Murmúrios escrita por Queridos leitores


Capítulo 1
O Desconhecido


Notas iniciais do capítulo

Terá erros, mas se ocorrer de ter, avisem-me pelos comentários.



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Sou literalmente a pessoa mais sortuda do mundo.
Obrigada pai por ter partido numa hora onde suas duas mulheres da vida jamais iriam suportar quando fosse partir. O caminhão no qual atravessou sua cabeça para o outro lado do acostumento e suas pernas em cima das árvores a metros de distância, não deveria ter existido. Poderia ter feito outro caminho desigual e ter arrebentado com a vida de outra pessoa, não a sua.
Chorar nem era mais a situação mais perigosa entre mim e Charlie, minha mãe. Apesar de que escuto todas as noites, antes dela fazer sua oração, chorar e pedir perdão a meu pai. Mas também não era este o caso que gostaria de chegar. Charlie foi medicada com depressão profunda, não quer mais sair de casa, não quer mais sair da cama, não quer mais alimentar sua filha de dezessete anos que ainda vive na adolescência, não quer mais viver. O médico teve que vir até em casa, para fazer seus exames, pois Charlie não iria levantar seu corpo magro tão cedo da cama. Sim, é triste ver a situação em que ela se encontra, o corpo não está perfeito, parece apenas um osso com pequenas camadas de pele, não conseguimos mais ver a gordura, que a dois anos atrás tinha em seu corpo rechonchudo e feliz. É a perda que esta a matando, o fato de nunca ter esquecido do homem, o único que a fez feliz todos estes anos. A pele que já foi bronzeada e cheia de vida, agora era pálida e triste, como se tivesse com gripe desde a morte dele. Os olhos verdes na quais herdei, não estão com brilhos charmosos e cantantes, não parecia mais como pedras raras e graciosas, não estava nem perto dos meus. O cabelo castanho escuro, que eram compridos, agora estão curtos até o pescoço, num corte torto e rápido, ela que o fez. E ainda continuam tão mal cuidados.
Apenas eu, Magdalena, consegui praticamente superar a perda, mesmo que Charlie faça relembrar disto todos os dias. Não entrei em nenhuma depressão, estou cada dia mais aceitável na sociedade, mesmo que chamem minha mãe de louca. Meus cabelos herdados de meu pai, castanho claro, quase num tom loiro, ganharam formas compridas e lisas nestes últimos anos e meus olhos verdes, que saíram de Charlie, pareciam se destacar no meio da multidão. Todos encaram-os com explendor, boquiabertas e murmurantes.
Contudo, ganhei uma oferta que era impossível não aceitar. Morar em Hartford, no estado do Connecticut. Nem importei com a resposta de Charlie, levei ela no carro enquanto dormia, pois o remédio que toma, faz ela dormir por dois dias seguidos, algumas vezes ocorreu de ficar três dias. Porém, no meio da viagem, ela simplesmente se acordou e perguntou onde estávamos. Dei outro remédio para dormir e sem ao menos pensar, fechou seus olhos rapidamente.
Agradeço por quem me deu a casa para morarmos, sendo que pagassemos, como um aluguel. Pois no dia que cheguei, e coloquei Charlie na cama, e ela sentiu o cheiro novo da cidade, ela reviveu. Fez minha matricula na escola nova, Hartford High School, comprou os materiais e voltou para a casa com comida, sim, ela preparou praticamente um banquete para nós duas.
Hoje, depois de dois dias rindo com Charlie, deveria ir para o meu primeiro dia no último ano da escola. Me mudar para Hartford apenas danificou os meus estudos na outra cidade, mas me aceitaram rapidamente nesta que agora não terei tanta dificuldade.
Paro nos portões sinuosos e imensos, Hartford High School era obscura, não só seus portões enviavam a nós uma mensagem de quão profundo era aquele local. Seus muros de seis metros ou mais, foram pintados com uma tinta onde ninguém jamais conseguiu fazer desenhos ou letras nas quais toda a cidade envolve. Passei num restaurante de hamburguer e toda ela estava com letras de marginais, com seus nomes ou gangues organizadas. Até cidades pequenas temos isto. A tinta era negra, e o restante também. Os portões se abrem com um barulho, como se entrassemos numa mansão amaldiçoada e que os fantasmas da boa vizinhança apenas davam a grande e inadequada boas vindas aos novos moradores/estudantes/funcionários/professores/diretores/curiosos.
Não tenho medo deles.
Não tenho medo dos portões que se abrem, estou sentindo até ansiedade de finalmente encarar o prédio de quatro andares que envolverá meu corpo, que me segurará com seus imensos braços negros e me levará para a escuridão profunda de suas salas sombrias. Onde colegas irão encarar meus olhos verdes pela primeira vez sem saber do meu passado e como apelidaram minha mãe. Eles não sabem de nada.
Eles não sabem de nada.
Mordo os lábios para evitar o frio que vinha dos dedos dos pés, em direção o cerébro. Apenas estava entorpecida da dor alucinante e a vontade jamais esquecida de entrar num lugar que me encara com aqueles enormes olhos negros profundos e apenas diz para não entrar, que algo terrível irá acontecer comigo se fizer o contrário.
Então dou um passo a frente, junto com mais de quatrocentos adolescentes. Maioria garotas, pude perceber. Estou quase no fundo, meio caminhando, meio sendo levada a força em direção ao edifício de quatro andares. Mas não tenho medo deles.
Parecem cachorros esfomeados que a semanas não conseguem comer por causa da pobreza que ambienta o local. A família tem uma coleção grandiosa de cachorros e quando recebem a primeira a refeição depois de alguns dias, eles simplesmente partem em direção ao pote, e correm tão rápido e desajeitados, que muitos deles cambaleam no meio do caminho e caem.
Ou como corridas de cavalos, quando solta o gongo, eles correm em tanta velocidade, fazendo barulhos altos e as pessoas em suas voltas gritam, torcendo para que um devido ganhe. Eles apostaram em tantos cavalos e estão tão furiosos se aquele não ganhar, que gritam e mesmo que eles não o escutem, eles gritam mais do que tudo.
Sou um cachorro fraco, e que tem mais fome que qualquer outro, quero chegar primeiro, mas sou tão magro, que eles apenas me deixam para trás. Mas também sou um cavalo, que não corre que nem os outros, está lá porque o dono insiste em tê-lo nas corridas, mas ele nunca ganha e ninguém aposta em mim. Ninguém gosta de cavalos loiros com olhos verdes que nem ao menos conseguem correr com graciosidade e rapidez. Ou cachorros pulguentos que não conseguem chegar a sua comida como antigamente.
Mas consigo chegar a porta enorme do edifício. Sinto anã diante da escuridão profunda que encaro. Se movimenta para cima com gratidão. Quase ninguém olha para o edifício, talvez porque já tenham se acostumado com a vastidão que lhes envolve e engole cada corpo. Não sou a única, aliás, pois também tem alunos novos, são poucos, mas ainda tem. E eles encaram tudo, como eu, com olhos arregalados, bocas abertas até ficarem esticados e cabelos espigados com a admiração que arrepiaram cada pelo incomum de seus corpos.
Quando as portas se abrem, espero alguns segundos até aliviar um pouco a multidão que espalha-se dentro do local. Quando tudo suavisa, passo por eles, com apenas duas ou três pessoas ao meu lado e vou em direção nas placas que anunciam a direção. Para a direita, depois para a esquerda e reto. Uma porta escura com uma placa branca e letra preta estão escritos, com uma ortográfia medieval que ali era meu destino, por alguns minutos.
Há uma funcionária de cabelos ruívos e óculos no balcão. Seus olhos negros fitam os meus rapidamente, e se vira para pegar as papeladas.
— Aqui estão o mapa da escola e seus horários. Seja bem vinda, Magdalena, a sua nova escola.
Ela estica suas mãos com pintas até mim, pego o pápel que tem conteúdo vice e versa. Dou as costas para ela sem agradecer, sem fazer absolutamente nada. Encaro os papéis e vejo a primeira aula que irei assistir. Biologia.
Odeio biologia.
Abro e fecho a porta rapido, e começo a caminhar para a esquerda, depois a direita, novamente a esquerda. Subo uma escada que parece dar ao infinito — e além — mas encaro um número avisando ser o segundo andar. Vou reto, para a direita e novamente reto, até a terceira sala. Faço todo este caminho olhando a folha, otrora via meus pés e o caminho que formava a seguir.
Forço a porta duas três quatro cinco vezes antes de abrir. Sou a única a chegar atrasada, todos estão sentados olhando para a frente, e o professor começará a escrever no quadro negro. Quando o rosto branco aparece durante a passagem, entre o tempo em que abro e o tempo que a fecho, todos me encaram de uma vez só, sem hesitarem, sem pensarem, sem refrexões. Apenas fitaram os olhos verdes sinuosos pela primeira vez.
Sem murmúrios.
— Deve ser Magdalena Clawford, a aluna nova.
Concordo balançando a cabeça possitivamente.
— Sente-se com o também novo aluno, Ian O'Brien e fique quieta. Estou tentando me apresentar ao novo grupo de estudantes.
Encaro os meus colegas de biologia, tentando mostrar a minha falta de atenção, pois não sabia quem era Ian O'Brien e nem onde estava sentado. Arregalo os olhos em direção a uma garota loira, e ela, com os olhos em chamas, apenas encara a última mesa, no fim absoluto da sala.
Sim, lá estava o garoto. Ian O'Brien. Penetrante, silêncioso, assustador, aterrorizante, maldoso, lindo, bonito, mais do que isto, perfeitamente maravilhoso. Cabelos negros, nunca vi cabelos tão escuros como o dele, parecia que tinha colocado sua cabeça no óleo, ou algo absurdamente negro. Mas não era apenas aquilo que o deixava tão incrível, e sim aqueles olhos penetrantes e que pareciam fazer piada de tudo. Não sorria, não fazia nenhuma expressão que anunciasse que ria mentalmente, mas os olhos azuis, mais claro que o céu no dia mais limpo, estava dando gargalhadas de mim, mas só dentro da mente maldosa e sarcástica de Ian O'Brien. Que mal conhecia, mas só com aqueles olhos que diziam tudo, já sabia tudo sobre ele.
Passo o corpo na cadeira, ficando apenas alguns centímetros longe de Ian. Ainda que consiga sentir o calor que vinha dele, mais gostaria de afastar o quanto antes. A aula poderia explodir nos segundos, nos minutos, nas horas, nos dias, nas semanas, nos meses, nos anos. Poderia apenas acabar com facilidade, e jamais voltar a realidade de sentar ao lado do garoto mais lindo que já na vida. O que todo mundo já viu, primeiro do que eu.
Com toda a certeza, sinto-me egoísta. Deveria ter sido eu a primeira, e não a última. Mas o melhor é que sou a primeira a sentar ao seu lado, um golpe de sorte, suponho. Porém, não queria ser o centro das atenções das outras garotas e elas são o ponto forte da escola, tem mais delas, do que qualquer outro garoto, então, se alguém encantadoramente belo chega aqui, é amparado por todas as solteiras. Era claro que aquilo iria ocorrer. Já conseguia ver os olhos abarrotados e com inveja atravessando as costas de alguns e travessando-nos como raio laseres.
— Magdalena! — Escuto sua voz, era mais penetrante que seus olhos. Rouco, mas encantador. Não gostaria de fitar aqueles olhos novamente, não queria falar com ele, não queria me mover. Mas ele fez com que virasse, a força, pois colocou o cotovelo sobre a mesa e levantou seu corpo para perto, até conseguir focar seus olhos azuis nos meus olhos verdes.
— Escute. Tem muita atenção vinda diretamente para nós dois aqui, se ainda não notou. Posso ser fritada num espeto de churrasco se continuar falando comigo. Então, cale-se.
Ele ri. Não uma risada alta para todos escutarem e dobrarem seus pescoços freneticamente para trás, mas baixa o suficiente para apenas uma pessoa escutar, e ela estava bem ao lado. Pelo menos não precisava olhar nos seus olhos, que agora já desviei, para saber o que Ian estava pensando. Estava caçoando de mim.
— Tenha calma, bebê. Só gostaria de saber como conseguem retirar apelidos carinhosos para você. Porque, não gostaria de chamar você, sempre que sentar ao meu lado, de bebê. Então coloco um apelido e ficamos quites.
Não tem como tirar apelido de Ian, mas apenas por escutar ele falar, teria um. Babaca.
— Mag. Lena, faça o que quiser com os apelidos.
E calamos a boca, na verdade, eu, pois Babaca ainda iria continuar, se não sussurrasse para ele parar. Não queria atenção dos outros e consegui passar por isto com incrível façanha. Ninguém virou, ninguém escutou, ninguém quer fazer churrasco de meu corpo. Agora poderia prestar atenção na odiosa biologia, finalmente.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler, agora faça um favor para a escritora feliz, faça um comentário agradável que me fará sorrir. Um beijo.



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