta e tabaco encheu sua boca e a sensação de levar fumaça para os pulmões pareceu tão boa quanto respirar o vapor de um longo banho quente. Alexya liberou a fumaça de seus pulmões e olhou para Kyle.

– Na verdade, ele terminou comigo. Eu não seria altruísta o suficiente para deixá-lo partir.

– Eu não diria que deixá-lo ir seria um gesto de altruísmo. E você sabe que em algum momento isso iria acontecer. – Kyle olhou nos olhos de Alexya. – Você não pode ter os dois.

Alexya pensou sobre isso por um momento. Era certo que o que Kyle dizia a ela era uma verdade absoluta, mas assim como quando um adulto diz a uma criança que o papai Noel não existe, Alexya queria se agarrar desesperadamente à possibilidade de que talvez, apenas talvez, ele estivesse errado. Que o papai Noel existia sim, e que ela poderia ter Josh de volta para ela e ainda sim ter Lucian.

Mas você já é uma garota crescida e sabe que Papai Noel não existe, garota. Sua voz interna murmurou com desgosto.

Droga, às vezes a realidade é simplesmente irritante.

– É o que parece. E assim como eu perdi o Josh, eu provavelmente vou perder as Wolf’s. De jeito nenhum nós vamos conseguir ganhar. As garotas parecem estar piores do que eu me lembrava. – Ela sacudiu a cabeça e deu mais uma tragueada no cigarro, levando fumaça e ar aos pulmões ao mesmo tempo.

– Eu imagino que não. Mas você é uma boa atleta, e tem uma ótima resistência física também. – Kyle sorriu com simpatia.

Alexya bufou.

– Claro. Mas isso é o sangue do Lucian. Sem ele eu seria tão resistente quanto a Melanie, e infelizmente, por melhor resistência que ela possa ter, ainda não é o suficiente. Não agora. – Ela sacudiu a cabeça. – Se eu pudesse ter elas bebendo do sangue dele, provavelmente ganharíamos. Mas eu não sujeitaria nenhuma delas a essa merda de ser escrava de sangue. É horrível e maravilhoso ao mesmo tempo, e eu não sei como elas reagiriam. E eu também não poderia pedir algo assim a elas. Não seria certo.

– Sim, você tem um problema ai. Não é como se Lucian fosse aceitar te doar uma bolsa de sangue. Vampiros geralmente são meio possessivos com o sangue deles. –Kyle dá de ombros. – Coisa de morto-vivo, eu acho.

– Sem sangue, Kyle. Eu não vou sentenciá-las a serem escravas de sangue de nenhum vampiro. – Alexya sacudiu a cabeça. Mais uma tragueada no cigarro.

– Eu nunca disse que elas seriam. – Um sorriso tímido cresceu no rosto de Kyle. – Se elas não beberem direto do vampiro, não se forma o laço de sangue. Então, beber de uma taça ou um copo não iria formar um vinculo. Mas ainda sim iria dar a elas um pouco de força e resistência. E até agilidade. Mas isso duraria por uma semana ou menos. Não seria a longo prazo como é com você.

Alexya sentiu o sangue correr para sua cabeça.

– Você ta falando que se aquele idiota tivesse me dado sangue em um recipiente qualquer ao invés de ter me feito beber do pulso dele eu não seria uma escrava de sangue? É isso?

– Exatamente. – Kyle concordou com a cabeça. – Mas, embora eu não esteja aqui pra defender ele, pelo que eu sei você não tinha tempo o suficiente para que ele pudesse correr buscar uma faca e um copo. Então, antes que você voe pra cima dele com acusações e socos, pensa nisso. Pode não ser o que você queria, mas ao menos você está viva ainda.

– Sim, eu estou ciente dessa parte. – Alexya disse com desgosto. – Mas isso não quer dizer que eu não possa usar isso contra ele em uma briga. É sempre bom ter munição guardada pra quando se precisar.

– Hey, não tenho nada contra isso. Deus sabe que eu me divertiria muito se você resolvesse dar outro daqueles tapas na cara dele. Garota, aquilo foi épico! – Kyle olhava para Alexya com diversão e satisfação.

– É, não foi de todo ruim. – Um sorriso presunçoso cresceu no rosto de Alexya. – Mas isso me faz lembrar que eu prometi acabar com a tua raça também e eu ainda não fiz isso.

– Sem essa. – Kyle ergueu os braços pra cima em sinal de rendição. – Eu achei que a gente já tivesse passado da fase em que você me odeia e quer me esfolar vivo.

– Talvez. – O sorriso se Alexya cresceu mais. – Digamos apenas que você conquistou um adiamento por me dar uma boa idéia sobre como salvar as Wolf’s. Mas ele não irá durar pra sempre.

Kyle soltou uma gargalhada.

– Então eu espero que você precise de mais boas idéias. Eu poderia comprar uma eternidade de sossego dessa forma.

– Do jeito que você enfia os pés pelas mãos, duvido muito. Mas por agora você não precisa mais ter medo de dormir a noite.

– Eu não tenho medo de dormir a noite. – Kyle olhou confuso para Alexya.

– Ah,– Alexya lançou seu sorriso mais soturno. - mas você deveria ter.


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Notas finais do capítulo

E então, o que vocês tem pra me dizer?