O caminho para a casa dos Alcock foi longo, e algo que não o tornou calmo foi o fato de que estávamos muito atrasadas.

–Hanna pode ser que seu pai chegou muito cedo! - Tentei acalmar ela.

–Rachel você não está entendendo! Meu pai nunca se atrasa. - Blo disse para mim e deu muita ênfase no nunca.

A situação a meu ver estava crítica. Depois de algum tempo de tensão eu consegui avistar o grande portão e uma mansão um pouco atrás do mesmo.

Assim que fomos chegando mais perto do lugar eu consegui perceber mais detalhes, como o jardim que era ornamentado, com direito a fonte e algumas esculturas que pareciam ser colocadas estrategicamente formando um círculo em volta dela.

Logo que Hanna estacionou o carro em frente ao portão ele se abriu, o mesmo era bem rebuscado com detalhes em dourado.

Enquanto o carro andava eu conseguia captar o som do pneu indo de encontro com o cascalho que formava um caminho até a mansão. Hanna logo estacionou o carro em um lugar que parecia ser reservado as visitas.

–Está mais calma? – Perguntei para Hanna.

–Sim! Com sorte meu pai não vai me dar uma bronca linda e longa. - A loira parecia mais calma, até voltou com o seu humor diário.

Assim que saímos do carro fomos recepcionadas por um mordomo que estava vestido impecavelmente.

–Aqui é realmente bonito Blo. - Comentei com ela.

–Não gosto muito deste lugar! As coisas daqui tem um aspecto muito velho. - Hanna disse para mim enquanto deixava seu casaco com o mordomo.

Não deixei meu casaco com ele, estava sentindo uma corrente de ar gelado que insistia em arrepiar os pelos da minha nuca.

Eu observada cada canto da mansão, eu particularmente achei tudo muito bonito, os móveis com seu toque clássico. Fiquei absorta do mundo exterior e acabei nem percebendo que tinha um vaso bem a minha frente, e o final dessa situação já é imaginável. Acabei trombando com o grande vaso que compunha a decoração do hall, por sorte não o quebrei, apenas cai para trás batendo minha bunda no chão de mármore, muito incomodo por sinal.

Me levantei já sentido o rubor subir sobre minha face, estava sem graça pois havia acabado de cair e quase quebrar um vaso que provavelmente custaria muito mais que meu salário, isso era algo óbvio pois puder perceber do mordomo um certo olhar de repreensão.

Hanna prevendo os meus pensamentos me puxo em direção ao local onde aconteceria o jantar e agradeceu rapidamente o senhor simpático.

–Ray ...... Por pouco você não acabou com uma parte da história desse ricaços. - Hanna me disse com um olhar cômico, a mesma sabia que eu era extremamente atrapalhada, ainda mais quando estava nervosa.

–Estou muito vermelha ? - Perguntei para Hanna enquanto virava meu rosto em direção ao dela, e pela sua reação eu já desconfiava da resposta.

–Acho que ninguém vai perceber Ray, fica tranquila pois esses cara só vão prestar a atenção na conversa direcionada aos negócios. - Hanna disse enquanto virávamos no final do corredor em direção a direita.

Logo que terminamos a curva pude perceber uma grande porta marrom com alguns detalhes em dourado e um outro mordomo, o mesmo era bem mais jovem que o senhorzinho simpático, e deus do céu ele parecia um estátua, me lembrei daqueles soldados da Inglaterra. Eu ri em pensamento, pois com toda a pompa até parece que o destino de muitas pessoas estavam em jogo. Ricos e suas frescuras, nunca irei entender isso.

Continuamos em silêncio até chegar a tal porta e o homem estátua finalmente revolveu falar algo e manter contato conosco.

–Olá! Eles já terminaram a reunião e já estão a espera das senhoritas. - Ele terminou de falar eu pude fazer uma breve análise sobre o mesmo, sua voz era um pouco fina e soava um pouco arrogante.

O mesmo abriu a porta e novamente fiquei extremamente enfeitiçada por toda aquela decoração. Essa sala com toda a certeza era maio que meu apartamento, que agora parecia mais um apertamento. Olhei as paredes e todas continham quadros de artistas famosos, como A Persistência da Memória de Salvador Dalí, quadro que eu mesma tinha uma réplica barata.

Parei a minha observação analítica sobre o cômodo pois uma voz grave nos saudou.

–Antes tarde do que nunca Sr. Hanna e .... ? - Christian nos abordou e mesmo que ele estampasse o mais belo dos sorriso o seu sarcasmo estava carregado em sua fala.

–Rachel ......... - Eu me apresentei e por pouco quase falei meu sobrenome, o que possivelmente não me ajudaria muito.

–Apenas Rachel ? - Christian insistiu na pergunta enquanto pegava uma taça do que presumi ser vinho e ficou esperando uma resposta.

–Sim! Só Rachel. - Fui firme e rápida com minha resposta, o que fez Hanna me olhar de canto provavelmente se perguntado o motivo de eu não ter dito meu sobrenome.

–Então Sr. Hanna e Sr. Só Rachel queiram por favor se sentar conosco, creio que depois de uma reunião de longa duração todos estejam com fome! - Christian disse e direcionou seu olhar para mim, o mesmo era diferente das órbitas de Logan, era um pouco opaco e sem vida.

Por falar no outro Alcock, eu esqueci da presença do mesmo. Logan vestia um blazer marrom entreaberto e por baixo do blazer ele usava uma camisa azul. Pude notar que ele alternava seu olhar entre Hanna e eu, assim como o pai dela que nos olhava com um olhar de reprovação.

Segui Hanna em direção as duas cadeiras que restavam, uma ao lado da outra. Hanna escolheu a cadeira que a fazia ficar ao lado de seu pai, e eu acabei ficando na ponta, quase que de frente para Logan.

Ninguém tentou começar qualquer tipo de diálogo durante o jantar, que por nota devo comentar que estava divino. Os minutos iam se passando e o clima ia ficando mais pesado, eu teria que arranjar logo um jeito de sair daqui e começar a bisbilhotar um pouco.

Eu estava até que tranquila, não obtive mais nenhuma indireta de Christian e estava tendo quase certeza de que Logan era mudo, que cara quieto cruzes, eu sei que ninguém pronunciava nada, mas ele parecia que não falava por que não queria estar ali de jeito nenhum, era um silêncio chato e inconveniente vindo da parte dele. Já Christian parecia que ele estava só esperando uma oportunidade para dar mais alguma alfinetada em mim e em Hanna. E eu estava certa, minhas apostas de que eles eram completamente estranhos estava quase ganha.

–Então senhoritas, vocês ainda não nos disseram o motivo do atraso. - Christian falou e eu olhei para Hanna tentando perguntar o que responderíamos.

Antes de eu sequer pensar em uma resposta, já que estava um tanto que sem graça pela situação, Hanna esboçou um sorriso para mim e começou a dar a explicação que Christian tanto parecia querer.

–Meu chefe me empacou na agência em que eu trabalho. - Hanna disse e olhei para mim novamente, a desculpa era até que aceitável e acontecia mesmo isso quase toda semana.

–Entendo, e você trabalha em que área ? - Christian perguntou para Hanna, o que eu achei bem estranho já que o pai da mesma provavelmente já comentou algo sobre isso com o Alcock mais velho.

–Sou Jornalista Christian. - Hanna respondeu enquanto pegava a taça de vinho e bebericava um pouco do mesmo.

–Nossa! Jornalista não são muito prestigiados hoje em dia, eu mesmo muitas vezes não me dou bem com eles. - Christian terminou seu comentário infeliz enquanto dava uma risada um tanto quando alta e desdenhosa.

Agora é oficial, esse cara está se tornando incrivelmente insuportável ao longo do jantar, meu estômago embrulhava toda vez que eu lembrava que eles poderiam estar ligados com o assassinato de Ella.

–E você Só Rachel, atua em que área ? - O babaca, já o denominei assim e ponto, continuou com o assunto.

–Também sou jornalista, e creio que o reconhecimento não é tudo dentro de uma profissão, eu trabalho porque gosto do que faço e não por prestigio. - Respondi calmamente, não sei como, pois Christian estava conseguindo Me tirar do sério.

–Isso é ótimo então Rachel. - Christian pronunciou o meu nome com um tom irônico e que por pouco não me irritou mais ainda.

Então o clima voltou a ficar pesado e entediante, aquele jantar não acabava nunca e a sobremesa estava vindo de jegue só pode. Christian bateu duas palmas e um outro criado entrou, e o mesmo não se importou em ser grosso com o empregado.

–Onde diabos está a sobremesa ? Eu achei que tínhamos um acordo sobre o horário, se fosse para ter essa demora eu teria ido a um restaurante!! - O Alcock mais velho terminou de falar e fez um sinal para que o empregado fosse embora.

Mas que cara grosso, estava tentando ao máximo não ser grossa com ele, eu nem fui convidada por ele para esta droga de jantar, mas o pai de Hanna fez o que eu mais queria.

–Christian qual a necessidade de tratar ele assim ? Seu pai não iria gostar disso! - Morgan repreendeu Christian e o mesmo se alterou um pouco.

–Morgan não se intrometa nos meus assuntos, você tinha grande influência sobre meu pai, mas isso não quer dizer que você pode falar o que bem quiser para mim e ainda estando na minha casa. - Assim que Christian terminou de falar um empregado entrou no recinto com a sobremesa.

Eu não estava mais com vontade de comer e acabei por não aceitar a sobremesa.

"Hanna liguei para meu celular por favor "

Mandei uma mensagem para Hanna, precisava de um motivo para sair daquele salão e começar minha investigação.

Hanna concordou em silêncio e em sua cara estava estampada a confusão. Não se passou nem um minuto e meu celular começou a tocar.

–Oh! Com licença eu preciso atender esta ligação! - Nem esperei alguém falar alguma coisa e sai em direção a grande porta do salão.

Empurrei a porta e dei de cara com aquele criado-estátua que segurava um garrafa de vinho, decidi usar como desculpa uma ida ao banheiro.

–Por favor, você poderia me dizer onde fica o toalete ? - Perguntei tentando aparentar que era fina o suficiente para estar naquela casa.

–Siga reto neste corredor, e você vai encontra uma escadaria, suba ela e vire para a direita, você vai encontrar o toalete na segunda porta a direita. - Não sei se foi impressão minha mas esse cara pareceu um pouco ríspido.

Também, com aquele grosso do Alcock como patrão, eu também não sairia dando sorrisos por ai.

Fui seguir a direção que ele falou e logo cheguei a escadaria que o mesmo mencionou e pude perceber que aquela casa parecia mais luxuosa a cada passo que eu dava. Subi rapidamente as escadas, precisava fazer a averiguação o mais rápido possível. Virei a direita e segui pelo corredor.

Agora estava em um corredor que só era iluminado pela pouca luz que a lua emanava, deveras sombrio. O único porém é que eu não poderia sair dali agora, essa era uma grande chance que eu havia conseguido e definitivamente não iria desperdiçar ela.

O tapete que ornamentava o chão era de um vermelho muito mórbido. As cortinas combinavam com o tapete e faziam um bom arranjo com os quadros que enfeitavam a parede, nesses quais estavam contidos rostos de variadas pessoas, todas com feições sérias e frias. As molduras eram espetacularmente detalhadas e que se eu não estivesse nesta situação ficaria observando cada parte daquela mansão.

Eu já não escutava o som das pessoas conversando na parte de baixo da casa, o único ruído que eu conseguia captar era o da batida que meu sapato fazia contra o tapete.

TOC TOC TOC TOC

Ele fazia uma boa parceria com os batimentos acelerados do meu peito. Uma melodia assustadora se formava cada vez que eu percorria o corredor. Eu vi algumas portas um pouco a frente, todas estavam fechadas e eu não conseguia escutar nenhum som vindo da parte de dentro dos cômodos.

Eu continuei a andar pelo corredor por um certo período de tempo. Fui interrompida de meus pensamentos por uma mão gelada em meu ombro e por uma voz que falou muito próxima do meu ouvido.

–Então quer dizer que além de mal educada a mocinha também é bisbilhoteira ?

Me virei de supetão com o susto que levei, acabei dando de cara com quem havia me assustado.