– Bom... chegamos. - Jeremy me olhava.

Seus olhos passaram da cor negra para a acinzentada. Não entendia o que aquilo significava, mas talvez estivesse feliz.

– Não vai dizer nada? - riu ao me observar completamente calada ao seu lado.

Ao invés de dizer o quanto o amava apenas inclinei e o beijei. Um beijo calmo que falava mais do que mil palavras.

– Te pego mais tarde?

– Sim. - sorri, saindo do carro.

Observei Jeremy dirigir o carro até virar a esquina. Me encontrei sorrindo sozinha até se interrompida por uma elegante senhora que passou na rua e resmungou algo que eu não consegui entender. Olhei para baixo e acabei entendendo que se tratava da minha roupa. Ainda usava a camisa preta de Jeremy e esta deixava minha perna toda de fora. Meu vestido roxo estava em minha mão, mas momento algum me preocupei em colocá-lo.

Abri a porta do casarão e entrei. Não ligava com aquela velha idiota, estava feliz demais pra me preocupar com nada.

– Por onde esteve? - ouvi a voz de Jason na escada.

– É do seu interesse? - revirei os olhos. Jason me irritava.

Subi a porta da escada, passando por ele rápido.

– Deve acrescentar que você ficou incrível nessa camisa. As garotas de hoje em dia não são como você.

– Me deixe, Jason. - disse, mas no fundo eu queria rir.

– É aquele cara que você saiu, né? - ele me seguia. - Está apaixonada... Cuidado! É perigoso.

Parei e encarei-o.

– Jeremy é perigoso? Que ideia é essa?

– Ótimo. - comemorou sozinha. - Bom jeito de descobrir o nome do tal cara.

Balancei a cabeça. Jason era um louco.

– Jason, você precisa se tratar.

– A apaixonada aqui é você. - disse e se virou as costas.

Caminhei até meu quarto observando o chão preto e branco.

Nada atrapalharia meu dia. Nada.

*

Na frente do espelho, observava minha aparência cansada. Meus olhos estavam um pouco vermelho por ter dormido pouco e eu teria começado a ficar nervosa em um dia normal, mas Jason estava certa. Eu estava apaixonada. E não, não precisava me tratar.

Comecei a desabotoar a camisa e me deparei com o papel que havia tirado do diário. Uma pontada de tristeza invadiu minha alma e me vi arrependida por ter mentido, mas não teria outra saída. Ou mentiria, ou deixaria Jeremy triste.

Em todas as circunstâncias, preferia ver Jeremy feliz.

Coloquei o papel em cima da pia e entrei para o banho. Logo que saísse do frio banho, iria guardá-lo em um lugar que ninguém precisaria encontrá-lo.

*

– Donna! - ouvi a voz de Kath sair do corredor.

– Oi Kath! - disse abrindo a porta, mas acabei sendo sufocada pelo abraço apertado da minha melhor amiga.

– Senti saudades. - disse rindo. - Pelo jeito tudo ocorreu bem lá, não é?

– Sim! Sente-se, preciso te contar.

Fiquei conversando com Kath por tanto tampo que só parei quando vi que meu estômago roncava. Kath me olhava com a boca aberta e logo vi que ela estava feliz por mim.

– Até que enfim você arrumou um namorado! E adivinhe...

– Você também? - comemorei antes que ela respondesse.

– Dave é incrível.

– É claro, tendo o nome do Dave Grohl ele só podia ser interessante. - brinquei, mas notei a expressão confusa de Kath. - Vai ser o baterista do Nirvana e após a morte do Kurt Cobain vai ser o vocalista do Foo Fighters.

– Você é meio louca. - disse tacando uma almofada na minha cabeça.

– Sim, sou. Mas você amaria o Dave em 2013.

– Já amo o meu Dave. - suspirou.

O segundo instante foi preenchido por um "onwt" prolongado, seguido por uma crise de riso.

Era bom estar com Kath, nossas conversas sempre acabavam em riso.

*

– Café ou canela? - Kath perguntava apontando para o cardápio da lanchonete da esquina.

– Café. - respondi confusa.

– Bolo de limão ou chocolate?

– Limão.

– Bala de mel ou...

– Cala a boca, Kath.

Ouvi Kath rir. Gostava de fazer isso só pra me irritar.

– Bom, sobre Jeremy... quando pretende contá-lo. - se referia a página de diário.

– Não sei se devo...

Kath ficou calada mexendo nas rosas que havia no centro da mesa. O cheiro de café logo tomou conta da lanchonete o que fazia com que me sentisse confortável e com mais fome ainda.

– O que acontece quando você for embora? - parecia triste.

– Eu não sei... realmente não sei.

Os olhos de Kath pareciam cheios de lágrimas. Ela não era de chorar e isso me deixou preocupada.

– Ei Kath, não fique triste. Vai ficar tudo bem. - toquei sua mão desejando profundamente que eu estivesse certa.

– Não aceito perder minha amiga mais retardada, boba e chata. - finalmente ela sorriu.

– Você não vai perder. Ainda vou te encher o saco por anos e anos.

– Se você estiver errada, eu te mato! - disse, me fazendo rir.

Tomamos nossos cafés comendo bolo de limão. Eu preferia aquilo do que um almoço e era sempre assim. Eu e Kath costumávamos alugar um filme e fazer algo para comer. Chocolate quente, bolo de café ou qualquer coisa de doce que ia nos proporcionar uma bela dor de barriga, mas a gente não ligava. O importante era estarmos juntas.