Percy Jackson e a Trilogia Da Pedra escrita por Pedro


Capítulo 85
35 - O Brilho de Alcione


Notas iniciais do capítulo

Boa noite gente, mais um cap quentinho pra vocês!
Que frequência, que regularidade! Daria inveja em George RR Martin, percebi que eu sempre falo dele aqui, mas fala sério que puta escritor não é mesmo ?

Enfim, aproveitem!



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35 - O Brilho de Alcione

 

Percy e Annabeth não se prolongaram muito até começarem a descer às pressas a encosta da montanha dos deuses.

Eles correram de mãos dadas, sem olhar pra trás. 

Logo acima o magma fervente consumia toda o cume do Olimpo. A lava destruía tudo em seu caminho, as praças e átrios com árvores de folhas brilhantes, os templos de mármore e pedras preciosas, o distrito Hermes e o salão dos tronos, ou trono, já que o senhor dos abismos havia tomado a montanha para si.

Eles encontraram uma trilha de terra que levava a uma fazenda aos pés do monte Olimpo. 

A pequena cidadezinha começava a se avultar diante deles. Pequenas construções de alvenaria com telhas brancas e aparência aconchegantes, Annabeth se imaginou ali, colhendo frutas em uma das inúmeras macieiras pelas quais eles passaram ao correr para se salvarem. Uma vida normal. Não era a vida deles

Os dois se esgueiraram por uma cerca de arame farpado e adentraram uma das fazendas. A construção era simples, porém exuberante. Pomares de figueiras abarrotadas de frutos salpicavam toda a extensão da planície gramada. Alguns sacos estavam cheios, no chão. Os mortais deveriam estar desesperados, abandonando suas casas, suas vidas. 

Enquanto corria Percy encheu a mão de figos e os depositou na mochila, o cheiro das frutas inebriava os sentidos do garoto. Ele não se lembrou de sua última refeição normal. Após beber a lava do rio Flegentonte por sabe-se lá quanto tempo, as frutas se equiparavam a manjares divinos.

O som das sirenes de emergência preenchiam completamente os ouvidos de Percy. Eles se aproximaram da pequena fazenda, as janelas e portas estavam abertas, sem sinal de pessoas.

Ele soltou a mão de Annabeth e se apoiou de costas na parede, cauteloso. As janelas de madeira pintadas em azul-céu lembravam as da cabana de Perseu, no Michigan. Toda a construção parecia aludir à casa de seu mestre. Não fosse pela erupção vulcânica logo acima ele diria que ainda estava nos Estados Unidos, mas estava longe de casa. Como na profecia do Livro

Percy se agachou na soleira da janela e espiou cerrando os olhos. Era uma modesta cozinha, com um fogão de barro e a mesa de madeira lustrosa. O cheiro de bolo fez a barriga de Percy roncar.

Ele fez sinal para Annabeth se aproximar e se jogou pela janela. Percy foi direto no fogão e retirou um tabuleiro de ferro de dentro do forno à lenha. 

Percy agarrou o bolo e o jogou na boca como um animal, sem talheres ou toalhas de papel. 

—Não podemos parar, Percy — Annabeth o imitou pulando a janela — Logo logo o vulcão vai consumir essa fazenda.

—Tô com fome — ele balbuciava com a boca cheia — Aqueles pãezinhos mofados que você jogava em minha cela não eram nada gostosos, sabe. 

Ela ficou sem graça e suspirou. 

—Vou procurar algo que nos ajude — Annabeth saiu pela porta da cozinha e se foi pelo corredor da casa. 

Ela entrou em uma das portas abertas, era um quarto de casal. Annabeth foi até o guarda-roupas e o abriu. Ela pegou uma muda de roupa, os dois precisavam se misturar, sem chamar atenção. 

Annabeth de despiu rapidamente, se livrando da bandana negra que contornava seus cabelos. Ela largou as calças camufladas e a camiseta preta em cima da cama, tirou o coturno e a meia. 

A garota teve o azar de se deparar apenas com vestidos coloridos. Ela praguejou em grego, mas se deu por vencida. Não dava pra andar por aí parecendo uma militar pronta pra guerrear.

Annabeth cogitou pegar uma muda de roupa da outra parte do guarda-roupas, que ela presumiu ser do marido.

Por fim ela escolheu um vestido amarelo de alças decorado com flores brancas. O tecido caiu graciosamente até os joelhos dela, com um rasgo que ia até a cintura. Pegou uma das rasteirinhas que estavam dispostas numa das gavetas e as calçou.

Annabeth agradeceu mentalmente à dona daquela casa, em circunstâncias normais ela jamais roubaria uma mortal. A garota encontrou uma mochila pequena de couro preto vazia, ela guardou a adaga e o boné dos Yankees dentro. Ela soltou os cabelos e se olhou no espelho que ficava em frente à cama do casal.

Não estava horrível. Tirando a parte que ela estava suja de fuligem e com alguns arranhões abertos nos braços e as coxas.

Passos ecoaram no corredor.

—Annabeth, encontrei um pouco de dinheiro mort… 

Percy apareceu na porta do quarto e abriu a boca, surpreso. Annabeth estava linda, o vestido exaltava as curvas atléticas da garota. Os cabelos caiam como cascatas de ouro por cima de seus ombros. Ele corou.

—Eu, hã… encontrei dinheiro mortal em uma caixinha na sala — Percy pigarreou, ele não conseguia tirar os olhos de Annabeth. 

Ela corou violentamente, Percy não conseguia disfarçar a cara de besta.

—Ótimo — ela desviou o olhar de Percy, não sabia se queria matá-lo ou beijá–lo, mas não fez nenhum dos dois — Tem roupas limpas aqui, não acho que eles vão precisar agora.

—Certo — ele murmurou em resposta, ainda não conseguia tirar os olhos da filha de Atena. 

Ela andou na direção dele e saiu do quarto, os rostos passaram a centímetros de distância — Seja rápido — ela ordenou.

Percy trocou de roupa rapidamente, ele vestiu uns jeans desbotados e uma camiseta cinza. Continuou com os coturnos camuflados, eles eram confortáveis e funcionais, como Perseu sempre frisava.

Ele viu algumas roupas de frio e pegou duas jaquetas pretas corta-vento e as colocou na mochila. Nunca se sabe.

Percy olhou pela janela, a lava já começava a consumir os campos de figo. Ele se lamentou, era uma paisagem incrível.

O garoto saiu do quarto e foi até o fim do corredor, Annabeth estava na porta da sala, de costas. Ela encarava a rua. Alguns carros passavam em alta velocidade, além de ambulâncias e viaturas policiais. 

—Que bagunça — Percy se aproximou dela — Porque sempre por onde passamos as coisas viram de ponta-cabeça? 

Annabeth sorriu assentindo.

—Não é o primeiro vulcão que vemos explodir — ela corou mas não olhou para Percy — Você se lembra?

Monte Santa Helena — ele ficou ao lado dela, as mãos quase se tocaram — Me lembro vagamente — mentiu. O monte havia sido o palco da primeira faísca do romance deles. Também serviu de oportunidade para acordar o monstro Tifão, após Percy causar um terremoto. Talvez ele estivesse emocionado demais na hora.

Annabeth suspirou meio melancólica. 

—Parece que foi a uma vida atrás — ela passou os braços pelas alças da mochila de couro e olhou para o chão.

—Vamos — Percy tocou levemente sua mão.

Os dois saíram da casa e passaram pelo jardim da frente, cheio de flores coloridas e pequenas palmeiras imperiais. Eles passaram pelo pequeno portão de madeira e quase foram atropelados por um dos carros que cortavam a rua acelerados.

Percy a puxou para perto e eles ficaram colados — Deuses — ela o agradeceu com o olhar. Eles se afastaram vergonhosos.

Os dois correram pelo canto da rua cuidadosamente, as outras casas da avenida estavam todas com as luzes acesas, mas não haviam muitas pessoas.

Eles passaram por alguns bares e lanchonetes enquanto corriam, os mortais entravam correndo em seus carros e largavam copos de cerveja cheios em cima das mesas. Nenhum deles prestou atenção aos dois jovens desesperados. 

Percy avistou uma placa escrito “praia Leptokarya” e se dirigiram na direção da mesma. O Egeu seria o único local onde Percy se sentiria confortável. 

Eles atravessaram uma auto-estrada com cuidado, olhando várias vezes para ambos os lados, seria cruel serem mortos por um carro cheio de mortais medrosos. 

Percy conseguiu ver as águas cristalinas do mar se espalharem pouco abaixo, em uma praia de areias esbranquiçadas. Ele se encheu de esperança ao pensar que poderiam escapar das garras de Tártaro e das explosões causticantes do mais novo vulcão do Olimpo.

De longe ele conseguiu avistar um atracadouro a oeste, barcos a vela e lanchas pairavam nas águas calmas do mar grego, cadeiras e espreguiçadeiras se estendiam pela faixa de areia, com guarda-sóis de diversas cores.

Os dois passaram por hotéis luxuosos à beira-mar enquanto os estrondos da montanha se misturavam aos sons de gritos e sirenes.

Eles atravessaram mais algumas ruas e o asfalto deu lugar às areias cristalinas. Algumas cadeiras circulavam uma pequena fogueira próximo ao quebra-mar, os mortais que estavam ali deixaram até as pranchas de surf e espetos com marshmellows para trás, fugindo correndo. 

Percy avançou na frente e ficou próximo a água. Ele encarou a imensidão azul, o brilho prateado da lua refletia nas águas escuras e no rosto cansado do garoto. O quebrar das ondas alcançou a sola de seus coturnos camuflados.

—Seu plano brilhante é nadar até Alexandria? — Annabeth correu até alcançá-lo. A garota tinha uma sobrancelha arqueada em dúvida. 

—Tem algum plano melhor? — ele não quis soar rude, afinal que escolha tinham? 

—Podemos roubar um carro, não seria a primeira vez.

Percy sorriu travesso, ele estava se virando para retrucar Annabeth. Não havia descartado essa possibilidade ao ouvi-la.

Algo estava emitindo um brilho azulado no bolso dos jeans de Percy. Annabeth o cutucou e apontou com os olhos. 

—Mas o que… — ele levou a mão ao bolso. Seus dedos se fecharam em volta de um objeto esférico

Ele o retirou do bolso. Percy ficou maravilhado, uma pequena esfera azul brilhante flutuou graciosamente, pairando acima da mão dele. 

—Parece uma…

Estrela… — Percy interrompeu Annabeth. O brilho azulado fez os olhos dele se iluminarem.

A garota estava admirada — Sim. 

Percy se lembrou de um presente que havia recebido na prisão das divindades, difícil não se lembrar do encontro com o gigante Caçador. O presente dele havia sido uma das poucas coisas boas em adentrar o abismo uma segunda vez, ainda que Percy não fizesse ideia do que fazer com a pequena esfera brilhante.

—Foi Órion que me deu isso, lá embaixo. Ele me disse que ajudaria a encontrar meu caminho. 

Annabeth murmurou um “hum” sem entender muito. Percy se metia em cada uma, ela havia se cansado de fazer perguntas.

—Não tenho certeza… — ele murmurou olhando para a pequena estrela em miniatura pairando acima de sua mão direita.

Alcione, uma ajudinha?”

Percy tentou não soar infantil, era este o nome da mulher de Órion. Ela estava na palma de suas mãos. Annabeth o encarou como se ele fosse um tolo, ”Fala sério, uma ajudinha?” — ela pensou.

Por um instante nada aconteceu. Ele deu um muxoxo e bufou vencido. O brilho da pequena estrela estava aumentando, assim como seu tamanho. 

Percy se afastou um pouco, ele segurou o braços de Annabeth e os dois recuaram um passo. 

Alcione estava crescendo e seu brilho quase cegava Annabeth. Ela esticou o outro braço e tentou ofuscar, sem sucesso, o brilho da estrela. ”É agora que morremos, só Percy para acreditar em um gigante” — ela guardou o pensamento para si.

Em poucos segundos a pequena estrela se transformava e crescia exponencialmente, o brilho azulado forçou os dois semideuses a fecharem seus olhos.

Alcione estava se transformando em um barco de velas brancas. O velame de tecido límpido como as nuvens se ergueu imponente próximo ao quebra-mar. O convés superior era pintado à mão, adornado com madeira lustrosa, a amurada era feita de cordas brancas trançadas e detalhes em ouro e prata. O veleiro era apoiado em dois mastros de bronze celestial, controlados pela armadoria de cabos habilmente amarrada e presa. Os ventos do Egeu açoitavam a vela da proa, como se o barco quisesse sair dali. Ele estava parado e flutuava nas águas escuras, ”A âncora” — Percy pensou.  

O nome “Alcione” estava gravado na popa do veleiro em tinta azul-estrelada, que parecia emitir um brilho como a pequena estrela de poucos segundos atrás, ainda que não tão cegante. 

Percy agradeceu mentalmente ao gigante Caçador. Ele com certeza queimaria parte do seu próximo jantar em algum braseiro, Órion podia não ser confiável aos olhos de Percy, mas estava salvando a vida de dois semideuses.

Percy avançou na frente, jogando-se nas águas do Egeu.

Annabeth estava boquiaberta e aturdida demais na praia.

Percy não usou seus poderes para ficar seco, ele sentiu a corrente marinha quente preencher todo seu corpo, encharcando a muda de roupas roubadas.  Ele se lembrou da saudade que sentia do mar, uma das poucas vantagens em ser semideus — ele pensou enquanto se aproximava do veleiro.

Percy lançou a mochila no convés e se apoiou na pequena escada de cordas que levava ao timão, na popa do barco.

Percy se apoiou de pé nos primeiros degraus e fez um sinal com a mão para Annabeth segui-lo, à esta altura ela já vinha nadando na direção do veleiro, cortando as ondas calmas do Egeu. Percy cultivava um sorriso de orelha à orelha, ainda surpreso com a própria sorte.

Ele esticou a mão para ajudá-la a subir. Os olhos cinzas de Annabeth brilhavam em incredulidade. Ela subiu no convés primeiro. 

Algumas espreguiçadeiras estavam dispostas lado a lado com vista para o quebra mar da praia de Leptokarya. Uma escotilha levava ao convés inferior, o timão era de madeira brilhante, decorado com imagens dos deuses Olimpianos. 

Percy subiu logo após. Ele se maravilhou com o presente. Era sorte demais até pra ele.

Próxima parada, Alexandria — ele disse, sorrindo.

 


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Notas finais do capítulo

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