Eu não sabia por onde começar, mas eu tinha que falar de qualquer maneira.

– O que eu tenho para falar é mais sério que qualquer outra coisa.

– Então fala!

– Acho melhor a gente sentar.

Depois de sentados eu respirei fundo e comecei a falar:

– O que eu tenho para dizer foi uma coisa que aconteceu a 2 anos atrás, e posso dizer que mudou a minha vida – Olhei para baixo tentando encontrar as palavras para começar, foi quando senti a mão do Souma me tranquilizando e mostrando para seguir em frente. Então respirei fundo e continuei - Eu sempre tive esse jeito moleca de ser e não foi diferente quando cresci. – Dei uma pausa, mexi no cabelo, dei um breve sorriso e continuei a falar - Os meus avós por parte de pai vivem em uma cidade praiana no interior do estado, onde eu vivia, e todas as férias eu ia para lá, mas nesse ano eu tinha prometido para mim mesma que eu ficaria na cidade custasse o que custasse, eu tinha que ficar na cidade com meus amigos. Sei que não adiantou muito e fui obrigada a ir para lá. Estava tudo péssimo, até que quando eu cheguei lá. Eu fui apresentada ao Alex, um garoto filho de um casal que eram vizinhos dos meus avós. Eu de início, como eu estava revoltada, fiz de tudo para sair de lá e voltar para casa e claro que foi tudo em vão. Eu me meti em muita confusão e acabei ficando de castigo. Nesse meio tempo esse garoto, o Alex, ficou me pilhando e claro que eu brigava com ele direto, porém no fundo comecei a gostar dele, e claro com o meu gênio, fiz de tudo para não admitir isso. Tentei de tudo, mas no fim eu me entreguei aquela paixão. Foi maravilhoso enquanto durou.

Nesse momento eu travei completamente. Parecia que eu estava vendo aquela cena na minha frente de novo e várias vezes. Senti várias lágrimas descerem pelo meu rosto. De todos os momentos, esse foi o pior que já tive que passar. Esse assunto é difícil de conversar.

– Alice o que foi? O que aconteceu? Me fala.

Respirei fundo e continuei.

– Como eu disse, foi maravilhoso. Eu estava me sentido a melhor pessoa do mundo e até cogitei ir morar com os meus avôs, para ficar com ele, porém os meus pais me obrigaram a voltar para casa e eu também tinha passado numa prova que dava direito a uma bolsa de estudos no melhor colégio da minha cidade. Mas eu ia desistir de tudo para ficar com ele, então nós planejamos fugir e ir morar numa república de uns amigos dele.

Estava tudo pronto, as passagens já estavam compradas, as malas já estavam prontas e escondidas na garagem, eu já tinha até escrito uma carta para os meus pais, uma semana antes, falando que eu estava bem e estava muito feliz. Nós saímos de fininho pela madrugada e fomos para a rodoviária. Nisso chegamos ao nosso destino. Ficamos uns dias só juntos. Depois os nossos pais nos descobriram e descobriram também nossa localização. Resolvemos de novo fugir, mas dessa vez não tínhamos para onde ir. Simplesmente pegamos o carro do amigo dele escondido e sem rumo nenhum, só que no meio do caminho a gente começou a discutir, porque eu não aguentava mais essa situação, e não percebemos que vinha um carro em alta velocidade e......

– E o que Alice?

– Eu não me lembro de muita coisa. Eu só me lembro de acordar no hospital uma semana depois – Disse olhando para o vazio.

– E o que aconteceu com o Alex?

– Ele...ele...ele morreu – Não aguentei e cai no choro novamente.

– Nossa Alice – Disse me abraçando fortemente, me fazendo sentir mais segura – Não fique assim. Como você ficou sabendo disso.

– Logo que eu acordei fiquei desesperada querendo saber o que aconteceu e perguntando a onde o Alex estava. Meus pais demoraram a me falar o que tinha acontecido. Eles mentiram para mim durante uns dias até que eu descobri. Eu não aguentei. Me senti culpada por muito tempo. Acho que ainda me sinto, mas sei que não foi culpa minha.

– E não foi.

– Eu senti que precisava falar isso para você. Por isso eu não quero que você vá. Não quero te perder.

– Você não vai. Eu prometo. – Ele me beijou.

– Então fica um pouco aqui comigo – Passei a mão pelo seu rosto.

– Claro, meu amor. – Ele me beijou de novo e me abraçou forte.

Eu não falei nada, mas o meu coração estava apertado. A sensação de perda estava me invadindo, mesmo que por antecipação. Decidi então que deveríamos ficar por lá por um tempo, já que já era sexta. Porém tivemos um contratempo, que era os amigos do Souma. Ele me pediu para voltarmos, mesmo contra a minha vontade, eu cedi e voltamos.

Quando ele abriu a porta eles já não estavam mais lá, mas encontramos uma carta explicando que voltariam mais trade.

A tarde passou e a noite quente chegou, também trazendo os amigos do Souma, que por sinal estavam preocupados se nós estávamos bem. Eu fiz aula de japonês por causa do Souma, então não tive tanto problema em me comunicar com o pessoal. Logo que chegaram, eu senti os olhos me observando e acabei me sentindo envergonhada, pude até senti meu rosto queimar de tanto que devia estar vermelho.

– Galera essa é a Alice – O Souma disse me puxando um pouco para frente.

– Ei – Foi o máximo que consegui falar.

– Esse é o Kouga, Yuna e Ryuho.

Eu estranhei pelo fato deles não abraçarem quando se cumprimentam. Posso dizer que isso me frustrou um pouco.

Pude de longe ver esse tal de Ryuho me observar, mas não liguei e deixei quieto, pois se eu falasse qualquer coisa sobre o Ryuho me olhar o Souma é capaz de bater nele e acabar a amizade dos dois.

No início eu fiquei meio deslocada, mas logo a Yuna começou a falar comigo e depois o Ryuho se juntou a nós. A conversa foi fluindo bem e acabei me identificando bastante com eles. Só teve uma coisa que me incomodou, foi o fato dos olhares. Eu não me incomodo de olharem para mim, só que estava demais e estava me incomodando bastante. Não sei se o meu modo de falar, o meu jeito ou meu cabelo é tão diferente assim para eles, mas eu não fiquei quieta então falei:

– Acho que vocês não gostaram do meu cabelo. – Disse disfarçando a intenção.

– Que isso, ele é lindo.

– Obrigada.

– Mas, então como vocês estão? – Disse o Ryuho.

– Quem?

– Você e o Souma.

– Ah! Bem, mas por que da pergunta?

Eles ficaram um pouco envergonhados, mas continuaram.

– É porque ontem vocês brigaram e nós ficamos preocupados. – Disse Yuna.

– Ah, nós já nos resolvemos. Vamos ficar bem. – Disse por fim.

A noite se prolongou até tarde. Depois de tanta conversa e bem cansados, todos nós fomos dormir. Eu e o Souma fizemos questão que eles dormissem por ai mesmo, então acomodei a Yuna e o Kouga no quarto que o Souma dormia, enquanto o Ryuho dormiria no sofá. Estava tudo pronto, cada um estava em seu lugar. Eu e o Souma já estávamos, quando decidi falar:

– Ei! Souma.

– Oi – Disse num resmungo.

– O que você viu em mim? – Fui direta e sincera.

– Não entendi – Ele se virou para me olhar.

– Eu disse, o que você viu em mim? – Afirmei de novo.

– Por que você está me perguntando isso?

– Porque... porque eu estou confusa....- Ele me parou.

– Alguém te disse algo?

– Não é nada – Menti

– Tem certeza?

– Tenho. Mas me responda: O que você viu em mim?

Ele respirou fundo e olhando em meus olhos disse:

– Eu me encantei pela sua beleza, por sua força, esse seu jeito determinado – Ele deu uma breve pausa – Alice, eu te amo.

Senti uma lágrima escorrer pelo meu rosto. Eu me senti a mulher mais feliz do mundo depois daquelas palavras.

– Eu também te amo Souma – Nós nos beijamos.

– Agora acho que está na hora de nós dormimos. Hoje o dia foi longo. – Ele deu um enorme sorriso.

– Sim.

Então eu me aconcheguei em seu peito e adormeci por ali. Finalmente senti que o Souma era o homem da minha vida, e que queria passa o restante dela com ele.