Traição. escrita por JessyErin


Capítulo 10
Desentendimentos




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– Pensei que não viria mais – Andrew me disse, quando abriu a porta.

Eu entrei e dei um beijo nele.

– Parece que viu um fantasma, tá tudo bem?

– Sim, to bem – eu tentei sorrir, mas acho que fiz uma careta.

– Aconteceu alguma coisa. Como a Ziva está?

“Boa pergunta” pensei. Ela me pediu pra ir embora, porque ela queria ficar sozinha. “Você nunca mais vai ficar sozinha” foi a minha resposta, e não ajudou muito. Mas era verdade, graças aquela pequena coisa se formando dentro dela, ela teria companhia pra sempre.

– Bem – eu respondi timidamente.

– Aluguei um filme pra gente – ele disse, se sentando no sofá e se cobrindo. Eu me deitei junto com ele e olhei pra tv. Olhei, não assisti. Minha cabeça estava longe. Como Ziva contaria para Dinozzo? Como ela ia cuidar de um bebê? Um bebê que poderia ter os olhos dele e o sorriso dela, ou vice versa. Um neném é uma mudança muito grande.

Andrew deu uma gargalhada e virou pra ver minha reação. Eu olhei pra ele e sorri.

– Você não tá assistindo? – ele perguntou, e depois afirmou – Não, você não está assistindo.

Ele desligou a TV e se sentou na minha frente, com os braços cruzados.

– Me desculpa – eu disse – Ziva está passando por um problema...

– COMO SEMPRE! – Ele exclamou, para minha surpresa, em um tom bastante alto.

– O que quer dizer? – eu me levantei.

– Meu, você vive para seu trabalho e seus amigos. Onde EU fico nisso?

– Eu não imaginei que estivesse tão carente! – eu tentei abraça-lo, mas ele me empurrou. Levemente, mas o bastante para me fazer colocar a mão no coldre, como reflexo.

– Você ia...

– Não! – eu disse, cruzando os braços – foi só um reflexo. Automático.

– Você só trabalha, e quando tem uma folga, não fica comigo, só pensa em ajudar seus amigos. Que por sinal são todos adultos e podem se virar sozinhos!

– Eles salvaram a minha vida! – eu gritei.

– Mas você tem a sua vida agora, Jess!

– Andrew, para com isso! – eu dei um empurrão nele.

– Você não entende. Eu vim aqui por sua causa. Eu to aqui por você. E você não parece ligar!

– Eu ligo! Eu amo você. Você é que não entende, eu preciso trabalhar!

– As vítimas já estão mortas, que diferença faz um dia de folga?

– Você não disse isso.

– SIM, eu disse.

– AS FAMILIAS. Essa é a diferença. Como se sentiria se Abby morresse e eu não achasse o assassino o mais rapido possível?

– É diferente.

– É IGUAL.

– Não acredito que estamos terminando por causa disso! – ele jogou as mãos para frente, assim que terminou a frase – eu quis dizer brigando.

– Você quer terminar? – eu perguntei, colocando a mão na minha aliança.

– Não, espera! Isso é ridículo! Jessica, eu errei, eu quis dizer...

– Você precisa de alguem que tenha tempo pra você. É isso. Eu entendo.

– Não! Não entende, eu realmente...

Eu joguei minha aliança nele.

– Me deixa facilitar isso pra você. Pronto. Agora você pode dizer que eu terminei com você.

– Jess! – ele chamou, mas eu não me virei. Parei na porta.

– Eu ainda amo você. Eu só não quero te olhar agora. Fique aqui por essa noite.

– Onde você...?

– Eu vou pra outro lugar. Fique. Vá embora pela manhã.

Eu sai pela porta, e desci as escadas do apartamento. Ele me chamou da janela, eu não me virei. Não chorei até entrar no taxi.

– Pra onde, moça? – o senhor me disse, mas eu precisei de um momento antes de lhe dar um endereço.

Cheguei e vi a conhecida porta de madeira. Nada parecia ter mudado. Eu bati, e a porta estava aberta. Mas eu preferi não entrar. Gibbs veio abrir a porta pra mim, e deu um sorriso quando me viu.

– A porta está sempre aberta, Jess.

– É que faz tempo que não venho aqui, desculpa.

– Sabe o que eu acho de desculpas.

– Desculpa, desculpa – eu comecei a repetir.

– Calma, o que...

E eu desabei em choro. Ele me segurou e me colocou pra dentro, me deu um copo de agua e eu me sentei.

– O que houve? – ele perguntou, eu bebi antes de responder.

Minha mão direita, onde minha aliança costumava ficar, estava bem na frente dele. Ele olhou para ela e na hora percebeu. Não disse nada, apenas esperou que eu bebesse, cruzou as mãos e ficou me olhando, esperando que eu começasse a falar.

– Ele disse que o que eu faço não é importante – eu disse – que não faz diferença.

Ele apenas continou olhando.

– Ele disse que eu poderia tirar um dia de folga, olha isso!

Silêncio.

– Ok, talvez ele não tenha dito isso com tanta maldade. Foi só algo pra me fazer perceber que eu estava levando o trabalho como prioridade acima de tudo. E acabei deixando ele de lado. Ai meu Deus.

Ele sorriu, de lado. As conversas com ele sempre eram assim. Ele ficou em silêncio e me disse pra esperar. Eu perguntei o quê, mas ele só disse pra esperar, que isso ia passar.

Nós dormimos. Quer dizer, eu chorei até dormir e ele ficou segurando um dos meus dedos até que eu parasse. Eu dormi no sofá e ele no colchão ao lado. Eu ouvi ele ligando pra alguém de madrugada, mas não pude identificar pra quem.

De manhã, eu me levantei e pude sentir meu travesseiro úmido. Gibbs estava acordado, fazendo café. Eu me levantei e me joguei no colchão onde ele dormira. Não queria ir trabalhar, mas precisava.

Me levantei e fui até o banheiro. Encarei meu reflexo por um longo tempo. Será mesmo que Andrew estava tão furioso comigo ainda? Ziva estava mesmo grávida de Dinozzo? Dinozzo seria um pai? Ela contaria pra ele? E o caso, por que não conseguíamos provas de que o pai de Dylan era o assassino? Tudo poderia muito bem ser um sonho. Eu desejei acordar pro mundo onde o escritório era cheio de casais felizes e tudo estava indo bem.

Eu não levei nenhuma maquiagem. E meu rosto implorava por maquiagem. Lavei o rosto, e comecei a me trocar. Iria trabalhar com a mesma roupa dois dias seguidos, mas essa era uma das minhas ultimas preocupações. Penteei meu cabelo em um rabo de cavalo rápido, e fui até a mesa onde o cereal me esperava. Mesmo depois de anos, Gibbs ainda fazia o meu cereal. Isso me fez sorrir.

– Tudo bem em trabalhar hoje? – ele perguntou, colocando mais leite na minha tigela.

– Sim – eu tinha a mania de rodar minha aliança quando ficava nervosa, mas quando fui tentar, percebi que não havia mais nada ali e suspirei.

Quando cheguei ao escritório, Ziva estava lá, para a minha surpresa.

– O que tá fazendo aqui? – eu me apoiei na mesa dela.

– Trabalhando.

– Mas por que? Digo, você não pode!

– Tô grávida, não inválida – ela sussurou.

– Você contou pra ele?

– Não. Nem pretendo tão cedo. Eu fui no médico hoje antes de vir pra cá.

– E?

– Tá tudo bem. Quase três meses.

– Caramba! – eu falei no tom de voz normal, e ela se assustou – ok, desculpa – eu voltei a sussurrar.

Fui até minha mesa e fiquei observando-a. Ela estava feliz. Assustada, mas feliz. Eu não pensei em contar pra ela sobre Andrew. Ela já tinha os próprios problemas, não queria preocupa-la mais. Então Lauren veio até minha mesa e me entregou uns papéis.

– Aqui, vamos investigar caso por caso. Eu pensei na possibilidade de três assassinos diferentes, mas que se conhecem, terem planejado isso juntos para que pensássemos que foi só um.

– Não tinha pensado nisso – eu disse, pegando os papéis de sua mão.

– Você sabe porque os resultados da balistica tão demorando tanto pra ficarem prontos?

– Balistica?

– Sim, a bala que foi encontrada no local pertence a uma arma. E Oscar tem uma coleção delas. Se uma for compátivel, finalmente teremos motivo para ir atrás dele e interroga-lo.

– Ótimo!

– Você poderia ver com seu namorado se os resultados estão prontos?

Droga.

– Ele não é... Nós não somos... Eu... vou.

Achei que seria melhor ir do que explicar a Lauren toda minha situação. Ela nem era tão próxima de mim assim.

Entrei no laboratório de fininho, e olhei por cima da mesa. Nada. Então fui até o espectômetro de massa, que era onde Abby sempre deixava os resultados. Nada. Então eu ouvi o barulho da porta de vidro se abrindo.

– Jess! – Andrew veio em minha direção, e depois parou bem na minha frente. Eu fui pra trás, e ele foi em minha direção até ficarmos sem ter pra onde ir. Minhas costas encostaram na estante, e ele continou se aproximando.

– Me desculpe – ele disse, passando a mão no meu rosto – não foi aquilo que eu quis dizer. Foi coisa de momento.

Eu me esqueci completamente do que estava fazendo. Então eu vi a pasta em sua mão e lembrei.

– Por que os resultados não estão prontos? – eu perguntei olhando nos olhos dele. Com a profundidade daquele olhar, eu poderia ter dito qualquer coisa. Mas disse algo sobre o caso. Ele se afastou de mim e foi a caminho da porta.

– Hey! – eu fui atrás dele.

– Eu entreguei os resultados faz tempo – ele se virou repentinamente, e isso fez com que nós quase se tocassemos.

– Pra quem? Não chegou até mim.

– Entreguei pra ruiva.

– Ruiva? Ruiva.

Minha cabeça começou a latejar. Eu sabia que havia algo errado com ela.

– Refaça todos os testes – eu disse enquanto saía do laboratório – e por favor, rastreie o celular dela.

– Por que? – ele levantou uma das sobrancelhas.

– Não posso explicar. Só faz isso. E não conta pra Abby.

Ele assentiu e se virou. Estava irritado. Mas eu não poderia me preocupar com aquilo naquele momento. Apertei o botão do elevador e esperei batendo o pé, impaciente. Então, quando entrei nele, havia um homem ali. Ele estava agachado, abraçando os joelhos, e me olhava com medo nos olhos. Eu fui pra trás, com o susto. Ele começou a chorar.

– Você tá bem? Precisa de algo? – eu me agachei, e ele abaixou a cabeça, o que fez com que ficasse dificil entender o que ele murmurava.

– Eu preciso contar – ele disse.

Eu esperei.

– Eu matei todas aquelas pessoas.


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