Solidão não Me Abandone escrita por Niina


Capítulo 1
A primeira vez




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Eu estava pronta! Queria sumir agora. Acabaria com tudo isso: minha tristeza, minha raiva, tudo que me afligia. Acabaria com a solidão, com a dor com o medo e com a ansiedade. Destruiria a idéia de poder sair andando, tomar um sorvete ou comer uma barra de chocolate. Eu iria morrer. Toda a dor que eu sentia acabaria, deixaria aquele lugar e poderia vagar por aí como se fosse um espírito qualquer, deixaria para traz aquele lugar com aquelas cores mortas e cheiro de remédios. Ninguém sofreria por minha morte, meus pais nem mais me visitavam, meus amigos nem me mandavam um simples cartão, e meu namorado... Não queria nem mais pensar naquele idiota, já teria me trocado por outra qualquer.

 No dia seguinte seria meu aniversário de 19 anos, e eu iria passar sozinha como os últimos três. Eu não havia tirado minha carta de motorista com que eu tanto sonhara, não tinha acabado o colégio, nem tinha me formado. Eu era a moça só, e não tinha nem um diploma, nem um amigo, nem uma companhia. Só aquele médico que me visitava uma vez por semana e me dizia que o meu tempo de vida era curto. Também aquela enfermeira que ia lá todos os dias com uma cara de má vontade, me aplicava àquela injeção que eu penava tanto para não receber e trocava a roupa de cama. E mesmo me vendo nesse estado viva reclamando que aquilo não era para ela, que ela não devia estar ali.

 Eu já me acostumara a viver sozinha e a não ter nenhuma visita. Que, aliás,  eu nem esperava mais. Só ficava ouvindo os outros quartos as pessoas felizes, conversar e lembrar aquele tempo onde tinha tido algum momento feliz. Também onde os visitantes tanto diziam que não viam a hora de ver aquela pessoa curada e fora daquele lugar novamente. Eu desejava tanto ouvir isso de uma pessoa qualquer, um estranho, qualquer um que apontasse naquela porta. Mesmo que não fosse pra mim, mesmo que depois ele dissesse que tinha errado de quarto e que não queria ter incomodado.

 Companheiros de quarto eu tive sete, mas agora eu estava mais sozinha que nunca. Fazia mais ou menos uns seis meses que ninguém tinha ido sequer até lá. Apesar, depois do que houve com o meu último companheiro de quarto, eu nem queria mais um.

"Quando a enfermeira entrou no quarto, ele, aquele jovem de uns 15 anos, a chamou e eu só consegui ouvir algumas palavras. Eles pareceram discutir por alguns segundos. Na hora eu não havia entendido, não tinha dado nem bola, ele sempre arrumava confusão, mas depois de alguns minutos, vi dois enfermeiros entrarem no quarto e levarem meu companheiro. Achei que ele voltaria em alguns minutos ou horas. Mas depois de dias percebi com pesar que o garoto queria distância de mim, e que nunca mais voltaria para lá. Acabei perguntando para um enfermeiro ‘Cadê o Marcos, ele volta?’Mas não obtive resposta. Senti como se meu coração tivesse sido dilacerado. O que eu havia feito para pessoas não quererem nem compartilhar um quarto de hospital comigo. Eu não era uma má companheira assim, eu nem abria a minha boca ás vezes, mais...”

Tive a esperança que em alguns dias ou semanas viria mais alguém para cá, junto a mim. Mesmo que eu ficasse mais triste ao vê-los receber visita de pessoas, eu às vezes era incluída nas brincadeiras e jogos, e claro que isso me deixava um pouco mais animada. Mas, apesar disso, não tinha nenhuma diferença de ter ou não alguém no mesmo quarto que eu. Eu normalmente não puxava conversa e nem prestava muita atenção, sempre fui muito distraída.

 As horas se passam mais rápido quando gastava o tempo pensando. Agora já eram 10h30min e eu estava tomando meu chá para dormir. Queria que amanhã não chegasse, pois seria doloroso. Meu aniversário de 19 anos e não iria receber um telefonema, um cartão ou qualquer coisa que fosse. Embora eu saiba que 19 anos não é um desses aniversários que todos se lembram como o de 15 ou 18, gostaria de receber qualquer coisa que fosse. Mas para variar passaria o dia inteiro enfurnada naquela cama e ficaria lá, como em todos os outros dias.

 Dormir não era muito o meu forte, mas eu não demorei muito para isso, e na manhã seguinte eu estava acordada, não me levantei para ver que horas eram, mas calculava que fosse umas 7h30min. Talvez recebesse uma visita qualquer, diferente dos outros dias. Embora não tivesse muita esperança, fiquei ansiosa para ver se acontecia.

Então foi quando eu ouvi a porta se abrir. Estava de costas, e nem me virei. Jurava ser aquela maldita enfermeira, não era horário de visitas ainda, mas em poucos segundos, me dei conta de que não era ela. Pois um ser tão grande, forte e lindo me pegou pelo braço, me assustando e fazendo-me encará-lo com um ponto de interrogação na cabeça. Ele era forte, alto, bonito, aparentava ser pouca coisa mais velho que eu. Seus cabelos eram negros como a escuridão, que me assombrara, olhos tão azuis que mais pareciam com o céu que sempre admirava antes de ser confinada aqui. Uma expressão de garoto em um rosto de homem. Fiquei olhando aquele ser tão belo e ele também me fitou. Mas quando ele ia dizer algo...

- O que você pensa que está fazendo aqui, moleque? Você não é enfermeiro e muito menos medico. Saia daqui agora! - Uma mulher alta e de cabelos cor de fogo entrou estabanadamente abrindo a porta. E agarrando o braço musculoso do meu visitante secreto, arrastou-o para fora.


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