Consenso escrita por Mayumi Sato


Capítulo 1
Consenso


Notas iniciais do capítulo

"- Suzumiya Haruhi, por que você não se conforma com a normalidade? Mesmo Van Gogh e Nietzchie fizeram isso. Arranje algum cara e saia com ele. Será bem mais fácil encontrá-lo do que encontrar um esper ou algo assim. Depois, entre em um clube normal e aproveite bem os três anos da sua adolescência."



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Era uma tarde escaldante de verão, naquela quarta-feira, na sala do clube de literatura que de algum modo havia se tornado nossa. Os chás de Asahina-san não contribuíam nada para aliviar a sensação de estar preso, não em uma sauna, mas no Sol e ainda assim eu os bebia como se estivesse purificando minha alma. Com óleo quente, lógico. Eu não poderia recusar aquele doce elixir servido por aquele anjo vestido de maid. Estava aproveitando a adorável companhia dela, quando nossa chefe de brigada chegou, praticamente arrombando a porta, bastante mal humorada. Aparentemente, aquele era um sinal positivo. Quando Haruhi estava de bom humor, era sinal de que eu deveria preparar meu corpo para o cansaço extremo. Sem dirigir a palavra ou o olhar a mim e Asahina, ela se sentou em sua mesa em frente à janela e disse como se estivesse respondendo uma pergunta inconveniente:

- Não, o Koizumi-kun e a Yuki não virão, pois tem assuntos a resolver  com os professores!

Quando Haruhi disse isso, lamentei profundamente sua presença na sala do clube. Se ela não fosse uma chefe apaixonada por sua brigada, Asahina-san talvez se tornasse uma viajante do tempo apaixonada por mim. Se ela fazia tanta questão de permanecer lá, poderia ao menos usar um rabo-de-cavalo para diminuir o desconforto. O meu é, claro.

Percebendo que eu a fitava como se ela fosse uma criminosa, ela perguntou:

- O que foi!?!

- Por que você veio? Se toda a brigada está fora, não há motivo para permanecermos aqui, certo?

- Oras! Do que você está falando!?! Eu sou a chefe de brigada! Não importa se dois membros faltaram, a minha presença justifica todos os nossos objetivos! Eu represento o símbolo da brigada SOS!

“Não, não representa. A menos que você também tenha raptado o presidente do clube de informática.”

- Nós iremos fazer alguma coisa?- perguntei, desanimado.

- É lógico que sim! Peguem os seus computadores, pois nós começaremos uma longa pesquisa sobre ufologia! Como vocês devem saber, há uma chuva de meteoros que sempre ocorre no mês de agosto! Isso não é suspeito???

- Sim, sim. A natureza é sempre suspeita, Haruhi. Isso possibilitou a origem da ciência e dos guarda-chuvas.

- Não estou falando disso! Uma chuva que sempre acontece e nenhum meteoro caiu por aqui! Não acham estranho??? Além disso, essa periodicidade não parece algo suspeito???? Temos que investigar, investigar! Eles não podem continuar a omitir os fatos!

- Eles quem?

- O governo, Kyon!

Se continuarmos nesse ritmo, a brigada passará de um clube para um partido político, mas não direi isso a ela, ou ela acatará como uma sugestão.

- O que o governo tem haver com os meteoros? E o que nós temos haver com os dois?

- Eles estão omitindo a verdade, Kyon!

- Eles são políticos, isso não é tão surpreendente.

- Eles estão ocultando o fato que somos anualmente visitados por alienígenas!

- Como você chegou a essa conclusão? Espere. Eu não quero ouvir isso...

- Não quer ouvir!?! Como não quer!?! Essa é uma dedução brilhante que explica tudo, Kyon! Tudo! Se batalharmos contra o governo, alcançaremos coisas que ninguém descobriu antes!

- Você está ouvindo a própria fala? Ou melhor, você está pensando antes de falar?

- O quê? Você é tão chato! O que você preferia fazer!?! Ficar bebendo chá com a Mikuru-chan!?!

Na verdade, se for para idealizar a cena, eu preferia estar bebendo um refrigerante gelado com a Asahina-san, mas seria pedir muito. Ainda assim, apreciar a doce e agradável companhia dela era muito melhor do que procurar por vídeos cansativos na internet ou do que empenhar qualquer esforço para ajudá-la em sua nova e absurda teoria.

- Quer que eu seja sincero? Sim, eu preferia.

Nesse instante, a expressão facial dela tornou-se…Como posso descrever? Vocês já ouviram falar em Calígula?

- Honestamente, fico feliz em saber que vocês pessoas como você nunca chefiarão a brigada SOS!

- Honestamente, eu fico também.

- Não querer participar de uma atividade que poderá ser para nós o que o iluminismo foi para a marçonaria é absurdo! Não queira colher os frutos sem esforço! É patético!

- Suzumiya Haruhi, por que você não se conforma com a normalidade? Mesmo Van Gogh e Nietzchie fizeram isso. Arranje algum cara e saia com ele. Será bem mais fácil encontrá-lo do que encontrar um esper ou algo assim. Depois, entre em um clube normal e aproveite bem os três anos da sua adolescência.

- E a brigada SOS? Eu a criei! Você acha que eu poderia abandoná-la!?! O que os membros iriam pensar!?!

Na verdade, estamos todos implorando internamente que você encerre essa brigada e com todos os objetivos que ela possui. Transforme-a em um clube de música, de leitura, de apreciadores de chá...! Qualquer coisa!

- Se bem que você não está totalmente errado.- ela murmurou.

Han?

- Talvez seja melhor que eu desista de tentar encontrar essas coisas fantásticas. Eu deveria transformar a brigada em um clube de cosplays e tentar sair com algum garoto. Na verdade, eu já estou ficando cansada. Eu achei que quando tivesse um clube próprio para isso, com uma personagem mascote e um misterioso estudante transferido, tudo ficaria bem, mas não localizamos nada, e mesmo potenciais mistérios como a mudança súbita de país da Asakura Ryoko e o desaparecimento do presidente do clube de informática se mostraram desinteressantes. Se eu arranjar um namorado, talvez o meu corpo sacie as minhas necessidades e eu possa esquecer tudo isso.

Eu fiquei calado até ela terminar, mas no fundo, durante todo o discurso, meu cérebro estava berrando compulsivamente e – acredito eu- ouvindo uma música de j-rock. Eu tinha que colocar em ordem, minhas idéias.

Em primeiro lugar, um clube de cosplay não é nada normal. Se houver um lugar que considere algo assim normal, meus instintos masculinos me guiarão imediatamente para lá. Em segundo lugar, desistir da brigada? Como você desistiria da brigada? Essa não é a primeira vez que reclamo das atividades dela e você sempre ignorou o que eu disse. Sempre. Será que esta é a primeira vez que você me escuta antes de prosseguir a falar desenfreadamente sobre suas idéias? Isso é um tanto triste já que estou há dois anos nessa brigada. E em terceiro lugar, a minha idéia do namorado não é obrigatória. Ela é apenas um complemento. Na verdade, nem sei por que a citei. Você deveria desenvolver a idéia do clube, antes de pensar em homens. É o que as mulheres do século vinte e um costumam fazer.

- Você não precisa ter um namorado...- eu já ia dizendo, quando fui friamente interrompido.

- Um namorado é essencial para os meus planos.

De que planos você está falando? Por favor, por favor, não convença o Koizumi que fui eu que a incentivei a ter essas idéias.

- Por que você quer tanto ter um namorado?

- Na verdade, eu não desejo tanto assim, mas...

- Então não tenha!

A convicção com que eu disse isso, não assustou apenas Haruhi, mas todos naquela sala. Incluindo eu.

- Qual o problema se eu tiver um? Não atrapalhará as atividades do clube de cosplay. Além disso, isso poupará um pouco que você tenha que cumprir todas tarefas braçais do grupo.

- Eu não me incomodo tanto em realizar as tarefas braçais!

O que eu estava dizendo!?! Eros havia trocado sua flecha por um tijolo!?! Eu me incomodava sim em realizar tarefas braçais! E bastante! Contudo, a imagem de Haruhi dependendo de outro garoto, um garoto qualquer que a tocaria sempre que quisesse, me enojava.  Eu era apenas um garoto comum, resmungando em um canto, mas havia algo que eu gostaria de deixar claro:

- Eu adoro reclamar. Minha companhia com Taniguchi provavelmente influenciou isso.

- E o que diabos...!?!

- Em que site eu encontro vídeos sobre ufologia?

Ela sorriu. Era um sorriso cruel, mas eu preferia que fosse dirigido a mim do que a qualquer outro. Além disso, quando comecei a procurar pelos vídeos percebi que qualquer tarefa era menos torturante do que ver Haruhi concedendo seus pontos imaginários e se apaixonando por alguém que certamente seria criado pelo subconsciente dela. Vendo aquele sorriso maligno, eu não pude deixar de pensar se ela havia feito tudo aquilo de propósito, apenas para que eu a ajudasse e parasse de reclamar tanto. Tive minha resposta, quando a vi amarrando um belo e firme rabo-de-cavalo no topo de sua nuca.

Maldita Haruhi. Pelo menos, nós chegamos a um consenso.

 

 

 

 

 

 

 

 


FIM

 


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem esta história! Deixem comentários e leiam outras da série "O excêntrico e o racional"! Obrigada!^^