Lágrimas Ocultas

Se me ponho a cismar em outras eras

Em que rí e cantei, em que era querida,

Parece-me que foi outras esferas,

Parece-me que foi numa outra vida...

E a minha triste boca dolorida

Que dantes tinha o rir das primaveras,

Esbate as linhas graves e severas

E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago...

Toma a brandura plácida dum lago

O meu rosto de monja de marfim...

E as lágrimas que choro, branca e calma,

Ninguém as vê brotar dentro da alma!

Ninguém as vê cair dentro de mim!

Florbela Espanca

Capítulo 38

– Desculpe,não sabia que estava aqui ,vou falar com Rodrigo (diz Paulina indo em direção a porta)

– Não ,Paulina ,espere ,Preciso muito conversar com você .(diz Carlos Daniel meio abatido)

– Pode dizer ,então ,estou escutando .(diz Paulina )

Carlos Daniel começa a andar de um lado para o outro ,não sabia o que dizer,como dizer .

–...Paulina você já deve saber que Paola voltou .(diz Carlos Daniel)

–Sim,eu sei...falei agora pouco com ela.(diz Paulina um pouco triste)

– Então sabe também ,que ela pretende voltar para Casa dos Brachos ,e com certeza para fazer mal.Por isso decidi colocar Carlinhos e Lisete em um colégio Interno ,pois estranhariam o seu jeito e o jeito da Paola.(diz Carlos Daniel)

– Está bem ,então .(diz Paulina ,tentando disfarçar o que realmente sentia,ela não queria se afastar das crianças ...ela sabia que Carlos Daniel estava tentando lhe outra coisa ,não apenas isso)

– E Enquanto a nós ...(Carlos Daniel tinha dificuldade ,pois era muito doloroso para ele terminar a frase)

– Enquanto a nós ,o que ?(Pergunta Paulina já imaginando o que seria )

– Enquanto a nós ...Nossas vidas tem que tomar rumos distintos ...quero que você se ...case ,constitua uma família ,que seja feliz.(diz Carlos Daniel abalado ,não imaginava que tinha dito aquilo.)

Dizer tudo aquilo ,para Carlos Daniel era partir seu coração em dois ,era negar o amor que sentia por Paulina,mas tinha que dizer aquilo ,para Paulina não ir para cadeia ,para não ter que sofrer novamente na prisão.

Paulina não acreditava no que ouvia ,Carlos Daniel lhe pedindo isso,ela sabia que ela não insistiria no amor dos dois,mas Carlos Daniel não ,ele não iria desistir assim.Ainda mais com um olhar que dizia oposto do que aquelas palavras que havia dito.

Paulina apenas concordou com a cabeça.

– Tem razão Carlos Daniel.Não podemos esperar esperanças ,e sonhar sonhos que talvez nunca se concretizem.(diz Paulina)

– Você está passando por humilhações e desgostos que não merece.Você se sente obrigada .Afaste -se dos Brachos ,está se sacrificando demais a nós,e por isso não pode ter sua própria vida.Quero que você seja feliz ,tem esse direito .(diz Carlos Daniel)

– Está bem...Acho que vou seguir o seu conselho ...vai ser o melhor para todos.Temos que romper os laços ,não importa se alguém saia lastimado .Temos que seguir em frente ,sem olhar para o ...passado.(diz Paulina com os olhos cheios de lágrimas)

– Está bem ,ainda bem que entramos em um acordo .Case -se Paulina ,constitua uma família,você tem direito a ser livre e decidir sua vida .(diz Carlos Daniel com os olhos mariejados )

– Acho que nasci para ser esposa e mãe .(diz Paulina)

Os dois se olham ,com olhares de tristeza ...os olhos diziam o que na verdade sentia ,que aquilo estava sendo doloroso para ambos os dois,que estavam rompendo laços que talvez nunca voltariam a ser preenchidos ,vazios no coração.Os olhos de cada um diziam como seria difícil a separação ,o ADEUS ,estavam enterrando as esperanças de dias mais felizes que poderiam vir.

Carlos Daniel se aproxima de Paulina e pega em suas mãos ,e a beija.

– Queria ter conhecido você ,antes da Paola ,talvez se eu tivesse te conhecido antes ,não sofreriamos tanto .(diz Carlos Daniel )

Paulina observa Carlos Daniel beijar suas mãos e abre um sorriso , aperta mais forte as mãos de Carlos Daniel e a acaricia também.

– Agora não tem mais jeito ,me diga o quer que eu faça ,que eu farei .(diz Paulina )- Não sofra tudo vai passar ,tem que se ter paciência ,as coisas chegaram no seu devido tempo...è como se fosse um sonho ruim no qual nós sabemos que vamos acordar.

– Quero que seja muito feliz .(diz Carlos Daniel)

–E eu também ,se case de novo ,Carlos Daniel ,quero que seja muito feliz.(diz Paulina)

E eles começam a trocar olhares .Carlos Daniel queria dizer ,o que sentia naquele momento ,mesmo que fosse pela ultima vez.Mesmo não esperando que Paulina o dissese o mesmo.

– Você sabe que eu te amo muito ,mas do que tudo na vida .(diz Carlos Daniel já deixando cair uma lágrima em seu rosto)

– Sim ,sei...Sabe que eu te amo também ,e por isso não poderemos viver felizes juntos .(diz Paulina)

– Sim,sei .(diz Carlos Daniel)

Carlos Daniel respirou fundo ,e disse mudando de assunto.

– Tente convencer Carlinhos e Lisete para leva-los para o Colégio Interno ,é o melhor para eles.(diz Carlos Daniel)

– Sim ,é o melhor .(diz Paulina)- Pode ficar tranquilo.

Suas mãos estavam entrelaçadas uma entre a outra ,e foram se afastando pouco a pouco,pois a despedida estava chegando ,até que foi dito a apenas uma palavra para se afastarem definitivamente.

– ADEUS - dizia Paulina saindo do escritório.

Carlos Daniel a observou saindo do escritório ,e esperava acordar daquele transe,e dizer para si mesmo ,que tudo o que estava acontecendo não passava de uma miragem ,de um pensamento.Só escorria lágrimas em seus olhos ,Carlos Daniel não era muito de chorar ,era forte ,o talvez tinha que passar está imagem ...mas no fundo estava sofrendo .As lágrimas que brotavam em seus olhos não eram as mesmas que estavam em sua alma.

Paulina também não conseguiu controlar as lágrimas que estavam sendo derramadas pouco a pouco em seu rosto.Se encostava na porta ao lado de fora ,que era como um apoio ,como um ombro amigo .Ninguém poderia consolar as lágrimas e machucados que estavam em sua alma ,ninguém poderia o quanto estava arrasada,abalada.

E pensava consigo mesmo "È o fim ...só nos resta a satisfação de ter feito o melhor ..." dizia isso a si mesmo com um olhar vago .

– Temos que seguir em frente ,enxugar as lágrimas ,e seguir caminhos diferentes.