Percy Jackson e a Trilogia Da Pedra escrita por Pedro


Capítulo 82
32 - O coração do Olimpo


Notas iniciais do capítulo

E aí leitores!
Quanto tempo não falava essa frase e saiam dois capítulos em um intervalo de 3 dias
Mais um capítulo diretamente do saco de gatos que eu chamo de cérebro :3

Boa leitura!



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32 - O coração do Olimpo 

 

Percy meditava de olhos fechados aos pés do pedestal de mármore destruído da estátua de Zeus. Sua testa estava franzida e os olhos fechados, ele tentava se lembrar do treinamento com Perseu, liberando a mente para tentar se conectar com o poder de Gaia.

Seus esforços não haviam rendido muito, já que o costumeiro repuxo no abdome se recusava a se manifestar, tampouco sentiu o calafrio na espinha, ou o calor nas órbitas oculares quando a centelha fluía por seu corpo. 

Os outros semideuses se reuniam um pouco distantes em volta de uma fogueira ardendo em chamas esverdeadas, o fogo grego tinha poder suficiente para fazer até os pedaços de mármore branco se inflamarem. 

As vezes ele dava uma espiada com um dos olhos, estava difícil de se concentrar devido ao burburinho constante de piadas e risadas que ecoava no túnel escuro. Ele repetia para sua mente que Annabeth estava curada do Veneno de Tártaro, mas aquele sorriso maléfico tomava conta de seus pensamentos, era o mesmo sorriso do Senhor dos Abismos. Ele jamais esqueceria dos olhos vermelho-sangue e a risada estridente. 

O retorno das memórias do antigo Percy não estava ajudando. Lembranças da primeira vez dele dentro da prisão do submundo, quase ser morto pelo Drakon voador, o segundo mergulho no rio Estige. Annabeth sendo assassinada pelo próprio Tártaro, em sua infame revelação ao sequestrar o Senhor dos Céus. 

Ele pensava no tal Sopro de Vida. 

O modo como seu instinto o guiou para salvar Annabeth uma segunda vez. Mesmo que ele não soubesse o que estava fazendo, como se estivesse predestinado isso acontecer. Percy tampouco se atentou para as consequências de realizar tal ato novamente, afinal de acordo com Perseu a alma dele já estava sobrevivendo pela de Annabeth desde a primeira aventura no abismo. Essa codependência assustava Percy, e se algo acontecesse com ele? 

E se fosse uma via de mão dupla, e se algo acontecesse com Annabeth?

Ele escutou alguns passos discretos vindos em sua direção, permaneceu de olhos fechados.

—Você nunca me deixará ir, não é? — a voz de Annabeth soou cautelosa. 

Ela se aproximou e sentou-se ao lado dele, o brilho fraco da tocha iluminou os cabelos de Annabeth, pareciam fios de ouro escapando por entre a bandana preta. Ela pegou um pedaço do mármore no chão e ficou rabiscando desenhos desconexos no chão trincado e empoeirado. 

—Porque me salvou? — pelo canto do olho a Filha de Atena fixou-se na imagem de Percy meditando.

“Eu o ataquei, o prendi e te torturei

Percy notou um quê de mágoa na voz dela. Ele se mexeu desconfortável e abriu os olhos devagar, mas não olhou para Annabeth. Thalia estava olhando para ele, que sustentou o olhar significativo. A caçadora parecia confiar em Annabeth,  elas tinham uma história juntas, desde antes do Acampamento Meio-Sangue, talvez isso prejudicasse seu juízo de caráter. Ele desconfiava-se até de sua sombra, Tártaro havia se provado muito perspicaz e inescrupuloso até ali. Todo cuidado era pouco. 

—Sem você não conseguiremos vencê-lo — Percy ergueu os joelhos e os abraçou com os braços, ele olhou para o chão escuro. 

“Nós temos essa coisa, essa conexão, que todos insistem em me dizer. Destino. Como se destino fosse salvar o mundo. Ao menos Órion estava certo acerca do ato de altruísmo, ao que parece funcionou, do contrário você estaria me atacando com sua faca e o boné de beisebol, golpe sujo por sinal.”

Annabeth sorriu discretamente. Ela mexeu no cabelo e tirou alguns fios que estavam pregados no rosto, o túnel estava abafado e quente. 

—Ainda posso atacar você — ela apontou para o boné de beisebol preso em um dos ilhós das calças camufladas, a adaga de bronze estava presa num cinto com bainha de couro negro. 

Percy ergueu uma das sobrancelhas e seus olhos se iluminaram num sorriso travesso.

—O que aconteceu com a gente? — Percy se levantou e se debruçou com as mãos no pedestal de mármore, ele observou as labaredas brancas da tocha fincada nos pés de mármore do senhor dos céus. 

“Eu estou cansado das profecias e guerras intermináveis. Houve um tempo em que a gente se atacar era impensável, aí eu perdi a memória, fui treinar com um semideus de cinco mil anos, você foi sequestrada, torturada e quando me dou conta estamos em lados opostos na floresta do Acampamento. Cansei disso, cansei dos deuses, de todos os deuses, dos bons, dos maus, de todos.”

Annabeth franziu o cenho, ela se mexeu e apoiou as costas no pedestal de mármore.

—Parece o discurso de Tártaro — ela largou o pedaço de mármore e esfregou a mão no chão, apagando os desenhos que fez. 

—Tártaro quer destruir o mundo, eu só queria que ele fosse independente, sem destino ou riscos de extinção global, sabe — Percy dizia ainda fixado nas chamas dançantes.

Annabeth deu um sorriso amarelo. 

“Eu invejo os mortais, queria dividir as mesmas preocupações que eles. Trabalho, estudo, amigos e família…” 

—Os mortais também seguem ele — Annabeth ficou séria.

—Podem até seguir, mas os mortais tem a nós, nessa missão suicida e falida. A verdade é que não faço ideia de como derrotar o senhor dos abismos, talvez não sobre mortais ao final desta guerra, tampouco semideuses e os Olimpianos.

Percy notou a ausência do barulho das engrenagens do elevador. Ele desviou o olhar do fogo e pelo canto do olho viu um corredor se formar, revelando uma passagem circular iluminada por archotes brilhando em verde esmeralda. 

—Vamos — Percy assoprou a tocha do pedestal, mergulhando as proximidades na escuridão. 

Annabeth seguiu Percy até os outros semideuses, a pequena fogueira de fogo vivo ardia em brasas fracas, Perseu segurava o arco de Épiro nas mãos. 

—Tome-o, é seu por direito — ele o estendeu para Percy, que o pegou.

Percy puxou o fio de Nylon e uma flecha azul eletrizante se materializou diante de seus olhos, ela desprendia pequenos raios como uma bobina de Tesla. 

Os outros semideuses olhavam maravilhados para o arco, Percy o prendeu cruzado nas costas. 

Perseu olhava para o corredor com certa melancolia. 

—Uma segunda vez nada agradável, imagino — ele sorriu desconfortável. Ninguém respondeu. 

Percy caminhou na frente dos outros, ele já estava na entrada do corredor.

O fogo grego projetava sombras bruxuleantes até onde a visão do garoto podia alcançar. As paredes estavam molhadas e cheias de lodo, refletindo o brilho em imagens gloriosas dos primordiais pintadas à mão em tonalidades  coloridas. 

Percy não reconheceu todas as figuras. Ele viu o senhor dos abismos cavalgando sua biga de ferro estígio, Urano, o antigo senhor dos céus, irmão de Tártaro.

O semideus caminhava analisando todas as imagens, ele lembrou-se do vestido adornado com constelações de Nix, os gêmeos Hemera e Érebo, e, por fim, a Mãe-Terra, com seu longo vestido cor de barro salpicado com pequenas montanhas e rios em miniatura, além dos cabelos verdes como pinheiros e volumosos como as selvas densas de Singapura.

Um calafrio cortou sua espinha quando ele viu o pequeno ômega vermelho flutuando acima da deusa da terra. O símbolo emanava o conhecido brilho  avermelhado que ele havia visto na câmara em Chicago, no Rio de Janeiro e na ilha da Liberdade, em Nova York. 

Percy continuou adentrando a passagem, o ar estava ficando mais denso, como se aquela parte da montanha emanasse puro poder. Ele conseguia ver partículas de poeira flutuarem no ar.

Mais à frente a passagem parecia se alargar. Ele conseguiu ver um pequeno feixe de luz noturna no centro.

Percy parou subitamente.

De repente ele tinha 12 anos novamente. Antes de saber de sua linhagem, seus poderes e sua família divina. Antes do Acampamento Meio-Sangue e Annabeth, antes das profecias e guerras.

As três senhoras moribundas ainda traçavam com cuidado os fios do destino, fiar, sortear, cortar.

As Moiras eram as criaturas mais horrendas que Percy já tinha colocado os olhos. Mais feias que as dracaenaes com suas pernas de bronze, ou os lestrigões  e telquines do mundo inferior. Ainda usavam os mesmos vestidos na cor cinza em trapos, as cadeiras de balanço que rangiam a cada movimento das três velhinhas. Os olhos brancos e leitosos como os de um cegueta, cabelos brancos e corpo esquelético. A máquina de fiar ficava ao lado da moira do centro, que ele presumiu ser Cloto.

Láquesis enrolava o fio em um fuso de madeira nobre, adornado com imagens dos deuses Olimpianos.

Átropos segurava uma tesoura vermelha e por vezes cortava um ou dois fios.  

As Irmãs do Destino ainda causavam arrepios em Percy.

As pernas dele pararam de responder. Percy ficou paralisado no chão, como se as raizes de Gaia estivessem se enroscando em seus pés. Ele coletou os pensamentos, apesar do estupor. Em suas visões ele viu Perseu e Pandora encontrarem uma adaga translúcida iluminada pelo sol, bem diferente da presente cena.

Encontrar as três Parcas fiando novamente o fez pensar na possibilidade real do fracasso, pois Átropos cortava diversos fios, um deles poderia ser do filho de Poseidon.

Percy sentiu uma mão em seu ombro. 

—Está com medo dessas velhinhas? — Thalia deu um leve choque nele. Ele murmurou baixinho em grego.

Os outros semideuses se postaram ao lado dele. Percy se sentiu amparado, ele não tinha que enfrentar todos os perigos sozinho, como assim pensava. Ele tinha seu mestre, seus amigos e sua namorada.

Juntos — Perseu sustentou o olhar cauteloso de seu pupilo.

Dito e feito, avançaram juntos em direção às três avós demoníacas que tanto aterrorizaram Percy quando criança.

—E a adaga? — Percy sussurrou virando a cabeça levemente, Perseu estava ao lado dele.  

Jamais a encontrei


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