A Aurora escrita por rkaoril


Capítulo 4
Captura a bandeira noturna


Notas iniciais do capítulo

Mais um! Aqui aparece a primeira mistura de mitologias, porém, será explicada no próximo capítulo :)



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PESADELOS. Eu realmente nunca tive pesadelos. Em parte eu acho por que raramente dormia de noite, e o sono durante o dia não chega ao estágio que se tem sonhos ou pesadelos.

Nas raras ocasiões em que eu sonhava, eu sonhava que estava caindo: geralmente um prédio ou uma árvore, e então eu simplesmente caía – não me jogava ou era empurrada, apenas deixava a gravidade me levar. Eu via a escuridão da noite ao meu redor, os corvos voando comigo, sentia o vento contra mim, e quando estava prestes a cair eu acordava. Nunca pesadelos, apenas sonhos que estava caindo.

Até aquela noite.

Eu passei a noite toda na maioria como as outras, acordada de mais para dormir, me revirando inutilmente no cobertor térmico de Conor e sentindo o cheiro familiar do chalé 11. Diferente das outras noites passadas lá, eu não me sentia bem e familiar, ou aconchegante como de costume.

Eu me sentia insegura e cada mínimo barulho lá fora era irredutivelmente assustador, eu não podia evitar me desesperar. Cada vez que eu fechava os olhos me lembrava das cenas inexplicáveis que presenciei, cenas que eu nunca compartilhara com ninguém: meu pai se afogando no lodo negro, a professora de química resvalando no barro da escada e se afogando numa possa de lama. Tudo isso nunca teve explicação, e eu sabia que ninguém nunca acreditava em mim.

E se essa fosse a explicação de tudo? E se a terra, Gaia, Callieach ou quem quer que fosse estivessem manipulando tudo? Eu não conseguia me esforçar a dormir, eu não podia deixar o chalé sem me desesperar, eu me sentia tão inquieta na cama com minha hiperatividade que era assustador o modo como meu corpo tremia. Eu me virei então para o canto, fitando a parede, e foi quando eu adormeci.

Não compreendo como isso aconteceu, mais eu simplesmente apaguei. Sonhei algo estranho, esperando um prédio ou uma árvore encontrei uma montanha.

Nunca estive em montanhas antes, mais aquela tinha uma vista de perder o fôlego: era imensa, e abaixo eu só podia ver um branco cegante de neve e um risco arredondado azul que parecia ser um lago. A extensão abaixo – uma imensa floresta açucarada e o que parecia uma ponte de trem feita de pedra – era estonteante, então eu ouvi a velha.

Não exatamente ouvi, ou vi antes de virar a cabeça. Eu simplesmente senti que ela estava lá – uma presença fria, de um sentimento que eu não reconheci. Encarei-a, o que me arrependi imediatamente após fazê-lo: era uma mulher que não era negra, mais sua pele parecia escura ou suja com lama. Usava uma roupa e capa de um branco cegante como a neve, que se arrastava na mesma e era difícil deduzir onde começava o capuz e onde terminava a neve. Seus olhos eram duas bolas esbugalhadas em meio à um mar de rugas, de uma cor quase transparente. Ela tinha um cabelo branco como seu capuz, que era difícil distinguir do mesmo. A visão dela era aterrorizadora. Ela olhou para mim, seus olhos pareciam mortos e abertos, olhando para o nada.

– Eevelyn. – ela disse sem mover os lábios, o que foi ainda mais aterrorizante. Quando se moveu na minha direção, parecia estar flutuando – Vejo que me reconhece nessa forma, filha de Forbes. – ela disse, seu rosto inexpressivo.
– Você ... – eu gaguejei, a velha era o estereótipo de bruxa má - é minha inimiga. – eu disse, ela franziu o cenho.
– Isso é o que o seu coração diz Eevelyn Forbes? Ou o que seus companheiros lhe disseram? – ela flutuou em minha direção, sua mão com unhas imensas e pontudas tocou meu rosto, arranhando com uma dor agonizante embora eu tivesse decidido não gritar – Você ficará ao lado do Olimpo Eevelyn? Ou ficará ao meu lado? Posso lhe oferecer muito mais que uma mãe ausente que não se importa. – ela estendeu seu braço girando-o e contornando o vale.
– Aqui é Ben Curachan. – eu disse, reconhecendo a montanha nevada, as colinas que a seguiam, o lago lá longe no chão – Você... é a Bruxa de Curachan. – eu disse – Callieach.
– Sim criança. – ela me disse – Embora a maioria dos meio-sangues me conheça como Gaia, a mãe terra.

Nesse momento ela fechou seus olhos, sua forma se transformando. Sua capa desapareceu, transformando-se em emaranhados cabelos castanhos em tamanho comum. Ela se tornou mais alta, sua pele ainda tinha uma aparência suja de lama, mais ela parecia feita daquilo. Eu não poderia dizer sua idade – quinze? Trinta e cinco? – mais ela parecia mais jovem e mais forte do que aquela velhinha frágil. Ela estendeu uma mão para mim.

– Você vai ficar ao meu lado Eevelyn? – ela perguntou, embora com os olhos fechados, sua face ostentava uma expressão amável, na qual eu não me deixei enganar.
– Você matou meu pai. – eu disse, não era uma pergunta. Nesse momento, ela pareceu brava, completamente fora de si dando um passo sonâmbulo na minha direção, então abriu os braços me envolvendo em um abraço de terra.

Quando dei por mim, estava me afogando em lodo.


– EEVELYN! – gritava Travis me sacudindo pelos ombros – NÃO NOS DEIXE!
– NÃO ME SACODE ASSIM! – eu consegui dizer enquanto ele batia meu cérebro no liquidificador. Ele parou e então olhou para mim, seus olhos azuis muito preocupados.
– Você não morreu? – revirei os olhos.
– Eu preciso responder? – ele pareceu ligeiramente aliviado.
– Oque foi isso? – ele perguntou, me largando.
– Uh, nada. – eu disse. Ele não pareceu muito satisfeito.
– Ok, vamos tomar café. – ele respondeu desconfiado se virando para a multidão atrás dele – Vamos comer pessoal! – todos fizeram uivos de concordância, deixando o chalé – Você quer que eu te espere? – cruzei meus braços para ele.
– Ahhh não. – eu respondi, ele revirou seus olhos e saiu com seu bolço fazendo trim-trim de moedas. Suspirei desejando que não fossem minhas.

Quando eu decidi que estava decente o bastante para tomar café, corri para as mesas, entrando furtivamente entre Connor e Alice que sempre guardavam um lugar para os atrasados. Ambos me mandaram olhares inquisitórios, mais decidi não dizer nada desnecessários – um pesadelo com Gaia tentando te converter? Parecia ser algo que o inimigo faria, mais quem diria que não era simplesmente um pesadelo comum? Dei de ombros para eles, dizendo algo como não foi nada, esqueçam isso. Connor assentiu mordiscando uma panqueca, embora Alice parecesse desconfiada.

Quando vi a pilha de waffles, panquecas, suco de laranja, nescau e todos os tipos de pãezinhos, quase não percebi a garota ruiva sentada com Quíron na mesa principal.
– Ei! – eu cutuquei Connor com a boca cheia – Quem é a ruiva? – ele olhou para ela e deu uma mordida em seu waffle.
– É a Rachel, o oráculo. – minha original cara de ponto de interrogação traduziu oque eu queria dizer – Tipo, o espirito do oráculo vai passando para uma mortal destinada desde os tempos gregos e tal, então quando alguém sai numa missão ou algo importante está para acontecer, o oráculo dá uma profecia. – assenti para ele.

Depois disso, nem prestei atenção na garota, que agia confortavelmente se servindo de um farto café da manha assim como eu. Quando estávamos prestes a desistir de pegar mais um waffle com mel, Quírion se levantou tirando as migalhas da camiseta que dizia “melhor pônei de corrida – conferência dos centauros 1997” parecendo calmo e divertido.
– Os recados de hoje: primeiro, teremos uma captura à bandeira noturna essa noite. – ele disse, todos os chalés começaram a emitir murmúrios animados.
– De noite? Eles geralmente fazem de tarde! – exclamou Travis animado, Connor bateu os punhos com ele. Me senti um pouco animada, eu vinha melhorando na esgrima e era melhor de noite do que de dia, mais Alice pareceu desanimada com a ideia, apenas balançando a cabeça. Quíron tossiu para chamar atenção dos campistas.
– Continuando, os campistas dos chalés de Hefesto, Afrodite e Ares podem continuar na construção do Argo II se assim desejarem, enquanto que os outros são tão obrigatórios quanto de costume. Também damos as boas vindas novamente para o nosso Oráculo, Rachel Dare – ela sorriu e assentiu para que Quíron continuasse – e é isso, bom dia para todos!

Quíron se direcionou para a Casa Grande com Rachel seguindo em direção dele, deixando os campistas para suas respectivas atividades. Connor e Travis me puxaram para um canto, arrastando-me na direção da mesa de Ares – o que eu vinha tentado evitar, brutamontes não era comigo.
– Eaí Clarisse! – disse Travis, antes que eu pudesse me livrar deles.
– Vocês vão participar da captura à bandeira? – disse Connor, uma garota se virou pare eles da mesa de Ares.

Ela era totalmente assustadora, tinha um cabelo castanho encaracolado até as costas numa trança, olhinhos entre verde e castanho que eram pura irritabilidade e um sorriso orgulhoso.
– É claro que sim, onde já se viu perder uma captura à bandeira, quanto mais à noite? – ela disse para Trevis, que sorriu auspiciosamente estendendo uma mão.
– Aliança Sr. La Rue? – disse ele, ela fitou a mão seriamente, e então a apertou.
– Alguma ideia Travis? – ela disse sorrindo – Chamar o chalé de Atena ou chutar a bunda deles? – pensei que seria bem estúpido uma filha de Ares valentona (eu havia ouvido os boatos) dizer em chutar a bunda do chalé de Atena, eu sabia que inteligência vencia força bruta, mais decidi ficar quietinha debaixo das axilas deles.
– Naah – disse Travis – Deixe comigo La Rue. – eles bateram os punhos, então Clarisse fixou seus olhinhos de buldogue e mim, com uma expressão que seria.. assustadora? Não, eu não estava assustada, apenas admirada com a crueldade naqueles olhos.
– Quem é esse toco de gente? – ela perguntou para eles, me fuzilando com os olhos.
– Ela? – perguntou Connor dando batidinhas nos meus ombros – Nossa arma secreta. – olhei para Connor com minha cara de ponto de interrogação, ele apenas assentiu enquanto Clarisse explodia numa gargalhada.
– Ata, sei! E quando garotinhas começaram a ser armas secretas para o chalé de Hermes? Não tem homens fortes para fazer o serviço? – ela perguntou irônica, estava óbvio que não se importava se eu era uma garota, mais meu porte físico a incomodava.

Tentei estapeá-la, mais Travis me segurou.

– Você não sabe de estratégia Clarisse. – disse Travis e arrastando para longe dela – Deixe a parte difícil, pensar para nóis! – Clarisse desatou em palavrões para eles, mais parecia estar se divertindo falando baboseiras enquanto ia para suas atividades.
– O que nos sete infernos?! – eu perguntei para os dois.
– Na verdade são três. – Connor disse.
– E você será uma ótima arma secreta Eeve. – disse Travis me arrastando com Connor para minha aula de esgrima – Apenas faça o que eu digo, e não o que eu faço.
– É. – concordou Connor me empurrando para dentro do ginásio de esgrima.

Dentro do ginásio onde eu não tinha as axilas fedidas e cabeludas – ew – de Connor e Travis e sufocando, eu me sentia sonolenta embora tenha dormido na última noite. Pensar no sonho enquanto eu me sentava no chão esperando pelo meu instrutor era algo desconfortante, em primeiro lugar por que Gaia – ou Cailleach, ou o que seja – era ficou realmente assustadora quando eu toquei no assunto do meu pai. Primeiro ela fala mal da minha mãe, dizendo que era ausente. E então eu menciono o pequeno fato de que ela possivelmente matou meu pai e ela se escabela, não parecia alguém na qual eu queria me juntar. Eu olhei para a parede de tijolo à vista, e então algo passou pela minha cabeça.

E se ela estivesse certa? Uma mãe ausente que não se importa. Ok, ela iria acabar me reclamando na próxima semana ou mais cedo, mais por causa de um juramento. Ela não esteve lá para dizer ao meu pai que me teve - até onde eu sabia por Alice filhos e filhas de deusas eram levados em berços de ouro por Hermes aos seus pais. E ela nunca sequer pareceu cuidar de mim, ou se importar comigo ou meu pai. Ela deixou ele ser arrastado por raízes e afogado naquele lago congelado, gritando que eu pelo amor de Deus não me aproximasse ou seria arrastada também, deixou que a lama afogasse minha professora favorita naquela possa rasa. Ela não se importou em tentar me ajudar enquanto eu sofria bullying nas diversas escolas para crianças problemáticas desde que eu havia sido culpada por esses incidentes, não me consolou quando vovó Forbes se mostrava tão indiferente comigo. Até onde eu sabia, eu não tinha mãe.

Estamos em guerra com a terra. – disse Alice. Eu pensei sobre aquilo, Gaia não estava apenas contra os deuses, mais contra seus semideuses. E embora eu não estivesse muito satisfeita com a minha mãe, Gaia estava machucando meus amigos. Querendo ou não, o acampamento havia se tornado meu primeiro lar desde que meu pai se fora, e eu não trairia todos eles por que minha mãe não me deu um abraço no natal.

– Ei nanica. – disse Lance, me dando uma espécie de tapão nas costas retirando-me de meu devaneio – Hora de praticar.

Voltamos de onde tínhamos parado: eu deveria me esquivar e bater nele com a parte cega de Retaliadora, ou ele faria o mesmo comigo. Quando eu tinha tido sucesso mais ou menos umas vinte vezes – não consecutivas – Lance mandou que eu parasse e me examinou.

– Você é pequena. – ele concluiu – Não por que é nova, por que é pequena.
– Uh, valeu grandão. – eu disse rancorosamente.
– Não foi um insulto. – ele disse – Veja, você tem ombros e quadris estreitos, e sua altura e peso são bem pequenas. Você é rápida e tem bons reflexos, o que faz ser difícil de acertar. Basicamente, seu forte não é força, e sim agilidade. Se você treinar como usar isso, poderá bater quase qualquer oponente.
– Sério? – ele assentiu. Me lembrei de girar entre os lestrigões e dar diversos rolinhos escapando da fênix, fazendo eles parecerem atordoados.
– Vejamos, você tem que prever onde o inimigo vai atacar antes de tentar contra atacar. Quando o seu oponente fizer isso – ele levantou a espada com as duas mãos sobre o ombro direto – significa que ele quer te cortar ao meio, então suas opções de desvio são..,?
– Desviar para a esquerda?
– Não, se ele apoia a espada no ombro esquerdo irá provavelmente atacar para a esquerda diagonalmente. Quer dizer que você vai ter que rolar para a direita antes do ataque, assim, enquanto ele ataca a sua esquerda você está muito à direita para ser machucada, e terá uma brecha. – eu assenti – Vamos tentar, primeiro lentamente, e então normal.

Quando tínhamos repetido aquilo umas duzentas vezes com ele apoiando a espada em ambos os ombros e lentamente atacando, tudo estava normal. Eu tentava várias vezes decidir qual seria o melhor jeito de esquivar, tentando girar como nos lestrigões, dar rolinhos e simplesmente um passo para o lado, mais sua espada me pegava sempre pela cabeça ou quase mutilava minha orelha. Foi então que decidi me curvar um pouco e girar para sua esquerda ou direita, me safando facilmente de seus golpes com Retaliadora pronta para decepar sua cabeça.

Foi quando fomos no ritmo normal que ficou estranho. Basicamente, quando eu estava em velocidade real de batalha, a estratégia e esquiva antes treinada ajudou, porém, ele sempre parecia incerto sobre onde eu estava, ou onde estava meu pescoço e tronco, mirando em lugares ridiculamente afastados de onde eu realmente estava. Foi mais ou menos quando ele acertou a coluna dois metros de distância de mim que ele me mandou para a aula mais cedo, parecendo ter uma forte dor de cabeça. Aquilo me lembrava seriamente os lestrigões socando o ar diante de mim, mais eu resolvi não pensar sobre isso: era bobagem! Tudo bem que eu era tão branca que era quase transparente mais isso era um exagero. Segui para a aula do estudo de monstros e decidi me fixar em modos mais rápidos de derrotar dracnae.

– Certo! – gritou Connor para o pessoal do chalé onze enquanto Clarise berrava com seu pessoal – Alice, Brendon, Claire e John: vocês ficam de guarda! Suzan, Peter, Hales e Carrie: vocês ficam de meio-guardas para dar o sinal ao último grupo em caso de aproximação do inimigo e falha do plano!
– Não irá falhar! – gritou uma garota morena do chalé de Atena, até onde eu sabia, eles tinham chamado um punhado deles, mais não a conselheira do chalé.
– Ok Sierra, eu disse no remoto caso de falhar! Continuando, todo o resto com exceção de Eeve vai para o campo de batalha distrair o inimigo! – os campistas levantaram seus arcos, espadas e lanças em sinal de concordância, Connor me arrastou para o lado dos campistas de Atena. A menina morena, Sierra sorriu para mim por trás do seu elmo.
– Olá Eeve. – ela disse apertando minha mão – Eu serei rápida, as trombetas estão para soar. Olhe para lá – ela apontou uma trilha no meio das árvores – você enxerga o caminho? – estreitei meus olhos para a trilha, parecia um caminho evidente para mim, não uma trilha duvidosa pararia nos próximos vinte passos.
– Eu enxergo. – eu disse.
– Ok – disse Sierra, olhando seriamente para Trevis – você enxerga além? – olhei novamente para a trilha, e pude ver um sutil brilho azul no ponto mais longe que pude diferenciar. Fiquei sem fala por um momento, e então acenei. Sierra sorriu para Trevis e Connor – Vocês estavam certos caras. Ok Eeve, como você enxerga o caminho e é evidentemente rápida e pequena, e provavelmente silenciosa...
– Eu sou. – assegurei.
– ... você guiará Travis e Connor pelo caminho que você vê. Estaremos distraindo os chalés de Apolo, Afrodite, Hécate, Hipnos e Iris. Os outros chalés não temos certeza, mais temos um número maior de guerreiros e estrategistas. Você os guiará para lá e pegam a bandeira debaixo das barbas deles ok? – eu aceno, ela da umas batidinhas da minha armadura – Desculpe, não encontramos algo menos pesado. Você está bem? – aceno novamente.
– Como você sabe se é o caminho certo. – ela pisca para mim.
– Eu sei que é o caminho que você tem que seguir. - Com esse pensamento filosófico de uma filha de Atena sou arrastada por Connor e Travis até o começo da trilha.

Por mais que eu pudesse ver claramente uns vinte metros à frente até a luz azulada, Connor e Travis pareciam estar realmente perdidos num breu de escuridão. Fiz um tsc tsc para mostrar a eles onde estava, e com o punho no cabo de Retaliadora que jazia embainhada na minha cintura e quando as trombetas soaram, eu entrei na trilha.

Era estranho, mais eu a Srta. Falta de Senso de Locomoção, sabia exatamente onde estava cada raiz, cada folha e cada galho baixo no caminho até as luzes. Com um pouco de cuidado, eu conseguia passar por esses obstáculos naturais sem arranhões, mais olhando para trás eu vi Connor e Travis usando suas armas de bronze celestial para iluminar o caminho, completamente perdidos. Com uma grande ajuda minha e das armas, conseguimos avançar aquele trecho até a luz azulada, que de perto era ainda mais estonteante.

– Isso... – eu disse, fitando a chama azul. Era linda e extremamente brilhante, diferente de outras luzes que me queimavam os olhos. Parecia ter um trecho no ar como combustível, um balão feito de chama azul flutuando à um metro do chão. Isso me lembrava as histórias do meu pai sobre as Will-o-the-wisp. Era isso que vovó queria dizer na carta sobre lembrar das histórias? Algo dentro de mim dizia que eu não deveria prestar atenção às luzes simplesmente para ganhar um jogo de captura à bandeira, mas afastei esses pensamentos me virando para os garotos – Vocês conseguem ver? – eles pareciam perplexos.
– O que exatamente? – perguntou Travis – Você enxerga o caminho?
– Aham, venham por aqui.

Enquanto tentava guia-los pelo caminho que as luzes iluminavam, me lembrei realmente das histórias de meu pai. Will-o-the-wisp ou Jack O’Lantern, as luzes eram espíritos que podiam ser tão maus quanto bons, guiando camponeses perdidos para segurança, ou para um precipício que os mataria. Lembrava que ficar brava sobre isso com meu pai, dizendo que algo só poderia ser bom ou ruim, não o meio termo.

“Eeve.” Dizia ele “Não existe isso de bom ou ruim, eles nos guiam ao nosso destino, sendo isso bom ou ruim. Nós podemos seguí-los até o nosso destino ou podemos ignorá-los e se aventurar pelo breu da noite.” Então ele afagava meus cabelos “Quem decide se vai arriscara a sorte é você.” Então eu olhei para o meu caminho, as luzes nos guiando por um leve decline e me perguntando se estava guiando Connor e Travis para a vitória ou para a derrota.


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Notas finais do capítulo

Leiam a minha história atual - http://fanfiction.com.br/historia/434398/A_Feiticeira/