Alvo Potter E O Mensageiro De Boráth escrita por Amanda Rocha


Capítulo 14
Para todo Tiago há um Rabicho


Notas iniciais do capítulo

Então, primeiramente, deixe-me dizer que o título desse capítulo (se você não leu qual é o título do capítulo, trate de ler) foi só pra dar um impacto na história. E, depois que vocês descobrirem quem é o Rabicho do Tiago vão querer, provavelmente, me matar, mas entendam que eu amo esse Rabicho (que de Rabicho não tem nada) e foi só pra fazer um draminha (típico do Tiago). Então, esse sim é o capítulo da promoção e, como só tiveram duas sugestões eu resolvi usar as duas, que foram ideias da Nicole Saraiva e da Srta, Alguma Coisa. Pra vocês, girls, aí vai o capítulo...



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Definitivamente, a primeira visita à Hogsmeade fora bem marcante, até mesmo para os que já haviam visitado o povoado. Uns ficaram por lá até o último minuto, e ficaram tristes por terem que dividir os doces com os irmãos menores que ainda não tinham idade para ir (como era o caso de Tiago e Rosa), outros quando chegaram ao castelo não paravam de tagarelar. Outros, ainda, juntaram os doces e as bebidas que tinham e, como estavam todos muito agitados após o passeio, fizeram uma pequena “confraternização” na sala comunal da Grifinória.

Alvo Potter, porém, não ficara por mais muito tempo em Hogsmeade. Para falar a verdade, os monitores ainda nem haviam começado a chamar os alunos e o garoto já estava de volta ao castelo. Ele não estava animado com os doces da Dedosdemel e sequer participou da festa. Ficara tão deprimido depois da conversa com Córmaco McLaggen que não tinha ânimo nem para descer e se entupir de doces. Neste exato momento ele estava atirado em cima da cama, encarando o teto.

– Ei, por que vocês não estão lá embaixo? – perguntou Rosa, que acabara de entrar, segurando uma garrafa de cerveja amanteigada em uma mão e um sapo de chocolate em outra. – Tá rolando uma festa lá, e Pedro Lepos até abriu sua caixa de cerveja amanteigada!

– Bloody Hell, Rosa! – exclamou Carlos, que estava sentado na cama ao lado de Alvo. – Você tem sempre que entrar desse jeito? Meninas nem deveriam entrar aqui!

– É, puro machismo... – resmungou a garota, dando uma dentada no chocolate.

– Machismo? – repetiu Carlos. – Os meninos não podem entrar no dormitório de vocês! Isso é... Feminismo!

Rosa girou os olhos para o alto. Depois, ao virar-se para o amigo, notou a expressão em seu rosto.

– Al, tá tudo bem? – Perguntou ela, cautelosa. – Ainda tá pensando naquilo, não tá?

– Bem, não tem como não pensar – respondeu Alvo, lentamente. - O que ele disse foi estranho e... Bem, é tudo misterioso demais. Como tudo na minha vida.

– Você devia escrever para seu pai – sugeriu Rosa.

Alvo pensou antes de responder. Seu pai era a primeira pessoa que ele procurava quando alguma coisa do tipo acontecia.

– Não, ele não sabe do Brubock – respondeu o garoto.

– O que?! – Exclamou Rosa, se levantando. – Você ainda não contou ao seu pai? Al, ele é seu pai! E um Auror! Se um cara estranho fica falando coisas esquisitas pra você, ele deve ser o primeiro a saber!

– É, eu sei, Rosa! Mas... Apesar de tudo... Eu sinto que ele não é perigoso... – ele começou. Era verdade, ele não conseguia explicar, mas, de alguma forma, algo dentro dele lhe dizia que o garotinho não queria lhe fazer mal, embora realmente fosse estranho. Mas, talvez por ser um garotinho ou mesmo por ter dito que acreditava nele, Brubock parecia tão inofensivo... – E também já estou cansado de precisar dele pra tudo. Ele não tinha os pais e conseguiu! Por que eu não?

– Al, entendo que você queira ser independente e que quer essa coisa de fazer por merecer – começou a prima -, mas isso aqui é diferente!

– Não, não é diferente! – O garoto se exasperou. Depois, após sentar-se na cama e encarar um ponto fixo na parede, continuou: - E, mesmo que eu contasse, ele ia fazer um baita discurso sobre como Dumbledore e Snape também deviam ficar preocupados quando uma coisa esquisita lhes acontecia...

– Bem, isso é... – concordou Rosa.

Os três ficaram em silencio por um tempo, tentando achar uma solução para aquilo. Embora Alvo suspeitasse que Carlos estivesse mais concentrado em seus doces do que no dilema de Brubock. O que provavelmente era verdade, mas não que ele não estivesse preocupado pelo amigo, muito pelo contraio. Acontece que o ambiente em que Rosa e Alvo foram criados era muito diferente do que Carlos fora criado. Os primos são de uma família grande (realmente grande) e foram criados acostumados à aventuras e confusões e, graças à influência dos pais, sempre estiveram cientes dos perigos que podiam acontecer a um bruxo, ainda mais em tempos como esses!

Carlos, no entanto, fora cirando em uma família de bruxos um tanto que mais atual. O Sr. e a Sra. Cattér, assim como muitos outros bruxos, apreciavam e incentivavam os preceitos e a cultura dos trouxas. E, por serem tão passivos, não eram assim tão preocupados com mistérios envolvendo bruxos das trevas. Simplesmente não eram o tipo de família que vivia metida em feitiços. Muito embora Carlos tenha herdado, sabe-se lá de onde, um certo magnetismo para atrair confusões tanto envolvendo feitiços quanto bruxos das trevas.

– E se não fosse sobre o Córmaco? – arriscou Rosa, após um longo tempo sem falar. – Pode ser só coincidência.

– Não, não, não é coincidência – negou Alvo, esfregando o rosto com as mãos. – Tenho certeza que ele tava falando do McLaggen. Faz sentido! Ninguém mais veio me procurar, especificamente!

Rosa lhe pediu que repetisse o aviso de Brubock pelo menos mais umas cinco vezes e, após pensar um bom tempo enquanto murmurava coisas para si mesma, ela finalmente falou, pouco mais alto que um sussurro:

– É isso...

– Que? – perguntaram Carlos e Alvo, ansiosos.

– É isso! – ela repetiu, levantando-se sorrindo. – Para onde mesmo McLaggen disse que estava indo, antes de sair do Três Vassouras?

– Bem, disse que ia para o Cabeça de Javali, mas... Ora, o que isso tem a ver?

– É óbvio! – exclamou a ruiva, batendo na própria testa. – É isso! Vocês não percebem?!

– Não! – exasperou-se Carlos, irritado. – Porque você não nos conta!

Rosa ergueu os braços para o alto, aborrecida. Depois abriu a boca várias vezes, à procura das palavras certas.

– Aberforth nos deu biscoitos de abóbora de verão que, além de caríssimos, são muito difíceis de encontrar, e isso só porque ajudamos a cabra dele! Se bem que tudo o que fizemos foi vigiar ela enquanto ele pegava os biscoitos... Mas não acharam isso estranho? Isso sem contar aquele papo estranho dele.

Alvo e Carlos se olharam, pensativos. O que Dumbledore dissera com certeza deixara Alvo intrigado, mas o garoto nem havia pensado nos biscoitos.

– Tá, mas e aí? – perguntou Carlos que, assim como Alvo, continuava confuso.

– E aí que foi exatamente isso o que o Brubock disse! “Não confie em nada que venha muito fácil” – recitou Rosa. Vendo a expressão de surpresa estampada no rosto dos garotos, prosseguiu: - E o McLaggen veio procurar por Alvo! Tudo fecha! E, bom, você também disse que falou alguma coisa sobre um chefe, não é, Al? E... Bom, se esse chefe for mesmo... Bob Rondres... Então, bom... É de se esperar que Aberforth também esteja envolvido!

Logo de primeira, Alvo achou que ela estava tirando sarro de sua cara. A ideia de um Dumbledore envolvido com artes das trevas era tão absurda quanto um Alvo valentão (embora o mesmo, de certa maneira, já tenha acontecido). Porém, depois de todas as histórias que o pai contara era praticamente impossível imaginar uma coisa dessas...

Rosa, no entanto, falava sério. E, em seu rosto, além de seriedade, havia preocupação. Por outro lado, Carlos não parecia entender o porque daquela aflição vinda dos dois.

– Mas qual o problema disso? – Perguntou, coçando a cabeça. – Quer dizer, além do fato deles serem da laia do Rondres?

Rosa olhou-o incrédula.

– Você não entendeu? – perguntou ela, surpresa.

– É, bom, foi por isso que eu perguntei, sabe... – ele debochou.

Rosa deu um muxoxo.

– Isso não é brincadeira, Carlos! – a ruiva o repreendeu. Depois, deu um suspiro e começou, num tom mais calmo: - Aberfoth foi um grande elemento que contribuiu para a vitória na Última Batalha! Principalmente porque ele já tinha desistido, Carlos! E mais, ele é irmão do Dumbledore! Alguém como ele no lado das trevas é... Terrível!

Carlos pareceu finalmente entender. Rosa voltou a sentar-se, encarando o chão, quando Alvo lembrou de outra coisa:

– Ele tinha um colar! – Exclamou ele, repentinamente. – Uma espécie de amuleto. E acho que pode ser...

– A Marca Negra! – a ruiva completou.

– Ai meu Deus, dá pra vocês pararem de falar em códigos?! – irritou-se Carlos.

– Não é código nenhum! – Alvo respondeu. – A Marca Negra! Qual é, você já deve ter ouvido falar!

Carlos parecia à beira de um chilique, então Rosa se adiantou:

– Era uma espécie de tatuagem que os Comensais do Voldemort usavam para se identificar, ou deixar no céu quando... Bem, se havia a Marca Negra pairando sobre algum lugar é de se esperar que tenham matado alguém. É provável que esse colar seja a nova Marca Negra já que o Rondres tem toda aquela ideia de originalidade.

Carlos franziu o cenho.

– E... A probabilidade de ser um colar normal está cortada, certo?

– Qual a dificuldade que você tem em aceitar que coisas assim podem acontecer? – Rosa se irritou.

– Nenhuma. O problema é que você fica achando que só porque os seus pais lutaram contra Voldemort, todo o mundo também queira lutar contra você!

Rosa pareceu realmente ofendida e, antes que pudesse dar uma resposta à Carlos – o que, certamente, resultaria numa feia briga -, Alvo se adiantou:

– Ah, também tinha um símbolo! – Ele falou, rapidamente. – Uma varinha e um relógio.

– Varinha e relógio... Varinha e relógio... – murmurou Rosa, pensativa. – Acho que já vi em algum lugar...

– Ah, claro, a sabe-tudo está agindo novamente... – comentou Carlos, cruzando os braços.

Quando o disparo de respostas afiadas começou, Alvo não teve opções senão sentar e esperar (rezando) para que eles parassem logo.

– Pelo menos eu faço alguma coisa de útil! – rebateu a ruiva.

– Útil?! Acha que é útil ficar aí exibindo a sua inteligência?

Rosa já havia aberto a boca para lhe responder, mas a fechou, aparentemente em dúvida se aquilo fora uma ofensa ou um elogio. E, Alvo, agradecido que os dois tivessem dado uma pausa – nem que por pelo menos um segundo -, aproveitou a deixa:

– E o que eu devo fazer? – Ele perguntou, quase desesperado. – E se eles forem mesmo Comensais da Mote? Seria muito irresponsável se eu não contasse?

– Al, isso é sério... – Rosa, disse, se aproximando dele. – Seu pai precisa saber... Ou então o meu pai, posso falar com ele se você quiser.

Alvo concordou, mas depois, quando já ia pegar pergaminho e pena, lembrou-se da carta que recebera da mãe, nesta manhã.

– Ah, droga! – exclamou ele. – Papai está no meio de uma missão, já tinha me esquecido! Sem chances de ele responder...

– É, verdade, papai e o tio Harry foram fazer vigia em Azkaban... – lembrou a prima, aborrecida. – Poxa, Al, que azar que você tem...

Alvo olhou-a, irritado.

– Obrigado, Rosa, isso é realmente animador. – Ele resmungou. Rosa apenas deu um muxoxo e virou-se para Carlos, como que dizendo para fazer alguma coisa.

Carlos, parecendo muito contrariado, sugeriu:

– Acho que você devia falar com alguém mais velho.

Ele concordou e pensou nas pessoas mais velhas com quem podia ir pedir conselhos, e chegou a conclusão de que só havia uma...

***

– Eh, Tiago, posso falar com você? – ele perguntou, cutucando o irmão, que estava na porta da sala comunal, espiando todos os cantos, como se esperasse alguém.

– Ah, não sei, maninho, estou meio ocupado aqui... – murmurou ele, sem dar muita atenção ao irmão.

– Não, é que é realmente sério... – Alvo tornou, num tom mais baixo.

Tiago nem sequer pareceu ter ouvido ele, pois continuou espiando os alunos, um por um. Alvo repetiu, aborrecido:

– Tiago, eu estou com problemas!

O irmão encarou-o, revirou os olhos e fez um sinal impaciente, para que ele começasse. Alvo, agradecido, contou:

– Bem, acontece que eu estava indo no Cabeça de Javali, uma longa história, queria dar um susto no Malfoy, que tem medo do Dumbledore, que... Bem, também é outra longa história, mas acontece que aí o Aberforth, lembra dele? Bom, ele veio e nos deu biscoitos d...

– Ah, sim, claro, que história inspiradora – Tiago o cortou, depois deu outra espiada pela porta. – Ah, escuta Al, meu cabelo está legal?

Alvo olhou-o incrédulo.

– Seu cabelo...? Ah, mas o que isso importa?! Eu preciso da sua ajuda!

O irmão bufou, aparentemente indignado com o fato de que um ser humano não estivesse preocupado com seu cabelo. Ele colocou a mão na testa, como se estivesse com uma dor de cabeça horrível, abriu os olhos e se voltou para Alvo, com uma voz estranhamente calma para Tiago Sirius Potter:

– Maninho... É normal que você ache que eu seja uma pessoa muito sábia, eu não o culpo por isso, acredite, você não é o único no mundo que tem esse pensamento, mas... Embora não pareça, queridinho, eu não tenho todas as respostas para todos os problemas do mundo, ok?

Alvo revirou os olhos e já ia lhe dar as costas quando o irmão o puxou.

– Não, não, quero que fique aqui – disse ele, apontando para o distintivo de monitor no peito. Depois virou-se para os demais alunos e gritou: - ATENÇÃO! NOS PRÓXIMOS CINCO MINUTOS NINGUÉM SAI DESSA SALA!

– E essa foi a pessoa mais velha que você escolheu? – debochou Rosa, observando Tiago dando bronca nos alunos que estavam reclamando.

– É, é, acho que devia ter procurado a Lilí... – resmungou Alvo em resposta.

Tiago mandou que os alunos se organizassem em um círculo meticulosamente ajeitadinho, e ia inspecionando a aparência de cada um e, quando alguém se opunha às suas recomendações de beleza, ele os ameaçava com o distintivo, como se fosse uma arma altamente perigosa:

– Sedores, que roupa é essa? Meus afilhados de um aninho se vestem melhor que você... E Patrícia seu cabelo está... Como posso dizer sem ser grosso? Eh, horrível, melhor passar uma escova... Rosa, vá com a Patrícia, sua jubinha está me assustando... E Scorpius? É, não tem jeito... Tente nascer outra vez.

– E por que diabos estamos fazendo isso? – perguntou Malfoy, indignado com o que o garoto lhe dissera.

– Dã! – exclamou Fred. – Porque ele tá mandando, né! Cada um que me aparece... Aqui, consegui o que você pediu.

O ruivo tirou da mochila um buquê de flores e o entregou à Tiago – o que fez alguns alunos darem uns assovios de deboche, que foram calados com um simples olhar feio do monitor.

– É isso? – Tiago perguntou, pegando as flores, desajeitadamente. – Nossa, isso é muito brega, devia ter mandado você trazer um filhote de dragão, faz mais o meu estilo.

Fred revirou os olhos.

– Ei, já deu a maior trabalheira conseguir isso! – retrucou ele.

– E de onde você tirou? – perguntou Hugo, curioso.

– Da barba do Hagrid.

– Sério? – indagou Lilí, animada.

– Claro que não – riu Fred -, você acha que vou revelar meus truques assim?

Lilí pareceu desapontada, e Tiago, muito ansioso, começou a bagunçar os cabelos.

– Ok, ok... Ela deve chegar a qualquer hora, quero que façam silêncio!

Alvo olhou para os outros, mas ele era o único confuso ali. Bem, ele e Carlos.

– Quem é ela? – perguntou para Rosa, que observava Tiago dar ordens aos alunos aos berros com um ar de quem entende tudo o que está acontecendo.

– Ah, fala sério que você não sabe? – perguntou ela, num tom tão surpreso que fez Alvo murmurar um “ah, claro, sei...”, mesmo que não fizesse ideia do que estava acontecendo, mas não ia ser ele quem ia pagar de retardado da história...

Tiago deu umas últimas ordens e, após dar outra espiada na porta, berrou:

– Atenção, ela está vindo, ela está vindo! – ele bagunçou o cabelo, devia estar realmente nervoso. – Alguém apaga a luz, Fred, a música!

A luz foi apagada e Fred ligou um pequeno rádio que começou a tocar uma melodia familiar à Alvo...

Um instante depois, Daniella e Suzanna adentraram a sala comunal.

–... Mas claro que era mentira, eu não ia dar uma detenção a ela e... O que diabos está acontecendo aqui? – perguntou ela, risonha, olhando para os alunos em círculo.

Tiago fez um aceno com a varinha e uma luz, sabe-se lá de onde, o iluminou, mostrando o buquê que ele segurava.

– Surpresa... – murmurou Suzanna, empurrando a irmã mais para perto do garoto.

Daniella olhou assustada para Tiago e depois para os alunos.

– Daniella Crater... – o garoto começou, uma mão bagunçando os cabelos e a outra segurando o buquê. Ele entregou as flores à garota . – Eu pensei muito e... Vou te dar a honra de dizer que será minha namorada.

– Eu aceito! – ela exclamou, e, após pegar o buquê, se jogou nos braços de Tiago.

– Ah, então era isso! – disse um Alvo, abismado. Ele ouviu Tiago murmurar um “não foi uma pergunta...” e voltou-se para Rosa. – Era por isso que eles estavam tão estranhos ultimamente...

– Foi descobrir isso agora? – espantou-se ela. - Caramba, Al, você é lerdo, hein...

Fez-se uma pequena algazarra de palmas e assovios quando os dois se soltaram. Todos pareciam animados, os únicos ali que não pareciam nada feliz eram Matt e Alice – isso, é claro, se não contarmos Scorpius que, após passarem os cinco minutos (ele estava contando no relógio) tentou sair de fininho, mas como Tiago estava bloqueando a porta, teve que ficar sentado em sua poltrona, emburrado.

– Acho que agora eles não vão mais ser um quarteto, não é? – comentou Carlos, observando o amigo. – Ou melhor, um quinteto, se considerarmos a agregada da Alice...

Alvo não entendeu.

– Mas... A Daniella sempre andava com eles, não vai mudar muita coisa, vai?

Rosa deu um muxoxo.

– Ai, claro que não, né, Al! – ela respondeu, como se estivesse explicando uma coisa muito óbvia para uma criança teimosa. – Olha, Al, não percebe que os dois já estavam deixando o Matt de lado quando viraram monitores? Agora é que vão deixar de ser um quarteto...

– Mas eles não podem continuar se falando como antes? – perguntou ele, ainda confuso.

– Al, você realmente não entende nada... Olha para a cara do Matt! – a ruiva aponto e, definitivamente, não era uma cara muito “felicidades aos pombinhos”. – E ele é orgulhoso demais para ficar no meio dos dois agora, não é, Carlos?

Mas o garoto, que ainda continuava bravo com Rosa, apenas deu um muxoxo e resmungou algo como:

– É, tanto faz...

Muitos alunos foram até mesmo cumprimentar Tiago e Daniella, como se eles tivessem casados e, até aí estava indo tudo bem (o que Alvo estranhou, porque normalmente quando todos os grifinórios se reuniam por muito tempo e Tiago Potter estava entre eles, geralmente acabava em confusão, às vezes por coisas simples, como na vez que ele brigara com um garoto porque comera o último chicle-de-baba-bola). Porém, quando Tiago de seu por conta de qual música estava tocando esse tempo todo no rádio, foi que a coisa começou a desandar.

– Pelos cabelos do sovaco de Merlim, que diabo de música é essa?! – exclamou ele, quando a melodia extremamente depressiv do refrão começou a tocar , na voz rouca e entediante de um homem: “nem todos os duendes do mundo conseguiriam ouro o suficiente que comprasse o meu amor por você...”.

– É do novo álbum das Esquisitonas - explicou Fred -, e deu o maior trabalho convencer a Roxanne a me emprestar! Mas, acredite, essa ainda é uma das melhorzinhas deles...

– Ah, até que a letra não é tão ruim assim, Ti. – Ponderou uma melosa Daniella (que, repentinamente, adquirira um tom de voz extramente água com açúcar) agarrada ao braço de Tiago como quem agarra o pescoço de um hipogrifo louco voando à toda pelo céu.

– Essa coisa nem rima! E dá vontade de cortar os pulsos... Você não tem algo dos Explosivins aí, tem?

Os três até que tentaram ficar na comemoração que os alunos fizeram (ou melhor, refizeram) em homenagem a Tiago e Daniella, o que foi realmente uma pena, pois Tiago, como monitor, conseguiu passe-livre para ir até a cozinha e trazer algumas guloseimas que os elfos estavam preparando para a festa de Dia das Bruxas que ia ter dali algumas horas (não que ele precisasse de passe-livre, afinal já tivera muita experiência em afanar comida até mesmo sem a capa de invisibilidade nesses cinco anos), mas quando Tiago começou a falar coisinhas bobas para Daniella sem dar a mínima para o fato de os amigos estarem ali segurando vela, Matt, Suzanna e Alice escaparam por entre os alunos e Alvo, Carlos e Rosa aproveitaram a oportunidade para se escaparem também.

– Al, se você quiser podemos falar com Neville, sabe, ele vai saber o que fazer. – Sugeriu Rosa.

Alvo concordou e eles seguiram até a sala do diretor, mas este não estava lá. Tampouco em qualquer outra parte do castelo, o que as crianças estranharam, mas depois acharam que, como diretor, devia ter dado uma saída para resolver alguma coisa.

A próxima pessoa na lista de Alvo era Hagrid. O meio gigante estava sentado à porta de sua cabana, com Canino – que crescera consideravelmente desde a última vez em que os garotos tinham o visto –, e lia o jornal com uma expressão muito séria e preocupada.

– Olá, Hagrid! – Cumprimentou Carlos, tentando se desvencilhar de Canino, que tentava, desesperadamente, lamber a orelha do garoto. - Lendo o quê?

– Ah, não tinha visto vocês... – disse o gigante, dobrando o jornal, imediatamente. – Como vão?

– Bem, mas... O que você estava lendo? – insistiu Rosa, apontando para o jornal, que Hagrid, aparentemente, tentava esconder. – Parecia bem importante...

O meio gigante fez um gesto com a mão, como se espantasse uma mosca.

– Mas o que vocês estão fazendo aqui? Por que não estão na festa, Tiago disse que estava tendo uma confraternização na sala comunal da Grifinória... – depois, como se se desse por conta de alguma coisa, ele olhou-os desconfiado. – Não estão aprontando, estão?

– Ah, não, dessa vez, não – garantiu Rosa.

– É, na verdade, queríamos... Queríamos falar com você... – ele começou, tão nervoso que, inconscientemente, começou a bagunçar o cabelo (o que, logo que notou, fez questão de enfiar as mãos no bolso, afinal, se pegasse essa mania de Tiago seus cabelos ficariam ainda mais bagunçados do que já são ao natural). – Bem, é que... Ah... Na verdade...

– Por que não entram? – sugeriu Hagrid, notando o nervosismo do menino. O gigante abriu a porta e os três adentraram a cabana.

Alvo, que não sabia por onde começar, ficou de pé, esfregando as mãos, enquanto os dois se acomodaram nas enormes poltronas (com Hagrid no meio, afinal, ainda estavam brigados).

– Olha, Hagrid... – ele começou, tentando achar as palavras certas. – Eh... Bem, hoje em Hogsmeade aconteceu... Bem, aconteceu uma coisa estranha.

– Coisa estranha? – o gigante estranhou, erguendo a enorme sobrancelha. – Não andaram se metendo com o garoto Malfoy de novo, não é?

Alvo sacudiu a cabeça, negativamente, e, depois de pensar por um tempo, percebeu que não havia uma maneira mais leve de se contar que se encontrou com dois possíveis Comensais da Morte que, provavelmente, não estavam em Hogsmeade apenas para apreciar a paisagem, então ele simplesmente contou tudo o que aconteceu. E, Hagrid, após ouvir sobre Aberforth, parecia tão chocado quanto Rosa.

– Mas não estão achando que eles esteja... Esteja do lado do Rondres, estão? – Perguntou ele, o olhar ido de Alvo para Rosa, e desta para Carlos. Os três encolheram os ombros, apreensivos. – Bom, provavelmente ele nem sabe do que está acontecendo, o velho Dumbledore. O pub sempre atraiu má clientela, entendem?

– É, Hagrid, mas também tem os biscoitos e foi exatamente isso o que disse o... – mas a garota parou imediatamente quando viu os sinais desesperados que Alvo tentava lhe fazer para que ela entendesse que o assunto de Brubock ainda não devia ser revelado ao mundo (o que, provavelmente aconteceria, se Hagrid soubesse, o que ele não fazia por mal, é claro). – Bem... É estranho, não acha? Esses biscoitos são realmente raros, e se...

– E se estiverem envenenados? – apavorou-se Carlos, que acabara de lembrar que ele comera praticamente todo o pacote de biscoitos sozinho. Depois, colocou a mão no peito e fechou os olhos. – Pensando bem, acho que estou me sentindo um pouco doente já... Quanto tempo será que ainda tenho?

– Bobagem! – disse Hagrid, o que fez o garoto soltar um assovio de alívio. – Esqueceram de quem ele é irmão? É provável que ele só quis ser gentil...

Alvo concordou, mas seu olhar se cruzou com o de Rosa e os dois pensaram na mesma coisa, no verso de Brubock: “não confie em nada que venha muito fácil”. Carlos, no entanto, tomava um bom gole do chá que Hagrid lhe oferecera, para se recuperar do susto de estar envenenado por um segundo.

– Mas e o McLaggen, Hagrid? – perguntou Alvo. – Acha que ele esteja envolvido com alguma coisa?

– Bom, com esse aí a coisa já muda... Agora se querem a minha opinião – começou o gigante, olhando sério para as crianças -, ele nunca foi coisa muito confiável, não. Não seria surpresa se estivesse metido com coisas do... Bem, dele.

Alvo concordou, pensativo.

– Mas e o colar? – tornou ele. – Poderia ser uma Nova Marca Negra?

Hagrid coçou a barba desgrenhada, olhando para o teto.

– Bom, pode ser, pelo jeito que você disse que ele mostrou pra você, Alvo. Mas não acredito que o... Rondres... – Hagrid fez uma careta ao pronunciar seu nome. – Não acredito que ele iria perder tempo criando essas coisas quando todos estão procurando por ele.

Os três tomaram mais um pouco de chá e, quando o gigante lhes oferecera um pedaço do bolo de chocolate que acabara de preparar, Alvo teve tato o suficiente para dizer que estava cheio (o terrível gosto dos primeiros biscoitos de Hagrid que o garoto provara ainda ficara muito bem guardado em sua memória). Rosa e Carlos, por outro lado, aceitaram. Rosa porque já não controlava mais o seu apetite (coisa pela qual ela culpava o pai) e Carlos porque, aparentemente ainda muito chocado com o pensamento de que os biscoitos de abóbora do verão que Aberfort lhes dera estivessem envenenados, devia ter esquecido sua última experiência com a culinária do gigante. E, após algumas mordidas, o garoto conseguiu - não tão discretamente quando Alvo gostaria – dar o bolo para Canino, que abocanhou com todo o prazer. Rosa, que não conseguiu ter a mesma sorte (até porque sempre que a garota conseguia atrair a atenção do cachorro, Carlos sempre o chamava de volta, fazendo com que os dois tivessem uma briga horrível por olhares), então teve que comer o seu pedaço inteiro.

– Ah, mas não quer mais uma fatia? – Ofereceu Hagrid, sorrindo bondosamente. – Seu pai comentou que você está puxando o lado comilão da família!

– Ah, ele falou, é? Tenho que lembrar de ter uma boa conversinha com ele... – acrescentou ela, brava, para Alvo, enquanto aceitava outro pedaço de bolo.

Algum tempo depois (que, para Rosa, mais pareceu uma eternidade) a prima de Alvo conseguiu terminar o bolo, e os três deixaram a cabana de Hagrid.

– Obrigada por não deixar o Canino comer o meu bolo, Carlos, não vou esquecer de retribuir esse favor – garantiu Rosa, olhando furiosa para o amigo.

– Disponha, querida – respondeu o outro, dando de ombros.

– Ah, mas veja só quem estamos vendo! – foram as palavras de cumprimento vindas de Malfoy e sua fiel gangue. – São os três ratinhos voltando da cabana do gigante trapalhão, eh?

– Não enche, Malfoy – cortou-o Rosa e já iam seguir em frente e ignorar o garoto (o que seria uma ótima escolha), mas este continuou com os insultos:

– Olha como fala, Weasley. Não aceito esse tipo de tratamento de gente do seu tipo.

– Como assim do tipo dela? – intrometeu-se Carlos. – O tipo dela é mil vezes melhor que o seu!

Scorpius, por uma fração de segundo, pareceu realmente ofendido, mas aí um sorriso de desdém apareceu em seu rosto, e ele logo retrucou:

– Defendendo a namorada, eh, Cattér? São mesmo um belo casal... Uma sabe-tudo irritante e um Traidor do Sangue! Tem combinação melhor? Eu acho que não...

– Cala a boca, Malfoy! – rebateu Carlos, irritado e vermelho até a raiz dos cabelos.

– Não me mande calar a boca, Cattér – retrucou Scorpius, muito ofendido. - Vá primeiro dar um jeito nesse ninho de rato que você chama de cabelo.

– Pelo menos o Carlos tem caráter, Malfoy – defendeu Rosa. – Diferente de você e desse seu cabelo ensebado.

Aquilo deve ter feito um grande estrago com o emocional de Scorpius, pois quando Rosa ofendeu o seu cabelo, ele ficou tão incrédulo que alguém não achasse seu cabelo incrível e estiloso (o que não fazia muito sentido, afinal o garoto usava o cabelo lambido para trás o que, todo mundo sabe, já havia saído de moda há muito tempo) que saiu pisando pesado em direção ao lago.

Alvo, que observou toda aquela cena completamente abismado, se voltou para Carlos e Rosa.

– Achei que vocês estavam brigados! – disse ele, sem entender.

Os dois se olharam surpresos, porque nessas horas a gente sempre esquece que está brigado, principalmente se alguém vem falar mal de um amigo tão próximo quanto Carlos e Rosa eram.

– Pois eu ainda não estou falando com você! – resmungou Rosa, cruzando os braços e olhando feio para o garoto.

– Digo o mesmo! – concordou Carlos, repetindo o mesmo gesto e olhando para o outro lado.

Alvo, que ficara no meio dos dois, revirou os olhos e puxou os dois pelos braços, de volta ao castelo.

Nos dias que se passaram, uma fina camada de neve foi tomando conta de todo o gramado de Hogwarts. Logo começaram as tempestades, e o ar foi ficando tão frio que o número de alunos passeando pelo jardim da escola depois das aulas deu uma considerável diminuída. Hagrid, seguido de perto por Canino, era visto sempre com uma espécie de vassoura extremamente grande (Alvo suspeitou que fosse feita pelo próprio guarda-caça, pois o garoto nunca vira uma vassoura daquele tamanho) que ele usava para remover o gelo da entrada. Os cachecóis começaram a fazer parte do uniforme rotineiro dos alunos, pois fazia muito frio, tanto dentro quanto fora do castelo, mas dentro ainda estavam à salvo das tempestades (coisa que Scorpius dera azara, porque Fred fechara, sem querer, as grandes portas do castelo na sua cara, e o garoto ficou se molhando no lado de fora).

Mas, definitivamente, a coisa que estava deixando os alunos ansiosos no momento (porque a pequena estadia de Hogsmeade, apesar de ter sido maravilhosa, fora logo deixada de lado) era a abertura da Temporada de Quadribol, que teria início no dia vinte e dois de dezembro, na véspera das férias de inverno. O que Carlos e Rosa, em consideração à Alvo, fizeram questão de não comentarem muito, afinal, o garoto, apesar de estar agindo muito bem diante do que havia acontecido, com certeza ainda devia estar se sentindo mal, eu também ficaria se estivesse no lugar dele. E, por falar naqueles dois, eles ainda continuavam brigados. Coisa extremamente desnecessária, na opinião de Alvo, até porque constantemente eles acabavam esquecendo que estavam bravos um com o outro...

– Ei, olha lá o Cabeça-Lambida-Pela-Vaca – apontou Carlos para Scorpius (Cabeça-Lambida-Pela-Vaca era o mais novo dos muitos apelidos que os garotos, secretamente, deram à Malfoy), que contava, desajeitadamente, os galeões que recebera por correio-coruja da mãe naquela manhã de quarta-feira. – Se exibindo com todo aquele dinheiro, o bestão...

– Exibindo coisa nenhuma – retorquiu Rosa -, acho que ele está é com dificuldades de contar!

– É, acho que é demais para o pequeno cérebro de ervilha dele – concordou Carlos, risonho.

Os dois se olharam rindo e, depois, percebendo que acabaram de falar um com o outro, viraram o rosto e voltaram a fazer o que estavam fazendo, como sempre faziam quando isso acontecia.

Outra novidade era que Carlos iria passar o Natal na casa dos Potter. Os pais do garoto, que eram medibruxos, receberam uma ótima oferta de emprego para fazerem um pequeno trabalhinho em Liverpool, e não voltariam antes do dia vinte e seis, e como Carlos não quisera ir junto os Potter o convidaram para passarem o Natal com eles (afinal, com uma família grande daquelas, um a mais um a menos não faria diferença). O que fez Tiago dar um pequeno pequeno pití, e decidiu-se (sem consulta ninguém) que Daniella também passaria o Natal lá.

– Ei, Rosa, lembra da Lilá Brown? – perguntou Alvo à prima, num fim de tarde enquanto faziam o dever de casa.

– Bom, esse nome é meio que proibido lá em casa, mas, é, me lembro. – afirmou a garota.

– Bom, pelo que falaram, a Daniella deve ser bem igual à ela, não acha? – comentou ele, observando a garota, que estava, neste exato momento, completamente agarrada ao braço de Tiago, enquanto este estudava para os NOM’s. A garota, realmente, mudara consideravelmente desde que começara o namoro com o irmão de Alvo. E, todos concordavam, estava insuportável. Falava com ele com uma vozinha daquelas que, geralmente, usamos para falar com bebês (embora Alvo fosse suspeito para falar, pois falava desse jeito com cachorros), e até dera um novo apelido ao garoto (“Ti”), além, é claro, de o seguir de perto por todos os lugares em que este ia. Tiago, no entanto, provavelmente devia ser o único ser na face da Terra que não se irritava com isso, afinal ele gostava de ser paparicado. – Não quero nem pensar no que vai ser ter que passar o Natal com esses dois...

– Ah, veja o lado bom da coisa – disse Rosa, com os olhos ainda grudados no pergaminho em que escrevia -, pelo menos agora a Dominique vai ter companhia no seu grupinho de pessoas que ninguém queria que estivesse na festa...

Alvo, que ainda estava meio pilhado com o que acontecera em Hogsmeade, só ficou ainda mais nervoso quando Rosa – que, achando que estaria sendo uma ótima amiga ao procurar saber mais sobre o caso -, lhe lembrou de onde o nome McLaggen lhe era familiar. Eles já tinham ouvido tio Rony ter falado qualquer coisa sobre Córmaco ser um retardado uma vez, mas o que realmente fez Alvo lembrar-se foi Augusto McLaggen, do quarto ano. Ele era o apanhador substituto da Grifinória, e, segundo Rosa estava realmente esquisito nos últimos dias. O que poderia confirmar a teoria das crianças, afinal, se o pai estivesse mesmo envolvido com artes das trevas, seria compreensível que o garoto estivesse se sentindo mal por isso.

Mas se tinha uma coisa estranha acontecendo era com Draco Malfoy. O professor já tinha dado uma afrouxada no seu maior objetivo de vida (infernizar os Weasley e todos ao seu redor), mas agora, definitivamente, estava mudado. Sequer ligava quando Scorpius ia lhe fazer alguma acusação boba como dizer que Alvo estava respirando alto de mais para lhe provocar ou coisa do tipo. Não ligava mais para Alvo, Carlos ou Rosa. Aliás, o bruxo não parecia estar ligando muito para nada. Apenas dava a sua aula e não fazia nada a mais do que explicar a matéria em um tom muito monótono.

– Os grindylows são demônios aquáticos, sua pele varia em diferentes tons de verde, mas em sua maioria não atingem tonalidades muito escuras. Acredita-se que esta categoria varia com a idade do demônio. São realmente perigosos, principalmente para crianças, alguém sabe me dizer o porque?

– Eu, senhor – Rosa levantou a mão. Draco fez um breve aceno com a cabeça para que ela falasse e essa estranhou a falta de qualquer comentário de mau gosto, mas logo ela respondeu: - Bem, crianças principalmente porque são menores, e há casos em que foram confundidas com pequenos peixes pelos grindylows, e quase foram comidas. Mas, apesar de tal agressividade, acredita-se que os Sereianos consigam domestica-los.

– É, é, isso mesmo. Cinco pontos para a Grifinória – disse ele. Mas não disse de má vontade. Tampouco estava sorrindo também, como se ficasse feliz pela garota. Na verdade, era difícil definir a expressão no rosto do professor. Era quase como se ele tivesse sido obliviado há pouco tempo. Estava realmente avoado, o olhar vago e, de vez em quando, adquiria um ar muito preocupado.

– Acho que ele finalmente se ligou que tem um rato nojento como filho – debochou Carlos, o mais baixo que pôde, afinal a aula de Defesa Contra as Artes das Trevas era juntamente com a Sonserina, e a última coisa que eles queriam era um bando de sonserinos (que, eventualmente, idolatravam Draco Malfoy) irritados com eles.

– Pois eu acho que a coisa é séria! – discordou Rosa, cruzando os braços com um ar superior. Carlos revirou os olhos e soltou um muxoxo. Alvo encarou a prima. – Mamãe comentou alguma coisa sobre ele e a esposa estarem em conflito. Acho que estão se separando...

– Bom, isso explicaria o mal-humor do Malfoy... – comentou Alvo, observando o loiro na carteira da frente, e, ultimamente, andava realmente resmungão (o que os garotos lamentavam, pois era nos três que ele descontava o aborrecimento).

Conforme os dias iam passando, o frio só ia aumentando. Os garotos até se ofereceram para ajudar Hagrid a retirar o gelo das entradas do castelo (o que lhes rendera alguns deboches de Malfoy, Dominique e os irmãos Jofrey).

Quando chovia, era realmente tedioso ficar na sala comunal da Grifinória, principalmente para Alvo, que tinha que ficar ouvindo Carlos e Rosa reclamando um do outro. Quando Carlos ia tirar uma soneca (o que acontecia constantemente), Rosa vinha correndo para lhe falar as barbaridades que Carlos que lhe fizera (coisas incrivelmente graves, como não rir de suas piadas). E este, quando a garota ia jogar Xadrez de Bruxo com Hugo (o que era um tanto que engraçado, pois os dois sempre acabavam em uma discussão sobre quem era melhor) não parava de criticar cada movimento que Rosa fazia (“Olha, lá! Entregando a torre de lambuja pra ele! Veja agora, vai sacrificar o cavalo, mas que burra!”), muito embora, Carlos, Alvo sabia muito bem, não entendia nada sobre Xadrez de Bruxo. Então, quando fazia tempo bom (e, por tempo bom, eu quero dizer não caindo o mundo em forma de chuva) os alunos sempre ficavam animados e saíam para os jardins – que agora eram uma massa imensa e branca de neve -, e ficavam perambulando alegres por entre as árvores. Alguns até se aventuravam a andar um pouco sobre o lago congelado, como fizera Fred várias vezes. Mas, definitivamente, o mais divertido eram as guerras de bolas de neve.

Eu te pego, Hugo! – berrara Rosa, quando o irmão lhe tacara uma enorme bola de nova bem na cara. A garota saiu correndo (com uma pequena montanha de neve que ela levava na capa de Hogwarts, como uma sacola) e, como o irmão não corria tão bem quanto ela, principalmente quando esta estava brava, logo fora praticamente coberto pelo gelo.

A bagunça estava grande, e os alunos aproveitavam que era domingo e que a Prof.ª Chollobull não estava no castelo para vir acabar com a brincadeira (o que, se estivesse, certamente aconteceria).

Alvo, que não aguentava mais Fred escondendo bombinhas de tinta nas bolas de neve (e o garoto fora apanhando duas vezes, agora estava praticamente coberto por tinta azul), sentou-se embaixo de uma faia, junto com os amigos.

– Argh! – disse ele, olhando para o próprio corpo. – Eu estou todo grudento!

– Veja pelo lado bom, Al – disse Rosa, passando o dedo pelo braço do garoto e lambendo a tinta -, pelo menos é comestível!

– Ah claro, a Papa-Tudo não pode ver nada comestível... – resmungou Carlos.

– Cala a boca, Carlos! – xingou Rosa. Mas, é claro, ela continuou comendo.

– A Daniella está insuportável! – exclamou Lilí, que acabara de chegar, junto Hugo. Os dois se sentaram junto com o trio e observaram a garota, que era carregada nas costas por Tiago. – Sério, gostaria de poder jogar um balde de tinta na cara dela...

Alvo deu uma risada.

– Bom, me chame quando for fazer isso... – disse ele.

– Na verdade, a oportunidade acaba de chegar...

Todos se viraram e viram Matt com um sorriso maroto no rosto. Eles não viram quando o garoto se aproximara, mas este parecia estar parado ali há um bom tempo. Ele não participara da guerra de bola de neve.

– Do que você tá falando? – perguntou Lilí, risonha.

– Estou falando, cara Lilían Luna – começou o garoto, se abaixando para ficar da altura da garota -, que posso dar um jeito de dar uma lição nesses dois...

– Mas... Por que você faria isso? – Estranhou Hugo. – Você é amigo deles!

– Ai, Hugo, vê se não se mete! – Cortou Rosa, olhando feio para o irmão. – Mas o que, exatamente, seria, Matt?

O garoto se levantou, enfiou a mão nos bolsos e encarou Rosa, sorrindo.

– O que você acha de... Uma combinaçãozinha de feitiços?

Rosa, que não participara de nenhum duelo de Matt, não entendeu do que ele falava. No entanto, Alvo, que, em seu primeiro ano, tivera um duelo duplo com o garoto, entendeu imediatamente de que feitiço ele estava falando.

– Mas, o Tiago te mataria! – disse ele à Matt.

– Bem, é um risco que estou disposto à correr – disse ele, fazendo uma cara inocente e encolhendo os ombros. – Pelo bem do time...

– Não entendi, dá pra alguém explicar?! – Carlos se irritou.

Matt apontou para Daniella e Tiago, que ainda estavam no meio da guerra de bola de neve (Tiago bancava o herói e, toda a vez que alguém atirava uma bola na direção da namorada, o garoto se atirava na frente, ao que Daniella agradecia com um “aaah, meu Ti lindinho!”).

– Bom, vamos ver se a Água-Com-Açúcar ali vai continuar achando o “Ti” lindinho com tentáculos na cara! – Matt respondeu.

Rosa pareceu, finalmente, entender do que ele falava. E, após Matt conseguir os convencer de que se Tiago os pegasse a culpa seria inteiramente dele (o que demorou bastante, porque até mesmo Carlos que era o mais corajoso entre eles morria de medo de Tiago), mas, por fim, os garotos toparam.

Não foi muito difícil se meter no meio da confusão de guerra de bolas de neve, embora Alvo fora acertado duas vezes (o que ele não se importou, afinal já estava completamente azul). Difícil fora Alvo criar coragem para fazer a combinação de feitiços junto com Matt, mas, quando este começou a contar até três, simplesmente não havia mais tempo para desistir. Ao final da contagem, os dois apontaram a varinha para Tiago e, ao mesmo tempo, gritaram seus feitiços. Porém, o jorro de luz que saiu de suas varinhas não atingiu Tiago, pois este, no último segundo, se jogara na frente de Daniella para defendê-la de outra bola de novo. No entanto, quando os alunos notaram que alguém lançara um feitiço, fizeram um “uhhh” e depois um silêncio mortal, no qual Tiago, ainda de costas, apenas disse:

– Esse feitiço era para me atingir? – não houve respostas. Ele estalou os dedos, aparentemente se controlando. – Porque só tem uma pessoa além de mim que conhecia essa combinação de feitiços, Matt Stuck!

Ao pronunciar o nome do amigo (se é que podemos dizer que eles ainda eram amigos), Tiago se virara, furioso e o encarara.

– É, fui eu – admitiu Matt. – E foi uma pena não ter acertado.

O que diabos deu em você?! – Tiago se esganiçou. – Somos amigos!

– Amigos? Amigos? – o garoto repetiu. Depois deu uma risada. – Ah, faça-me o favor! Você não fala comigo desde que se juntou com essa daí!

– Não chame a Daniella de essa daí! – defendeu um Tiago muito nervoso. – Seu problema é comigo, deixa ela fora disso.

Matt pareceu incrédulo por uma fração de segundo, mas depois desapontado.

– Desde quando você fica do lado da Daniella? – perguntou ele. – Foi sempre você e eu! Éramos um time! Mas, pensando bem... Acho que não quero mais ser seu impresível!

– Empresário – corrigiu Tiago.

– Ei, não venha me corrigir numa hora dessas! – Matt o cortou.

Os dois se encararam por um bom tempo, e os alunos, que já estavam muitíssimo acostumados com as “conversas sérias” de Tiago, logo formaram um círculo, prevendo a briga.

– Matt, não acredito que você está com ciúmes de mim – Tiago disse, cruzando os braços. – Mas, eu perdoo esse seu equívoco de ter tentado me acertar com aquele feitiço. Vamos, eu sei que você quer ser amigo do Grande Tiago, eu te perdoo se você parar de bancar o idiota.

Ele estendeu a mão, mas Matt não a apertou.

– Me perdoar? Não até eu fazer isso!

Mal acabara de falar e o garoto partira para cima de Tiago que, embora tivesse sido pego de surpresa, logo revidou. Os dois ficaram rolando no chão em meio à socos e empurrões por um bom tempo, ninguém ousava separar. Até que, Tiago, com o lábio inchado, se levantou e apontou a varinha para Matt.

– Não fez o feitiço combinado sozinho – disse ele, ofegante. – Quem te ajudou?

Matt, exatamente como prometera, não dedurara Alvo, ficara de boca fechada, olhando feio para Tiago. Porém, os olhos deste correram do amigo direto para Alvo que, desde a hora que lançara o feitiço, ainda mantinha a varinha erguida.

– Seu traidorzinho! - xingou ele, olhando incrédulo para o irmão. – Se bandeou pro lado desse... Desse idiota?

Antes mesmo que Alvo pudesse responder, uma nova guerra começara, dessa vez de feitiços. Era um duelo, porém bem mais que duplo. À princípio, somente Tiago e Matt estavam lançando feitiço, mas, Alvo não soube dizer quando, mas um feitiço o acertou e, quando se deu por conta, todos estavam no meio da briga, até mesmo Hugo e Lilí.

Alvo não sabia de quem estava se defendendo, mas não parava de lançar Expelliarmus na direção em que os feitiços o atingiam. Foi tudo tão rápido, que o garoto duvidou que alguém ali estivesse mirando alguém, mas, de repente, alguém deu um grito. Todos se viraram e deram de cara com a Prof.ª Claepwack que, provavelmente estava passando por ali e acabara atingida por um feitiço (ela fora lançada no ar). No momento em que a professora se levantou, todos prenderam a respiração e congelaram. Ela, muito vermelha, andou calmamente por entre os alunos e parou encarando os garotos no meio do círculo.

– Me... Acompanhem! – ordenou ela, tremendo de raiva (ou de vergonha, o que era mais provável).

O tom bravo em sua voz foi tão autoritário que ninguém ali ousou retrucar. O grupinho saiu seguindo a professora para o castelo, todos de cabeça baixa. Alvo pensou ter ouvido um soluço de Rosa. Tiago, mais emburrado impossível, olhou feio para Matt e murmurou:

– É, acho que para todo o Tiago há um Rabicho...


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Notas finais do capítulo

Então, gentinha querida, aí vai uma curiosidade: o Carlos e os Cattér não são uma família amante de trouxas só porque o Rony e os Weasley são e porque o ele seria o Rony da Nova Geração, não, não. Eu fiz isso pra mostrar que, após a queda do Voldemort muitos bruxos se deram por conta do quão mesquinho o regime anti-trouxa estava sendo e, depois disso, a maioria dos bruxos já estavam se integrando bem mais na comunidade trouxa e, assim como os pais do Carlos e do Jordan, muitos até mal usavam magia.
Ok, agora sobre o capítulo, gostaram?? Coitadinho do Matt, não sei de quem tenho mais pena, dele ou do Tiago que tem que aguentar Lilá 2 da Daniella com os "Ti lindinho" dela, nah, nah, nah...
Mas então, é isso minha gente, até mais e não esqueçam de deixar o review...