Por quanto tempo fiquei na banheira eu não sei, só vi minha avó entrando no banheiro me chamando para ajudá-la.

- Samantha, que demora! Está tudo bem?

- Sim vovó, me desculpa, perdi a noção do tempo.

- Percebi. Mas levante-se, vá se vestir querida e depois desca para irmos preparar o almoço.

- Vovô já chegou?

- Ainda não, mas daqui a pouco ele estará aqui.

- Ok. Já vou me levantar. – Disse, ainda na banheira.

- Muito bem, estarei te esperando na cozinha. – Vovó disse então desceu.

Levantei-me da banheira pegando a toalha branca do cabide. Me enrolei e fui para o quarto. Minhas roupas todas sujas de ovos, penas, grama e terra. Foi um momento engraçado, que provavelmente irá ficar marcado na lista de favoritos do meu verão.

Peguei uma roupa qualquer, calcei um chinelo e desci. Vovó já estava começando a preparar o feijão quando entrei na cozinha.

- Estou aqui, vamos ao trabalho dona Christina?

- É claro senhorita Samantha. Pode começar preparando a salada, os ingredientes estão todos ali na geladeira. – Disse vovó.

Peguei os alimentos, tempeiros e molhos e comecei a fazer a salada favorita de meu avô. Comecei a pensar em Seattle, em minha casa, minha escola, meus amigos. Nunca tive muitos amigos, confesso. Não sei se pelo meu jeito tímido e fechado, ou porque sou “anti-social”. Bom, meus únicos amigos são um grupo de quatro pessoas, incluindo eu. Tyler, Peter e Melanie. Nenhum deles é popular, ao menos bonito. Mas desque entrei naquele colégio, virei amiga deles. São todos muito legais e no começo foram muito queridos comigo, isso foi mais um dos fatores pelos quais me aproximei deles. Hoje somos nós, sempre juntos. Voltei a pensar mais no que estava fazendo do que no que sentia falta, senão algo iria dar errado.

Olhei pela janela e vi o carro antigo de meu avô estacionando na frente da casa. Finalmente. Então me lembrei do galinheiro e comecei a rir baixo, um pouco nervosa sem saber como iria limpar tudo aquilo, mas sentindo falta daquele pequeno momento que deve ter acontecido há mais ou menos duas horas atrás. Vovô chegou e nos cumprimentou:

- Bom dia Samantha, minha querida. E Christina, meu amor. Como estão as duas? Passaram bem a manhã?

- Sim, fiz as coisas de sempre. E Samantha ficou um tempo por aí. – Respondeu vovó.

- Hm, está gostando minha neta? De seu primeiro dia na fazenda, depois de muito tempo?  - Vovô se dirigiu á mim.

- Estou sim, mas está apenas começando não é vovô?

- Pode apostar que sim. – Sorriu e se sentou a mesa. – Então, o que estão preparando para o almoço?

- Estamos fazendo a comidinha especial da fazenda, arroz com feijão, salada, batatas e bife.

- Sabiam que esse tipo de comida é um prato bem típico do Brasil? Tenho alguns amigos lá, com muitas histórias. Sabe Samantha, uma vez...

- Vai começar Richard? – Interrompeu-o vovó. – Samantha não vai querer saber de suas histórias, principalmente as que você demora duas horas para contar.

Começamos a rir e vovô reclamou do comentário: - Mas é claro que não, sempre conto minhas histórias da melhor forma possível e todas elas são muito boas, por sinal.

- A salada está pronta! – Exclamei.

- Está esperando o que? Venha, vamos servir-se querida. – Disse vovó, colocando os pratos, talheres e copos na mesa. – Ah, pegue o suco na geladeira por favor Samantha.

Nos sentamos e apreciamos aquela maravilhosa refeição. Uma das coisas que todo mundo fala é sobre a “comida de vó” ser a melhor do mundo, mas realmente, não minto pois a comida da minha avó, Christina Sarah é a melhor de todas que já provei.

Depois de algum tempo, terminamos de comer e resolvi ir limpar o galinheiro, antes que meu avô visse aquela sujeirada.

- Vovó, vou lá pra fora. Chega de ficar dentro de casa. – Falei, levantando-me da mesa e colocando a louça na pia, me preparando para lavá-la.

- Pode ir Samantha, não se preocupe com a louça. Fica por minha conta, para uma hóspede você já ajudou bastante. – Disse vovó.

- Muito bem então, até depois.

Dei um beijo no rosto dos dois e desci a terra, para o celeiro. Abri a porta e encontrei Anthony sentado. Tomei um grande susto, tudo estava arrumado, limpo e perfeito. Todas as penas das galinhas, as manchas de ovos, e terra misturada com gema haviam sumido.

- Voltou? – Perguntou Anthony.

Não respondi

- O que foi? Por que está surpresa?

- Anthony, eu disse que vinha te ajudar. Você não precisava ter feito tudo isso sozinho, sabe disso.

- Eu sei, mas você não precisava me ajudar. Na verdade, eu tive a ajuda de mais alguém sim. – Disse ele, sorrindo.

- Ah é? Quem?

- Ele não está por perto agora, é outro trabalhador de Richard, cuida dos porcos e dos bois.

- Entendi.

- Mas, tive uma ideia. Acho que te devo um tempo comigo, Já que esse de limpar o galinheiro não deu certo. – Tentou me convencer, novamente com aquele sorriso lindo.

- E?...

- Vou te levar para cavalgar, preciso te mostrar alguns lugares.

Ele pegou as celas que estavam no chão, ao seu lado e colocou em dois cavalos. Um branco, lindo. E outro marrom, que pelo jeito era o seu.

- Quer ir ou não? – Perguntou, estendendo-me a mão.

- É claro. – Sorri para ele e entreguei minha mão. Ele me ajudou a subir no cavalo branco e fomos.