Mesmo tendo dormido sóbria – ou mais ou menos – eu não se lembrava de ter chegado até a casa da Thalia. Mas era simples: eu estava ali, no quarto das meninas, na minha parte do beliche. A surpresa veio depois: o quarto estava cheio de areia, Bianca e Silena estavam na cama de casal – ambas com a roupa da festa – e com duas garrafas de água no chão, ao lado de uma cartela de comprimidos, provavelmente para dor de cabeça. Porém, nenhum sinal da Thalia.

Levantei-me e fui até a sala. Lá estava ela, e Luke estava ao seu lado. Nico estava no outro sofá, roncando mais do que nunca. Fui até o quarto dos meninos, e Percy estava lá. Assim como eu, ele estava com o seu pijama, dormindo tranquilamente no beliche.

Não pude conter, eu abri um largo sorriso. Uma das coisas que eu gosto é ficar olhando para ele, mesmo que seja só por um instante. Antes que eu pudesse sair do quarto, ele me chamou.

–Oi – eu respondi.

–Vem cá – ele disse então eu me aproximei. Ele me encarou, por um segundo, e bateu em um dos lados do travesseiro. Ele queria que eu deitasse do lado dele.

Eu sorri, então fui.

É claro, manti minha distância e blá blá blá. Mas se tem uma coisa que é boa no meu relacionamento com o Percy: não existe nenhum momento em que eu me sinta desconfortável com ele. É como se eu estivesse deitada com um irmão mais novo enquanto nós assistimos desenho.

A única diferença é que ele não é o meu irmão e nós não estamos assistindo desenho.

–Está acordado faz tempo? – eu perguntei, analisando os seu rosto. Lindo...

–Não muito – então ele começou á "brincar" com o meu cabelo. – e você?

–Não muito. – eu disse. – Que horas são?

–A última vez que eu olhei eram 5:57. Agora deve ser seis e pouco.

–Sério? – eu estava surpresa. Porque eu tinha acordado aquela hora mesmo? – Acho que eu vou dormir.

–Dorme aqui, então – ele disse, e ele estava falando sério. Não protestei.

Assenti com a cabeça. Senti os braços de Percy me envolverem. Não sabia como, mas agora eu sentia mais sono. Minhas pálpebras pareciam mais pesadas, e aos poucos meus olhos começaram á se fechar. Então, eu já estava dormindo.

Acordei com várias vozes. Se eu estou louca? Não. Eram as vozes de Nico e Luke, no quarto, jogando travesseiros em nós. É claro que eu acordei assustada, mas logo me juntei á eles. Eu estava feliz.

Levantei e joguei um travesseiro que acertou Luke, na bochecha. Ele estava radiante, então antes que eu pudesse ser atingida por outro travesseiro na cara, saí do quarto e fui para o "meu". As meninas estavam lá, rindo de alguma coisa.

–Onde você estava? – exclamou Bianca para mim.

–No quarto ao lado – eu disse, fazendo com que elas me lançassem um olhar malicioso. – Dormindo!

–Sei – disse Silena, tomando um pouco de água.

–E você, hein, Thalia? – eu disse, sentando-me na cama, junto com as meninas.

–Ah, meninas! – ela exclamou, rindo. – Não preciso contar o que vocês já sabem.

–Queremos detalhes! – pediu Silena.

–Isso, detalhes! – riu Bianca.

–Tá, ok! – ela disse, rindo. – Nós dançamos um pouco. Aí ele sumiu e eu fui dançar com os meus primos, e então ele apareceu de novo, dizendo que "eu não escaparia dele outra vez". Dançamos mais um pouco e ele me beijou, e me disse várias coisas.

–Que coisas? – eu perguntei, quase no automático.

–Que ele me queria do lado dele, pra sempre.

Coloquei a mão na boca, para não gritar. Sério mesmo que Luke era aquele cara? Eu estava feliz. Podia até sair saltitando por aí, mas continuei sentada, esperando por mais.

Não podia enchê-la de perguntas, então procurei a melhor que eu podia fazer.

–O que você está sentindo por ele, agora?

Ela pareceu pensar um pouco, mas logo abriu um grande sorriso.

–Eu o amo.

–Eu sabia! – exclamou Silena, rindo.

Ficamos conversando mais um pouco sobre isso e diversas coisas até que decidimos ir á praia. Quando todos já estavam prontos, os pais da Thalia chegaram à casa.

–Onde vocês estavam? – perguntou Thalia, franzindo a sobrancelha, mas sem um pingo de interesse.

–Na casa da sua tia – a mãe dela disse como se fosse óbvio.

–Hm – ela respondeu indiferente. – Nós vamos até a praia, tá?

–Tudo bem, nós encontramos vocês lá – respondeu ela, indo até a cozinha.

Thalia assentiu então nós saímos da casa dela. O sol estava forte, mas isso parecia não incomodar ninguém. O mar estava calmo, e muitas crianças brincavam na areia.

Nós escolhemos um lugar perto de um dos quiosques para que nós pudéssemos consumir e beber. O isopor com as bebidas estava preparado, porém sem gelo, e os meninos prometeram que mais tarde iriam buscar. E ainda tinha o melhor: um ventilador que, ás vezes, soprava vento nas nossas costas.

Como sempre, os meninos foram para o mar e nós ficamos embaixo do guarda-sol, conversando sobre coisas aleatórias.

–Olha a Clarisse! – exclamou Thalia, levantando-se.

E foi nesse momento em que o meu sangue congelou. Não sei explicar como é essa sensação, e nem quero. É horrível. Mas senti uma incrível vontade de chorar ou sair correndo. Uma sensação ruim se instalou em mim e eu queria sumir, ou fingir que aquilo não estava acontecendo. Não era possível.

Mas estava.

E ele estava parado ali na minha frente, com o mesmo sorriso presunçoso e com o seu mesmo olhar maldoso. Logo atrás de Clarisse e Chris. Como ele os conhecia? Como essa conexão existia?

–Meninas – disse Clarisse. – Esse é um amigo do Chris. – então ela apontou para cada uma de nós. – Bianca, Silena, Annabeth. Esse é o Derek.

Ele me encarou, sorrindo. Como eu o odiava! Mas como eu me sentia tão indefesa.

–Prazer em conhecer vocês!