Já era madrugada quando o serafim finalmente desligou a televisão. Estava entretido com toda aquela tecnologia que os humanos eram capazes de fazer. Nas duas camas do quarto, os irmãos Winchester pareciam estar em sono profundo. Castiel avia saído a poucas horas para vigiar os arredores. Ele estava sozinho agora. Resolveu então pegar a chave em cima da mesa e olhar o céu que depois de várias semanas, voltou a ser limpo e estrelado.

Os outros quartos do hotel de beira de estrada pareciam estar vazios. O único carro estacionado por lá era o Impala preto os irmãos. O cenário era gratificante o suficiente para o serafim sentar-se nos degraus em frente a porta do quarto e pensar em tudo aquilo que avia passado até chegar ali. A briga com seus irmãos, o corte de suas asas, o roubo as espada de Elequiah. Tudo aquilo passara mais rápido do que si próprio imaginava. De tudo isso até agora, o mais doloroso foi ter que desobedecer as ordens de seu próprio pai. O Serafim não conseguia encontrar sentido em toda aquela busca de poder de seu irmão e a melhor alternativa no momento seria ter tomado a iniciativa e se rebelado contra tudo isso.

Porém tudo o que fez até agora fora em vão. Neste momento era um caído, sujo, porém ainda com sua graça apesar de estar fraco com a viagem que fizera durante duas semanas antes de finalmente chegar a terra.

Não sabe ao certo quanto tempo ficou olhando para o céu sentado do lado de fora do quarto do hotel. Quando voltava para dentro do quarto escutou um estalo. Sentiu-se incomodado de alguma forma ao ouvir aquele som e já deduzia quem seria.

- Sabia que mais cedo ou mais tarde isso iria acontecer – disse Juliel de cabeça baixa ainda com a mão na maçaneta da porta

- E não se protegera por quê? – disse a voz serena e calma a suas costas.

- Não achei necessária a proteção.

- Nesses tempos difíceis isso é indispensável!

- O que você quer Crowley? – o serafim finalmente se vira e encara o demônio que estava com um longo sorriso sínico no rosto.

- Tenho uma proposta para ti meu caro serafim!

- Diga! – o anjo descera alguns degraus e aproximou-se um pouco mais do demônio

- Eu sei o quanto você está fraco apesar de ainda estar com a sua graça. A viagem do céu até a terra é realmente muito longa... – o demônio interrompera a explicação por alguns segundos antes de continuar – Sei que você está sendo perseguido pelo Elequiah. Como sei também que você deve se juntar a mim!

O serafim esboçou um sorriso ao ouvir a ultima frase. Tinha a noção de que Crowley era um manipulador de mão cheia, mas não que seus argumentos para isso fosse tão bons quanto imaginara. Sempre pensava que o demônio conseguira tudo através de torturas ou algo do gênero.

- Você pode saber de tudo isso, mas creio que não saiba o porquê de minha rebeldia contra meus irmãos.

- Ah, sobre isso eu também já fui informado. – o demônio mantivera a mesma expressão desde que chegara: serenidade com um leve tom irônico como sempre costumava ser. – Deveríamos conversar mais, pois acho que você não sabe o real motivo de tudo isso.

- Crowley, você está falando com um dos anjos protetores do trono de Deus. Eu sei quais são seus reais motivos para todas as torturas e sofrimentos que causa a raça humana – o serafim começara a andar lentamente em direção ao demônio que manteve sempre a postura – Admiro a ousadia de vir pedir uma coisa dessas principalmente para mim, neste momento – o serafim parara bem próximo ao demônio.

Crowley pôde sentir então a força que emanava de Juliel. Era realmente muito diferente de Elequiah. A força do segundo era grande, mas a do primeiro serafim caído era três vezes maior. Sentiu sua cabeça doer levemente ao ouvir a voz dominadora do mesmo a poucos centímetros de seu rosto.

- Você não é mais o guarda do trono de Deus Juliel – diz o demônio olhando fixamente para os olhos claros do serafim

- Mas minha força e meu poder continuam o mesmo Crowley

- Seu poder pode ser grande, mas eu posso ser muito maior.

- Não duvido de sua capacidade! Sei que sua raça imunda tem orgulho de bater no peito e fazer as coisas que faz – Juliel aproximou-se ainda mais do demônio fazendo que seus olhares ficassem próximos o bastante para o Crowley perceber o brilho interno do serafim – Sei que posso me tornar um novo deus do inferno ou seja lá o que você quer de mim. Mas disso você pode ter certeza, eu jamais iria aceitar uma proposta sua!

- Que seja como você bem queira Juliel. – Crowley vira-se de costas e caminha alguns centímetros para longe – Eu não desistirei de você! – disse antes de sumir do lugar e deixar apenas o serafim por lá.

Juliel sabia que o primeiro encontro seria apenas conversa, mas não tinha certeza se o segundo iria ser a mesma coisa.