Percy Jackson e a Trilogia Da Pedra escrita por Pedro


Capítulo 90
40 - Necessidade/Situação


Notas iniciais do capítulo

E aí pessoal!
Demorou mas saiu, novamente deleitem-se. Comentem, compartilhem.
Deu trabalho esse, detesto escrever cena de ação.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/367265/chapter/90

 

40 - Necessidade/Situação

 

Percy imediatamente levou a mão direita ao bolso das calças cáqui à procura da caneta Contracorrente. Ele a retirou e a lançou para cima após clicar o botão, repetindo o movimento que tanto treinou. 

A espada de bronze de noventa centímetros se materializou no instante em que ele instintivamente aparou um golpe do punhal de Annabeth. 

Percy não queria pensar no pior. Ele havia arriscado a vida para tentar livrar Annabeth do controle do Véu. Seria possível que ela estivesse só fingindo? Ele tentou se convencer do contrário, sua lealdade com os amigos era inabalável, afinal este era seu defeito mortal. 

O problema era que Annabeth não estava facilitando. A garota investia para cima dele e o enchia de golpes certeiros. Percy tentava se afastar dando passos para trás e brandindo Contracorrente no ar, algumas vezes ele conseguia cruzar lâminas com Annabeth e faíscas voavam. 

O garoto se afastava da tenda de Dédalo e seguia caminhando de costas na direção da pequena área com as cadeiras e a fruteira que quase haviam enganado o garoto. 

Annabeth chutou uma das cadeiras e esta saiu voando na direção de Percy. Ele a partiu no ar com um golpe na vertical, Percy era um espadachim muito habilidoso. 

O quebrar das cadeiras fez com que a madeira se esfarelasse e ficasse suspensa em grânulos no ar. 

O boné de invisibilidade de Annabeth não teria tanta vantagem agora. Os grãos de madeira esfarelados entregavam a posição dela à medida em que sua silhueta se formava e balançava no ar. 

Percy sorriu confiante. Com sorte não seria humilhado pela namorada uma segunda vez, ainda que não houvessem testemunhas. 

O garoto continuou se esquivando e aparando golpes dela, caminhando em direção ao termas de águas escuras. Se fosse para ter vantagem, que ele também tivesse. A água seria sua amiga. 

—Esse seu boné de trapaça não vai servir mais — Percy se concentrou nas águas do poço e sentiu um aperto no abdome. 

O garoto lançou Contracorrente na direção da silhueta de Annabeth e levantou as mãos para cima em seguida.

O poderoso punho feito de água se materializou acima do garoto. As gotículas de água do poço se uniram num do conglomerado de milhares de litros de água. 

Percy não hesitou em lançá-lo na direção de Annabeth. 

O punho aquático atingiu ela em cheio. Percy se concentrou e fez a água engoli-la por completo. O garoto controlava a água com a mão direita e logo em seguida girou o corpo, levando Annabeth e o punho de água na direção do poço. A raiva que ele sentia do poder de Tártaro o cegou, ele não pensou que poderia matar Annabeth. A garota estava se afogando nas águas escuras, se debatendo e se contorcendo no fundo do poço. 

Percy sentiu um aperto no peito, como se uma mão estivesse se fechando entorno de seu coração. 

Por um instante ele ficou vacilante, sua mão direita estava com os nervos saltados e seus olhos arregalados em ódio. 

Percy se concentrou para não ser dominado pela raiva, ele aliviou a tensão nos dedos da mão e baixou o braço. As águas do poço pararam de se revolver e se abrandaram. 

Merda — ele se xingou ao andar na direção da margem do lago. 

Nenhum sinal de Annabeth na linha d’água. 

Percy pulou de ponta na água e foi ao encontro da amada. Ele a pegou no colo e projetou o corpo violentamente para fora d’água.

Annabeth estava desacordada. Percy praguejou em grego e se sentiu culpado. O garoto se ergueu de pé na superfície e andou até a margem de cerâmica lustrosa. Percy a depositou no chão. Por sorte a garota ainda respirava, ele conseguiu sentir o ar sair da narinas dela ao se aproximar. 

Percy fechou os olhos e depositou a mão no peito dela. Num instante ela recobrou a consciência e tossiu, espirrando água pela boca e nariz. 

—Graças a Poseidon — ele se sentou ao lado dela. Annabeth continuou tossindo por alguns momentos enquanto seus olhos se ajustavam à claridade dos braseiros da caverna. 

Ela levou a mão à cabeça e fez uma careta de dor. 

—Nossa Percy — ela tossiu ao falar — Quase me matou. 

O garoto franziu a testa envergonhado. 

—Você também — ele retrucou — Usar boné de trapaça aí não é nada amistoso, também. 

Annabeth finalmente havia parado de tossir água. 

—Não sei o que houve, num instante eu estava vendo as pinturas na parede do lado da tenda, aí senti uma raiva incontrolável me tomar. 

Ela dirigiu os olhos até a pintura da deusa com a balança e a estranha rocha acizentada — Tenho certeza que foi aquela pedra nas paredes.

Percy ergueu uma sobrancelha e seguiu o olhar dela. Ele conseguiu ver pontos cinzas salpicando as paredes da caverna, emitindo uma pequena luz fraca.

—Então não é o retorno da Arma de Tártaro? — ele estava receoso, era difícil não estar. Ser atacado da mesma maneira sempre traria memórias ruins. 

—É claro que não, senão já teria te derrotado — ela deixou um leve sorrisinho escapar. 

Percy cerrou os olhos e fez um sinal obsceno pra ela — Sabe que é verdade, Cabeça de Alga. Agora me ajude a levantar.

—Temos que tomar cuidado com essa tal pedra nas paredes que te deixou com raiva. 

Annabeth apoiou o peso nos braços de Percy e levantou com dificuldade. As pernas dela ainda estavam bambas após quase ser afogada.

O garoto tocou o ombro dela e fez a água se dissipar por completa, Annabeth estava ensopada. Ela murmurou um obrigado e retirou a jaqueta corta-vento preta e a amarrou na cintura. 

Os dois foram andando na direção das pinturas da parede, Annabeth ainda estava se apoiando em Percy com certa dificuldade. 

Percy conseguiu por os olhos na pintura dos três deuses grandes e as outras duas figuras, uma delas representando o general das tropas de Tártaro, Céos. A outra era uma mulher vendada usando vestido de linho branco segurando uma balança e uma cornucópia. O garoto não conseguiu associar nenhuma deusa Olimpiana ou menor com a pintura.

Annabeth segurou o braço de Percy quando ele fez menção de se aproximar demais da pintura — Cuidado. Cobre o seu rosto com a balaclava que eu te dei. 

Percy a obedeceu, ele retirou o pedaço de tecido preto do bolso e tampou o nariz e a boca. Annabeth fez o mesmo usando sua própria balaclava, ela a retirou da mochila, estava ensopada — Seca isso pra mim também, por favor — Percy aproveitou para secar a própria mochila, ele havia esquecido que estava a  carregando.

Os dois se aproximaram cautelosos, Annabeth não estava nem um pouco ansiosa para ser afogada novamente, tampouco Percy queria ser atacado pela namorada. 

O garoto encarou a estranha rocha cinza com cuidado, ele apertou a balaclava preta no rosto e tentou impedir qualquer passagem dos vapores que se soltavam serpenteando. 

Percy levou a mão até a parede, Annabeth o repreendeu e tentou impedir. Ele não fez menção de parar, tocou com o dedo indicador, por sorte nada aconteceu naquele instante. A superfície era levemente maleável e áspera, como uma lixa de unha. 

—Cuidado, Percy — Annabeth recuou um passo para trás. 

O garoto deixou a mochila pender e a colocou no chão. Ele pegou uma faca de suas facas num dos bolsos e passou a lâmina de leve pela circunferência da pedra. Ele a retirou da parede, tomando cuidado para não fragmentá-la e espalhar ainda mais os vapores tóxicos. 

Percy jogou a faca em cima da mochila e analisou a rocha oval, ela era porosa como uma pedra de aquário, pontilhada em preto e tons que variavam do preto ao branco, com algumas pares pontiagudas, lembrando a forma de um ouriço do mar. 

Annabeth tocou um dos “espinhos” da pedra com a ponta do dedo e Percy passou a pedra para ela cuidadosamente. A garota a segurou firme, seria um desastre se a derrubasse no chão e ela se estilhaçasse. 

—Deixe me guardá-la na mochila, tem uma sacola da loja que eu comprei as nossas roupas em Iráklio — Percy pediu permissão com o olhar e a namorada o entregou a pedra. 

Ele se ajoelhou ao lado da mochila e a guardou dentro da sacola, dando um nó para evitar que ela se espalhasse por suas coisas. Percy aproveitou para pegar o cinto de facas enrolado e as lâminas gêmeas que ele utilizava na base da espinha, afinal o bando de Lou Ellen era perfeitamente capaz de encontrar a porta para a Oficina de Dédalo. 

—O seu laptop mencionava esses seixos? Digo, você disse que tinha uma ferramenta interessante aqui na Oficina do Dédalo — Percy se levantou e passou as alças da mochila pelos ombros — Só não sei se interessante é a palavra certa para usar. 

Annabeth franziu o cenho — Não sei, talvez ela sirva para algo mais que despertar o meu lado maligno. Temos que ter cuidado. 

Pelo canto do olho Percy conseguiu ver movimento no buraco no teto da parede da caverna pelo qual eles pularam no lago de águas escuras. 

Com uma fração de segundo ele se desviou de um projétil que passou assobiando ao lado da cabeça dele, a flecha de penas negras fez um corte em sua bochecha. 

Annabeth se afastou e baixou a silhueta no momento em que outra flecha atingiu a testa da deusa pintada na parede. 

Os dois trocaram um olhar significativo.

O garoto procurou pelo arco de Épiro na mochila e o retirou rapidamente. Os dois semideuses se afastaram de costas, Percy ficou à frente da namorada e puxou o fio dourado do arco. A flecha azul eletrizante se materializou ameaçadora — Fique atrás de mim e corre até a tenda. Eu te cubro. 

Annabeth acenou de cabeça e se pôs a correr na direção da tenda. Percy atirou algumas flechas na direção do teto e se esgueirou atrás de uma das cadeiras de madeira da área gourmet da Oficina. 

Percy conseguiu ver um dos inimigos pular como um míssil na direção do termas. A água explodiu com o baque, ele focou nas águas e o poço começou a se revolver e um pequeno redemoinho se formou no centro do poço. 

O garoto perdeu a concentração por um instante e sentiu o baque de uma flecha atingir seu braço direito, ele urrou de dor. O arco de Épiro pendeu na outra mão e ele se afastou cauteloso. O sangue vermelho vivo ensopou a jaqueta corta-vento. Percy passou o arco pelo ombro e o prendeu nas costas, o braço direito estava praticamente imóvel, ele praguejou em grego e se esgueirou até alcançar Annabeth na tenda — Merda, tinha que ser no meu braço bom.  

A semideusa estava juntando os papiros de Dédalo com os esboços de sua adaga, ela aproveitou para coletar um dos cinzéis trincados jogados no balde de ferro ao lado da mesa. Ela aproveitou para recolher os projetos de armas de bronze e ferro negro e as pinturas do homem nobre de aparência assustadora. 

Ela guardou tudo na bolsa e percebeu a aproximação de Percy. O garoto cambaleava na direção dela, imediatamente ela notou a flecha alojada em seu braço — Deuses! Está bem?

—Eu ainda tenho mais um braço, temos que nos preparar pro ataque. Você vai ter que retirar essa flecha — Percy deixou a mochila no chão.

Annabeth o olhou e os olhos dela tremularam um pouco. Percy usou uma das adagas para rasgar a manga da jaqueta e expôs a ferida, a flecha havia atravessado o braço dele — Por sorte não pegou a artéria. 

Percy terminou de retirar a jaqueta e rasgou o resto da manga com os dentes. Outro baque na água preencheu os ouvidos de Annabeth. 

Ela olhou Percy nos olhos e encostou na flecha levemente, o garoto gemeu baixinho. Annabeth ficou receosa, as mãos dela estavam trêmulas. O grupo de Lou Ellen os alcançaria em instantes. 

—Não temos tempo — Percy pediu com o olhar — Você precisa fazer isso. Eu confio em você. 

Annabeth engoliu em seco – No três… um, dois… 

Ela quebrou o cabo da flecha e puxou o outro lado para fora do braço de Percy. O garoto se contorceu de dor cerrando os dentes. 

Annabeth foi ágil ao pegar um saquinho hermético com alguns cubos de ambrósia e um frasco pequeno contendo um pouco de néctar divino. 

Ela fez Percy engolir um pouco de ambrósia e molhou o ferimento com o néctar. Annabeth usou o tecido rasgado da jaqueta corta-vento como um torniquete na altura do bíceps. Por sorte o destruído veleiro Alcione dispunha de uma pequena farmácia na despensa, ela foi safa ao pegar um saco contendo gases e algodão e um rolo de esparadrapo. 

A garota cobriu o ferimento rapidamente e o prendeu com a fita. Na situação atual até que o curativo ficou aceitável. 

Percy deixou o braço pender e o relaxou. Ele levou a mão esquerda ao bolso das calças cáqui. O garoto não titubeou em clicar o botão da caneta Contracorrente, ele a segurou firme com a mão fraca. 

Annabeth desembainhou seu punhal e ficou à frente do amado. Ela o protegeria com a vida se precisasse, ele faria o mesmo. 

O terceiro e quarto baque na água vieram logo após. Annabeth engoliu em seco, eles estavam em desvantagem de dois pra um, talvez mais se levasse em conta que Percy não poderia usar o braço de luta natural. 

As duas figuras de roupas escuras emergiram das águas do termas de Dédalo. Annabeth sentiu um calafrio ao encarar a garota Lou Ellen sair do poço, mesmo ensopada as roupas de motoqueira como de sua mãe divina causariam arrepios em qualquer semideus ou mortal. 

—Vejam só — a filha de Hécate os dirigiu um olhar mortal, o brilho esverdeado dos olhos dela era penetrante. A filha de Hécate desembainhou sua espada de ferro negro e começou caminhar na direção deles – O escolhido e a namoradinha traidora dele. Meu senhor ficará muito contente. 

O garoto magricela que invadira Cnossos junto dela já tinha o arco em mãos, com uma flecha preparada para disparar. Mesmo estando próximos, Annabeth não conseguia reconhecê-lo entre os semideuses do Acampamento. 

—Tá na mira — ele colou o nariz na corda do tendão do arco e cerrou o olho esquerdo. 

Os outros dois componentes da guarnição eram duas ninfas da noite que lembravam muito a deusa Nix. Ambas estavam descalças e desarmadas, mas as expressões faciais não eram das mais amistosas. Elas causavam arrepios em Annabeth. 

Lou Ellen usou a lâmina da espada para fazer o garoto magrelo baixar o arco — Não tenha pressa, Arch. Temos todo tempo do mundo, eles não vão a lugar algum.

Os outros dois capangas da filha de Hécate desembainharam suas espadas de obsidiana, Annabeth tampouco os reconheceu. Tártaro tinha tantos seguidores que ela nem sabia se eles tinham sido revividos pelo senhor do abismo ou se haviam sido revelados após a ascensão de seu mestre. 

Percy pegou a Contracorrente no bolso com a mão esquerda. Ele clicou o botão e fixou os dedos no cabo da espada. O treinamento com Perseu mais uma vez se provando útil em todos os aspectos, ele não teria nenhum problema em lutar com a mão fraca. 

Annabeth ficou na frente dele, o punhal de bronze dela refletia o brilho das chamas do braseiro ao lado da mesa com as ferramentas de Dédalo. 

O primeiro capanga avançou na direção dela. Annabeth se esquivou de uma estocada frontal e cruzou lâminas com o brutamontes corpulento. Ele era grande e tinha uma cicatriz feia cobrindo desde o olho até o queixo, tinha expressão grotesca e traços monstruosos como os de um ciclope, a espada de ferro negro ficava pequena na mão dele. 

Annabeth conseguiu girar o corpo com habilidade inigualável e desferiu um corte na parte de trás do joelho dele. O brutamontes se apoiou num dos joelhos e uivou de dor. A garota lutava como um demônio, se esquivando e rodopiando como louca. 

O outro dos brutamontes monstruosos ignorou a luta de Annabeth e avançou na direção de Percy. O garoto engoliu em seco ao sentir o peso de Contracorrente na mão esquerda

O grandalhão já avançou tentando segurar o pescoço de Percy, ele nem se deu ao trabalho de brandir sua espada de ferro, encarando o filho de Poseidon como um gatinho raivoso. 

O garoto tentava atacá-lo sem sucesso, ele aparava os golpes da espada usando o braço, ignorando os cortes vertendo sangue. 

Percy estava encurralado, ele recuou na direção da tenda e derrubou a mesa de Dédalo com um chute, as quinquilharias e esculturas se estilhaçaram no chão. O brutamontes devolveu o chute na mesa e esta empurrou Percy, que se desequilibrou um pouco. 

O braço direto dele estava latejando de dor, o curativo banhado em néctar não parecia estar fazendo efeito. Talvez fosse alguma magia de Lou Ellen, ou veneno, na pior das hipóteses. A visão de Percy estava ficando cada vez mais turva e desfocada, a espada parecia estar aumentando o peso a cada golpe que Percy mal conseguia bloquear. 

O brutamontes parecia estar brincando com ele. Por vezes Annabeth abandonava a própria luta e se colocava entre o namorado e a espada do grandalhão. 

A garota Lou Ellen continuava parada na área gourmet, analisando a situação, o menino Arch estava ao lado dela, o arco dele ainda estava em mãos. 

Annabeth ia fazendo sinal para Percy recuar, no fundo da tenda havia um forno à lenha de barro, com alguns jarros de óleo e água, além de uma segunda mesa com bigorna e ferramentas de mestre armeiro. 

A garota recuou até a forja desativada e jogou um dos martelos na direção dos inimigos, ele o pegou com a mão facilmente. Haviam alguns machados e espadas menores dispostas em um dos estandes. Annabeth tentou atirar uma delas na direção dos grandalhões, mas ela era pesada demais. 

Os dois estavam encurralados. Annabeth bufou em frustração, ela detestaria admitir que estava sem tempo e sem opções. 

Percy não conseguia fazer muito além de obedecer os comandos da namorada, a dor do braço estava se alastrando até o ombro e a cabeça, o abdome. Só podia ser veneno. 

Os olhos do garoto ardiam em brasa, mas não era por causa do ferimento, ele estava tomado pelo ódio de ter sido tão facilmente abatido em combate. Logo ele, o matador do Minotauro, da medusa, como seu mestre. O salvador dos deuses, o Escolhido de Gaia. O portador da Centelha

Annabeth tentava defender os dois, mas um dos oponentes a desarmou com um golpe no cabo da lâmina de seu punhal. Ela tentou pegar o boné dos Yankees preso no cinto das calças cargo mas foi impedida. 

Um dos grandões fechou os dedos no pescoço franzino dela, a mão dele era tão monstruosa que por pouco o dedo médio não tocou no dedão ao enforcá–lá. A garota foi erguida do chão.

Ela levou as duas mãos ao pescoço tentando se desvencilhar, o ar quase não conseguia completar o caminho até os pulmões dela.

Percy tentou apoiar a amada mas o outro grandalhão o impediu, ele brandiu contracorrente mas foi desarmado facilmente, o brutamontes o tomou com as próprias mãos, ignorando mais uma vez o sangue escorrer por entre os dedos. 

Por pouco o garoto não foi atingido pelo golpe de espada de obsidiana, a camiseta cinza já estava empapada em suor, o curativo de Annabeth já não conseguia conter o sangramento. 

Annabeth estava fraquejando, o capanga de Lou Ellen apertou ainda mais o pescoço dela, o corpo da garota estava bambeando, seus olhos perdendo a luz e se fechando aos poucos. Ela tentava desesperadamente respirar.

Percy murmurou um xingamento em grego ao recuar alguns passos esquivos, ele levou a mão até a mochila. 

Ele fez força com o braço machucado e cobriu a balaclava como pôde e pegou a rocha acizentada na mochila. Percy pediu desculpas silenciosamente à Annabeth antes de atirar parte do seixo cinza na direção do grandalhão que a sufocava. Ele guardou o restante da pedra cinza na mochila novamente, nunca se sabe.

A pequena rocha abrolhada se estilhaçou e uma pequena nuvem de gás tóxico invadiu o ar. 

Imediatamente o capanga a soltou, ela caiu imóvel no chão da caverna de Dédalo. 

O estupor despertou a curiosidade de Lou Ellen, ela se aproximou inocentemente da luta. Os vapores da rocha invadiram as narinas dela e do garoto Arch, que a seguia.

Percy sorriu travesso por baixo da balaclava. 

Ele deixou o circo pegar fogo, sabe se lá o que eles fariam uns com os outros. Annabeth tinha tido um vislumbre da Arma de Tártaro. Lou Ellen ainda o seguia, quem sabe ela poderia se rebelar e os ajudar. 

Ao invés disso a garota se virou contra seus próprios capangas. 

—Quem são vocês? Onde estou? – ela dizia ao desembainhar a espada negra e o laço cheio de espinhos, como de sua mãe Hécate. 

Seus capangas também estavam aturdidos. O garoto Arch preparou uma flecha e apontou o arco na direção do grandalhão que atacou Annabeth, ele não hesitou em disparar uma delas no pescoço de seu aliado, que caiu de joelhos no chão. O outro avançou na direção de Lou Ellen e ela recuou na direção do poço. 

Percy viu o caminho livre até Annabeth, com força sobre humana ele conseguiu erguer o tronco dela ao se ajoelhar ao lado da amada. O garoto ignorou o ferimento por um instante e a pegou nos braços. 

Os capangas de tártaro estavam ocupados demais lutando contra si mesmos para prestar atenção no que Percy fazia. O jogo tinha mudado. 

Percy correu os olhos e viu a saída dos fundos da tenda de Dédalo. Ele passou pelas cortinas e viu um pequeno pátio com mais um pequeno termas e outra tenda menor. 

Ele cambaleou com Annabeth no colo até lá. A tenda era menos espaçosa se comparada com a que tinha a forja e os esboços do punhal de Annabeth. Esta servia de quarto, aparentemente. 

Havia uma pequena cama cheia de peles de animais e uma pequena lareira de pedras retangulares, estranhamente acesa. Uma mesa de jantar e cadeiras de madeira trançadas como as da área gourmet também estavam dispostas nos aposentos, de frente para a lareira.

Ao longe Percy conseguia ouvir o tilintar das espadas se chocando umas contra as outras. 

O garoto depositou Annabeth na cama de peles e tentou procurar algo no quarto de Dédalo. Nada. 

Na parte de fora da tenda ele foi na direção do segundo termas. A água o faria bem, Percy mergulhou o braço machucado na água por alguns segundos e o alívio foi notável, apesar de ainda continuar sangrando e latejando. 

Percy viu dois braseiros dispostos lado a lado na parede sul da caverna, após o poço menor. 

Ele se aproximou o suficiente para ver a silhueta de uma porta riscada na parede da caverna. No canto direito havia um buraco em forma de uma pequena fechadura. 

Percy correu novamente até a tenda e pegou a bolsa de Annabeth. Não foi difícil achar o colar de couro com as três chaves. Tinha que ser uma delas. 

O garoto voltou rapidamente até a estranha porta na parede. Ele tentou a primeira chave, porém esta nem chegou a encaixar no buraco. 

Merda — ele tentou a segunda chave. Ela até encaixou, mas não girava o tambor da fechadura. 

As mãos dele estavam trêmulas, era a última. Percy murmurou um pedido de ajuda mental a Poseidon. 

Ele sentiu uma onda de alívio ao girar a chave com cuidado no tambor da fechadura. A caverna estremeceu por completa, a chave se soltou do colar de couro e desapareceu dentro do buraco na parede. 

Percy recolheu o colar com as outras duas. 

Rachaduras percorreram desde o teto até a silhueta da porta. 

Em poucos segundos os tremores fizeram alguns pedaços da parede se soltarem do resto, revelando uma passagem escura além da rocha coberta de líquen. 

Percy voltou até os aposentos de Dédalo e aninhou Annabeth no colo. Ele saiu da tenda e notou que o tilintar das espadas havia cessado por um instante. 

O garoto não se demorou para passar com Annabeth pelo buraco retangular que havia se formado na rocha da caverna. 

Com um calafrio ele se lembrou de caminhar pelos estreitos e traiçoeiros caminhos do Labirinto. E se o dos Estados Unidos era repleto de perigos, imagina o original. Afinal eles estavam em Creta. 

E haviam um velho amigo de Percy que habitava aquele lugar. O garoto torceu o nariz ao caminhar na escuridão profunda pensando no Minotauro

Infelizmente ele não tinha outra opção. 

A necessidade faz a situação.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Percy Jackson e a Trilogia Da Pedra" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.