Hana escrita por hidechan


Capítulo 1
Oneshot


Notas iniciais do capítulo

- Música e título - Hana (flor) de Rimi Natsukawa.
— Hn, simplesmente sentei e escrevi, com todos os meus sentimentos num dia triste.



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            O rapaz com olhos cor de gelo adormeceu sob um grande carvalho, em seus sonhos, corria num campo sem fim, a grama gelada e macia sob seus pés lhe fazia cócegas; logo pode tocar as nuvens com as pontas dos dedos e valsar sobre as mesmas com seu anjo de cabelos dourados... gostaria de ficar assim para sempre.

- Para sempre... _balbuciou antes de retomar totalmente a consciência e abrir os olhos, a noite fria o fez estremecer e se encolher um pouco mais numa tentativa que se mostrou inútil de se aquecer _...aquela pessoa... como estará agora? Estará valsando sobre as nuvens? Sorrindo como o sol do amanhecer? Ah... meu anjo.

Chore, sorria

Sempre, vamos, sempre...

Cuidando da flor

Chore, sorria

 

Sempre, vamos, sempre...

Cuidando da flor

Chore, sorria

Algum dia... algum dia o botão irá florescer

Japão, 21 dias atrás.

- Neji-sama! O senhor tem que tomar cuidado ao sair da casa principal, a região de Senju está sendo atacada agora mesmo!!

- Senju... _mordeu o lábio inferior e serrou o punho, preocupado _vamos mandar a família principal ficar aposta no esconderijo subterrâneo.

- Sim senhor.

            A segunda guerra estava por terminar, os países pouco a pouco iam comemorando as vitórias e acolhendo os feridos. Apesar do alívio de mais um dia passado sem tragédias e da esperança agora estar relativamente próxima, a região de Senju, á 20 km do grande império da família Hyuuga fora atacada por um grupo ainda desconhecido. Talvez rebeldes do país inimigo numa ação não governamental ou ainda resquícios de uma guerra mal acabada.

            Neji era o primogênito do ramo secundário da família, tinha como dever proteger a família principal em especial Hinata e seu pai. Fora treinado desde muito cedo a combater qualquer tipo de ameaça, seu psicológico fora trabalhado de uma forma que jamais trocaria sua vida por qualquer outra coisa que não seja “a família principal”.

            Tomando seu posto, adentrou dois metros a floresta que cercava a entrada principal e esperou por qualquer ameaça que viesse ocorrer.

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- Uuuh que fome _abraçou a barriga mais uma vez tentando conter o desconforto _faz quantos dias que não como?... _contou nos dedos mais de três dias e novamente fez uma careta. 

            O loiro diminuiu o ritmo dos passos, já não conseguia enxergar um palmo a sua frente pela visão turva; a fome lhe fazia ter raras visões e passou a ignorá-las quando quase caiu de um barranco certa vez. Tombou para o lado tentando ao menos proteger seu rosto, bom, talvez pudesse ao menos morrer belo e digno – nada mal para um forasteiro que sempre sofreu com seus cabelos dourados pelo povo japonês.

O rio que corre, aonde, para onde vai?

As pessoas que passam, aonde, para onde vão?

Ao chegarem ao destino na caminhada

Como uma flor, como uma flor gostaria que desabrochasse.

Chore, sorria

Algum dia... algum dia o botão irá florescer.

            O jovem de cabelos longos continuou a fazer sua ronda, uma das poucas áreas que não sofreram os impactos do armamento pesado no inimigo, um oásis em meio a tanta destruição. Mais a frente pode avistar casas destruídas de pobres aldeões, que agora não mais trabalhavam em suas lavouras; talvez tivessem sido empregados da mansão – Neji trincou os dentes de ódio, quanto mais teria que esperar para aquela guerra estúpida acabar? E pior, por que não fora capaz de fazer nada para aquelas pessoas tão humildes?

            Dando a volta pelos destroços, levou um susto ao topar com um garoto caído no chão. Estava muito ferido, com o braço porcamente enfaixado e as roupas quase em trapos; seu rosto, porém não continha um arranhão sequer, e como era belo! Nunca tinha visto alguém com cabelos tão dourados, ficou por um segundo sem fôlego ao imaginar o quanto seus olhos também deveriam ser raros.

- Você está vivo? Ei, acorde... _ apoiou sua cabeça em seu colo ao constatar que o mesmo ainda tinha pulso.

- Fome... _balbuciou.

- Fome...? Eu... vamos, vou cuidar de você.

            Neji levou o garoto para dentro do único cômodo não destruído da pequena casa, sabia que seria um problema levá-lo até a sede principal. Saiu correndo em busca de um pouco de arroz e sal, talvez até ovos, e prometeu que voltaria o quanto antes.  A comida escassa era limitada á todos, então pegou sua própria reserva, sem exageros, e preparou o mínimo para a vítima.

            O cheio dos ovos cozidos fez as safiras brilharem quando se constatou que não era um sonho, levantou o mais rápido que seu corpo permitia naquele estado e olhou em volta, confuso.

- O que está acontecendo? _perguntou ao jovem que estava de costas para si, cozinhando o alimento num fogão improvisado.

            O mais velho engoliu seco ao ouvir a voz rouca e fraca atrás de si, respirou fundo por um segundo e então se virou. Assim que os olhos cor de gelo se chocaram com o par de safiras, agora um tanto curiosas, um sorriso largo desenhou em seus lábios finos e seu coração deu um salto.

Era como se visse a imagem de um anjo.  

- Você estava desacordado... então o trouxe para dentro _tentou se explicar tropeçando nas próprias palavras.

- ...está louco?! Salvar uma vida pode custar outra nesse tempo de guerra _deixou uma lágrima teimosa cair bochecha abaixo _o que pensa que está fazendo?

- Gohan e ovo _estendeu uma vasilha simples para o homem a sua frente, dando um risinho tímido _a água está farta por enquanto, então se hidrate bem.

- Eu não posso aceitar _falhou ao tentar ser firme diante a oferta do outro, mas não ia ceder tão facilmente.

            Comida, água, medicamentos e agora no final da guerra, moradia e roupas eram tratadas com itens raros. Ninguém ajudava ninguém que não fosse de seu próprio sangue, cada um se agarrava a vida do jeito que podia; os mais fracos morriam na miséria. O jovem tinha consciência disso e iria honrar o nome de sua família – tudo o que lhe restara, aliás – até o final, quando pudesse trabalhar e colher seus próprios frutos.

- Eu... trabalho para uma rica família que não fora afetada por uma bomba se quer, temos alimento e água, roupa e medicamentos por um longo tempo. Mas, eu vi muitos aldeões morrerem na miséria e meu amo nada fez, fiquei preso e um pouco aliviado, confesso, de estar perto da “princesa” e assim sobreviver... me diz, o que é passear calmo pelo campo se ao lado meus irmãos não podem ao menos se levantar? O que estou fazendo agora é errado e nunca pensei em desobedecer a uma ordem oficial...porém, me deixe ajudar a pessoa que tanto me encantou, só uma vez, me deixe ser livre.

- ...eu jamais seria digno de encantar alguém _passou a mão nos cabelos maltratados _veja isso, não sou seu irmão.

- Não seja tolo, se está neste solo é por que faz parte de nossa nação. Eu nunca tinha visto alguém como você, realmente, mas o achei parecido com um... _desviou o olhar, seu rosto tomou um leve rubor e as palavras ficaram presas em sua garganta _ “um lindo anjo” _completou em pensamentos enquanto admirava aqueles olhos azuis, azuis como um lago profundo.

            Sem mais conseguir se conter, cansado e abatido psicologicamente, o loiro abraçou o homem gentil a sua frente agradecendo-o mil vezes pelas palavras tão belas.

            Faminto, devorou tudo ao seu dispor, Neji apenas esperou silencioso do outro lado do cômodo admirando a vida que tinha acabado de salvar – sua obra prima.

- Estava muito bom! Me sinto outra pessoa _disse por fim _se me der alguma semente, posso plantar agora mesmo e te devolver toda a gentileza.

- Vou arrumar alguma, talvez abóboras.

- Obrigado... _sorriu sem graça _eu não sei o seu nome, sou Uzumaki Naruto!

- Hyuuga Neji, o primogênito da família secundária, prazer em conhecê-lo.

Lágrimas que correm, aonde, para onde vão?

O amor que flui, aonde, para onde vai?

Nesta passagem do meu coração

Como uma flor, como uma flor quero receber...

Chore, sorria

Algum dia, algum dia o botão irá florescer.

             Os dias passaram numa falsa calmaria, os ataques não chegaram mais perto, porém o medo era presente em toda a região. Neji ia diariamente visitar seu, agora, amado Naruto; perdiam os dias na pequena plantação e noites de luxúria.

            Um pequeno mundo perfeito em meio a tanta tragédia.

            O moreno saia do castelo todos os dias ás 23 horas, quando todos dormiam e seu turno era trocado por outros soldados. Ás 23:20 estava em pé ao lado da porta da casinha e em seus braços, as vezes flores, as vezes um pouco de alimento; mas em seu rosto um belo sorriso e em seus olhos todo o amor que lhe era possível.

            Naquela noite do dia 21, Naruto sentou no beiral da janela para esperar sua tão desejada companhia, mirou o céu estrelado brincando com um objeto entre os dedos – daria o colar que ganhara de sua avó Tsunade como presente, uma demonstração de carinho por tudo que o outro fizera.

Nunca tinha tido o reconhecimento de ninguém além de sua família, todos mortos logo no começo da guerra, quando tanques atiraram sem piedade contra a casa da família Uzumaki. Imigrante e sozinho, analfabeto, humilde, Naruto nada pode fazer naquele país preconceituoso onde negaram abrigo e comida; ás vezes ganhava socos e ameaças por chegar perto das pessoas. 

            Mesmo passando por tudo isso, continuou a viver acreditando num futuro, mesmo que fosse um mínimo raio de esperança, ele continuaria em pé de cabeça erguida. Neji tornou possível que o Uzumaki seguisse em frente, queria agradecer de alguma forma e achou que o pingente seria a melhor delas.

- Espero que ele não demore... _olhou mais uma vez para o céu.

            Seus olhos ficaram vidrados no pequeno ponto ao leste, um projétil cor de fogo rasgou o céu com violência. Não teve tempo nem ao mesmo de se respirar antes do impacto; tudo se tornou cinza, tudo se tornou negro como um céu sem estrelas.

O botão como uma flor pode desabrochar

Nós, como pessoa, derramamos lágrimas.

Esta que é a natureza desta canção

Dentro do sentimento, lá dentro do coração vamos desabrochar a flor...

            A alguns metros dali, Neji usou suas ultimas forças para tirar o destroço de concreto que prendia sua perna. Com ferimentos nos braços e a perna quebrada, tudo que pode fazer fora alcançar o ponto mais alto de onde estava e mirar a pequena vila onde a bomba tinha explodido.

            Não pode ver mais a casinha e nem a plantação de abóboras, tudo era um enorme buraco sem vida.

            Com o coração em pedaços, atirou seu corpo para baixo e caiu do telhado onde estava até então, num baque surdo, avançou se arrastando pela grama.

- Me desculpe, Naruto... pelo atraso de hoje...

            O jovem se virou para cima e mirou o céu estrelado, pode sentir a brisa calma balançar seus cabelos e as folhas do grande carvalho.

Chore, sorria

Sempre, vamos, sempre...

Cuidando da flor

Chore, sorria

Sempre, vamos, sempre...

Cuidando da flor

Chore, sorria

Algum dia... algum dia o botão irá florescer.

END.


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Notas finais do capítulo

;* Obrigada.



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