At The Ballet escrita por Luiza Brittana4ever


Capítulo 23
Contratempo


Notas iniciais do capítulo

Olá
Voltei! Espero que gostem desse capítulo! Detalhes, detalhes...
Então, para não perder o costume, boa leitura!



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Aquela era a verdadeira Brittany.
As palmas foram ouvidas, mas Brittany estava num linha tênue onde conseguia apenas ouvir seu coração batendo rápido. Santana sorria para ela e Brittany respondeu o sorriso, piscou o olho esquerdo e seu corpo fora espremido pelo de sua avó.
–Ela é uma ótima bailarina, não? -perguntou Oliver para Santana e o olhar vidrante para a esposa.
–A melhor que já vi, senhor. -disse Santana sorrindo.
–Eu me preocupo muito com ela. -sussurrou Oliver e seu campo de visão enquadrava Santana. -Ela é tão delicada... E tão forte. Eu tenho medo por ela do que pode, e vai, acontecer...
–Senhor Oliver? -perguntou Santana, o homem a focalizou e sorriu. Santana sorriu para ele.
–Não se preocupe com essas frases soltas, minha querida. -disse Oliver rindo. -Eu preciso que alguém cuide dela quando tudo acontecer. Eu posso confiar em você, querida?
–Com o meu coração. -disse Santana sorrindo e foi abraçada pelo homem grandalhão.
–Vovô. -disse Brittany sorrindo com a cena. -Acho que você já conheceu a Santana?
–Conheci. -disse Oliver. -Ela é melhor do que eu espera, Bonequinha.
–Olly! -disse Belle seguindo Brittany. -Ela não gosta que a chamem de bonequinha na frente dos outros...
–Eu não me importo, vovó. -disse Brittany sorrindo para a senhora.
–Ela não se importa, Bell. -disse Oliver.
–Tudo bem, então. -disse Belle conformada. -Bonequinha, você está usando as calcinhas que eu te dei? Eu ainda acho que ficaram pequenas...
–Vem aqui, vovó. -disse Brittany vermelha. Puxou a sua avó um pouco para o lado ignorando as risadas de Oliver e Santana. -A senhora poderia deixar o assunto da calcinha para depois...
–Bonequinha.
–Do jantar? -concluiu Brittany. Ela abraçou o corpo de sua avó e sentiu o cheiro de seu perfume.
–Bonequinha, eu te amo. -disse Belle rindo. -Mas te deixar vermelha me faz mais próxima de você e se para isso teremos que falar sobre calcinhas...
–E então?
–Eu posso esperar o jantar. -concordou Belle. -Mas apenas porque vou poder te chamar de bonequinha.
–Só para falar rapidamente... -disse Brittany abaixando a voz. -Talvez duas tenham ficado pequenas demais.
–Eu sabia! -disse Belle alto. -Eu conheço a bunda da minha neta!
Diane puxou Belle rindo tanto que lágrimas escorriam por sua face. Brittany voltou de cabeça baixa até Oliver e Santana que tentavam fingir que não riam, mas falharam.
–Bonequinha, por que você não descansa um pouco? -sugeriu Oliver pegou seu copo de bebida e beijou o topo da cabeça de Brittany. -Você dançou lindamente, como sempre.
Oliver foi se sentar com George e Howard, deixando as duas numa mesa.
–Eles vão servir o jantar daqui a pouco. -disse Catarina olhando para as duas. -Por que não sobem um pouco? Acho que precisam de ar.
–Santana! -chamou Joanne quando ela se levantou e seguiu Brittany em direção à escada. -Onde você vai? O jantar...
–Eu vou apenas no banheiro. -disse Santana calmamente para sua mãe.
–Tudo bem. -disse Joanne. -Lave as mãos!
Santana olhou para a escada e Brittany não estava mais lá. Ela tentou escutar passos, mas não conseguia pelo barulho de conversas. Ela chegou ao primeiro andar e olhava para as portas e corredores procurando algum rastro de luz. Foi até o segundo andar e não encontrou Brittany e assim fez com o terceiro. Quando ia voltar por um corredor e procurar novamente, ela se lembrou que Catarina havia falado sobre "precisar de ar" e seguiu para o quarto onde dormia nas poucas ocasiões que aconteciam para tal ato. Era um dos únicos quartos da casa com varanda e janelas imensas. Santana ia levar o punho a porta mas a porta estava encostada e decidiu chamar por Brittany.
–Britt? -chamou Santana quando não ouviu nada. Ela abriu a porta e caminhou até a varanda, sabendo onde Brittany estava. -Eu achei você.
–É, você sempre me encontra. -disse Brittany sorrindo e se encolhendo no banco para Santana se sentasse.
–Eu trouxe essas flores para você. -disse Santana lhe entregando o buquê de lírios. -São em comemoração.
–Obrigada, Sant! Elas são lindas! -disse Brittany cheirando as flores. -Comemoração?
–Sim. -disse Santana e segurou a mão livre de Brittany. -Eu as comprei com intuito de ver um espetáculo e te presentear depois.
–Eu queria falar com você sobre isso. -disse Brittany olhando para Santana.
–Britt, eu vi um espetáculo hoje. -disse Santana sorrindo. -Você ama dançar.
–Eu amo você. -disse Brittany baixinho.
–Eu te amo. -disse Santana sorrindo. -E é por eu te amar que eu sei porque você não quer atuar. Você não precisa provar nada, Britt. As pessoas que te amam sabem que você nasceu para dançar.
–Você acha? -perguntou Brittany abraçando o corpo de Santana.
–Eu tenho a absoluta certeza que aqueles que te amam querem apenas que você siga seus sonhos, Britt. -respondeu Santana acolhendo o corpo frio de Brittany. Já era noite e esfriava. -Eu quero que você siga seus sonhos.
–Obrigada. -disse Brittany com a voz engasgada.
–Uma pequena observação. -disse Santana sorrindo. -Você estava maravilhosa.

Santana ajudou Brittany a tirar a roupa que usou para dançar e a colocar um vestido comum. Elas desceram e as conversas diretas e paralelas enchiam a sala de vida. Diane, Lalita e Belle riam num canto da sala. Rachel e Beth compartilhavam um brinquedo que haviam ganhado de sua avó. Howard, George e Catarina estavam conversando enquanto bebiam numa das mesas. Oliver e Joanne estavam conversando e os olhos de Joanne captaram rapidamente Santana descendo com Brittany, ela respirou fundo e continuou a conversa, decidindo ignorar, novamente. Julieta estava na parte externa da casa, fumando um cigarro. Ela não gostava de fumar, achava o cheiro horrível. Quando ela foi para Paris, ela começou a gostar. Paris foi um marco em sua vida, fumar foi a única coisa boa que lhe aconteceu.
–Eu ainda não acredito em vocês! -disse Catarina rindo. -Vocês não podem abrir um laboratório!
–Não vamos abrir um. -alertou Howard.
–Mas podemos investir em um. -disse George.
–Eu acredito no conhecimento de que esses laboratórios proporcionam para a sociedade, mas mesmo assim. -disse Catarina. -Pensem muito bem.
–Nós não vamos fazer isso. -disse Howard rindo. -Não nesse tempo.
–Eu concordo. -disse George. -Não podemos nos arriscar tanto.
–Bem, vocês sabem minha opinião. -disse Catarina sorrindo. -Eu não acho que esse tempo vai passar tão rápido.
–Eu concordo. -disseram os dois homens.
–Joanne está me chamando. -disse George se levantando. -Com licença.
–Quando você vai falar com a Brittany? -perguntou Catarina levando a taça de vinho à boca. -Você acha que ela vai receber bem?
–Eu acho que não. -disse Howard. Ele tentou relaxar os ombros, mas ficaram ainda mais tencionados. -Ela... São tempos difíceis.
–Eu sei que são. -respondeu Catarina, ela segurou a mão de Howard e aproximou seu rosto do dele. -Mas ela merece uma explicação. Ela é mais importante que tudo que está acontecendo.
Howard beijou os lábios de Catarina. Catarina fechou os olhos devagar, quando ela beijava Howard seus pés flutuavam e ela deixava de tocar o chão. Ela sorriu.

Julieta ainda estava na parte exterior, sentada num banco de ferro. Ela olhava para as luzes ao longe. A casa de Diane era afastada da cidade, mas não muito. Ela tirou mais um cigarro da capa e colocou entre os lábios. Acendeu o cigarro e deu a primeira tragada. "Idiota..." Ela pensava, uma voz conhecida murmurava em sua cabeça. Enquanto ela estivesse fumando, a voz sumia por um tempo. Mas o cheiro do cigarro francês lhe trazia lembranças, ela não tinha muitas escapatórias. "Idiota..."
–Você não está com frio? -perguntou Anna para Julieta. -Você deve estar congelando.
–Eu não me importo muito com a minha carne. -respondeu Julieta cínica.
–Deveria. -retrucou Anna. -Deve ser a parte mais importante do corpo.
–E o cérebro?
–Não congela no frio da noite. Nem quando pensamentos o perturbam.
–E o coração? -disse Julieta. Ela não sentia simpatia, mal sentia o próprio coração. -Um segundo parado. Um último batimento. O fim da linha.
–Não deixa de ser verdade. -disse Anna, ela achou Julieta macabra, talvez o frio que ela estava falando mais cedo saísse dela. De dentro para fora. -Mas se você se preocupar com as últimas batidas, ele nunca vai bater direito.
–Agradeço a sua preocupação. -disse Julieta jogando o cigarro no chão e pisando em cima. -Mas eu realmente não me importo.
Julieta passou por Anna e entrou na casa. Anna riu. Riu da facilidade que aquela mulher tinha de se ausentar, riu porque ela não acreditava que alguém fosse tão cínica. Anna entrou pela porta dos fundos, rapidamente voltando ao seu trabalho.

–O jantar está servido! E quero agradecer por terem vindo! É ótimo podermos juntar nossas famílias! -anunciou Diane sorrindo para as pessoas pálidas de fome. -Acho que gostarão do que as meninas fizeram! Bell, venha se sentar aqui! Você também, Oliver!
Todos se sentaram em suas cadeiras. O cheiro invadia suas narinas, os ombros se contraíam em sinal de aprovação. Rachel e Elizabeth sentaram-se com Santana e Brittany.
–Rach? -chamou Catarina. -Você pode trocar de lugar comigo por um minuto?
Rachel assentiu com a cabeça e se levantou. Catarina apenas se sentou na ponta da cadeira e virou para Santana e Brittany.
–Você está melhor, Britt? -perguntou Catarina.
–Estou sim, obrigada. -agradeceu Brittany sorrindo. -Você me ajudou bastante hoje.
–Você sabe, querida. -disse Catarina sorrindo. -Tudo que precisar, tudo mesmo, não exite em pedir. E em casos extremos, podemos debater o assunto.
Brittany e Santana riram porque sabiam que Catarina faria exatamente aquilo.
–Eu estou bem. -disse Brittany. -Se você não aparecesse naquele momento, eu poderia ter enlouquecido!
–Ela sempre aparece nos melhores momentos. -disse Santana. -Sempre.
–Bem... -disse Catarina. As bochechas ficaram um pouco avermelhadas. -Eu acho que é um dom!
Brittany riu baixinho e subiu a ponta dos lábios um pouco.
–Talvez eu precise de algo. -disse Brittany sorrindo. Ela se levantou e foi até Catarina e sussurrou em sua orelha. Catarina sorriu, mas foi interferido por uma face estranha. -Você acha que pode me ajudar?
–Britt. Eu faria com todo o prazer! -disse Catarina, o rosto tentando permanecer com o sorriso. -Mas... Mas seu pai pediu que você fosse sozinha para casa, porque ele precisa falar com você.
–O que aconteceu? -perguntou Brittany baixinho.
–Eu não... Ele vai falar melhor com você. E vocês precisam disso. -disse Catarina baixinho. Ela abraçou o corpo de Brittany e se levantou. Passou por Santana e sussurrou em seu ouvido. -Precisamos conversar.
–Eu não gostei nada disso. -disse Brittany olhando para Santana. Rachel havia voltado para o seu lugar e devorava uma parte da salada de entrada. -Eles querem falar sobre nós duas...
–Você acha que é sobre... -disse Santana. Era engraçado, havia momentos, a maioria deles, em que elas não precisam falar porque se entendiam por gestos. -Não...
–Eu não sei. -disse Brittany furando um tomate miúdo. -Mas que espero que não seja. Eles não vão voltar atrás. Ou vão?
–Não. -disse Santana segurando a mão de Brittany por baixo da mesa. -Eles nunca fariam isso. O meu medo é ser pior do que estamos esperando.

–Céus! -disse Diane na ponta da mesa. -Eu perdi a conta de quantas taças de vinho eu já tomei.
Ela começou a rir e Belle também riu, Lalita apenas negava com a cabeça rindo pelas narinas.
–Eu nunca conto. -disse Oliver. -Eu tenho medo do resultado.
Diane riu ainda mais. -Eu injetei diversas agulhas em pessoas, e eles ficam assim. Com pouca noção do mundo.
–Você era enfermeira? -perguntou Belle.
–Ainda sou, mas recebi uma carta de afastamento.
–As únicas vezes que estive no hospital foi para ficar com Oliver que vinha sempre arrebentado, aberto dos conflitos contra a França. -disse Belle negando com a cabeça. -Uma cena de horror, se querem saber.
–Meu marido participou desses conflitos. -disse Diane dando um gole em seu vinho. Lalita levantou a sobrancelha direita e franziu os lábios.
–Qual era o nome dele? -perguntou Oliver. -Talvez tivéssemos servido na mesma trincheira. Suponho que ele ainda era apenas um soldado, como eu na mesma época.
–Era sim, um soldado. -disse Diane e soltou uma risada. -Mas você não o devia conhecer. Ele era francês.
–Um dos homens de branco. -disse Oliver rindo.
–Sim. O nome dele é Jean. Um desgraçado, mas um bom pai. -disse Diane. Lalita, e não sabia porque, sentiu mais alivio por ouvir Diane falando mal de Jean, do que bem.
–Conhecemos muitos franceses, principalmente na viagem de Paris! -disse Belle.
–Parece ter sido uma viagem magnífica. -disse Diane. -Nós temos que ir para Paris! Os quatro! Mas me fale mais sobre essa viagem!
–Eu começo por onde, Olly? -perguntou Belle, ela tomava o último gole de vinho em sua taça e Diane já colocava outra dose.
–Pelo homem de toalha, é claro. -disse Oliver rindo.
–Vocês vão adorar essa história! -disse Belle rindo.
Belle começou a falar, talvez fosse o álcool falando com ela, mas ela estava mais solta do que ela própria já é. Oliver ressaltava os detalhes que considerava importante e Diane olhava para os dois vidrados. Lalita olhava para Diane vidrada e como um impulso, levou sua mão até o joelho de Diane. Sem nem desviar o olhar, Diane levou sua mão até a mão de Lalita que sentiu que ia ser arrancada, mas não. Diane percorria pelos dedos de Lalita, ainda olhando para Oliver e Belle.

Quando a maioria estava se preparando para ir embora, Catarina puxou Joanne até um quarto no primeiro andar. Joanne acendeu a luz e se jogou na cama, exausta.
–O que foi, Catarina? -perguntou Joanne. Ela podia sentir os olhos abaixarem lentamente. Eles pesam e Joanne sentiu o colchão macio falando com seu corpo.
–Eu preciso conversar com a Santana. -disse Catarina. -Preciso esclarecer algo para ela. Pedi para a mamãe que nos deixasse dormir aqui hoje.
Joanne pulou do colchão, não importa o quanto estivesse cansada, ela sempre estaria atenta a assuntos que se diziam respeito a suas filhas.
–Não... -respondeu Joanne calmamente. -Eu sei o que você está fazendo.
–O que eu estou fazendo? -perguntou Catarina arqueando a sobrancelha. Diferente de Joanne, ela estava bem acordada. -Eu quero apenas falar com ela.
–Ela mal dorme em casa. -murmurou Joanne.
–Você não pode controlar a vida dela. -disse Catarina se sentando ao lado da irmã. -Não para sempre. É como a história dos pássaros, você se lembra?
–"Quando um pássaro se sente muito pressionado a tendência dele é deixar o ninho. Quanto mais pressão o passarinho sofre, mais rápido ele deixa o ninho." -recitou Joanne com uma monótona pelo sono.
–Muito bem. -disse Catarina. -Um dia, a Santana vai voar. Não faça com que ela voe mais rápido.
–Não diga como cuidar da minha filha, Catarina. -disse Joanne. -Eu sei, você sabe que ela está voando muito.
–Eu nunca disse como você deve cuidar das suas filhas, Joanne. -disse Catarina. -E eu nunca vou dizer porque te acho uma boa mãe. EU não sou mãe. Eu sou tia.
–Desculpe. -disse Joanne esfregando os olhos. -Eu apenas ando estranhando... Me preocupando com Santana.
–Você não deveria. -disse Catarina de repente.
–A Brittany vai dormir aqui? -perguntou Joanne se levantando.
–Não, o Howard vai ter uma conversa importante com ela. Mas eu não entendi...
–Então, sim. Ela pode dormir aqui. -disse Joanne interrompendo Catarina e abraçando o corpo da irmã. -Estou exausta. A traga com segurança, por favor.
–Claro. -disse Catarina sacudindo a cabeça. Joanne deixou o quarto. Catarina respirou fundo. -Santana.

Enquanto Catarina e Joanne estavam conversando, Santana e Brittany foram até a varanda do terceiro andar, dando a desculpa de buscar as roupas e sapatilhas de Brittany.
–Você está nervosa. -disse Santana se sentando no banco. Brittany fechou a porta de vidro e se sentou ao lado de Santana.
–Eu sei. -disse Brittany. -Mas antes de falarmos sobre o que eles não podem contar para a gente na frente de todos, quero te dizer uma coisa. Te perguntar, na verdade.
–O que foi, Britt? -perguntou Santana olhando para ela. Segurou sua mão e indicou com a cabeça que ela podia lhe contar qualquer coisa.
–E se... -Brittany travou e fechou os olhos. Respirou fundo e soltava devagar.
–O que foi?
–Eu não quero mais esconder. -disse Brittany abrindo os olhos e olhando para Santana.
–Eu sei que é difícil, mas você parou para pensar? -perguntou Santana.
–Eu só não quero mais fingir ser sua amiga... -disse Brittany cansada. -Eu não sou apenas sua amiga.
–Nós não somos apenas amigas, mas a maioria das pessoas acham que sim. -disse Santana.
–Santana! As pessoas já olham feio para gente! Não vai mudar nada!
–VAI! -gritou Santana. -E É FÁCIL FALAR QUANDO O SEU PAI TE ACEITA!
Santana levou a mão na boca e arregalou os olhos. Brittany engoliu a coisa ruim que subia por sua garganta. Santana nunca havia gritado com Brittany, elas não precisavam, mas naquele momento Santana sentiu a necessidade de mostrar a angústia que sentia.
–Britt... -sussurrou Santana. -Me desculpe, eu...
–Esquece. -disse Brittany limpando uma lágrima que escorria pelo seu rosto. -Esquece que eu disse isso.
–Eu não vou esquecer. -disse Santana. -Não agora que você ficou magoada.
–Por que você acha que tudo que você fala me magoa? -perguntou Brittany falando baixo. -Apenas esqueça, Santana.
–Brittany...
–Eu sei que você está assustada. -disse Brittany olhando-a. -Você está assustada porque você não sabe como seus pais vão reagir. Isso é pior do que saber como eles vão reagir.
Santana a olhou, o rosto um pouco baixo, mas os olhos diretamente em sua direção. Brittany se levantou.
–Santana, apenas esquece que eu disse aquilo, está bem? -disse Brittany destrancando a porta de vidro e entrando no quarto, Santana a acompanhou.
–Por que você está chateada, então? -perguntou Santana. -O que está te aborrecendo que você precisa descontar em algo?
–Descontar? -perguntou Brittany parando de socar as roupas em sua bolsa. -Você acha que o fato de eu querer que todos saibam o que nós temos, tem haver com o fato de que eu estou tentando me desviar de outra coisa?
–Me diga você. -disse Santana, parando as mãos de Brittany. Ela sentou o corpo de Brittany na cama e ficou em pé.
–E-eu... Não! Não tem! -disse Brittany. -Me desculpa se tudo que quero fazer é ser honesta.
–Eu só estou pedido paciência... -disse Santana ficando de cócoras. Ela prendeu uns fios soltos de Brittany atrás da orelha. -Não é fácil. Nós tínhamos combinado isso, que só iríamos contar pra todo mundo quando estivéssemos prontas.
–Eu estou pronta, você não está?
–Eu não estou. -disse Santana. -E acho que precisamos estar na mesma página, não precisamos?
–Você fala como se fosse minha culpa. -murmurou Brittany.
–O que aconteceu? -perguntou Santana preocupada. -Por que você está assim?
–Esquece. -disse Brittany. -Eu vou descer. Me encontre no nosso lugar do parque amanhã, amiga.
Brittany agarrou sua bolsa, pressionou rapidamente seus lábios sobre os de Santana e desceu rapidamente. Santana se sentou na cama, a boca aberta, não conseguia acreditar. Não conseguia, não podia e não queria.

–Santana! -chamou Catarina quando entrou no quarto aceso. -Querida...
Santana estava com o corpo tampado e a cabeça virada para a parede. Ela chorava baixinho. "Algo errado. Eu fiz algo errado. Eu devia... Mas eu não estou pronta! Por que ela ficou brava? Por que eu gritei com ela? Eu não estou pronta!" Catarina se deitou e puxou o corpo de Santana fazendo com que a cabeça de Santana sobre seu colo.
–E-eu...
–Tudo bem. -disse Catarina acalmando Santana. Ela fazia carinho na cabeça de Santana. -Você quer me contar o que aconteceu?
Santana ficou em silêncio. Catarina olhou para aquela menina, sua sobrinha, uma criança ainda, que não conhecia muito da vida, mas que tinha situações intensas acontecendo com a vida que ela tinha agora.
–Britt quer que a gente conte para todo mundo. -disse Santana limpando as lágrimas que caíam. -Mas eu não estou pronta e ela parecia não se importar com isso.
–Querida, a Britt se importa muito com você. Às vezes, mais do que ela própria. Ela te ama muito e você nunca questione isso.
–Eu não estou questionando, mas pareceu...
–Eu sei. -disse Catarina, ainda acariciava os cabelos de Santana. -Pareceu que ela não se importava com o que você está sentindo.
–Ela está preparada. -disse Santana. -Eu realmente acho que ela está, mas eu...
–Santana, se abrir, ser honesta sobre quem você é, é um processo. Você começa sendo honesta, mas nunca termina. Ela pode estar pronta, mas ela precisa de você como você precisa dela. Vocês são uma única coisa. Ela pode apenas estar assustada sobre alguma coisa relacionada a isso... Ela está sentindo falta do que ela nunca teve fora da realidade que vocês vivem escondidas. Ela quer o romance, a demonstração que vocês não podem compartilhar porque vocês ainda não estão prontas.
Santana respirou fundo. Ela decidiu pensar sozinha, não que seja o certo ou que Catarina não tivesse ajudado, o contrário, ela ajudou bastante, mas ela queria poder pensar nela e Brittany. Como eram: uma única coisa.
–Eu fiquei preocupada sobre aquela conversa que vocês queriam ter. -disse Santana de repente. Catarina entendeu que Santana queria desviar o assunto e respeitou o espaço da bailarina. -Podemos falar sobre isso, por favor.
–Claro, mas eu não sei se você vai gostar. -disse Catarina. Santana levantou os olhos, preocupada. -Eu preciso de sua ajuda. Mas eu quero que você fale como minha sobrinha e não aluna.
–Tia Catarina? -perguntou Santana sem entender muito.
–Eu recebi uma oferta de emprego, lecionar numa escola para meninas. Literatura em St. Michel -disse Catarina. -Mas eu estou pensando em não aceitar.
–Como? -perguntou Santana. -Você tem que aceitar! É o seu sonho dar aulas, e não para apenas uma aluna, mas para várias.
–E se eu perdi o jeito? E se...
–Uma vez você disse que nós fantasiamos com o que poderia ter acontecido. -disse Santana, ela se levantou, os olhos e nariz vermelhos. -Fazemos com o futuro, o que faz mais sentido porque de fato não aconteceu, mas você não pode deixar que isso te consuma. Você nasceu para dar aulas. Você é muito boa no que faz. Você devia aceitar. Como sua aluna, vou sentir falta, mas como sua sobrinha vou ficar extremamente orgulhosa.
–Obrigada. -disse Catarina sorrindo fraco. -Mas eu ainda vou pensar muito antes de decidir. E caso, eu decida ir para escola, eu vou escolher a melhor professora para você. Temos mais um trimestre pela frente.
Santana abraçou Catarina sorrindo.
–Um pergunta simples. O que sua escolha tem haver com a Britt? -perguntou Santana.
–Mas eu não disse que tinha. -comentou Catarina, Santana voltou a deitar com a cabeça no colo de Catarina. -Eu apenas disse que precisava conversar.
–Mas você falou para a Britt... E ela ficou... Mas nós estávamos...
–Eu disse que o Howard precisava falar com ela. -disse Catarina. -Não tem nada que envolva o namoro de vocês. Não diretamente.
–Você sabe sobre o que...
–Infelizmente sei, mas eu prometi não dizer. E eu ainda acho que quem precisa te explicar é a Brittany. -disse Catarina. -Não acredito que vocês tiveram seu primeiro desentendimento.
–Eu também não. -disse Santana baixinho. Ela se lembrou de como Brittany ficou assustada quando ouviu o discurso de ódio dos alemães e como ela ficou preocupada, com medo. Santana se sentiu culpada de não a estar abraçando naquele momento.

–Você não se importa que eu durma aqui hoje? -perguntou Lalita. Elas tinham fechado a grande porta e estavam sozinhas. -Eu estou meio bêbada.
–Eu tenho um motorista. -disse Diane rindo. -Acho que sou eu, mas você ficou aqui a semana inteira. Eu gosto de te ter por perto.
As duas subiram para o quarto de Diane. Diane olhava para trás se perguntando se ela ainda estava lá. Ela jogou os sapatos para alto e caiu na cama rindo.
–Eu adorei aquele casal. -disse Diane.
–Eu também. -disse Lalita, o olhar vidrante ainda percorria Diane. Ela podia ser noventa e nove por cento vinho, mas aquele olhar era bem sóbrio. -Diane, você odiava mesmo seu marido?
–Ele era um bom pai... -disse Diane. -Um desgraçado como marido, se quer saber.
–Você sempre fala isso.
–É o que ele é! -disse Diane rindo. -Se eu falei mais de uma vez, deve ser verdade.
Lalita riu. Ela tirou os sapatos e se jogou na cama também. As duas estavam deitadas com as cabeças nos mesmos ângulos.
–Eu percebi uma coisa. -disse Lalita virando o rosto para olhar para Diane. -Que quando você fica bêbada, você... Eu quero dizer, você não tirou a minha mão da sua perna.
Diane se virou, os rostos estavam próximos, mas com um espaço considerável.
–Eu não queria que você tirasse. -sussurrou Diane. -E eu não estava bêbada ainda, acredite se quiser.
Lalita beijou Diane, apenas um toque de lábios. Uma quebra de espaço. Diane se afastou.
–Isso é errado. -disse Diane, mas o rosto ainda perto.
–É errado? -perguntou Lalita. -É errado que duas pessoas solteiras se beijem? É errado que duas pessoas se queiram se beijar?
–Eu não sei porque é errado, mas é errado. A bíblia...
–Eu não sou católica. -respondeu Lalita.
–Mas eu sou...
–Você não segue a risco os fundamentos. -disse Lalita. -O que é um beijo contra todos os outros pecados principais?
Diane ficou em silêncio, ela avaliou a situação por um momento.
–Eu não sei porque, deve ser a solidão, mas eu gostei.
–Diane, me responda amanhã outras perguntas. -disse Lalita roçando seus narizes. -Eu só quero você...
Diane beijou os lábios de Lalita.

–Filho, nós estamos dormindo. -disse Belle beijando o topo da cabeça de Howard. -Eu quero dizer, indo dormir.
–Não estamos muito bem. Boa noite, bonequinha. -disse Oliver apertando a mão de Howard. Belle abraçava e beijava Brittany. Oliver beijou o topo da cabeça de Brittany e os dois subiram as escadas, ainda rindo baixinho. -Mas vamos ficar!
–Pai, o que aconteceu? -perguntou Brittany cansada. Ela queria apenas deitar em sua cama, pensar no que havia acontecido, mas se ela fosse ficar em insônia, que ficasse por tudo que a incomodava.
–Britt, é melhor você se sentar. -disse Howard sentando no canto do sofá maior.
–Pai... -disse Brittany se sentando no sofá. -Por favor. O que aconteceu?
–Britt, eu não sei muito bem como te falar isso, eu recebi uma carta, faz uns três anos, dizendo que eu estava liberado temporariamente por tempo indeterminado do exército porque eu era pai solteiro e toda a Europa estava se preocupando em se reerguer e oprimir a Alemanha do que se preocupando com as defesas. O que eu entendo completamente. Enfim, eles me intimaram novamente na semana passada. Eles querem que eu volte ao cargo antes para ajudar a treinar os soldados. Vou passar duas semanas em Paris antes de ir definitivamente para o campo, depois de dois meses eu volto para casa.
–Você vai apenas para treinar os soldados? -perguntou Brittany olhando para o pai.
–Foi para isso que me intimaram, mas se a guerra que estão esperando aconteça, eu vou ser enviado. Depois do treino, é claro. -disse Howard calmamente, ele chegou perto da filha e a abraçou. -Eu preciso ser honesto com você, porque eu sei o quanto você fica assustada.
Brittany abraçou o pai, chorando em seu ombro.
–Não é justo. -disse Brittany ainda abraçada ao pai.
–Eu sei que não é, mas é o que precisamos fazer.
–Você não precisa ir.
–Preciso. -disse Howard. -Acontecem coisas horríveis com coroeis que se recusam a ir. É por pouco tempo...
–Não, não é! -disse Brittany. -E você sabe que não é.
–Eu pedi para que você me acompanhasse nas duas semanas pela França, se você quiser ir. -disse Howard sorrindo. -Quando eu conseguir uma resposta, você é a primeira pessoa com quem eu venho falar, combinado?
Brittany assentiu com a cabeça. Ela se sentia exausta, seus ossos mal aguentavam se peso.
–Eu vou falar com a Catarina. -disse Brittany baixinho. -Ela sempre sabe o que dizer.
–Ela é melhor do que eu com essas coisas, não é? -disse Howard rindo.
–Eu só... Ela é o mais próximo de uma mãe que eu já tive. -disse Brittany, se levantando. -Mas não conte para ela, não quero assusta-la.
–Eu não acho que ela vá assustar. -disse Howard sorrindo. -Mas tudo bem, eu respeito o seu tempo.
–Obrigada. -disse Brittany. Ela precisava do abraço de Santana, do jeito que ela a abraçava antes de dormir ou de como apenas o toque de peles a fazia se arrepiar. Brittany precisava daquilo. -Pai, eu estou cansada. Foi um dia bem longo. Me desculpe sair assim, sei que você ainda precisa me explicar sobre "aquilo", mas eu estou realmente exausta.
–Tudo bem, querida. -disse Howard. -Boa noite. Ah, você dança como a mais bela que eu já vi. E eu sinto muito que você não pode ter trazido a Santana, eu sei como você fica quando ficam separadas.
Brittany assentiu e subiu as escadas correndo. Se deitou em seu quarto e abraçou o travesseiro com as lágrimas escorrendo sem piedade pelo rosto.
–Santana... -ela murmurava.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Muitas coisas aconteceram nessa festa... Imagina no dia seguintes com todas essas consequências...
Espero que tenham gostado e comentem!!
Beijos e até logo!