Nisi Amare escrita por LA_Black


Capítulo 11
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

notas/LA_Black: Íamos postar só segunda, mas não aguentamos. Então... rufem os tambores... AQUI VAI O CAPÍTULO!!!



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O soco que Jacob levou na cara doeu. Claro, não foi uma dor física, assim como o dito soco, também não foi físico. Foi mental. Espiritual.

Nunca imaginara que levaria esporro de um cara anos mais novo que ele. Mas começava a perceber que, talvez, o garoto fosse o único que possuía coragem suficiente para enfrentar o grande alpha sem medo das consequências.

Escolha. Escolha. Escolha.

A palavra dançava em sua mente como uma bailarina amaldiçoada. Brincava com suas opções, com seu futuro. E o que Jacob poderia fazer? Tudo. Nada.

O fato era que o medo que ele sentia sobrepunha todo o resto. Assumir o sentimento desperto em apenas um olhar acarretaria uma série de acontecimentos e problemas. Problemas, estes, que ele não estava pronto e nem desejava ter. Por que arriscar-se a quebrar a cara com esse tal de amor? Além disso, não era amor. Era imprinting.

A patrulha pela periferia de Lorem começara há alguns minutos, logo após Seth largá-lo, no meio da clareira, remoendo as pesadas palavras. Jacob aprendera a controlar os pensamentos, mas, naquele dia, sobrescrever seu imprinting por Kahli tornava-se cada vez mais difícil.

Foi enquanto tentava ignorar a garota e os pensamentos paralelos dos amigos que ele a sentiu pela primeira vez. O lugar nas costas, marcado pelo estranho símbolo, pulsou. Latejou como se tivesse vida própria, esquentando os músculos e levando um formigamento do menor dos pelos até as patas. O corpo todo foi impulsionado para a direção contrária a dele.

Jacob fez o que vinha praticando desde o dia seguinte a sua chegada à cidade, contrariou corpo e coração, fincando os membros na calçada. O esforço não foi ínfimo e não tardou para que os outros notassem algo estranho acontecendo ao alpha.

— Jacob. — Embry o chamou por pensamento. — Jake? — A voz do amigo em sua cabeça de nada serviu. Ainda sentia o corpo chacoalhar e os lábios tremerem em um rosnado que esvaía-se pela rua deserta.

— Jacob, cara, o que há?

De repente, a mente fechou-se.

Nenhuma voz.

O que ele tentava fazer há anos aconteceu em segundos. Todos os pensamentos dos lobos sumiram de sua mente. Estava, enfim, sozinho.

Então ele ouviu.

O simples sussurro de seu nome bastou para que perdesse o tão presado controle. A marca queimou nas costas dolorosamente, disparando a adrenalina pelos músculos e impulsionando-o à direção que tanto desprezou.

As patas mal tocavam o chão de pedras. O zumbido sobre os ouvidos denunciava que a velocidade com a qual corria era alta demais para ser acompanhada por um humano comum. Seus Irmãos não eram comuns. E, embora soubesse da companhia, ele não se importava, porque tudo, naquele instante, resumia-se à garota caída na porta de sua casa.

Kahli tinha os braços e as pernas repletos de arranhões. O sangue escorria por vários deles, manchando a pele morena de um lúgubre carmim. O pijama azul encardido que usava, mal cobria as partes necessárias. Ela tremia e Jacob não sabia se era de frio ou medo. No entanto, o rosto era o pior. Os olhos escuros em nada lembravam a primeira vez em que se viram. Eles transmitiam com exatidão o que se passava no interior dela. Desesperança. Pavor. Jacob se deu conta de que nunca mais queria ver aquele olhar no rosto de sua imprinting. Não. Ele mataria o causador de tamanha dor, e, para sua sorte, o ser estava bem à sua frente, trajando um manto preto da cabeça aos pés.

A figura encapuzada não deu importância aos que haviam acabado de parar atrás de si. Seu foco era a animalium. Sabia que a garota tinha algo especial. Algo que seria a peça chave no enorme quebra cabeças de sua busca. Porém, antes que desse um passo em direção à Kahli, um som terrível ecoou pelo ambiente. As árvores sacudiram-se, espantando os últimos pássaros. Intrigado, o ser virou-se para a direção do barulho.

Jacob tinha a garganta ardendo como se estivesse queimada e os tímpanos doendo. Os lábios tremiam abertos, mostrando os dentes afiados, e ele já não sentia o chão de pedra sobre as patas. Elas simplesmente haviam se transformado em pó no momento em que o som infernal saíra de sua boca.

O verdadeiro alpha estava fora de controle e num único salto ele colocou-se entre sua imprinting e o cara encapuzado, que, finalmente, percebera que não conseguiria pegar Kahli naquela noite. Sua raiva, então, direcionou-se ao causador do insucesso de sua excursão.

Subitamente, o brilho verde que cercava o lugar concentrou-se nos olhos do ser. No lugar de pupilas e íris, bem no centro do negro, formou-se um anel esverdeado. As mãos brancas saíram da túnica escura e ergueram-se em direção a Jacob. O lobo esperou um ataque que não veio.

— Não vai fazer nada? — Vociferou em pensamentos, desejando que “aquilo” pudesse entendê-lo e enfrentá-lo de uma vez por todas.

— Hoje não, lobo — uma voz antiga falou na mente de Jacob. — Mas farei questão de, num futuro próximo, lhe dar o confronto que deseja.

Sem aviso, a figura sacudiu os braços e transformou-se. Primeiro os pés, depois o resto do corpo transmutou-se em uma nuvem da mesma cor da luz nos olhos. A estranha fumaça seguiu na direção que o vento soprava. Não foi preciso ordem alguma para que o bando corresse atrás da forma incomum.

...

Parado na porta de casa, sentindo os efeitos do surto passarem, Jacob observou Kahli. Os orbes escuros agora o contemplavam. Estavam cansados, assustados, mas começando a entender que o perigo maior já havia passado.

Kahli deu um suspiro de alívio enquanto olhava para o lobo castanho. Ela o sentia. Cada parte de seu corpo sentia o dele. A força nos membros traseiros. A destreza dos dianteiros. A respiração pesada. O coração forte pulsando, levando vida para cada parte dele, da cabeça angulosa ao traseiro, onde um rabo peludo balançava displicentemente. Não fazia ideia de que ele era tão lindo.

Jacob viu a sombra de um sorriso passar pelo rosto esgotado antes de a cabeça tombar contra a porta. O simples ato trouxe de volta a agonia no peito. O medo de perdê-la veio mais rápido que um raio e ele sentiu a energia do espírito soltando sua forma, transformando o lobo em homem. As pernas chegaram à Kahli antes que a mente pudesse processar algo. Os braços a envolveram com cuidado e, quando experimentou a sensação de ter as mãos dela segurando-o pelo pescoço, sentiu o coração bater com força contra as costelas.

Não soube como conseguiu entrar em casa, mas entrou.

O fato era que a alma estava comandando o corpo. Não precisava enxergar ou pensar, sabia o que deveria fazer para cuidar dela.

Caminhou serenamente até o banheiro, notando o quão leve Kahli era, vendo como a forma dela parecia encaixar-se a sua, mesmo naquela posição.

O box estava aberto e, em segundos, o chuveiro foi ligado. A água fria despertou Kahli de imediato e, assim que sentiu os pés tocarem o chão, os tremores por conta da temperatura começaram.

— Está... — os dentes bateram — fria.

Um corpo cobriu-a e a água, imediatamente, parou de cair sobre ela. Erguendo o rosto, viu Jacob acima de si. Sua cabeça quase tocava o chuveiro, fazendo o jato frio bater primeiro nele e escorrer por seu peito. Mal podendo controlar-se, Kahli encostou-se ao homem e sentiu, sem surpresa, a água quente. O corpo inteiro acalmou-se e ela soltou a respiração que não percebera estar prendendo.

Com as mãos molhadas, Jacob descartou a embalagem do sabonete novo e o esfregou contra as palmas. A primeira vez que encostou a espuma nos braços de Kahli, ouvi-a soltar um chiado de dor. Amaldiçoou-se internamente por estar causando mais aflição a ela.

— Preciso limpá-los. Os cortes são superficiais, mas...

— Tudo bem.

De olhos fechados, ele permitiu-se aproveitar aquele momento. Os dedos deslizando pela pele lisa. A bochecha afundando-se nos cabelos molhados. O rosto dela contra seu peito. Como conseguira viver sem isso?

Chegando pouco abaixo dos cotovelos, Jacob esbarrou na cintura de Kahli, o silvo de dor ali foi maior. A atenção do alpha voltou-se completamente para o lugar. A blusa do pijama estava rasgada e, sob o rasgo, um corte aberto sangrava ininterruptamente.

A primeira reação dele foi levantar a blusa, mas a mão de sua imprinting o impediu.

— Não.

— Tenho que lavá-lo. — Castanhos mergulhando nos negros. — Prometo não olhar. — Kahli assentiu.

Jacob sentiu com satisfação o corpo de Kahli estremecer quando as mãos tocaram-na a pele nua. Nunca desviando os olhos dos dela, ergueu a blusa e jogou-a no chão, causando um barulho oco. A boca ficou seca enquanto acariciava a área do corte.

— Pernas. — Falou antes de ajoelhar-se no azulejo e tomar as pernas de Kahli entre as palmas. A parte debaixo da roupa sendo descartada no processo. Com as janelas do mundo fechadas, ele sentiu-a com as da alma. As coxas malhadas e roliças enviaram um choque direto para a área entre as pernas. Ele travou o maxilar, lembrando-se de uma frase das Sagradas Escrituras. Você será o que ela precisar, um amigo, um protetor, um amante. Naquele momento, sua imprinting precisava dos dois primeiros e ele os seria de bom grado, sem esperar nada em troca.

Com uma toalha enrolada na cintura, Jacob segurou Kahli pela cintura e a envolveu em um roupão limpo que encontrara dentro do armário.

No quarto, ele colocou-a sentada no seu colchão do beliche, enquanto procurava uma roupa que, pelo menos, a aquecesse. Um blusão dos Seattle Seahawks e uma boxer branca foram os escolhidos. Ajudá-la a vestir-se foi a parte mais fácil. Os cortes estavam limpos, o da cintura, que parecia o mais feio, na verdade não fora profundo e um tempo sob a água fria foi suficiente para que o sangramento parasse.

— Está melhor? — A mão de Jacob segurou o rosto de Kahli com firmeza, levantando-o. Inconscientemente, ela inclinou a cabeça para o lado, aproveitando o carinho que o toque transmitia.

— Obrigada. — Uma lágrima escorreu, sendo seguida por outras. — Não sei o que aconteceu. Eu entrei em pânico — sussurrou, antes de começar a soluçar.

Como vinha acontecendo muito, ela sentiu o calor envolvê-la e logo a cabeça deitou sobre os ombros de Jacob. Lentamente um aroma inexplicável a inebriou. Tudo o que ela mais gostava estava mesclado em um único perfume. O cheiro das primeiras gotas da chuva ao caírem na terra. O vento balançando as árvores, levantando a poeira e as folhas num redemoinho. O cheiro de canela ainda fresco, vivo. Jacob parecia ter sido feito para ela. Para acalmá-la, cuidá-la.

— Onde você esteve? — A garota perguntou de repente.

— La Push — respondeu-a sorrindo um sorriso branco feito neve.

— Não — ergueu os olhos para ele. — Onde este — tocou a bochecha cheia, por conta do sorriso — você esteve?

Jacob tencionou o corpo ao compreender a pergunta. Onde ele estivera? Para onde o Jacob apaixonado pela vida fora durante aqueles anos todos? Apertando bem os olhos, ele tentou enxergar dentro de si. O Jake estava lá, bem na porta de seu coração. Sorriso aberto, peito leve, braços erguidos, olhos castanhos brilhantes. Respirou fundo, sentindo o perfume de rosas que ele acabara de descobrir ser o seu favorito no mundo.

— Acho... Acho que ele sempre esteve por aqui, mas estava cansado demais de iluminar os outros sozinho. — Deu de ombros. Lembrava-se vagamente das vezes em que Isabella o chamara de “sol particular” e preparou-se para esquecer aquilo. Os olhos de Kahli. Eram eles que o chamavam e era neles que Jacob queria jogar-se. — Estava esperando um sol que pudesse me iluminar.


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Notas finais do capítulo

notas/La_Black: Gostaram? Pelo amor de Deus me digam se o capítulo ficou bom. Nos vemos nos reviews e nessa semana tem mais. Beijos