Nothing Left To Say escrita por Jules


Capítulo 13
Conciliada


Notas iniciais do capítulo

Demorei, sim, mas está aí o capítulo e, bem... Eu espero que gostem. Hahahaha. Eu sinceramente não tenho mais desculpas pra cada atraso, só aquele de que a criatividade não está me ajudando e essa é a melhor para se usar agora. Espero que não tenha ficado muito longo e cansativo.
Um agradecimento especial a Leni que me ajudou (e continua sempre ajudando) quando a minha cabeça está prestes a explodir e também por ter revisado.
Nesse capítulo tem algumas passagens que irão sim ajudar no futuro, então leiam com atenção.

Boa leitura ;*



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Os dias que insistem em se passarem apenas me mostram o quão difícil é estar ali, junto da minha família.

Melanie se tornara uma espécie de babá, cuidando de tudo e fazendo tudo o que meu corpo reclama para fazer. Viro quase como uma criança, ou perto de um bebê. Ela insiste em me carregar de um lado para o outro, de cima para baixo, como um pequeno e frágil saco de batatas. 

Jared acabou desistindo das atividades no campo de trigo para cuidar de um despedaçado e triste Kyle. A imagem dele chorando e o peso de suas palavras ainda me fazem cobrir a cabeça à noite e chorar. Sunny acabou sendo trocada de quarto, passando a dormir com Trudy que prometeu deixá-la segura até que as coisas se acalmassem. Melanie ficava de guarda na entrada de meu quarto até que suas costas reclamassem da posição em que ficava todo o dia. Jamie passou a cuidar de mim também, dormindo ao meu lado e cantando cantigas que eu não reconhecia, mas que eram reconfortantes à Pet.

- Atropelado, foi o que ela disse. - Falou Melanie certa vez em que aparentemente meu sono estava tão pesado que ela não se importou com o tom de voz que usava. 

As coisas com Kyle haviam se acalmado, de modo que Sunny voltou aos seus aposentos e Jared passou a noite abraçado Melanie na entrada de meu quarto.

Aquilo doía, mas eu não resmunguei e muito menos demonstrei que estava me sentindo incomodada. Jared estava recostado na rocha à frente da porta e Melanie disposta entre suas pernas, sendo acariciada calmamente e amorosamente. 

Eu queria poder falar algo, pedir para que saíssem do meu campo de visão e gritar a eles que aquilo me deixava chateada, mas eu não podia. Eu já havia os limitado demais, os separando por noites e mais noites. Talvez aquele fosse o único momento a sós que tiveram depois da minha chegada. Então, eu os deixo sozinhos a base de carinhos e sussurros.

- O quê? Você só pode estar brincando. - Disse Jared logo depois da afirmação de Melanie. 

- Não, estou não - Melanie torna a falar. - E nada de Buscadores.

- Menos uma preocupação, então. 

- É, mas ele está morto, Jared - Melanie fala com melancolia exposta - Já parou pra pensar o tamanho da dor que ela está sentindo? 

- Já, porque eu já senti isso - Fala Jared rispidamente. - É só uma questão de tempo para que a ficha caia e ela volte a ser o que ela era antes. Ela vai se acostumar com a dor. 

- Talvez. 

- Talvez. - Jared repete. 

O silêncio que se propaga leva alguns minutos para ser quebrado pelo beijo que se trocam. É quase como uma facada em meu estômago. 

- E o que você fez?

- Hein? - Pergunta Jared. 

- Quando percebeu que eu jamais voltaria, o quê você fez? - Pergunta Melanie cuidadosamente.

- Eu não me lembro, realmente. Na verdade, eu faço de tudo pra não lembrar. Faço dessas lembranças sonhos ruins que eu não permito que tenham espaço na minha cabeça.

- Bom truque - Diz Melanie. - Mas Jamie disse que você chorou. 

A tensão da conversa é quebrada quando os dois riem baixinho.

- Maldito seja - Diz Jared com diversão na voz. - Na verdade, eu tentei esconder a dor por causa do garoto.

- Jamie - Melanie fala. 

- Jamie - Jared repete. - Eu sonhava com você todas as noites e foi uma completa tortura quando você voltou. Teve um momento em que eu desejei você morta ao vê-la com ela na sua cabeça, coordenando você - Jared suspira e agarra o rosto da Melanie, o virando para si. - Mas você sabe que tudo o que eu fiz foi para proteger o garoto, não é? Digo, eu machuquei tanto a você quanto a ela porque eu não queria deixar o garoto sofrendo. Eu nunca imaginei que você poderia estar ali, aprisionada. 

- Eu que o diga - Melanie ri graciosamente e o beija lentamente. - Eu ficava gritando lá dentro e eu queria tanto bater em você quando chegava perto dela. Ugh

- Garota má - Brinca Jared com sarcasmo. 

Um sorriso bobo e espontâneo cobre meus lábios de leve, mas eu o contenho rapidamente. 

- Eu apenas queria entender o porquê ela ainda não superou. Faz quantas semanas que ela voltou? Duas, três? Quer dizer, ela tem a você e ao garoto. 

- Ela também se importa com você - Melanie diz. 

- Tá, tá. Ela tem a todos nós e ainda continuam agindo como se esse atropelamento tivesse acontecido ontem - Ele fala exausto, bufando e se entregando mais à rocha em suas costas. 

- Provavelmente porque é uma garota - Melanie fala. 

- Não, Mel - Jared diz rispidamente. - Ela é forte como qualquer homem.

Aquilo me pegou de surpresa. Um elogio. E não foi apenas um elogio qualquer, foi um saindo dos lábios de Jared. Melanie hesita ao continuar a conversa.

- Eu não sei o que eu posso fazer mais pra ela voltar ao normal. Já esgotei as minhas ideias. 

- Talvez você não precise fazer nada mais. Apenas a deixe achar um motivo para continuar, quase como um motivo para “voltar" a si. Entendeu? 

Ela assente com a cabeça e se deixa ser mais abraçada pelos braços de Jared. 

Naquela mesma manhã, Jared insistiu para voltar a trabalhar no campo leste. Jeb o deixou livre para escolher em quais turnos ele gostaria de trabalhar. Ele não perdeu uma oportunidade e pegou os horários de logo depois do almoço ao fim da tarde. 

Melanie se tornara uma melhor companhia do que eu pensava que seria. Ela gostava de me contar histórias, de mexer em meus cabelos fazendo penteados que julgava serem bonitos e raramente me fazia perguntas sobre o acidente de mentira que aparentemente tinha levado Ian. Mas quando as fazia, eu me sentia estranha. Não que eu me sentisse incomoda, ou chateada, não. Era algo estranho, quase como se eu não sentisse nada quando falávamos de Ian ou até mesmo de Kyle. Eu estava me acostumando com aquilo, com aquela sensação de que faltava algo para preencher tudo aquilo que eu achava estar incompleto. Eu estava aprendendo a lidar com a dor mesmo que ela já tivesse ido embora por si só, mas não por completo e disso eu sabia quando eu acordava durante a noite gritando para que Ian corresse. Melanie me perguntava o que aquilo significava e eu tremia até os ossos lhe dizendo um simples “Nada. Não é nada.”

Passei semanas trancada no quarto, sendo vigiada pela Melanie ou até mesmo por Jared. Sunny gostava de me visitar também. Ela me deixava informada sobre coisas da qual não eram necessárias eu saber, coisas que Melanie não me contava quando trocávamos palavras. 

Quando eu saia do quarto era para me banhar, e nem mesmo nesse tempo Melanie me deixava sozinha. Ela entrava comigo na sala de banhos enquanto qualquer outra pessoa de confiança ficava na entrada, vigiando. Eu insistia para que me deixasse sozinha, que fosse cuidar do seu próprio bem e que parasse de se preocupar comigo, mas ela apenas balançava ligeiramente a cabeça e voltava a esfregar uma esponja em minhas costas. Aquilo ardia como o diabo, mas eu não reclamava. Assim, quando terminávamos, seguíamos para o meu quarto, onde ela esperava que eu me alimentasse. Conversávamos um pouco e eu tornava a cair em meu sono sem sonhos.

Depois de algumas semanas, Melanie me levou para jantar além das quatro paredes de meu quarto. Sentei-me ao lado de Jamie no refeitório enquanto Jared dividia seu banco com a Melanie. 

Eu poderia ter recusado, falado que não estava preparada para encarar a todos, ou simplesmente ter dito que estava com uma tremenda dor de cabeça que só pararia quando eu voltasse a dormir. Mas decidi que não adiantava de nada adiar uma coisa que teria de acontecer mais cedo ou mais tarde, todavia não posso passar o resto de minha vida dentro de um quarto rochoso mesmo que quisesse.

Tudo passava do bem ao melhor, talvez mais rápido do que eu imaginava. Ouve um silêncio perturbador quando entrei na cozinha e fui em direção à mesa, mas depois tudo ocorreu como eu lembrava que acontecia quando Ian estava ali.

As mesmas risadas histéricas e baixinhas acuavam durante todo o jantar. E então, Jared deu o seu ar da graça e me perguntou sobre A Origem. Eu não medi esforços para responder a suas perguntas, mas senti-me completamente constrangida quando Lacey juntou-se a nós e fez-me mais algumas perguntas.

Eu falava calmamente e com palavras não tão complicadas que Jamie entenderia facilmente. Aos poucos, ele encolheu-se sobre meu colo com meus dedos entrelaçando seus cabelos como eu me lembro de ter feito uma vez enquanto Melanie era a minha hospedeira, seus olhos fechando-se aos poucos, o cansaço tomando-lhe conta. As pessoas se aglomeravam sorrateiramente, eu percebia e em certos momentos hesitava, mas eu voltava a falar quando Jamie resmungava em meio a suas pestanas semicerradas.

Foi bom poder repetir aquela sensação agradavelmente efusiva. As pessoas gostavam de ouvir a minha voz enquanto eu revivia todos os meus momentos de aventuras insanas em outros planetas. 

Aos poucos eu senti minhas pálpebras ficando pesadas e minhas palavras saindo embargadas de um cansaço que se aproximava. Todos foram dispensados por Jeb e sua espingarda engatada, indo rumo aos seus quartos, todos já cansados e esperando por uma boa e longa noite de sono. Jeb me abraçou por um momento em que passei por ele agarrando um Jamie sonolento pela cintura - ninguém, nem mesmo Jared, se oferecera a levar Jamie no colo; não mais, que crescera e ficara mais pesado -, por um momento hesitando e se perguntando se aquele abraço seria bem recebido. Eu o recebi com clamar. Um abraço rápido e um boa noite sorrateiro, mas com um grande significado par mim. 

Naquela noite, Melanie disse que não gritei, nem chorei e muito menos acordei. Ela disse que minha respiração estava tão pesada que se tornava fofo de me ver encolhida do lado direito, deixando todo o lado esquerdo da cama gelado e vazio. Eu sorri sem mostrar os dentes.

Na mesma tarde, eu e Melanie seguimos pelo túnel Sul para ficarmos mais perto da colheita. Eu não trabalhei e ela também, ambas ficamos sentadas vendo Jared e Kyle discutindo sobre alguma coisa que um deles havia feito de errado. Jared abrandava uma foice e a levantava com rudez quando falava algo que Kyle não aceitava e abrandava sua ferramenta. Eu me encolhia ao lado de Melanie e ela agarrava uma das minhas mãos, traçando caminhos como fazia em meus cabelos. Os homens paravam de discutir e voltavam a trabalhar e volta e meia Jared olhava para o nosso lado e sorria abertamente para Melanie. 

Kyle não olhava para nós e para nenhum outro lugar que não fosse os quatro cantos da plantação. Ele se sentia incomodo e disso eu sabia. Talvez fosse pela sua reação perante a tudo o que aconteceu, ou apenas receio de que as pessoas começassem a tratá-lo diferente por pena da perda. Ele se sentia como eu, e quem sabe sua dor não seria um pouco maior que a minha. Poderíamos servir de álibi um para o outro, mas ele jamais aceitaria.

 - Sabe de uma coisa, antes disso tudo começar o papai costumava contar piadas pra gente – Disse Jamie em um momento qualquer durante uma reunião na hora do jantar.

- Oh não, Jamie – Melanie resmungou do outro lado da mesa, apoiando os talheres ao lado do prato fundo. – Ninguém aqui está a fim de escutar aquelas piadas velhas. São idiotas.

- Eu quero – Jared falou instantaneamente, mordendo um pão e olhando maliciosamente para Melanie. Ela ri e lhe bate no ombro.

Eu cutuquei mais uma vez a sopa e esmigalhei mais os farelos de pão que deixem serem banhados. Jamie chama pelo meu nome e eu olho rapidamente para ele.

- Sim?

- Você quer escutar a piada? – Os olhos de Jamie brilham em esperança.

Melanie balança a cabeça levemente em negação, com um sorriso insano nos lábios. Eu balanço os ombros e a cabeça e Jamie pula de excitação. Melanie bufa.

- Okay, okay. Aí vai: Qual é o cúmulo do egoísmo? – Jamie falou graciosamente, movimentando as mãos.

- Não, não, Jamie. Essa não. Conta outra – Melanie resmungou do outro lado da mesa.

- Shh, Mel – Jamie brincou. – Deixe que eu decido.

- Mas essa é muito sem graça e é muito previsível.

- Jared parece interessado e não parece saber no que vai dar. Agora silêncio – Jamie falou e Melanie calou-se por fim. – Okay, Peg. Você sabe a resposta?

- Não, não faço a menor ideia – Respondi seriamente, mas com um sorriso pequeno brotando nos lábios de ver sua animação.

- Okay. Agora você fala “Não sei, qual é?”, está bem? – Ele perguntou e eu balancei a cabeça em concordância.

Melanie não deixou essa passar e sua voz gravemente autoritária irrompeu, interrompendo a minha fala que estava prestes a se libertar:

- Não, Jamie. Você não pode falar pra alguém o que essa pessoa deve dizer. Vai ficar previsível demais. Continua essa tal piada sem que...

- Mel! – Eu falei por um momento olhando para ela com uma olhar severo. Jamie balançou a cabeça em concordância e eu me viro completamente para ele. – Não sei, qual é?

Ele sorriu abertamente, tirando alguns fios de cabelo que estavam grudando no rosto. Ele pôs as mãos em cima da mesa e apoiou o queixo nas mesmas, olhando para mim e depois para Jared e continuou seguindo esse rumo.

- Não vou contar, só eu que sei – Ele falou e por um momento eu pigarreei.

- E... Fim. Fim da piada – Melanie falou cheia de ironia e mordeu bruscamente um pedacinho de pão. – Eu disse que era perda de tempo.

Eu fiquei por um momento olhando pasmadamente para as mãos de Melanie que se encarregavam de levar mais pedaços de um pão amassado à sua boca. Acabou? A piada simplesmente acabou com um tipo usual de primeira pessoa? Eu olho para Jamie, que me encara como se esperasse alguma resposta para uma pergunta nunca dita.

- Terminou, sério? – Eu perguntei e ele balançou a cabeça.

- Desapontador, porém corajoso – Jared falou depois de mais um longo silêncio. – Se você contar essa piada para alguma garota, Jamie, ela provavelmente não vai rir, mas vai soltar uma boa gargalhada se você fizer essa mesma cara de peso-morto que está agora.

Aquilo pegou Jamie de surpresa. Ele deu um salto no banco que me fez sacudir, massageando as próprias bochechas e deixando uma risada boba sair do fundo da garganta. Ele corou.

E então, eu ri. Minha primeira risada em mais de quatro semanas. Aquela sensação gostosa de algo brotando no estômago e voltando pela garganta em forma engasgo engraçado; a barriga tremendo de tensão; os músculos do rosto se contorcendo em caretas que se tornavam ainda mais gostosas de fazerem sabendo que eu não as estava fazendo sozinha. Todos naquela mesa riram ao mesmo tempo. Eu sorri abertamente para Melanie que, consideravelmente, entendeu o meu olhar. Ela contorceu os lábios e mordeu mais um pedaço de seu pão.

Meu peito se estufou de gratidão quando Jamie tocou em minha mão por puro descuido, me tirando de uma bobeira.

- De qualquer maneira, as probabilidades não estão muito favoráveis para pessoas da minha idade – Ele deu de ombros e eu me virei para ele.

- O que quer dizer com isso? – Eu perguntei insegura.

- Olha só pra tudo isso. Que tipo de chances eu tenho de encontrar uma garota agora que estamos mais do que no fim do mundo? – Ele fala alterado, mas ainda assim mantendo uma postura. – Eu não tenho esperanças.

- Ei garoto, sempre há esperanças – Jared falou rispidamente, depois quebrando o gelo com uma piscadela e uma risadinha.

- Tanto faz – Jamie resmungou. – O amor é uma droga.

Palavras de um coração já quebrado. Aquilo remexeu uma maçaneta velha e enferrujada dentro de mim, mas eu a impedi que fosse virada por completo. Eu estava feliz, graciosamente feliz. Feliz. Completa. Saciada.

Talvez aquele lugar dentro de mim que ansiava por uma coisa, ter Ian perto de mim, pudesse ser preenchido de outra maneira. Aos poucos eu iria dar mais espaço para novas sensações junto com aqueles que fariam de tudo para me ver sorrir.

Talvez, em algum lugar daqueles pavilhões escuros e intermináveis que eram o meu coração, eu pudesse encontrar a Paz.


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Notas finais do capítulo

E aí, gostaram? Bem, eu espero que sim e aguardo ansiosamente pelos comentários! :)
Esse foi apenas um capítulo de transição, ou seja: mesmo não tendo ação ou nada que prenda, é necessário.
Até a próxima, e se quiserem manter contato comigo: @rcksodair no twitter ;)
Bjus!