Proposta Indecente escrita por Lady Potter


Capítulo 2
Capítulo II




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Querido diário,

Devo dizer que há algo de reconfortante nos números.

Afinal, a vida é confusa e imprevisível. Não importa se planejamos bem o dia ou o futuro, há sempre surpresas desagradáveis. Pode ser a chuva em um dia em que pre­tendíamos cavalgar, ou a descoberta de que o vestido ama­relo que havia sido encomendado a faz parecer um girassol. E existem as surpresas horríveis, como descobrir que a promessa feita no túmulo do pai adorado não poderá ser cumprida.

Ah, mas os números...

São precisos. Nunca se alteram nem mentem.

Dois mais dois serão sempre quatro.

É uma verdade com a qual se pode contar. Hoje e sempre.

Uma ideia que dá segurança.

Por esse motivo, então, é mais agradável lidar com eles a se relacionar com outras pessoas.


XXXXX



A mensagem chegou logo depois do desjejum. Após dedicar três dias à tentativa de convencer-se de que era melhor que Harry esquecesse sua proposta, Gina estava chocada. A nota anunciava apenas que ele iria encontrá-la às três horas.


No entanto, por que outro motivo ele a procuraria, se não por estar considerando seu plano tresloucado?

A possibilidade fazia disparar seu coração.

Mandaria uma mensagem dizendo que havia mudado de ideia. Criaria uma desculpa qualquer, uma enfermidade, talvez, alguma coisa que a impedisse de vê-lo. Assim, teria uma chance de con­vencer-se de que não estava sofrendo de algum dano cerebral irreversível que a levava a agir como uma doida.

Mas...

Pensar em recusar o encontro com o cavalheiro a enchia de pesar.

Que importância tinha se sua proposta havia sido um impul­so, não um plano bem formulado? Ou que não costumasse se expor a riscos desse porte sem antes calcular todas as eventuais implicações?

Tinha escolha?

Sua tentativa de encontrar um marido era um completo fra­casso. Além do mais, havia proposto um negócio. Não podia re­cuar agora.

Ainda se lembrava do pai, a um passo da morte, murmurando com suas últimas forças:

— Minha filha, nenhuma fortuna tem valor para uma pessoa sozinha. A família é a verdadeira riqueza do ser humano. Por favor, prometa-me que vai se casar. Vai encontrar um homem que será seu companheiro, que partilhará suas alegrias e tristezas. Um homem que lhe dará os filhos que merece ter. Não suporto pensar em você sozinha. Não suporto...

O que poderia ter feito diante de tal súplica? Teria prometido qualquer coisa para aliviar seu temor desesperado.

E agora, só restava esperar que houvesse em Londres um ca­valheiro capaz de ser ao menos seu amigo.

Tentando se acalmar, ela foi para a biblioteca examinar seus livros. O que podia ser mais relaxante do que observar o progresso de uma mina de carvão antes abandonada, agora um sucesso de lucro e produtividade?

Era fascinante. Não se interessava por modelos de vestidos ou quantos cavalheiros a admiravam. Preferia o prazer inegável de se debruçar sobre balancetes e confirmar seus lucros.

Ainda estava ocupada redigindo uma lista de perguntas que pretendia fazer a um associado comercial, o Sr. Lino Jordan, quando a porta da biblioteca se abriu.

Presumindo tratar-se de um criado ou de sua prima distante, a Srta. Alice, que levara a Londres como sua acompanhante, ela nem levantou a cabeça.

O perfume de uma colônia masculina atingiu seu olfato. To­mada por um súbito arrepio, ela ergueu os olhos e viu Harry apoiado no batente da porta.

A pena caiu de seus dedos quando ela se levantou. Um sorriso tenso distendeu seus lábios. Precisava disfarçar o nervosismo.

— Sr. Potter.

— Bom dia, Srta. Weasley. Espero que tenha recebido minha mensagem.

— Sim, é claro. Deixei instruções para que Reeves o condu­zisse ao salão frontal.

— Ah, deve estar falando do mordomo que me recebeu. Ele tentou me levar ao salão, mas eu disse que preferia vir procurá-la aqui.

— Entendo.

Ele se aproximou da escrivaninha.

— Compreendo que não é convencional encontrá-la sem uma companhia, mas presumi que seria melhor conversarmos com to­tal privacidade. Deve haver uma medida de... intimidade em nossa discussão.

Seu charme era uma força poderosa, quase tangível. Gina a sentia em forma de sucessivos arrepios.

Seria esse charme tão praticado que ele o utilizava mesmo quando não havia motivos para tal esforço? De qualquer maneira, subestimar seu poder seria tolice.

— Não precisava ter se preocupado com Sophia — Gina res­pondeu. — Ela é incapaz de ouvir uma só palavra, a menos que seja gritada bem perto de seu ouvido.

— Ah... Bem, mesmo assim, há sempre o risco de sermos interrompidos por um de seus visitantes. Prefiro tê-la só para mim.

Foi difícil não rir. A única visita que recebia desde que chegara a Londres era a de Hermione, e a informara de que estaria ocupada com Harry esta tarde.

— Uma ocorrência improvável, mas suponho que possamos ter tanto conforto aqui quanto em qualquer outro lugar. Gostaria de beber alguma coisa?

— Não, obrigado. — Ele se sentou em uma poltrona de couro diante da mesa e olhou em volta. — Tem um belo aposento aqui. Mas é um lugar onde não se pode esperar encontrar uma jovem. Especialmente numa tarde tão bela.

— Passo todos os dias nesse aposento, senhor.

— Todos os dias?

— Meu pai deixou muitos investimentos ao morrer. É preciso grande empenho para administrá-los.

— Está no controle da herança deixada por seu pai?

— Certamente. Fui treinada para isso, embora nenhum de nós jamais tenha imaginado que eu necessitaria pôr em prática tais conhecimentos. Não tão cedo.

— Não é uma ocupação comum para jovens mulheres.

— Já ouvi esse comentário muitas vezes. Mais uma razão para ser excluída.

— Mesmo assim, prefere continuar trabalhando, em vez de delegar tal ocupação a um administrador?

— Jamais confiaria minha fortuna a alguém que não fosse da família. Além do mais, considero o trabalho um prazer, não um fardo. Prefiro passar a tarde com meus contadores a sair para comprar um vestido novo.

— É realmente estranho.

— Veio aqui para me insultar?

— Oh, não... Perdoe-me. Não tive a intenção de insultá-la. Apenas... estou mais habituado a pessoas que preferem o ócio ao trabalho.

— Pessoas como você?

— Sim... Como eu.

Gina sufocou a culpa por ter, aparentemente, tocado em um ponto de grande sensibilidade. Estavam ali tratando de negócios. Era hora de começar a agir de acordo com esse propósito.

— Não acha que devemos tratar do motivo de sua visita?

— Sim, é claro. Como já deve ter deduzido, decidi aceitar sua proposta.

Estivera preparada para isso. Então, por que sentia o coração saltando no peito e a garganta oprimida?

— Confesso que já imaginava.

— Acaso mudou de ideia?

— Não. É claro que não.

— Que bom.

— Bem, agora... deve estar esperando receber seu dinheiro. Prefere que eu mande um cheque a sua residência? Posso enviá-lo ao escritório de seu administrador, ou...

— Discutiremos esses detalhes mais tarde — ele interrompeu, revelando desconforto por estar aceitando dinheiro de uma mulher.

— É claro.

— Antes quero discutir nossa farsa. É importante estabelecer com clareza o que esperamos um do outro. Deseja começar nosso flerte imediatamente, não?

— Sim... — Precisava conter o tremor das mãos. Esse era um encontro de negócios. Felizmente, porque não suportaria um flerte real. Não com esse homem perigoso. — Quanto antes, melhor. Na verdade, já preparei uma lista.

— Uma lista?

— É um velho hábito. Faço listas para manter as coisas orga­nizadas na minha cabeça.

— Ah, sim... E o que há nessa lista?

— Anotei vários convites que recebi. Assim poderá saber onde me encontrar nas próximas noites.

— Ótima ideia.

— Também fiz anotações indicando quais desses eventos têm mais probabilidade de atrair homens solteiros.

— É claro.

— Também redigi uma lista das coisas que você precisa saber sobre mim.

— Ah! E que coisas são essas?

Era evidente que Harry se divertia com sua abordagem me­tódica de um assunto tão subjetivo.

— Os nomes de meus pais e avós, detalhes da minha casa em Surrey... — Uma gargalhada a interrompeu. — O que é tão en­graçado?

— É evidente que não se dedicou a muitos flertes.

— Já falamos sobre isso. Por isso estou aqui, lembra? Qual é a graça?

— Minha cara, se estivesse realmente flertando com você, nada me interessaria menos do que os nomes de seus pais ou detalhes de sua propriedade.

— Oh... E que coisas despertariam seu interesse?

— Sua flor predileta, seu perfume favorito, se gosta mais de ser beijada na nuca ou na curva do seio...

Gina cruzou as mãos sob a mesa para esconder o tremor que as sacudia. Beijos na nuca? E no... seio? Cavalheiros faziam tais coisas?

Soava indecente. E agradável demais para seu pobre coração solitário.

— Oh...

— Eu saberia se seu cabelo é tão suave como o cetim, se seus lábios têm o sabor da paixão, e conheceria a textura de sua pele melhor do que você mesma — Harry continuou com ousadia, levantando-se para contornar a mesa. Sem aviso, ele virou a ca­deira para se apoiar nos apoios de braço, encurralando-a.

Gina sentiu uma forte onda de calor. Seu coração batia depressa e o sangue parecia ferver nas veias.

— Eu também saberia, sem sombra de dúvida, se suas curvas se encaixam no meu corpo — ele concluiu.

— Já entendi o que quer dizer, Sr. Potter.

Harry recuou.

— Se reagir com esse terror tão evidente, ninguém vai acre­ditar que existe alguma coisa entre nós.

O fato de Harry estar certo só aumentava seu desconforto. Deviam estar tratando a questão como um negócio. Por que reagia como uma virgem exposta pela primeira vez à paixão?

— Estou apenas... surpresa.

Ele ergueu o corpo e recuou um passo.

— Fique em pé, Srta. Weasley.

— Por quê?

— Se não é capaz de sustentar sua parte nessa encenação, é melhor pararmos por aqui.

Ele a estava desafiando? Era isso? Nunca deixara de cumprir sua parte em uma transação comercial, e essa não seria a primei­ra vez.

— Cumprirei minha parte, senhor.

— É claro. E por isso está se encolhendo na cadeira, como se temesse ser atacada?

— Não tenho medo de você.

— Então, fique em pé.

Era mesmo um desafio. O que poderia fazer? Relutante, Gina levantou-se.

— Está satisfeito?

— Ainda não.

Fitando seus olhos, Harry aproximou-se para segurar o rosto fino entre as mãos. Lentamente, os dedos acariciaram suas faces e se aproximaram da curva da boca. O polegar descreveu a curva do lábio inferior e, lentamente, a cabeça se inclinou, revelando com clareza sua intenção.

Beijá-la.

A constatação penetrou na mente confusa no mesmo instante em que os lábios tocaram os dela. Depois disso, pensar tornou-se impossível.

Seus lábios eram quentes e possessivos. Não havia exigência, mas uma persuasão doce e suave em forma de carícia. Com in­finita paciência, ele ia descobrindo o sabor e o formato de sua boca, como se ela fosse uma iguaria rara que devia ser degustada com reverência. A língua tentava penetrar na cavidade úmida, e os lábios de Gina se abriram num convite ousado.

Um prazer desconhecido e inebriante aqueceu seu sangue, dei­xando-a tonta e confusa como se houvesse consumido sozinha uma garrafa de champanhe.

Oh, sim, a experiência era perigosa. Deliciosamente perigosa.

Murmurando palavras ternas de incentivo, Harry deslizou os lábios por sua face quente e foi se aproximando do queixo, de­senhando um caminho de beijos. As sensações que a invadiam eram intensas, poderosas, tanto que ela não percebeu de imediato o dedo que, acariciando sua nuca, ia aos poucos descendo até alcançar a curva de um seio.

Talvez jamais houvesse notado essa carícia mais atrevida, não fosse o desejo chocante que se apoderou dela quando os dedos encontraram um mamilo e o apertaram delicadamente, enrije­cendo-o.

Era impossível não notar.

Afastando-se bruscamente, ela o encarou perplexa.

— Sr. Potter, não permitirei tais liberdades a nenhum ho­mem — disse ofegante.

Ele parecia perfeitamente composto diante de sua agitação. Os olhos verdes podiam estar um pouco mais escuros, sua respiração era mais rápida do que de costume, mas não havia nenhum sinal da perplexidade agitada que ela experimentava.

O homem era irritante.

— Nenhum homem? Nesse caso, sugiro que esqueça a ideia de encontrar um marido, minha cara.

— Eu... certamente cumprirei meu dever após o casamento...

— Dever? — Harry riu. — Foi por dever que estremeceu e suspirou sob o toque de minhas mãos?

Gina ficou tensa. Havia suspirado? Tremido?

Maldição! Jamais havia conduzido negócio semelhante. Como poderia controlar a situação, se ele a reduziu a uma massa trêmula com um simples toque?

— Basta! Está se divertindo comigo.

— Ainda não, mas apreciaria muito me divertir com você. Para uma criatura tão pequena, é surpreendentemente deliciosa.

— Ora... É assim que se comporta com todas as donzelas ino­centes?

— É claro que não. Não flerto com donzelas inocentes. Mas, caso me interessasse por elas, certamente não me contentaria com um beijo casto soprado da ponta de seus dedos. Sou um homem de apetites mais... vorazes.

Gina não duvidava disso. Havia nele uma sensualidade quase tangível, uma sensualidade que pudera sentir nos próprios lábios.

— Estamos apenas fingindo flertar. Não precisa me tocar com tanta... intimidade.

— Senhorita, por mais que tenha defeitos, não sou nenhum colegial desajeitado. Sei quando uma mulher aprecia meu toque, e posso afirmar que você estava gostando de sentir minhas mãos há pouco. Com um pouco mais de incentivo, você estaria implo­rando por toques mais íntimos. Uma ideia atraente, não?

— Ora, Sr. Potter...

Ele ergueu a mão ao perceber o rubor furioso em seu rosto.

— Não, não, minha cara. Não vamos discutir. Estou apenas tentando me certificar de que não vai desmaiar na primeira vez em que me aproximar de você em público.

— Ora, que absurdo. Eu nunca desmaio.

— Há também o fato de existir sempre um certo ar de cum­plicidade entre duas pessoas unidas por uma atração. Uma troca de olhares, a maneira como tentam se tocar sempre que possível...

— Desejo ser vista como uma dama que pode ser escolhida para esposa, não como uma prostituta.

— Vamos esclarecer uma coisa desde o princípio, Srta. Weasley. Pode ser muito perspicaz com relação aos negócios e a listas, mas é uma amadora em flertes. Eu, por outro lado, sou um especialista, motivo pelo qual me contratou, presumo.

— Sim, mas...

— Nesse caso, permita-me definir o que é melhor no tocante a essa proposta.

— É muito arrogante, senhor.

— E você é uma mulher de negócios que nunca encontrará um marido, se não dominar sua tendência a assumir o comando em todas as situações. Nenhum cavalheiro deseja uma esposa que está sempre disposta a passar por cima dele.

Era horrível, humilhante, irritante... mas ele estava certo.

Possuía uma natureza impositiva e o hábito de esperar que todos se curvassem à sua vontade. Devia ser consequência do fato de ter sido empossada como administradora de sua herança ainda tão jovem. A luta para controlar o próprio destino era árdua. Uma luta diária.

Gina encolheu os ombros.

— É difícil para mim. Estou acostumada a comandar.

— Então, talvez seja melhor voltar a Surrey, minha cara. Ne­nhum cavalheiro que se preze vai aceitar uma coleira.

— Não posso desistir.

— Por que não? O casamento é tão importante assim? Tem o que muitas donzelas sonham possuir. Segurança, riqueza e uma independência rara para uma mulher.

Era verdade. Mas seu pai dissera uma grande verdade pouco antes de morrer. Sentia-se sozinha. Desesperadamente sozinha.

— Fiz uma promessa a meu pai em seu leito de morte. E, na medida em que envelheço, percebo que desejo realmente ter uma família. Sem meus pais, minha casa em Surrey é só um lugar vazio.

— Entendo.

— Vai me ajudar?

— Depende de você. Vai seguir minhas orientações? Permite-me decidir como deve ser esse flerte?

— Sim, dentro dos limites do razoável. Não posso conceder total liberdade a um notório velhaco.

— Está insinuando que teme por sua virtude?

— Estou dizendo apenas que é um cavalheiro muito perigoso.

Ele sorriu e tocou seus lábios com a ponta do dedo.

— E você, minha cara, possui curvas perfeitas para as mãos de um homem. E lábios que podem me levar à loucura...


XXXXX



Havia sido simples entrar na casa elegante.


Simples demais, Rony reconheceu enquanto examinava a correspondência que encontrara na mesa de uma gaveta. A ver­dade era que estava entediado.

Que graça havia em frequentar os salões para ouvir conversas aborrecidas entre imigrantes franceses? Ou entre os diplomatas que atolavam na cidade? Qual era o prazer de seguir um ou outro simpatizante de Napoleão, gente que não tinha o bom senso de manter a boca fechada depois de alguns goles?

Até mesmo as poucas mensagens codificadas que interceptara e alterara para confundir o inimigo haviam sido brincadeira de criança.

Queria um desafio.

O pedido de Harry era uma distração bem-vinda. Era pouco provável que a donzela recatada e austera possuísse um segredo obscuro, mas havia sempre a esperança... Sabia que os mais res­peitáveis membros da sociedade mantinham hábitos chocantes.

Hábitos que chocavam até mesmo um homem como ele.

Rony examinava algumas cartas que havia encontrado no fundo da gaveta, quando ouviu passos no corredor. Passos silen­ciosos, cautelosos. Rápido, guardou as cartas, mas não teve tempo para fechar a gaveta antes de a jovem entrar na sala.

Era a amiga de grandes cachos castanhos da Srta. Weasley. Apenas mais uma donzela fútil. Não representava perigo para seu plano.

Os olhos castanhos examinaram a sala, causando nele grande sur­presa. Logo ela detectou a gaveta aberta e o viu perto da mesa. Um brilho de compreensão iluminou seu olhar.

— Lorde Ronald, o que faz aqui?

Assumindo o papel do almofadinha superficial, Rony a cum­primentou com uma mesura exagerada.

— Ah... Srta. Granger, não é?

— Sim.

— Que deliciosa surpresa. — Ele segurou sua mão e a levou aos lábios. O movimento permitiu uma generosa visão do colo farto. O calor que o invadiu como uma onda o surpreendeu, algo raro. — Não sabe há quanto tempo espero que nossos caminhos se cruzem.

— É mesmo? — ela sorriu com sarcasmo.

— Duvida de mim?

— Nossos caminhos já se cruzaram em muitas ocasiões, milorde. Talvez não tenha notado, simplesmente.

Rony sufocou uma tosse constrangida. Havia subestimado essa mulher. Mais uma ocorrência rara.

— Jamais seria desatento a ponto de não notar uma jovem adorável. Mas... devo confessar que só agora percebo que é uma mulher encantadora. Tirou-me o ar, minha cara.

— Está tentando ser lisonjeiro, por certo.

— Não. Raramente me deparo com tamanha tentação.

— Lisonjas, de fato. Estava procurando alguma coisa em par­ticular, lorde Ronald?

— Eu... queria papel e pena para deixar uma mensagem para a Srta. Weasley. Ela está ocupada no momento e, infelizmente, devo partir para atender a um compromisso.

— Uma lástima... Havia algo importante que gostaria de dis­cutir com a Srta. Weasley?

— Não, não. Nada grave ou urgente.

— Talvez eu possa transmitir seu recado.

Ele sorriu, reconhecendo sua inteligência.

— Diga apenas que espero vê-la no salão de lady Bones esta noite. E você também, minha cara.

— E por isso veio até aqui?

— É uma razão tão boa quanto qualquer outra, não?

— Se está dizendo...

— Estou. E agora, devo me retirar. Tenho um dia cheio pela frente. Espero que compreenda minha pressa. Até mais tarde, minha cara.

Sem esperar por uma resposta, ele deixou a sala e seguiu cau­teloso até o fim do corredor. Não poderia sair pela porta da frente sem explicar ao mordomo como conseguira entrar. Além do mais, sempre havia gostado mais das portas dos fundos.

Srta. Granger...

Hum... Teria de ficar atento. Ela era mais astuta que as outras jovens, e desconfiara de sua presença na casa da Srta. Weasley. Não podia permitir interferências.

Além do mais, para ser inteiramente honesto, a moça o intri­gava. De várias formas. Um sorriso distendeu seus lábios. De repente a vida já não parecia tão aborrecida.


XXXXX



— Ah, Harry, suponho que seja esta noite, afinal?


Relutante, ele desviou o olhar da porta e sorriu para o amigo.

— Eu não teria vindo a esse musical tedioso, não fosse por isso.

Rony olhou sorridente para a procissão de debutantes ner­vosas diante do salão. Era mais do que sabido na sociedade que só os membros de famílias condenadas, as solteiras desesperadas e aqueles que nunca eram convidados para mais nada compare­ciam a esses musicais.

— As árias soarão mais doces, agora que sabe que serão por­tadoras de uma boa soma em dinheiro.

— Talvez não tão doces, mas toleráveis, ao menos. Já viu a Srta. Weasley?

— Ansioso, meu amigo?

Sim, estava. E a constatação era mais do que peculiar.

Ou não? Em seu último encontro com a Srta. Weasley, sur­preendera-se ao descobrir que ela era tão intrigante quanto sus­peitara de início.

Não só era inteligente, mas também possuía uma natureza ou­sada e uma evidente capacidade de enfrentar o mundo sem re­ceios. Não havia nela dependência ou fraqueza. Havia, sim, uma encantadora vulnerabilidade sob a aparência de eficiência.

E havia aquele beijo...

Quem poderia imaginar que um cavalheiro com sua vasta ex­periência ainda seria pego de surpresa?

Pois havia acontecido.

O beijo tivera o propósito de mostrar à teimosa donzela que não seria tratado como um assalariado. Não se dobrava diante de ninguém. Diante de nada. Nem mesmo diante da indubitável for­tuna por ela oferecida.

Infelizmente, o tiro quase saíra pela culatra.

Mas não admitira seus sentimentos para o amigo, que nesse momento o estudava com um sorriso sonso. Já havia sido ener­vante sentir atração pela Srta. Weasley. Perceber agora que o desejo persistia... Não. Preferia manter tudo isso em segredo.

O cavalheiro de inteligência aguçada faria de sua vida um inferno.

— Quanto mais cedo isso começar, mais cedo terminará. E mais depressa poderei voltar a ignorar convites para eventos como o de hoje.

— Sim, as próximas semanas serão uma provação para você, sem dúvida. Espero que seus nervos suportem tanta tensão.

— Uma provação?

— Será forçado a comparecer a eventos mais próprios para uma debutante, e ainda terá de fazer o esforço adicional de levá-la ao parque ou ir visitá-la em sua casa.

— Estou preparado para fazer os sacrifícios necessários.

Rony levou o lenço rendado à ponta do nariz.

— Já pensou nas fofocas? Muitos cavalheiros invejam sua po­pularidade, e muitas mulheres vingativas se ressentem por não terem sido merecedoras de sua atenção. Essa gente pode espalhar rumores. As pessoas dirão que está tão desesperado por dinheiro, que não hesita em assediar uma jovem caipira com cheiro de feno.

— Pensei que aprovasse minha decisão de aceitar a proposta da Srta. Weasley.

— E aprovo. Só queria ter certeza de que está preparado para o que virá.

— Sabe muito bem que nunca me importei com o que dizem sobre mim.

— É verdade.

— Mais algum aviso ou conselho?

— Bem, prepare-se para o tédio de conversar com uma ado­lescente risonha e encabulada.

Harry não conteve uma gargalhada. Era evidente que Rony jamais havia trocado mais do que duas palavras com essa ado­lescente em particular.

— Posso garantir que a Srta. Weasley não é encabulada ou risonha. Não como está insinuando. Na verdade, ela é sensata a ponto de ser inquietante.

— Uma mulher sensata? Está brincando!

— Sei que parece improvável, mas ela não é uma mulher co­mum. Sabe que ela está no controle de sua fortuna e administra pessoalmente os investimentos deixados pelo pai?

— De fato? É estranho. Quem poderia imaginar tal coisa de uma caipira?

— Caipira? Ela tem a astúcia de um homem de negócios bem-sucedido, a língua afiada de uma matrona e o hábito de esperar que todos se curvem à sua vontade.

— Não! Isso é pior que uma donzela risonha!

— Na verdade, não é tão difícil lidar com ela. Só tive de ins­truí-la sobre quem está no comando.

— Ah, sim? E qual foi a exata natureza dessa sua instrução, meu caro Harry?

— Esse é um assunto que não pretendo discutir com você, meu bom amigo.

Rony riu.

— Só peço que se certifique de que suas instruções não o levarão à igreja mais próxima.

Era estranho, mas a insinuação do casamento não causou a repulsa habitual em Harry.

— Estou certo de que impedirá a ocorrência de tão assustadora hipótese.

— Não confie tanto em minhas habilidades. Não descobri nada de grande valor.

— Mas... descobriu alguma coisa, certamente?

— Apenas alguns contratos obscuros que pretendo analisar melhor.

— Contratos?

— É tudo que tenho no momento.

Harry gostaria de saber mais sobre os misteriosos documen­tos, mas um arrepio o fez olhar para a porta. Antes mesmo de vê-la, ele soube que a Srta. Weasley entrava no salão.

Ela chegava acompanhada por uma mulher da mesma idade e por uma matrona com a cabeça coberta por um turbante. Usava um vestido azul muito simples, e seus cabelos haviam sido penteados para trás e presos num coque sem grandes adornos. Era evidente que se preparara com alguma pressa e sem grande esmero.

Devia estar aborrecido. Sabia que muitas mulheres dedicavam horas aos cuidados com a aparência na esperança de atrair seu olhar. Afinal, era Harry!

Mas, no lugar de estar irritado, sorria da evidente falta de preo­cupação com sua opinião. Ela o desafiava de maneiras nunca antes experimentadas.

Ao ouvir o riso abafado do amigo, Harry se virou e viu que estava sendo observado.

— Qual é a graça?

— Vejo que se convenceu da farsa do flerte. Nunca o vi tão... ansioso.

— Cinco mil libras podem provocar esse tipo de reação.

— É claro. Vamos nos juntar a ela?

— Vamos? No plural? Obrigado, Rony, mas não preciso de você segurando minha mão. Sou perfeitamente capaz de conduzir um flerte sem sua assistência.

— Por mais atraente que seja a ideia de segurar sua mão, meu caro Harry, estava pensando em cativar a Srta. Granger. Tenho motivos para crer que ela desconfia das minhas intenções com relação à Srta. Weasley.

— Rony, qualquer pessoa de juízo desconfia de você.

— Muito engraçado. Temo que essas suspeitas possam preju­dicar minha investigação.

— Ah, sim... E espera cativá-la e fazê-la esquecer suas sus­peitas?

— Bem, esse é um dos meus mais desenvolvidos talentos.

— Ao lado da modéstia — debochou Harry. — Vamos.

Sem esperar pelo amigo, ele se dirigiu à mulher sentada em um canto do salão. Pessoas tentavam detê-lo, chamar sua atenção, mas ele seguia em frente com determinação e propósito, os olhos fixos na mulher intrigante que passara a ocupar seus pensamentos com frequência espantosa. Como se sentisse sua aproximação, ela ergueu os olhos.

Harry sorriu e segurou sua mão para beijá-la.

— Srta. Weasley.

Estaria enganado, ou o leve contato de seus lábios provocara um tremor? A expressão serena nada revelava.

— Sr. Potter, que encantadora surpresa.

— É um prazer revê-la. Já começava a perder a esperança de vê-la aqui.

Gina soltou-se com um movimento firme, embora delicado.

— Envolvi-me com a negociação de um pedaço de terra, e acabei me atrasando em voltar para casa.

— Deixou-me esperando... enquanto negociava um pedaço de terra?

Ela sorriu.

— Era um terreno importante.

A mulher tinha o poder de destruir o orgulho de um homem. Felizmente, era arrogante o bastante para não se deixar convencer por sua aparente falta de interesse.

— Ah, sim... Parece tensa. Algum problema?

— Não, é que... todos estão olhando para nós.

— Não era justamente isso que desejava?

— Sim, era, mas...

— Mas o quê?

Gina encolheu os ombros.

— Acho que estive relegada aos cantos escuros por tanto tem­po, que julgo enervante ser alvo de tão grande interesse.

— Logo vai se acostumar. — ele tomou sua mão novamente e a pôs sobre um braço. — Vamos dar uma volta pelo salão?

Houve uma pausa breve antes da resposta.

— Certamente.

Em silêncio, deixaram as sombras e caminharam pelo períme­tro da sala. Até Harry tinha consciência dos olhares chocados que acompanhavam seu progresso, da súbita incredulidade que pairava no ar. Mas sua atenção permanecia fixa na figura esguia que o acompanhava.

— Srta. Weasley?

— Sim?

— Não estamos caminhando para a batalha. Caminhar pelo salão implica mover-se com graça e elegância, não marchar como um soldado desesperado.

— Oh... — Ela reduziu o tamanho dos passos. — Desculpe-me.

— E seria melhor se sorrisse. Minhas atenções devem causar alegria, e você parece estar sofrendo um ataque de azia.

— Não é necessário ser rude.

— Sorria, Srta. Weasley.

Ela plantou no rosto um sorriso largo, porém falso.

— Está satisfeito?

— Poderia ser melhor, mas já é um progresso. Agora, fale-me sobre o tal pedaço de terra.

— O quê? Não pode estar realmente interessado!

— Temos de falar sobre alguma coisa. A menos que prefira que eu me mantenha calado, fitando-a como um pateta perplexo.

— Por Deus, não!

— Então...

— Bem, eu... estou considerando a ideia de construir uma hos­pedaria.

— Você? — Harry reagiu chocado. Gina sorriu de seu espanto.

— Não pretendo carregar pedras ou cortar madeira. Estou pen­sando em fazer apenas o financiamento do projeto.

— Sabe alguma coisa sobre administrar uma hospedaria?

— Fiz uma pesquisa bem abrangente, mas, mais importante que isso, contratei quem tem experiência no ramo. Meu pai me ensinou a pagar pelo melhor que há e sair do caminho, pois assim os empregados e contratados podem trabalhar e render o melhor possível.

Harry estava realmente intrigado. Sempre havia considerado o comércio sórdido e apropriado apenas para pessoas de pouca ética. Era um cavalheiro, afinal.

Mas a paixão que a Srta. Weasley dedicava ao trabalho era irresistível. Como seria ter tão grande interesse por alguma coisa? Poder mergulhar inteiramente em um empreendimento?

— Então, fornece o capital e se retira? Não creio que seja um bom método administrativo, Srta. Weasley.

— Não é bem assim. Primeiro faço uma previsão detalhada considerando o potencial de rendimento do investimento em questão. Depois, determino os variados custos, desde o investi­mento inicial até os custos diários de manter o empreendimento em operação. Também considero os gastos inesperados, como reparos, acidentes e roubos. Uma vez calculado o lucro, devo assegurar-me de que ele será maior que meu investimento. É inútil injetar dinheiro em uma empreitada destinada ao fracasso.

— Você me dá dor de cabeça — ele protestou rindo. — Tem certeza de que aprecia tarefas tão tediosas?

Ela o ofuscou com um sorriso radiante.

— É melhor do que passar o dia questionando a reputação alheia ou me deixando torturar por uma costureira.

Harry parou à sombra de um arco e, provocante, acariciou os dedos sobre seu braço.

— Há outras formas de entretenimento para encantar uma jo­vem mulher.

— Que tipo de entretenimentos?

— Se aprecia a arte, posso organizar uma visita particular à propriedade do duque de Northumberland, onde ele mantém sua coleção. Ou podemos ir visitar o British Museum — ele sugeriu com inocência debochada.

— Talvez.

— Ou a Torre da Abadia de Westminster. À noite, podemos ir ao teatro e ao Vauxhall. E, é claro, ao Astley's. Isso tudo sem mencionar as inúmeras celebrações planejadas desde a abdicação do Monstro da Córsega.

— Agora é você quem está me causando dor de cabeça. Fico exausta só de imaginar uma agenda tão frenética.

Ele deixou o olhar descer até a linha de seu modesto decote. Não precisava de grande esforço para lembrar a sensação de ter entre os dedos aquele mamilo juvenil. Um repentino calor o in­vadiu. Queria empurrá-la para a porta mais próxima e encontrar um lugar onde pudessem desfrutar de privacidade. Queria os lá­bios explorando os dele e despertando sua paixão. Queria sentir seu corpo colado ao dela e seus músculos rígidos de prazer.

Em vez disso, tinha de contentar-se com uma discreta aproxi­mação e seu doce perfume.

— Ah, prefere entretenimentos mais relaxantes? — sussurrou com voz rouca. — Ótimo. Eu também. A ideia de sentir nova­mente o sabor de seus beijos me encanta muito mais que uma noite aborrecida no teatro.

Um rubor delicioso tingiu suas faces.

— Senhor...

— Agora, sim, minha cara, parece uma mulher envolvida em um flerte. Tem o rosto corado e os olhos brilhando numa ante­cipação virginal.

— É só contrariedade, Sr. Potter.

— Não me convence. Não esqueci seus gemidos quando a beijei.

Ela recuou um passo e adotou uma expressão severa.

— Acredito que se diverte zombando de mim.

As palavras duras apagaram o sorriso do rosto de Harry.

— Há uma diferença entre zombar e provocar, minha cara. Não debocho de sua inocência, nem da deliciosa descoberta de que não é indiferente ao toque de minhas mãos. Isso vai tornar mais agradável o tempo que passaremos juntos.

— Mais agradável para quem?

Harry sentia o sangue ferver enquanto considerava todos os meios possíveis de agradar a essa mulher. Havia muitos, todos deliciosos.

E por que não? Seria cauteloso. Não esqueceria que essa era uma mulher inocente. Uma espécie rara para um homem com seu estilo de vida. Mas havia muitas formas de conduzir uma sedução sem realmente tomar-lhe a virgindade.

Seria um prazer iniciá-la nos caminhos da paixão.

— Para nós dois — respondeu. — É uma promessa...


XXXXX



Hermione conteve um sorriso. Lorde Ronald a seguia até a mesa dos refrescos. O casaco vermelho e a faixa amarela garantiam sua imagem de frivolidade estúpida, e para completar o conjunto ele abriu um cintilante leque chinês que sacudiu diante do próprio nariz.


Muitos o teriam julgado efeminado. Que cavalheiro normal se portaria daquela maneira?

Mas Hermione era observadora e perspicaz. Por isso notara a in­teligência nos olhos claros e a energia inquieta que parecia virar em seu corpo esguio.

Ele seria um adversário perigoso. Um bom teste para sua as­túcia.

Quando a tia de Hermione se afastou, lorde Ronald finalmente fitou-a com um sorriso vago.

— Diga-me, minha cara, conhece a Srta. Weasley há muito tempo?

Hermione assumiu aquela expressão tola da maioria das adoles­centes.

— Oh, não. Só nos conhecemos quando ela chegou a Londres para a temporada.

— Parecem muito íntimas para uma amizade tão recente.

— Realmente?

— Oh, sim. Ela é encantadora.

— Sim, muito.

— E talentosa, também. Dizem que tem boa cabeça para os negócios.

Hermione bateu as pestanas.

— Ora, lorde Ronald, então se interessa por aprender a mis­teriosa arte dos negócios?

— Por Deus, não! O que alguém como eu faria com tal conhe­cimento? Prefiro me concentrar em questões mais importantes.

— Quais, por exemplo?

— As fivelas dos meus sapatos e a maravilhosa bengala que mandei fazer sob encomenda. Um cavalheiro não pode se sentir completo sem uma bela bengala.

— É claro. — Hermione decidiu que era hora de dar ao homem uma dose de seu próprio remédio. — Oh, veja, lá está monsieur Ernesto McMillan.

Uma sutil rigidez denunciou a tensão do cavalheiro a seu lado.

— Sim, de fato. Já o conhece?

— Não, mas notei que sempre se interessa muito por ele.

— Eu? — Ele fechou o leque. — Absurdo! Faço o possível para evitar essa horda de imigrantes franceses que invadiu Lon­dres. São tão provincianos!

Hermione o encarou. Queria que ele entendesse que não permane­ceria passiva enquanto ele tentava prejudicar sua amiga.

— Quer dizer que não o encontrou na biblioteca durante o baile de lady Spinett e mais tarde, no jardim, após a soirée da Sra. Figg?

Houve um silêncio longo e chocado antes de Rony assumir uma expressão desconfiada e, sim, perigosa.

— Tem me espionado, Srta. Granger?

— Sou apenas uma jovem muito observadora, lorde Ronald. E muito dedicada à Srta. Weasley. Não posso ignorar ameaças à felicidade de minha amiga.

Uma emoção impossível de definir desfilou pelo rosto estreito. Não era raiva, felizmente. Surpresa, talvez. E até uma nota de desafio.

E então, inesperadamente, um sorriso autêntico distendeu seus lábios.

— Entendo.

— Espero que entenda — ela respondeu séria. Havia algo de perturbador naquele sorriso. Quase predatório. — E agora, se me der licença, vou ver se consigo uma taça de champanhe para minha tia.

— É claro. — Rony se inclinou enquanto levava os dedos dela aos lábios. — Concedo-lhe esse combate, minha cara. No entanto, previno-a de que estarei preparado para nossa pró­xima e deliciosa batalha. Até lá.

Hermione se obrigou a girar sobre os calcanhares e caminhar com dignidade, apesar de o coração galopar no peito.

Por Deus, o que acabara de fazer?

Uma coisa era imaginar-se enfrentando corajosamente o cava­lheiro sagaz e astuto. Provar que era igualmente rápida no racio­cínio e bastante perigosa à sua maneira.

Outra coisa era perceber que havia conseguido desviar a aten­ção de lorde Ronald de Gina... diretamente para si mesma.

Estava mesmo jogando dados com o diabo.


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