At The Ballet escrita por Luiza Brittana4ever


Capítulo 19
M-audição


Notas iniciais do capítulo

Olá!! Voltei! Eu sumi por pouco tempo, mas mesmo assim...
Espero que gostem desse capítulo e queria apenas dizer que elas estão começando a amadurecer...
Aproveitem!!



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"Eu te amo, filha." Foi a única coisa que Brittany se lembrou de seu sonho. Ela se sentou na cama e respirava profundamente. Foi até o banheiro e molhou o rosto. Abriu as cortinas e o sol já havia nascido. Ela voltou para cama.
–Dorothy! -disse Brittany olhando para a gatinha que se enroscava no seu pé. -Acordou cedo também?
A gata ronronou e Brittany sorriu. Ela acariciava suas orelhas.
–Eu sonhei com a minha mãe... -disse Brittany. -O que é estranho, mas acho que devo estar pensando muito dela depois que o papai me deu aquela foto. E você? Qual é a sua desculpa?
A gatinha fazia barulhinhos e Brittany ria baixinho para não assusta-la.
–Estava sonhando com a outra mamãe? Essa mãe não se importa... -disse Brittany apontando para ela mesma. -Eu também sonhei com ela.
–Filha, hora de acordar! -disse Howard entrando no quarto e se surpreendendo com Brittany acordada. -Já levantou?
–Sim! -disse Brittany sorrindo.
–Ora, então vamos descer. Sua tia está na sala. Faz uma meia hora que ela está na frente de casa esperando alguém acordar. -disse Howard se negando a acreditar que sua irmã ficou em pé na varanda esperando que acordassem.
–Tia Julieta? -perguntou Brittany tirando o sorriso do rosto.
–Sim. Por que? Ela falou alguma coisa? -perguntou Howard abaixando o tom de voz. -Você já notou o modo como ela fala ultimamente?
Brittany apenas concordou com a cabeça. Howard imitou o movimento.
–Eu só vou tomar banho e trocar de roupa. -disse Brittany se levantando.
–Eu já deixei a água da banheira pronta.
Howard deixou o quarto e Brittany olhou para Dorothy.
–Você também tem medo da tia Julieta? -perguntou Brittany. A gata miou. -É, foi o que pensei.

Brittany colocou um vestido azul e pegou sua maleta. Deixou o quarto dando um beijinho na cabeça de Dorothy que ficava na companhia de seu pai até ela voltar do ballet. Ela desceu as escadas devagar. Sua tia esperava na sala.
–Oh, minha querida Brittany. -Brittany estranhou totalmente essa recepção.
–Bom dia, tia Julieta. -disse Brittany sem entusiasmo.
–Dia, querida. Nossa, Brittany, mas esse vestido está muito curto! Não é à toa que as pessoas te forçam a fazer coisas inadequadas.
–Como?
–Coisas inadequadas! Como quando aquela menina pertubada... que se aproveitou de você! Minha doce e ingênua sobrinha! -disse Julieta acariciando a bochecha de Brittany.
–Ela não se aproveitou de mim! Ela não é nojenta! Ela é minha...
–Amiga! É, eu sei! -disse Julieta vencida. -Eu juro que tentei entender qualquer lado dessa história, mas o seu lado é apenas uma diversão. Eu sei que é. Você; uma menina tão delicada!
–Tia! Isso não me impede de fazer nada! E não é apenas uma divers... -disse Brittany, mas parou quando sentiu sua cabeça indo para o lado e sua bochecha começar a arder.
Julieta deu um tapa no rosto de Brittany. Ela olhava para a sobrinha com raiva e ódio, mas não dela, e sim das palavras que saiam de sua boca. Brittany levou as mãos até a parte que ardia e se protegeu de um outro possível ataque, se afastando.
–Uma mulher morreu. Você não percebeu que era um aviso? -disse Julieta sussurrando. -Você acha que eles não vão te achar?
–Julieta! -disse Howard entrando naquela cena bem montada. -Saía! Agora!
–Você sabe o que ela é? -perguntou Julieta irônica.
–Sei! -disse Howard não tirando os olhos da irmã. -Ela é minha filha! Agora, saía! Você está fora de controle.
–Tudo bem. -disse Julieta saindo como se acabasse de ser chamada. -Até logo, querida família!
Julieta deixou a casa e Howard foi direto em direção a Brittany.
–Brittany, me deixe ver o que ela fez. -disse Howard segurando as mãos de Brittany que deixava algumas lágrimas caírem de medo.
Brittany tirou as mãos e o pai virou o corpo de Brittany por causa da luz.
–Só está vermelho, querida. Está tudo bem... -disse Howard abraçando-a. -Não acredite em nada do que ela te disser, por favor.
Brittany assentiu.
–Eu vou te deixar na Academia hoje. Vamos? Eu tenho algo para ir falando.
–Vamos. -sussurrou Brittany.
Eles foram andando até a academia num silêncio confortável, mesmo com o falatório sobre o tempo que sempre comentavam. Eles atravessaram a rua e ficaram esperando todos os carros passarem.
–Brittany, eu preciso perguntar algo para você. -disse Howard quebrando o silêncio e o clima medonho que os acompanhava.
–O que foi, papai?

Santana desceu meio emburrada. Talvez fosse o horário, talvez fosse o descostume de dormir sozinha. Ela cumprimentou seus pais e Anna que eram os únicos na cozinha aquela manhã.
–Onde está a tia Catarina? -perguntou Santana depois de alguns minutos.
–Ela foi no parque central. Ela tinha algo para fazer lá, encontrar amigos. -disse Joanne sorrindo para a filha. -Como estão as aulas?
–Quais aulas? -perguntou George.
–As com a Catarina, é claro. -disse Joanne.
–Estão ótimas! Ela é realmente uma ótima professora. -disse Santana.
–Santana, eu queria perguntar se eu poderia te levar ao estúdio hoje? -disse George.
Santana e Anna pararam de fazer o que estavam fazendo e olharam para ele espantadas. Joanne parou até de respirar e quando percebeu que fazia, soltava o ar aos poucos.
–O que foi? Eu vesti meu terno ao contrário novamente? -perguntou George olhando para os ombros.
–Não, não está ao contrário. -disse Joanne rindo.
–Eu só disse que ia levá-la! -disse George rindo. -Eu tenho tempo livre antes da reunião e pensei que talvez encontre o Howard lá.
–Qual é o artigo? -perguntou Santana imaginando do que já se tratava e deu uma risada.
–Sobre cada pessoa ter seu cinema particular! -disse George sorrindo. -Estou abismado! Não será numa tela grande, mas será quase a mesma coisa! Estou empolgado para comprar uma quando começarem a vender.
–Imagino, querido. -disse Joanne rindo e dando um beijo em sua bochecha. -Então, acho que já está na hora.
–Agora? Mas eu ainda nem terminei meu café... -disse George olhando para a esposa.
–Você pediu, pai. -disse Santana rindo.
Eles se sentaram lado a lado no carro esportivo de George. Ele usava este exclusivamente para trabalhar, então raramente as meninas entravam naquele carro.
–Eu gosto que você e o pai da Brittany se deem bem. -comentou Santana sorrindo.
–Eu também. É bom ouvir alguém que não fale sobre finanças e despejos e dinheiro para variar. -disse George. Santana riu.
–Homens do trabalho. -concluiu Santana.
–Sim, mas eles são boas pessoas. -disse George virando numa curva. O carro fazia um barulho alto.
–Pai. -chamou Santana. Ele olhou para o lado mandando ela continuar. -Como você pediu mamãe em casamento?
George sorriu e a olhava pelo canto do olho.
–Você não está pensando em se casar, está? São muito novas ainda para me deixarem. -disse George rindo.
–Não, eu só estava pensando. Você comentou sobre o artigo e cheguei a conclusão de que a mamãe nunca me contou como você a pediu em casamento.
–E como um cinema particular está relacionado ao meu pedido de casamento? -perguntou George sorrindo. -Nem foi no cinema local.
–Eu só me lembrei de um filme que fui ver com a tia Catarina. -comentou Santana.
–É engraçado você perguntar isso. A gente estava namorando havia alguns anos. Fazia alguns dias que eu havia ganhado a permissão dos seus avós. Eu a levei no lugar que nos conhecemos, um restaurante, pedi para que a banda tocasse uma música que sempre usávamos nos ensaios de tango juntos... -disse George sorrindo.
–Espera! Você e a mamãe faziam aulas de dança? Tango? -comentou Santana sorrindo.
–Sim! E danço muito bem, diga-se de passagem. Sou metade latino. -disse Geroge rindo. -Continuando. Eu a levei para o meio da sala. As mesas sendo arrastadas, a felicidade no rosto dela. Seus cabelos caindo sobre os ombros. Eu sabia antes, mas naquele momento eu tive certeza que ela era a mulher da minha vida. Eu me ajoelhei na frente dela quando a música estava na metade. Céus, eu ainda me lembro do nervosismo. A banda parou de tocar e todos pararam de comer, mas eu nem me importei. Ela era a única com qual me importava. Eu perguntei se ela queria casar comigo e, felizmente, ela aceitou!
–Você acha que casou com a mulher da sua vida? -perguntou Santana sorrindo.
–Acho e como não se fosse o bastante, ela me deu mais três mulheres. Não, meninas da minha vida. -disse George parando o carro. -Chegamos.
–Você vai descer, não vai? -perguntou Santana.
–Estou descendo. -ele desceu do carro e Santana correu até ele a abraçando.
–Obrigada por me contar, papai. -disse Santana com a cabeça do peito de George. Ele a abraçou imaginando quando ela ainda nem chegava em sua cintura. Ele deu um sorriso nostálgico.
–George! -disse Howard chegando com uma Brittany muito avoada. Santana a olhou sorrindo.
–Howard! -disse George. -Você leu?
–Sobre os cinemas? -disse Howard rindo. -Li e criei uma tese para te mostrar.
–Vem, temos que muito que conversar. -disse George rindo. -Vamos até meu bar preferido. Bar de dia, cabaré pela noite!
–Hã, adeus? -disse Santana para o pai. -Bom dia, Howard.
–Olá, Santana! -disse Howard sorrindo. -Brittany, eu já vou e se lembre do que combinamos.
Brittany assentiu. Os dois homens foram conversando, deixando as duas meninas na frente da Academia que estava cheia como sempre.
–Bom dia! -disse Santana se aproximando de Brittany que agarrou o corpo de Santana e começou a girar com ele.
–Bom dia! -disse Brittany. Ela parou de girar Santana e começou a andar em direção a porta de entrada da Academia.
–O que aconteceu, Britt? -perguntou Santana sorrindo. Ela desejava que aquele sorriso nunca se fosse. -Você está animada. Digo, mais que o normal.
–Isso é algo bom, Sant.
–Eu sei! -disse Santana sorrindo. -Eu gosto quando você está sorrindo. Faz com que tudo que é mais belo fique indiferente.
Brittany abraçou-a sorrindo.
–Obrigada. -disse Brittany ignorando todos na entrada e continuando a puxar Santana escada acima até o terceiro andar.
–Brittany! -chamou Santana, mas a loira não ouvia. Ela continuou a puxar Santana até a porta do estúdio B que estava fechado. -Sério! O que aconteceu?
–Nós vamos participar de audições!
–Audições? -disse Santana. -Explique-se!
–Bem, meu pai falou com a senhorita Smith e ela indicou alguns teatros que estão procurando bailarinas e atrizes!
–Britt! -disse Santana feliz. -Isso é maravilhoso! Você vai se sair tão bem! Você sabe o que eles estão procurando? Não importa, você será esplêndida! O que você terá que fazer?
–Nós... -sussurrou Brittany sorrindo. Santana olhou em choque. -Temos que recitar, dançar e cantar.
–Nós? O que isso quer dizer? -perguntou Santana ainda chocada.
–O que exatamente estou falando! -disse Brittany segurando sua cabeça fazendo seus olhos se alinharem. -Você fará as audições comigo.
Brittany abriu a porta do estúdio e todas as meninas estavam se aquecendo no chão. Tinha um piano de calda preto ao lado. Elas estavam com as roupas habituais de ballet. Samantha ria com as meninas. Ela estava arrumada, seus cabelos bem presos. Ela viu as duas bailarinas entrando e caminhou até elas.
–Meninas! Estou tão animada! -disse Samantha sorrindo. -Tenho certeza que se sairão muito bem! Venho falado com a senhora Palender e sua professora de teatro musical, elas recomendaram vocês para o teatro.
–Isso é ótimo! -disse Brittany.
–Vocês estão confusas? Precisam de ajuda? -perguntou Samantha olhando para as duas. -Eu posso ajudar.
–Eu gostaria muito de saber para qual peça estamos sendo testadas. -perguntou Santana rindo. Ela finalmente parecia ter entendido.
–Trata-se de um conto de fadas. -disse Samantha mexendo os dedos como os mágicos faziam. -Cinderela. Esse teste tem exceções do canto, mas ainda terão que dançar.
–Nós teremos que dançar? -perguntou Santana sorrindo engraçado. -Numa peça de conto de fadas?
–Claro que sim! -disse Samantha sorrindo. -É comum nesse meio. Vocês dançam lindamente, então, não será problema, concordam?
Santana assentiu. Brittany sorria
–Bom. Vocês tem dez minutos para se trocarem. Espero que não se importem de apenas se aquecerem na barra. Agora, vão! Rápido.
As meninas subiram até o banheiro. Santana ainda processava tudo que estava acontecendo. Ela gostava muito da história, apenas não sabia se seria capaz. Ela olhava para Brittany e via a perfeita Cinderela descrita no livro, ela ficou feliz com esse pensamento. Ela queria que ela ficasse feliz, se Brittany estivesse feliz, ela estava feliz.
–Você não está empolgada, Sant? -perguntou Brittany sorrindo no vestiário. Ela já estava com o macacão azul pela metade do corpo. -Se trata daquela história da abóbora, certo?
–Errado. -comentou Santana. -Quero dizer, a roupa. Nossa primeira aula é ballet.
–Eu estou tão empolgada que esqueço rapidamente do que tenho que fazer. -disse Brittany sorrindo. Ela tentava tirar o macacão, mas os botões prenderam e ela não alcançava -Sant?
–Pode deixar, eu fecho. -disse Santana rindo. -E sim, é sobre a história da abóbora.
–Eu gosto dessa história. -disse Brittany que estava esperando Santana que parou de abotoar.
–Eu também. Mesmo com a madrasta malvada! -disse Santana rindo. -Como vai sua tia, Britt?
Brittany ficou muda. Ela já havia se esquecido do acontecimento que havia ocorrido pela manhã. A respiração pesou e ela abaixou a cabeça. Santana estranhou e deixou o macacão como estava e foi até a frente de Brittany.
–Olá! Não tira esse sorriso do rosto! Você fica tão linda com esse sorriso, você sabia disso? -perguntou Santana levantando a cabeça de Brittany ficando na mesma altura que a sua. -O que aconteceu?
–Ela está bem? -perguntou uma menina que estava ao lado com a roupa normal de ballet.
–Acho que foi o pé dela. Eu vou levá-la até o banheiro para ela molhar. Obrigada. -enrolou Santana. -Vem, Britt!
Santana levou Brittany até a escadaria que estava vazia e sentou ela. O macacão ainda aberto e sua face ainda triste.
–O que aconteceu? -perguntou Santana. -Me conta.
–Foi a tia Julieta. Não foi nada demais. Ela achou que você tinha se aproveitado de mim e quando eu falei que eu queria ter te beijado também, ela me deu um tapa. Ela disse que a morte de Antonieta foi um aviso e que quem repetisse seus atos era burro demais porque eles iam nos encontrar.
Santana não falou nada. Ela ficou enfurecida e com medo. São dois sentimentos que não podem se misturar, não são complementares, mas eles preenchiam a morena. Ela suspirou, decidiu deixar os dois sentimentos de lado.
–Você não é burra. -disse Santana segurando a mão de Brittany em cima de suas coxas. -Ela bateu em você?
–Foi um tapa. -disse Brittany baixinho.
–Escuta! Várias pessoas vão fazer pior. Não estou dizendo que ela está certa, de jeito nenhum. E nem estou falando para esquecermos, mas eu não quero que você deixe que ela afete você. Eu sei que ela é sua tia, mas acho que ela não tem as melhores intenções quando "protege" você. -disse Santana. Ela levou a mão de Brittany até os lábios e beijou-a.
–Obrigada. -sussurrou Brittany.
–Ninguém deixa minha namorada triste. -disse Santana se sentando um degrau a cima para terminar de abotoar o macacão de Brittany. Ela para novamente e distribui beijinhos pela costa de Brittany que sorri. Ela deu uma risada alegre. -Pronto.
–Bom dia. -disse Brittany se virando para Santana. -Eu estava tão animada que esqueci de te dar bom dia.
–Você me deu bom dia, Britt. -disse Santana rindo.
–Dei? -disse Brittany sorrindo. Ela beijou os lábios de Santana que estavam tão perto. Santana colocou suas mão no pescoço de Brittany para se aproximarem. Santana abriu a boca devagar e Brittany acompanhou. Suas línguas se tocavam, suas mãos em lugares estratégicos. Santana puxou Brittany para se sentar ao seu lado sem quebrar o beijo. Por algum segundos, nada deveria estar errado. Era como se sentiam.
Elas se separaram alguns segundos depois. Ouviram alguns passos e Santana terminou de fechar o macacão de Brittany quando a senhora Palender apareceu.
–Brittany e Santana! Eu ia subir para lhes entregar suas recomendações! -disse Eleanor. -Eu fiquei extremamente feliz em recomendar minhas melhores bailarinas.
–Obrigada, madame Palender. -disse Brittany.
–Sim, obrigada. -disse Santana.
–Bem, aqui estão. -disse Eleanor entregando dois papeis escritos em nanquim.
–Obrigada, madame. -disseram as duas fazendo a costumeira reverência. A diretora deixou a área das escadas e seguiu para sua sala. Brittany e Santana seguiram para o estúdio.
–Podem sentar. -pediu Samantha iniciando sua aula. -Eu queria introduzir vocês a uma de suas novas professoras, Sylvia Daves. Ela assumirá as aulas de teatro musical e teatro francês. E vocês devem estar se perguntando o motivo de a senhora Daves estar na minha aula. Sugestões?
–Os russos inventaram alguma dança nova que misture teatro e dança? -disse Margareth fazendo as meninas rirem.
–Não, mas minha avó é russa e eu gostaria que parassem de fazerem idiotices se quiserem assistir essa aula até o fim. -disse Sylvia com um sotaque arrastado.
–Certo. Alguém mais? -arriscou Samantha, as bailarinas ficaram em completo silêncio. -Ótimo. Eu trouxe a senhora Daves para lhes ajudarem nas expressões faciais. Seus pés sabem a hora perfeita de girar e esticar, mas seus rostos não passam emoções. Vocês ficam impassíveis! Não todas, devo afirmar. Algumas transmitem muito bem o que estão sentindo.
–Exatamente, bem para começarmos, vou pedir para que a senhorita Smith escolha uma dança e vamos aprimorar seus pontos fracos. Prontas? -disse Sylvia.

Os minutos foram se passando, as professoras trabalhavam como uma máquina. As bailarinas ouviram tantos "sorriam!" que saíram do ballet para a mímica sorrindo, como se seus rostos estivessem congelados.
–Posso falar com vocês rapidamente? -perguntou Sylvia para Santana e Brittany que nunca saiam separadas.
As duas assentiram.
–Eu soube que vocês prestarão uma audição para o teatro. -continuou Sylvia. -Eu só queria desejar boa sorte e recitem o papel que representa vocês de alguma forma. Modo de pensar, modo de agir. Sempre ajuda vocês a se colocarem no lugar seguro, mas ainda mexendo com suas opiniões internas.
–Obrigada, senhora Daves. -disse Santana sorrindo. -Sua aula é maravilhosa, à propósito.
–Obrigada. -disse Sylvia. -Eu consigo ver você atuando, Santana. E você, Brittany, também. Contudo, penso particularmente que seria um desperdício seu talento para ballet.
–Obrigada. -disseram juntas sorrindo.
–Vocês tem potencial, moças. -disse Sylvia arrumando seu casaco. -E o mais importante, talento. Adeus.
As duas acenaram e seguiram correndo para a aula mímica. A professora não gritava se chegassem atrasada, mas ela não falava. Era o sinônimo perfeito de artista excêntrica.
No fim do dia elas estavam exaustas. Saíram destroçadas da aula de teatro francês. Santana e Brittany desceram as escadas devagar, tendo que desviar das bailarinas que corriam pelas escadas em espiral. Tendo que ficar espremidas contra a parede ou contra elas mesmas. Elas chegaram na porta da Academia e Anna estava esperando.
–Menininhas com as pernas de fora? -perguntou Anna rindo.
–Elas são assim mesmo, Anna. -disse Brittany rindo, mas ainda cansada.
–Senhorita, a senhora pediu que Brittany fosse levada para a casa.
–Nossa casa? -perguntou Santana se animando.
–Sim. Parece que seus pais e o pai de Brittany acompanhado de sua tia vão sair e ela fez questão de que ficassem juntas. -disse Anna. -Sua tia insistiu mais, se for algo relevante.
–É sim, obrigada Anna. -disse Santana. -Parece que você vai dormir comigo novamente.
–E eu mal posso esperar. -disse Brittany sussurrando.

Joanne estava em casa quando as meninas chegaram. Ela estava vestida com um de seus vestidos italianos. Ela havia explicado aonde eles iriam e até o horário que ficariam fora. Joanne estava na sala, sentada em um dos sofás, pensando.
–Mãe! -disse Santana depois de ouvirem Joanne repetir todos os cuidados três vezes, pelo menos. -O pai da Britt nos inscreveu para audições para o teatro!
Joanne olhou para ela de relance.
–É uma peça de conto de fadas. -alertou Brittany rapidamente. -Nada fora do padrão para nossas idades.
Joanne começou a rir.
–Não estou preocupada com isso. -disse Joanne. -Estou preocupada com a Santana fazendo seu próprio dinheiro.
–Bem, mamãe. -comentou Santana. -As mulheres podem arranjar trabalhos agora.
–Tão parecida com a sua tia... -comentou Joanne sorrindo. -Tudo bem, boa sorte para as duas.
As duas agradeceram antes de subirem. Alguns minutos depois, eles saíram de casa. As meninas estavam na cama de Santana brincando com os dedos entrelaçados sem dizer uma palavra.
–Você já foi numa peça à noite? -perguntou Brittany olhando para baixo, onde a cabeça de Santana estava apoiada; seu peito.
–Apenas nas apresentações de Ballet, mas nunca peças de teatro. -comentou Santana.
–As peças serão à noite... -disse Brittany sorrindo. -Teremos que apresentar semanalmente. Consegue imaginar?
–Não quero. -disse Santana rindo. -Eu não sei. Talvez, se passarmos.
–Nós vamos passar. -disse Brittany com seu otimismo característico. -Você quer treinar?
–Agora? -perguntou Santana se levantando. -Como? As minhas irmãs estão dormindo.
–O que você acha de presenciar uma peça? -perguntou Brittany se levantando animada. -Alice no país das maravilhas está em cartaz.
–Você quer ir? -perguntou Santana embasbacada. -Agora?
–Por que não? -comentou Brittany sorrindo. -A peça começa em meia hora.
–No centro! -disse Santana.
–Você mora dez minutos do centro. -disse Brittany animada. -Por favor!
Santana a olhou considerando a ideia. Brittany caminhou até ela e beijou suas bochechas. Beijou seu nariz e por fim seus lábios.
–Isso é insano! -comentou Santana rindo com os beijos. -Mas acho que posso pedir para que o John nos leve.
Brittany sorriu. Abraçou o corpo de Santana e seu sorriso se esvarou.
–Mas você deseja ir? -perguntou Brittany. -Não quero que você vá apenas porque estou pedindo.
–Não, eu quero ir. -disse Santana pensando. -Mas só porque pode ser algo engraçado.
Brittany riu.
–Imagina encontrar encontrar nossos pais no teatro. -comentou Brittany sorrindo, mas com receio na voz.
–Não! Eles estão no restaurante do lado norte. Não é perto. -disse Santana sorrindo. -Temos tempo de voltar, rodar o mundo e ainda chegar antes deles.
–Rodar o mundo como o papai noel? -perguntou Brittany.
–Como o papai noel, Britt.

John estava acordado e Santana o fez prometer que não contaria sobre a ida ao teatro se chegassem antes dos pais. Promessas valiam mais que dinheiro e ouro. John as levou até a porta, onde compraram os bilhetes na bilheteria. O teatro não estava cheio, mas haviam muitas pessoas. Elas se sentaram nas últimas fileiras. Olharam em volta e os adultos conversavam e não havia uma criança que fosse. Talvez fossem até as mais novas do lugar. Elas começaram a rir olhando uma para outra, talvez o nervosismo de serem pegas, talvez a experiência de fazerem o que queria. Um pedaço da liberdade, que foi tirada sem o consentimento dos pais.
–Você acha que estamos no lugar certo? -perguntou Santana ainda rindo.
–Acho que sim. Você não gostou dos assentos? -perguntou Brittany limpando as lágrimas que caiam de tanto rir.
–Estou falando da peça. Acha que entramos no lugar certo? -perguntou Santana.
–Claro que estamos. -disse Brittany olhando em volta.
Duas luzes começam a piscar avisando que a peça ia começar. Elas se sentaram olhando para frente e as luzes apagaram. Deram as mãos antes que um homem entrasse no centro do palco avisando dos cuidados principais durante a apresentação. As cortinas se abriram e uma menina estava no centro. Ela estava encostada numa árvore falsa e começou a recitar seu monólogo. Brittany deitou sua cabeça no ombro de Santana e segurou sua mão.
–Obrigada. -sussurrou Brittany.
–Britt, eu disse que queria estar aqui. -sussurrou Santana olhando-a.
–Não sobre isso. -riu baixinho. -Obrigada por ser minha namorada.
Santana sorriu. Ela beijou a mão de de Brittany.
–Não, obrigada à você. -disse abraçando-a.

Dia das audições.
As meninas chegaram juntas e tiveram que esperar na escada ao lado do palco. A ajudante de diretor pediu que entrassem cinco minutos depois. Elas ficaram em fila, ombro à ombro, e ele ia chamando as que ele via potencial. Cada menina tinha que ir até o centro do palco para recitar e dançar. A luz do holofote forte as cegava. A voz forte do diretor, e era apenas isso que sabiam dele. Ele se sentava atras, no escuro, e conversava com as meninas.
–Menina alta, loira. Com vestido preto. -disse a voz do diretor. Brittany caminhou até o centro do palco. -Qual é o seu nome?
–Brittany Grant. -disse a voz de Brittany.
–Bom, bom... Você pode começar pela dança. disse a voz do diretor que fumava encostado na cadeira.
Brittany dançou um pedaço de seu treino diário. A cada giro ela se afastava do palco e ia para situações onde a perfeição não existisse. Onde todos eram felizes pela simplicidade.
–Pare. -pediu a voz do diretor. Ele se levantou. -Você sabe que estamos procurando atrizes e não bailarinas. Eu só queria dizer que sua dança é bem expressiva. Pode recitar.
Brittany começou divagar e aos poucos acrescentando gestuais.
–Obrigada. Pode voltar para a fila. -disse o diretor. -Menina bonita com o prendedor na cabeça.
Santana caminhou até o centro do palco.
–Qual é o seu nome?
–Santana Kutterin.
Algumas meninas murmuraram. Ela levantou um pouco mais sua cabeça. As mãos em frente ao corpo.
–Sei. Não entendo.
–O que não entendeu, senhor?
–Estamos procurando uma Cinderela, você é bonita, mas não tem cabelos loiros.
–E eu achei que a representação valesse mais que vestuário. -disse Santana. O diretor se levantou um pouco e riu.
–Pode começar.
Santana recitou e antes de ela começar a dançar, o diretor a parou.
–Não precisa, eu já vi o bastante. Obrigada. Próxima.
Santana respirou fundo e voltou para a fila. Brittany sorria, ela não se importava com o resultado. Estar fazendo a audição com Santana era o bastante e Santana a olhou e entendeu. Ela sorriu de volta, achando graça do que estavam fazendo. Elas saíram do palco pela escada aonde esperaram e a assistente estava gritando com as dançarinas e príncipes para entrarem no palco.
–O diretor fez sua escolha. O papel da Cinderela será da senhorita Grant. -Brittany a olhou estática sem reação alguma. -E contrataram a senhorita Brown como substituta.
Santana abraçou Brittany que ainda estava parada na escada.
–Você conseguiu! -sussurrou Santana sorrindo. -Eu sabia que você a conseguir.
–Senhorita Kutterin, o diretor requisitou sua presença.
–Como?
–As três que eu citei o nome por favor, sigam para o palco. O resto está dispensando, obrigada por vir. -disse a ajudante. -Meninos, palco da esquerda.
As três meninas seguiram para o palco, o holofote estava fraco. O diretor estava no centro dele. Ele era alto, loiro e tinha os ombros largos.
–Parabéns, meninas. -disse o diretor. -Brittany, você tem o jeito inocente e puro que precisamos para a Cinderela. Morgana, fiquei encantado pela performance, mas sua dança precisa ser trabalhada. Sugiro três aulas de dança, no mínimo. Se quiser o emprego, é claro.
–Obrigada senhor. -disse a menina, também loira.
–Meu nome é Charlie, à propósito. -disse o diretor seguindo o olhar pelas três.
–Desculpe-me, senhor. Mas ainda não sei para que fui requisitada.
–Você me surpreendeu com a sua atuação. Nem precisei ver seus treinos de dança. Contudo, você não é loira para a Cinderela. É jovem para a fada madrinha. É bonita para uma das irmãs. É menina para ser o príncipe. Eu não tenho onde te encaixar aqui.
Santana estava confusa e Brittany também. Elas olharam para ele estranho.
–Eu tenho um papel numa peça que estou produzindo em outro teatro. Shakespeare. A megera domada. Estou tendo dificuldades para encontrar minha Bianca.
–Você deseja que eu interprete a Bianca? -perguntou Santana.
–Sim! Eu vou estar ocupado dirigindo Cinderela, mas uma amiga minha, senhorita King, está dirigindo "A megera domada". Se você concordar, você só precisa aparecer nos ensaios, sem audições.
Santana olhou para Brittany que concordava com a cabeça, sorrindo.
–Tudo bem, claro! Será um prazer! Obrigada pela oportunidade. -disse Santana sorrindo.
–Eu que agradeço. À vocês três. Obrigado e nos vemos na semana que vem. -disse Charlie.
Morgana foi embora com o diretor pedindo mais correções enquanto as duas ficaram, ainda sob o holofote fraco. Brittany segurou as mãos de Santana e elas começaram a girar e a rir muito alto. Elas se abraçaram, ainda tontas.
–Passamos, de certo modo. -disse Santana sorrindo.
–Pois é! -disse Brittany ainda sorrindo. -Não acredito, quero dizer, eu sabia, mas quando se tornou realidade...
–Foi melhor que o sonho. -completou Santana.
Elas se beijaram rapidamente e deixaram o palco rapidamente. Seguindo para a rua, onde Anna deveria estar esperando, mas não estava. Catarina estava falando com uma bailarina, vestida de carta, na porta do teatro. As meninas andaram até elas, elas sabiam que Catarina adorava fazer surpresas. Não planejar a vida era o modo de vida de Catarina.
–Olá, meninas! -disse Catarina se virando para elas. -Como foi nas audições?
–Foi maravilhoso! A Britt será a Cinderela! -disse Santana sorrindo.
–E a Santana será a Bianca! -disse Brittany sorrindo também.
–Hã, eu posso não ter lido muitas vezes a Cinderela, mas eu tenho quase certeza que não existe Bianca nos livros. -comentou Catarina.
–Ah, esqueci. Ela vai participar de outra peça. O diretor ficou encantado com o talento dela que perguntou se ela não faria Bianca em "A megera domada".
–Céus! Eu amo essa peça, é minha preferida do Shakespeare. Minha mãe lia para mim, porque foi o livro que deu-me o nome: 'Catarina'. -disse Catarina. -Parabéns! Para as duas! Estou ansiosa para ve-las no palco!
As duas agradeceram sorrindo. Tudo ainda era irreal, mas elas estavam se acostumando a ouvir os parabéns e elas gostavam. E elas apreciavam que as duas se suportavam. As duas eram a base. As duas estavam se apoiando, ficando felizes durantes os ensaios, treinando falas trancadas no estúdio da mansão Kutterin. Elas estavam se divertindo, elas tinham uma a outra. Elas sorriam por bobagens e riam por coisas inúteis. E a cada dia, elas ficavam mais perdidamente apaixonadas.


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Notas finais do capítulo

Olá, de novo! Eu só queria avisar que em alguns capítulos eu vou avançar na linha temporal.
Eu preciso de algo necessário que só podem acontecer pela idade, pelo tempo, enfim! Não vai ser tão inusitado ou estranho, vou continuar do mesmo jeito!
Beijos e obrigada pelos comentários!!