Fazia mais ou menos, umas duas horas que já estava acordado. Dessa vez, acordei em casa. Estava na sacada, junto de Arthur, olhando Los Angeles. Nós fumávamos nossos cigarros e conversávamos sobre a vida. Eu adorava esses nossos momentos. Conversávamos como melhores amigos, tínhamos diversos assuntos, nos aconselhávamos.. Eu adorava esse cara, e quando digo que estava com ele em qualquer parada, eu não estou mentindo! E hoje era domingo, o dia que não fazíamos absolutamente nada..

– E Seattle, irmãozinho? - riu.

– Falta pouco.. - respondi, sorrindo. - Nem acredito. Vai ser difícil me acostumar com uma vida tranquila. Não consigo me imaginar sem ir pra festar, sem beber do jeito que eu bebo.

– Eu também não consigo te imaginar assim. - brincou. - Mas você bem sabe, que não existe ninguém no mundo, que te apoie mais que eu. Tu tem futuro, mané. - sorriu.

– Tô ligado. - sorri.

– Mas duvido que de vez em quando tu não vai ligar para umas garotas de lá, e fazer uma festa a dois. - gargalhou.

– Vai pro inferno, Arthur. - gargalhei. - Tu sabe que não pego garota de rua. - falei. - E nem sei se tenho cabeça para garotas..

– Hmmm. - resmungou. - Isso me cheira amor, é?

– Tu não consegue falar uma vez, uma única vez, sem que tu brinque? - falei. - Mané!

– Ah, vai à merda. - revidou. - Mas na boa mesmo, e aquela Catarina?

– Katherine, idiota. - não contive e acabei rindo. - Ah.. A Kate nem sei se rola alguma coisa ainda, irmão. - pensei em Kate e nos nossos momentos juntos.

– Ué, por que não? Ela te jogou pra escanteio?

– Não, não tem nada haver. Só que.. Acho que fiz um papel de idiota. - falei. Ele esperou por explicações e eu já segui dando. - Quando aconteceu aquela parada contigo eu me senti muito fraco, tá entendendo? Eu estava perdido, não sabia o que fazer, eu chegava em casa e me sentia completamente perdido. E o foda é que eu me sentia sozinho. E ela estava ali. Quer dizer, antes mesmo disso ela estava comigo. A gente se aproximou muito rápido, tivemos uma relação muito rápida. Eu me envolvi demais com ela. - continuava falando. - Enfim, quando eu estava com ela, eu me sentia completo. Eu tinha o mundo nas mãos. Tu não tem noção do quanto aquela morena pode surpreender, irmão. - falei.

– Teus olhos brilhando não é bom sinal, irmão. - comentou.

– Pode ser... - falei, e continuei: - Mas foi isso, eu me envolvi demais com ela, prometi pra mim mesmo, coisas que eu deveria fazer com ela. E que hoje eu vejo que eu não cumpri. Não deixar ela, foi algo que eu queria não ter feito. Porque eu fiz ela prometer que não me deixaria, e quem acabou abandonando tudo fui eu.

– Mas por que tu deixou ela? - perguntou. Dei um suspiro profundo.

– Terça-feira, quando eu fui pra escola, a Megan encheu minha cabeça com um monte de coisas e eu acabei analisando e percebendo que era verdade. Desde então, eu evito a Kate. - me senti desanimado. - Não atendo ligações, não falo com ela pela internet.. Larguei ela, irmão. - senti meus olhos ardendo, mas não deixei que nenhuma lágrima escorresse.

Um silêncio ficou no ar. Percebi que Arthur analisava tudo o que eu acabara de lhe falar. E eu só conseguia pensar em Kate. Acabei desabafando ainda mais..

– Eu curto festa, nossa, eu adoro festa, pra caralho mesmo. Mas aquela morena, irmão.. Nenhuma bebida, nenhuma festa vai me fazer sentir tão grande que nem ela fazia.

– Tu fez burrada. Só isso que eu te digo. - falou, seco. - Eu não quero ser grosseiro, mas tu sabe que eu quero te alertar das coisas. Sou três anos mais velho que tu, e já vivi essas paradas aí. Então quero te alertar, mas.. Sim, tu fez uma burrada gigante! Porra Nathan, a garota te amava e porque a Megan falou merda tu largou ela? - falou.

– Eu sei! Mas eu estava animado com a tua recuperação. Eu queria sair, eu queria curtir, eu queria acreditar mesmo que eu não estava sonhando, que tu tava recuperado e da melhor maneira possível! - falei, um pouco exaltado. - Eu não queria ter feito isso, mas eu fui idiota e fiz.. Eu sei disso Arthur.

– Relaxa, irmão. - me olhou sério. - Não adianta se lamentar agora, mas quando a gente tem a oportunidade de ser feliz, a gente agarra ela e foda-se os outros. Pensa em ti primeiro.

– A minha felicidade vem das festas também. Pra tu ver, a gente foi pra festa dois dias seguidos e eu tô me sentindo revigorado. Isso é minha felicidade também.

– Nathan! - gritou. - Para de ser criança. - se levantou e gritava comigo, gesticulando. - Para de iludir você mesmo. - escutei, sem mexer um músculo. - Tu sabe que essas porra de festas te deixam bem sim, mas tu também sabe que tem um vazio dentro de ti. Tu sabe que falta alguma coisa. E tu sabe que essa coisa é a Kate. Tu pode ter as duas coisas ao mesmo tempo, já pensou nisso? Tu pode ter a Kate e ter as tuas festas, e se ela te faz tão bem, por que não junta os dois? Levar ela pra farrear não é uma má ideia. Porra, só não diz que tu não sente saudade da garota, irmão. - falou.

Deu umas voltas pela sacada e depois sentou-se novamente. Ficou me encarando. Eu não entendia o que havia dado nele. Mas sabia que algo estava errado.

– O que aconteceu? - perguntei.

– Nada, Nathan. - suspirou. - Eu só quero que tu coloque essa tua cabeça no lugar e pense nas coisas certas. Festa não é tudo, irmão. Festa não é a melhor coisa do mundo. É maneiro pra caralho, eu sei, mas existe coisas melhores.

– Arthur, tu tem alguma mágoa?

– Não.. - me olhou, vi seus olhos enchendo-se de lágrimas. Ele balançou a cabeça e as enxugou. - É só que.. Você sabe que eu já namorei diversas vezes, mas nenhuma foi tão especial quando a Destiny. Eu ainda penso nela, e você também sabe disso. E eu larguei ela por causa da farra. Porque causa de álcool, maconha e noites em claro. E não quero que tu faça isso.

– Por que não voltou com ela? Ela te amava, tu podia muito bem ter voltado com ela. - falei.

– Não é tão simples, Nathan! - falou, raivoso. - Eu amava a Destiny. Ainda amo, pra falar a verdade. E foi do mesmo jeito que tá acontecendo contigo, sem mudar nada. Meus amigos falavam que eu estava muito distante e o caralho a quatro. Como eu não conseguia chegar e terminar com ela, comecei a tratar a Destiny muito mal, eu magoei ela demais.. - ele falava olhando pro chão. - Até que um dia ela cansou e terminou comigo. Eu chorei aquele dia. - me olhou. - E bem, isso faz acho que uns dois anos e eu sempre deixei pra lá. Quando eu pensava em falar com ela, eu ia beber. Quando eu sentia saudades dela, de nós dois juntos deitados no sofá, com aquela troca de carinho que nós tínhamos.. Quando eu sentia isso, eu arrumava uma festa pra ir. Eu esquecia dela, indo pra cama com outra garota. Mas chega uma hora que tu para e pensa no teu futuro. E eu não quero ter trinta anos e continuar indo na farra. Talvez eu arrume outra garota. Ou não. Mas eu já quero ter uma família quando tiver trinta anos.

– Então irmão, para com isso. Se aproxima da Destiny de novo e mostra que tu mudou. Para com essa parada de festa e cria um único objetivo na tua vida.

– Reconquistar a Destiny. - completou.

– Exatamente. - sorri. - Tu é um cara maneiro, Arthur, e eu sei que ela ainda pensa em ti. Ela não pode ter te esquecido tão fácil assim.

– Pode ser. - sorriu. - Mas tu.. - suspirou. - Tu vai atrás da Kate e tu pede desculpas, mané. Porque não é tarde. Tu ainda tem chance de reconquistar a tua morena, não perde tempo que nem eu, Nate. Não faz a mesma burrada que eu fiz.

– Amanhã eu vou atrás dela.. Vou explicar o que aconteceu. Sei lá. Mas vou atrás dela. - suspirei.

Me levantei e abracei meu irmão.

– Vai que é tua, moleque. - falou.

– E tu, não desiste não.. Ela ainda é tua. - falei.

Nós rimos e conversamos mais um pouco. Arthur sempre conseguia abrir minha mente e colocar só coisa boa lá dentro. Era meu irmão, meu melhor amigo, era até meu tutor, porque sem ele eu já estava fodido nessa vida. Meu irmão é a pessoa que mais sinto orgulho. E me sinto honrado de ter o mesmo sangue que ele.

Mas agora que ele abriu minha mente, preciso ir atrás da minha morena..