Passei mais de uma hora tentando conversar com Kath. Hora ou outra, ela ficava confusa o que era extremamente normal, mas por ser minha melhor amiga, tentou entender a loucura que havia acontecido.

- Mas ontem você estava normal... - tentava argumentar.

- Eu também não entendo,Kath. Estou tão confusa quanto você.

Ficamos caladas. Tudo estava tão estranho que não valia a pena ficar falando demais e tentando entender tudo.

- Mas... você disse algo sobre baile? - vi os olhos de Kath brilhar.

- Oh meu Deus! O baile. Levante-se, temos que arrumar.

Continuei sentada.

- Sim, você vai no baile, não quero nem saber. – seus olhos divertidos me encaravam.

Observei-a sair do quarto. Agora estava sozinha e não sabia o que fazer. Talvez eu só precisasse fechar os olhos e me dar um beliscão, como sempre fazia quando era criança e não conseguia me recuperar de um pesadelo.

Levantei da cama e segui para a sacada. O céu estava nublado e o vento batia no meu rosto fazendo meus cabelos tamparem meus olhos.

- Tudo bem, é só um sonho estranho e confuso e eu vou acordar agora. – belisquei meu braço como uma garotinha e fiquei decepcionada ao abrir meus olhos e ver que ainda estava naquela sacada.

Apoiei meus cotovelos na beirada da sacada e comecei a observar as pessoas lá embaixo. Todos usavam roupas antigas, afinal, tudo ali era antigo. Ainda estava com minha camiseta do Oasis e minha calça suja de tinta.

- Ok, acho que vou nesse tal baile. – suspirei, tentando afastar os pensamentos inúteis.

Saí andando pelo quarto a procura do banheiro. Precisava tomar um banho e me arrumar.

Distraída, saí do quarto. Encontrava-me em um corredor com o chão em preto e branco como tabuleiro de xadrez. Sorri ao ver aquilo, era o tipo de coisa diferente que eu sempre admirava. Continuei andando pelo corredor que era cheiro de portas do lado esquerdo. Do direito, havia uma grade dourada. Cheguei mais perto, me apoiando nela para olhar lá em baixo.

Aquela era uma casa imensa que me fez lembrar o casarão que morava. Pensei em descer a escada, mas fui interrompida por alguém que me chamava.

- Donna, onde vai assim? – logo reconheci a voz. Ninguém mais que Jason.

Olhei-o de cima a baixo. Usava uma calça antiga e camisa branca. Continuava bonito e com o ar arrogante de sempre.

- Jason, - sorri desconcertada, mas lembrei de que ele sempre me via suja de tinta e não costumava ligar com isso. – só estou tomando um ar. – falei o que me veio na cabeça.

- Com essa roupa? Afinal, o que é isso?

Senti minha meu rosto queimar.

- Tchau, Jason. – revirei meus olhos e voltei para meu quarto. Talvez não estivesse tão preparada para viver em outro século.

- Mas você continua atraente! – ouvi-o gritar. Tive vontade de dar meia volta e xingá-lo, mas talvez aquilo não fosse tão comum naquela época.

Sorri com meu pensamento. Ficaria louca a qualquer momento.

*

- É bom você estar pronta! – Kath havia entrado correndo no quarto. Estava incrivelmente bonita.

Seus cabelos negros enrolados estavam presos em um coque, deixando que alguns cachos caíssem pelo seu rosto. Usava um vestido vermelho parecido com o que estava mais cedo.

- Você está incrível, Kath! – disse sorrindo.

Ao invés de agradecer, Kath ficou parada na minha frente com um olha de decepção.

- Obrigada! – notei seu tom de animação. – E você está... misteriosa. – ficou parada me observando.

- Está ruim? – virei de frente para o enorme espelho oval. Meus olhos estavam marcados pela sombra preta, meus cabelos negros caiam pelos meus ombros com alguns cachos delicados nas pontas e meu vestido preto com detalhes prateados me deixava elegante.

Kath demorou a me responder.

- Você nunca teve tão bonita, Donna. – ela parecia sincera. – Mas vamos, já está escuro e vamos ter que ir andando.

Não havia observado que já havia anoitecido talvez por demorar tempo demais a me arrumar. Tudo ali era novo e diferente para mim. Teria que demorar muito tempo para me acostumar.

- Não se esqueça das máscaras. – Kath gritou da porta.

- Máscaras?

- Baile de Máscaras! – disse como se fosse óbvio. – Estão na gaveta esquerda na penteadeira. E ande, já está tarde.

Andei cambaleante pelo quarto, voltando para frente do espelho. Não acreditava em tudo que estava acontecendo.