Ao Despertar escrita por httpsdiamandis


Capítulo 20
Sob o Luar


Notas iniciais do capítulo

Obrigada por acompanharem minha história, peço desculpas mais uma vez por aquele meu hiato de quase dois anos, mas dessa vez vai! hahaha
Acabei me empolgando e detalhando demais algumas coisas então achei que aconteceram poucas coisas nesse capitulo,mas espero que gostem!



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—Alguém faça ele calar a boca! –Lexi murmurou, impaciente, no banco do carona.

—Eu, calar a boca? Olha aqui garota eu tenho o direito de saber pra onde vocês estão me levando e-... –David vociferou,mas eu o interrompi, pousando a mão em seu peito.

—Confia em mim? –repeti, pela décima vez. Eu fizera a mesma pergunta a ele no quintal de tia Juliet, há minutos atrás.

            Nós havíamos partido em disparada até a porta da frente, onde eu já ouvia o motor do carro de Matthew, então minha tia me detera.

“Ei, onde pensa que vai? Temos algo importante para fazer hoje, lembra?” ela ergueu uma sobrancelha. Atrás dela, Susanne colocava os pratos na mesa. Jessica, seguida por sua mãe, prima e Stacy deveriam chegar a qualquer instante.

“V-vou me livrar de Dave. Ele não pode estar aqui quando a conversa acontecer, certo?” sussurrei em seu ouvido. Tia Juliet assentiu.

            Ela pensou que eu fosse acompanhá-lo até a porta, porém nós dois(na verdade uma Sarah assustada arrastando um David confuso pelo gramado) pulamos no carrinho branco vintage (que provavelmente era mais caro do que minha casa) de Matthew sem olhar para trás nem reparar nos gritos de tia Juliet. Para minha surpresa, ele estava acompanhado de Alexis Hale, sua ex-namorada lobisomem.          O que nos levava direto para o momento atual.

—Claro que confio em você, mas não sei que diabos está acontecendo e... Ei, Matt também fez tatuagens no corpo? Que diabos...?

—Temos vinte minutos até a lua aparecer –Lexi avisou, batendo em seu relógio com as unhas compridas e bem feitas.

—Olha, não quero parecer grossa, mas Matt, por que chamou essa daí? –perguntei, ignorando Lexi. Eu não conseguia olhar pra ela sem lembrar do matadouro em que ela e sua ‘matilha’ torturaram Liam. Liam... Droga. Eu esquecera de pegar o livro de encantos e os materiais necessários.

—Ele me chamou porque, quando o garotão ai se transformar, só outro lobisomem vai conseguir guiar ele. Ou no caso, outra –ela piscou para David.

—L-lobisomem? Essa garota t-ta louca? Você ta andando com a galera drogada agora Sarah? –David começou a gaguejar.

—Dave, calma. Acham que devo contar a ele agora? –perguntei a Matthew.

—Não sei... Na verdade, eu não sabia o que fazer com ele, por isso trouxe Lexi aqui –Matthew admitiu, constrangido. Provavelmente estávamos a 120 km/h, entrando no meio da floresta a essa altura.

—Acho que deve contar a ele. Pelo menos eu queria que alguém tivesse contado pra mim, talvez assim as coisas tivessem sido... Diferentes – Alexis desviou o olhar, fitando as arvores lá fora. Pela primeira vez ela não soava superior ou sarcástica.

—Contar o que? – David gritou, chegando ao limite.

—Dave, você provavelmente vai achar que sou louca mas... você é um lobisomem, a Alexis também é, e eu e Matt somos... vampiros –expliquei. Droga, aquilo parecia loucura até para mim que já estava me acostumando com o mundo sobrenatural.

—Sarah, você fumou um baseado ou o que? Isso é louc-AAAAAH!!!Que diabos...? – ele arregalou os olhos e cravou as mãos em meus braços, com medo de algo. Segui seu olhar e, no banco da frente, Lexi olhava para trás com olhos dourados cintilando, enquanto Matthew (que estava dirigindo sem olhar, algo que realmente me apavorou) sorria, mostrando seus dentes afiados e olhos carmim. Comecei a rir. David se agarrou mais a mim, como um garoto assustado. Alexis ergueu a sobrancelha para mim, apontando para os dentes de Matthew e em seguida para mim.

—Dave? –obriguei-o a levantar a cabeça, que estava pousada em meu ombro. –Acredita em mim agora? –passei a língua em meus dentes afiados.

            David começou a gritar e tentar abrir a porta, mas eu o impedi.

—Não toca em mim! Isso é loucura, eu... eu estou ficando louco... Ah, meu deus –ele estava tremendo, em estado de choque.

—Chegamos –Matthew anunciou, e ele saiu do carro, contornando para abrir a porta para Alexis.

—Nós ainda temos 15 minutos. Acho que deveria acalmar ele para que eu possa levá-lo lá pra baixo –Alexis disse.

—Pra onde exatamente? –perguntei.

—Tem umas catacumbas no subterrâneo, acho que se uma... bruxa –ela ergueu as sobrancelhas sugestivamente –enfeitiçar as correntes velhas nós podemos prendê-lo lá embaixo até que você e Matthew saiam daqui o mais rápido possível. O resto é comigo –ela saiu do carro e começou a caminhar com Matthew. À nossa frente, haviam lápides de pedra em ruínas. É claro, estávamos no Velho Cemitério.

—Sarah, eu não sei o que pensar, o que fazer... Por favor me diz que isso é alguma pegadinha do Riley – David apoiou os cotovelos nos joelhos e colocou o rosto entre as mãos.

—Desculpe, mas infelizmente isso tudo é verdade. Eu sei que parece loucura mas... Argh... Você não faz ideia de como eu queria voltar para aquela época em que assistíamos filmes de terror todas as sextas. Mas agora minha vida se transformou em um próprio filme de terror e... você é mais um personagem dele – minha voz falhou. Lágrimas ameaçaram romper. David ergueu o rosto, e em segundos eu estava sendo envolvida por seus braços, mesmo que hesitantes.

—Ok... Vai ficar tudo bem desde que você me ajude. E, vampira gata ou humana nerd eu vou sempre estar ao seu lado – ele me deu um sorriso torto,colocando uma mecha de meu cabelo atrás de minha orelha.

—Obrigada. O lado bom disso é que agora acho que vou poder te beijar sem querer chupar seu sangue – brinquei. Naquele exato instante mesmo, eu me sentia exposta a algum perigo, talvez meus instintos de vampiro me alertando.Eu estava arrepiada, e com certeza não era num bom sentido.

David engoliu em seco e percebi que ele estava suando. Ele mantinha os braços ao meu redor, mas era óbvio que ele estava morrendo de medo. Imagine a Chapeuzinho Vermelho abraçando o Lobo Mal. Bem, digamos que eu era o Lobo e David era a Chapeuzinho.

—Bom... Acho que está quase na hora. Depois que tudo isso passar... Pela manhã... Eu vou te explicar mais coisas, agora não temos tempo – abri a porta e me virei, esperando por David.

            David saiu do carro aos tropeços e caiu de joelhos no chão.

—Dave! – gritei.

—Sarah, eu... – sua voz estava tão rouca que eu mal podia ouvir. Ele estendeu a mão que tremia descontroladamente, e vi que ela estava começando a... criar pelos. Ele gritou, e ouvi um ruído alto, como ossos quebrando. Seus cinco dedos estendidos para mim se transformavam lentamente em patas.

            Os olhos de David brilharam, adquirindo uma tonalidade... Prateada? Não era para serem dourados como os de Lexi?

—Matt! Lexi! Alguém me ajuda! – gritei. Eu estava ajoelhada ao lado de David, que se contorcia na relva úmida. Eu segurava seu rosto com as duas mãos, não conseguindo conter as lágrimas.

            Matthew e Alexis estavam lá em um piscar de olhos, e me ajudaram a levantar David. Eu mesma poderia ter levantado-o, mas ele se contorcia demais, os ossos mudando de lugar. Era assombroso de presenciar. Ao notar os olhos prateados de David, Lexi arregalou os seus.

—O que significa isso, Alexis? – gritei.

—Não há tempo pra isso agora, vamos! –ela respondeu, tentando pegar David pelos braços, tendo sua jaqueta de couro arranhada pelas... patas dele.

            Juntos, descemos por uma escada de pedra por um alçapão aberto abaixo do cemitério. Não precisávamos de luz. Nossa visão era excelente.

—Quando um lobisomem se transforma pela primeira vez isso tende a acontecer antes do sol de por. O corpo dele muda para receber a fera. Me desculpem, eu deixei passar esse detalhe... E é a fera que ocupa a mente dele na primeira transformação, então cuidado. Venham, por aqui – Alexis gritou em meio a agonia de David, com olhos que realmente transmitiam desculpas. Andamos um pouco até chegar a uma camara de pedra que cheirava a bolor. Haviam correntes nas paredes. Levamos ele até um dos cantos e o repousamos ali.

—Não acho que essas correntes vão resolver, precisamos de uma bruxa – Matthew analisou as correntes enferrujadas.

—Sarah, quer fazer as honras? – Alexis me lançou um sorriso. Era difícil ouvi-los com tantos gritos de David. Ela estava prendendo as mãos dele no chão, enquanto Matthew segurava os pés, ou melhor... Patas. David parecia uma mistura terrível de humano e animal. Seus dentes se transformavam em caninos.

—Está falando por causa das tatuagens? Eu e os outros também pensávamos isso, mas Sarah não é uma bruxa, Lexi. – Matthew balançou a cabeça.

—Na verdade... – mordi o lábio.

—O que? –a voz de Matthew subiu ainda mais do que antes.

—Explica depois, primeiro precisamos amarrá-lo, senão não vai sobrar nem um fio de cabelo de vocês dois depois que a transformação dele estiver completa – Alexis disse, impaciente.

—Acontece... Que não sei como fazer isso –expliquei. –Descobri que sou uma bruxa não fazem nem quinze dias.

—Parecia saber muito bem o que fazer quando chegou eletrocutando toda minha Alcatéia aquele dia... Olha, eu já vi bruxas fazendo isso várias vezes pra prendermos vampiros e lobisomens, então me lembro do feitiço. Segure as quatro correntes e repita o que eu disser. Não temos sálvia para purificar o lugar, mas talvez não faça diferença. Rápido, estou prestes a mudar.— ela gritou, lançando olhos loucos e dourados para mim. –Pense em prisões, jaulas, lugares claustrofóbicos e no seu poder interior! Repita comigo...

            Repeti as palavras pronunciadas em perfeito gaélico de Alexis, segurando as quatro correntes e me concentrando em Aislin, em como eu me sentia uma deusa quando libertava meu lado mais primitivo, meu lado mais mágico e poderoso. Uni isso a imagens de prisões medievais que me vinham em mente... Prisões medievais... O espiríto de Mary Ann estaria me ajudando a fazer isso?

            Pronunciei as palavras finais e ouvi Matthew arfar. Abri os olhos e vi que o lugar estava iluminado, como se a lua estivesse lá dentro daquelas catacumbas conosco, o que era impossível. Aos meus pés, não havia mais David, e sim um híbrido de lobo e humano horrível, que rosnava para mim. Só sua calça jeans estava inteira jogada no chão de pedra, com alguns rasgos, provavelmente havia sido tirada a tempo. Já sua blusa e um par de seu tênis não tivera tanta sorte.

            Registrei a cena em questão de milésimos. Antes que David pudesse me atacar, Lexi e Matthew o pegaram a tempo e prenderam suas patas nas correntes. Juntos, nós três corremos para o lado oposto da câmera. David estava enlouquecido tentando se livrar das correntes, em vão.

—Hora do show. –Alexis disse, com a voz também ficando rouca. Sem fazer cerimônia, ela tirou sua roupa e a jogou nos pés de Matthew, piscando para ele antes de se jogar no chão e, em um segundo, um lobo de pelagem preta e olhos dourados ocupava o lugar dela. Aparentemente, lobisomens tem consciência enquanto estão transformados, pois ela olhou para nós em tal alerta que nem um grito de “Fujam!” seria tão preciso.

            Olhei para David. Sua transformação em lobisomem estava completa. Ele não se parecia mais com um mutante horrível, mas sim com um lobo de pelo branco, negro e prateado, com lindos olhos prateados. O lobo lançava um olhar mortífero para mim e Matthew, rosnando alto e passando a língua pelos caninos.

            Voltarei pelo amanhecer, David. Prometi silenciosamente e parti em disparada para fora com Matthew.

********

—E então, como ele está? –perguntei a Matthew, no banco do carona.

            Dirigiamos de volta a minha casa, onde um jantar com outras seis bruxas me esperava.

—Cada vez pior. Não para de gritar por você e pela tal Mary Ann. A corrente não vai segurar por muito tempo. Temo que pela manhã ele se solte, lute com todos da casa e acabe se suicidando no final. Os gritos dele estão piores também. Minha casa se parece com um pedaço do inferno.

—Nos vamos conseguir dar um jeito. Eu prometo – passei as mãos em meu rosto, agoniada.

—Agora acho que você me deve explicações. Como assim você é uma bruxa? – ele perguntou, irritado.

—Bom... Eu estava... Tomando banho um dia e de repente fiz toda a água da banheira flutuar. Então é isso ai. Não tenho ideia de como usar meus poderes. – menti. Eu não era tola o bastante para dizer a ele sobre as outras bruxas, meus pais e Aislin.

—Ok, vou fingir que eu acredito. A sorte sua é que estou com raiva demais do meu clã para não contar que você é uma bruxa. Eles estão loucos procurando a tal bruxa “Destinada de Aislin” desde que me juntei ao clã. E com essas suas tatuagens, talvez você seja a tal bruxa. – ele suspirou.

—Q-que história é essa, Matt? – gritei. É lógico que eu era a tal bruxa. Ah, meu deus.

—Bom... Pelo o que Selena me explicou, Nikolaos vem querendo se livrar de sua maldição desde que a tem. E há uma lenda de cerca de há cada oitoscentos anos ou algo assim surge uma bruxa com poderes semelhantes aos dos deuses. A última foi a tal Mary Ann, namoradinha do Liam.Foi através dela que Liam conheceu Nikolaos e Selena. Mas ela morreu antes que pudesse ajudar Nikolaos e quebrar a maldição do Sol dele. Imagina como deve ser horrível não ver a luz do dia há mais de dois mil anos? Bem,  a situação de Nikolaos vem piorando muito, já que ele é o vampiro mais velho da história. Ele está a beira da loucura, então nós estamos procurando uma cura para ele, entende? Não só para ele, mas para tudo o que não é natural.

—Sim. –respondi. O que os Underworld queriam parecia inofensivo, comparado ao que tia Juliet me dissera. Qual dos dois estaria mentindo.

—Acontece que... Acabar com a maldição mexeria com o equilibro da natureza. Os seres que Aislin criou são aberrações. Nós, vampiros, os lobisomens e as bruxas não deveríamos existir. Demoraram-se séculos para que fossemos nos adaptando aos ciclos da natureza. Então, para que o mundo não exploda ou algo assim quando a maldição for quebrada, é necessário um sacrifício. O sacrifício da Bruxa Destinada.

            Não respondi. Estava em choque.

—É loucura, não é? Bem, nós viemos para Richlands seguindo a pista de que a tal bruxa estaria aqui na cidade. E agora deduzo que ela está aqui na minha frente. Mas eu não vou dizer nada ao Nikolaos. Sabe por que?

—Por que?-perguntei. Minha voz estava tão baixa que um humano não conseguiria ouvir.

—Porque para mim essa história de que eles querem sacrificar a bruxa SÓ para equilibrar a terra soa como uma mentira. Eu os conheço muito bem. São como minha família e eu os amo mas... Eles são narcisistas, amam sua vida como vampiros.  Não desistiriam tudo assim do nada. Acho que eles querem é acabar com os lobisomens e bruxa como uma forma de vingança da parte de Nikolaos pelo o que Aislin o condenou a viver pelo resto da eternidade. A sede por vingança é uma característica de um vampiro. Abnegação por um mundo melhor, não.

—Entendo. Obrigada por não contar... –droga, eu poderia sim confiar em Matthew? –Eu preciso mesmo participar desse tal jantar na minha casa, mas de madrugada pretendo fazer algo para salvar Liam. Está disposto a ajudar?

—E você ainda pergunta? – ele me lançou um sorriso torto. Há esta altura estávamos parados no outro lado da rua de minha casa.A entrada de carros estava ocupada. Elas já estavam lá.

—Me dê cobertura para que eu possa tirar Liam da casa. Vou tentar levá-lo até um lugar. Mas não vá atrás, ou eles suspeitarão de você.

—Moleza. É só colocar algum sonífero nas bolsas de sangue da casa toda. Ei, sabia que Boa Noite Cinderela é um dos poucos remédios que fazem efeito em vampiros? –ele riu.

—Eu planejava ficar invisível e entrar na casa, mas isso serve. Te encontro ás três da manhã?

—Fechado.

            Trocamos um aperto de mão e sai do carro. Tudo estava bem claro agora. Eu estava sendo usada pelos Underworld.

            Respirei fundo e atravessei a rua, rumo ao encontro de minhas irmãs, a quem eu realmente deveria confiar. As bruxas.

            Antes de abrir a porta, ouvi um longo uivo de lobisomem ao longe. Em algum lugar da floresta, David estava descobrindo seu verdadeiro eu.


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Notas finais do capítulo

E ai, o que vocês acharam?
Posso adiantar uma coisa sobre o próximo capítulo? #VAITERBRUXARIASIM



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