A Aurora escrita por rkaoril


Capítulo 21
...mas nem todas...


Notas iniciais do capítulo

Eaí pessoal? Pensaram que já tinha terminado? XD

O útimo capítulo é o próximo, e será acompanhado de uma Sneak Peek (O prólogo e único capítulo escrito em terceira pessoa) da próxima temporada!

Aproveitem!



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Capítulo 21 - ...mas nem todas...

De algum jeito, minha avó tinha conseguido provar no tribunal que eu não havia explodido a minha antiga escola nem morto o Sr. Félix e o enterrado em algum lugar, então eu fui completamente inocentada e minha ficha foi limpa. Mas mesmo assim, vovó havia feito muito progresso no tempo que eu estive no acampamento – ela tinha me matriculado em uma escola no Brooklyn (embora o lugar ainda me desse arrepios) chamada Escola Comunitária para Crianças Problemáticas do Brooklyn e tinha comprado um casinha em um distrito comercial pobre em Manhattan, o que me fez dar graças à deus que a escola nova possuía ônibus particular.

Em algum momento no meio das aulas, o inverno definitivamente se foi dando espaço para a primavera e lá estava eu discutindo com a minha avó sobre filmes antigos em vez de aproveitar o tempo quentinho e cuidar do nosso canteiro já morto pela negligência de ambas.

Com o tempo, a casa que após a mudança era organizada e bem arrumada foi se tornando um chiqueiro e voltado ao estado comum das casas que eu e vovó dividíamos. Nos retornamos à rotina – eu ia para escola, voltava, comia alguma coisa e jogava Call of Duty ou Tomb Raider no computador e vovó saía para fazer as compras ou ficava no sofá assistindo novelas mexicanas constantemente reclamando sobre os muchachos bigodudos e sobre pimenta (embora nem sempre essas coisas aparecessem nas novelas).

E após longos meses, o verão estava finalmente chegando – e embora eu detestasse a estação por ser quente, abafada e malcheirosa – eu estava feliz por poder voltar ao acampamento. Mais ou menos no fim da primavera, eu estava indo pegar um sorvete na nossa geladeira empanturrada de porcarias – vovó era um desastre na cozinha, e embora eu fosse realmente boa nisso eu era também muito preguiçosa – e subi de novo para o meu quarto pronta para humilhar alguns nazistas quando eu vi a mulher em pé do lado da minha cama.

Instantaneamente eu larguei o pote de sorvete, que caiu espalhando a pastosa mistura de leite, conservantes, corantes, gordura trans. e sabor artificial de morango no carpete azul escuro do meu quarto. Eu comecei a gaguejar algo ininteligível quando a mulher se virou para mim.

Ela parecia uma daquelas senhoras da época da minha avó embora fosse jovem. Ela usava um vestido preto modesto, com um chapéu com véu e luvas da mesma cor e tinha uma pele oliva pálida, com olhos castanhos que eu achei extremamente familiares. Ela também parecia muito apreensiva, esfregando as mãos e olhando desesperadamente para mim.
- Você é Eevelyn? – ela disse com um sotaque italiano muito forte.
- S-sim. – eu consegui dizer. Milhares de respostas impertinentes tinha aparecido na minha cabeça (eu estava realmente cansada desse pessoal estranho sabendo o meu nome) mas eu fiquei ainda mais nervosa quando vi que a mulher estava ficando transparente.

Um fantasma.

No meu quarto.

- Então – ela disse, seu sotaque tão forte que era quase incompreensível – você é a garota. Eu estou realmente encantada em conhece-la, mas a situação não é muito boa.
- Uh – eu disse, meio pasma. É claro que não é boa! – eu queria gritar – Há um fantasma no meu quarto! – Qual o problema, senhora? E aliás, qual seu nome?
- Eu sou Maria di Angelo – ela disse – E eu vim por causa do meu filho. – eu fiquei momentaneamente sem resposta.
- Oque... aconteceu?
- Ele... – ela disse, e eu juro que seus olhos ficaram molhados – ele... – ela soluçou – ele caiu no tártaro.

Se eu dissesse que meu estado de espirito havia seguido o sorvete e se esparramado no chão, talvez até descido pela madeira velha e pingado no teto abaixo dos meus pés, você iria acreditar?

Eu não poderia estar vendo o meu rosto, mas senti toda a cor indo embora e deixando uma situação de torpor. Eu me apoiei na escrivaninha antes que pudesse cair no chão junto com o meu estado de espírito e o sorvete, e respirei profundamente antes de responder.
- Como... – eu disse, minha garganta fechada como os cofres públicos – como isso aconteceu?
- Ele.. – ela disse, tirando um lenço fantasmagórico do bolço e secando os olhos em vão – ele estava tentado ajudar seus amigos do acampamento... então veio o gingante e...

Eu parei de ouvir. De repente, eu estava de volta a minha visão do tártaro – a magia doce e maligna como um veneno ao meu redor, o rio de sangue, o cheiro podre, a falta massiva de luz e o corredor de ossos. Sem falar nos monstros, os sussurros que me enlouqueciam.

Tudo de volta, toda a sensação. E imaginar Nico naquele lugar era como um soco no estomago seguido de respirar álcool – insuportável. Então Maria di Angelo puxou a minha mão e eu olhei seu rosto suplicante, aqueles olhos familiares era tão parecidos com os de Nico que só ajudou a me fazer sentir pior.
- Por favor – ela suplicou – os outros, eles não vão priorizar salvá-lo. E eu nem sei se é possível, mas você é minha última esperança. – eu olhei para ela por um segundo, sabendo que eu não tinha ideia de como tirar ele de lá. Mas mesmo assim, as palavras jorraram da minha boca.
- Senhora, eu prometo que eu vou dar tudo de mim para tirá-lo dali. – eu disse – Eu não vou descansar até que ele esteja em segurança.
- Obrigado. – ela disse, e antes que a lágrima um de seus olhos terminasse de deslizar por sua bochecha e caísse de seu queixo, ela se foi.

Eu então cambaleei até a minha cama, e fiquei um bom tempo lá.

Eu não chorei, eu não gritei, nem mesmo ri da situação como costumava fazer em momentos infelizes – apenas fiquei lá, imóvel, pensando que aquele garoto solitário que os semideuses não suportavam, aquele garoto doce e triste por trás de uma máscara sólida de sarcasmo e ironia estava sozinho no tártaro, sem ninguém para o ajudar.

Eu então encarei o meu teto, que eu havia colado estrelinhas fosforescentes para me lembrar do chalé 23 do acampamento e as palavras dos outros deslizaram pela minha mente.

Apenas siga em frente.
Não tente interferir no destino, ou apenas vai ficar pior.
Por favor... você é minha última esperança.

E lá veio a profecia de novo, queimando por dentro com seu significado nojento.

Escolherás entre o que é certo e o que te importa, e no fim, perderás aquele que te conforta.

E lá estava eu. Sozinha fitando as estrelas verdes no teto e escolhendo errado, e sabendo que que a minha vida iria se tornar um caos de infelicidade e talvez eu perdesse o único lar que já tivera, mas mesmo assim eu não mudei de ideia.

Talvez por que meu pai implorara para Nico me ajudar, e ele tinha feito isso, e agora sua mão fazia o mesmo e eu tinha que retribuir o favor.

Ou talvez não.

E lá no fundo, eu sabia que talvez não era a resposta certa.


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