Ouvi a porta se abrir lá embaixo. Já eram onze horas da noite. Kath havia saído com Dave me deixando sozinha e talvez nem mesmo voltaria naquela noite. Pelo jeito as coisas entre os dois estavam boas. Boas até demais.

Corri para frente do espelho e dei um última olhada. Havia tomado banho, passado uma maquiagem fraca, mas meus cabelos continuavam soltos e sem nada pra enfeitá-los. Coloquei um vestido um pouco comprido e mais colado ao corpo, que marcava minha cintura. Era de um roxo bonito e vivo. Estava começando a gostar daqueles vestidos.

Passei um batom vermelho e sorri para o espelho no mesmo momento que bateram em minha porta.

Abri-a e me deparei com Jeremy. Usava uma jaqueta preta que o deixava mais bonito.

– Preparada? - disse em tom de desafio.

– Sempre.

Passei andando por ele e desci as escadas. Ao abrir a porta, trombei com Jason que estava entrando no casarão naquele momento.

Vi-o abrir a boca querendo dizer algo, mas parou ao ver Jeremy encarando-o.

– Quem é esse? - perguntou.

– Um idiota qualquer.

Saí da casa. Estávamos na calçada quando senti Jeremy tocar meu braço. Seu toque era quente, ao mesmo tempo que era sutil. Virei o rosto, olhando para ele. O vento batia nos meus cabelos, bagunçando-os. Pensei em passar a mão e tirá-lo do meu rosto, mas Jeremy o fez primeiro. Ele permaneceu me olhando e isso me deu um frio na barriga.

– Vou abrir a porta pra você. - disse quebrando o silêncio e abrindo a porta do antigo carro.

Entrei no carro. Era um carro antigo com cheiro de couro misturado com o perfume de Jeremy. Gostava do seu cheiro.

– O castelo fica em um lugar isolado. - disse ao abrir a porta do carro. - Nunca entrei nele, mas gostava de parar em um lugar escondido e ficar observando. Vez ou outra ia lá apenas para pensar. Você vai gostar de lá. - olhou pra mim e sorriu. Seu sorriso era bonito. Na verdade, Jeremy era bonito. Seu corpo era incrível, era alto, da pele clara, de cabelos e olhos negros e tinha a barba por fazer. Era o tipo de cara que chamaria a atenção de todas as garotas. Me perguntei se ele tinha namorada, mas evitei perguntá-lo.

– Tenho certeza que sim. O castelo da pintura é onde Bruice morava, então?

– Sim.

– Então eu vou gostar. - disse sorrindo de volta. Jeremy estava me olhando como fez muitas vezes desde manhã. Senti meu rosto queimar.

– Sim, você vai. - disse ligando o carro.

Logo estávamos em uma estrada de terra completamente lisa. Quase não sentia diferença do asfalto. Não conseguíamos ver nada a não ser o que o farol iluminava alguns metros na frente.

Havia começado a ficar frio e logo me arrependi de não ter pegado nada de manga para vestir.

Vi Jeremy se mexer de modo a tirar cuidadosamente as mãos da direção.

– O que está fazendo? - perguntei.

– Está frio e você deve estar congelando. Vou te dar meu casaco. - disse tirando-o. Por baixo usava um camisa preta.

– Não, não precisa. Estou bem assim.

– Aceite essa gentileza. - ele sorria. Fez uma voz engraçada como os de nobres homens de filmes.

– Se insiste tanto. Obrigada. - peguei o casaco e o vesti enquanto sentia o cheiro de seu perfume.

Olhei para Jeremy e observei-o virar o pescoço para me olhar. Pensei que iria dizer algo, mas apenas abaixou a cabeça e apontou para o céu. Estava completamente limpo e tudo o que conseguíamos ver eram milhares de estrelas e a lua cheia.

Por um segundo pensei se minha ida para outro século fazia algum sentido e acabei me convencendo que tudo só estava começando.

*

Paramos o carro debaixo de uma enorme árvore. Tudo o que tinha por perto era árvore e planta.

– Já chegamos. - Jeremy levantou a mão para apontar o dedo de novo, mas dessa vez, o que estava na nossa frente era um enorme castelo.

Olhei para Jeremy com a boca aberta.

– É enorme! Nem acredito que é real.

De fato, eu havia ficado maravilhada. Nunca havia visto algo daquele jeito. Era um castelo enorme e escuro exatamente igual o da tela, mas era mais real e sombrio.

Fiquei em silêncio por alguns segundos apenas observando-o. Tudo o que escutava era o vento lá fora e nossa respiração dentro do carro. Jeremy parecia tão encantado como eu, mesmo já tendo estado lá.

– Por que nunca entrou lá dentro? - perguntei.

– Bruice morava lá e nunca saía do castelo. - respondeu normalmente, mas se virou para olhar pra mim. Sua expressão estava diferente e ele estava prestes a dizer algo. - Se ele morreu, isso significa...

– ... que o castelo está vazio. - completei.

Abrimos a porta do carro juntos. Eu sabia que estaríamos sendo insanos se entrássemos naquele castelo, até porque era crime invadir propriedades, mas eu precisava ver o que tinha lá dentro.

– Talvez seja loucura. - Jeremy gritou do outro lado.

– Melhor assim. - disse sorrindo.

Andamos por um estradinha apertada até chegar perto da ponte que dava para o castelo. Tudo parecia em um filme.

Paramos em frente a enorme porta.

– Como vamos entrar agora?

Jeremy levou a mão na maçaneta e girou-a, fazendo com que a porta abrisse.

– Está brincando comigo, não é? - disse rindo. Estava fácil demais pra ser verdade.

O castelo cheirava a canela e logo me senti confortável. Lá dentro, não conseguíamos ver nada, a não ser o luar entrando pela janela.

Tentei andar tocando no que vinha pela frente.

– Acho que é um candelabro. Por acaso você teria um esqueiro?

– Por acaso, eu tenho. - Jeremy riu.

Logo as velas estavam iluminando parte do lugar.

Olhamos para a parede. Tudo o que fiz foi olhar para Jeremy espantada.