Por incrível que pareça, Kat não me atormentou para voltarmos ao jogo. Na verdade não falou muito desde a última vez que saímos. Estava agindo estranho e tentava se manter longe. Eu a conheço muito bem, mas não sei por que está agindo assim. Me pergunto se a Lifa está desesperada tentando nos fazer acordar. Faz três dias que não voltamos ao mundo Pokemon.

Em uma manhã, uma semana antes das aulas recomeçarem, passei no apartamento de Kat. Ela atendeu com a mesma cara de sono de sempre, mas realmente, algo parecia diferente. Não me xingou como de costume. Apenas virou de costas e falou para mim entrar. Se aconchegou em um dos sofás e abraçou as pernas. Ainda estava vestindo o pijama, um shorts azul claro e uma camiseta rosa. Observou-me com um ar interrogativo.

- Acho que deveríamos voltar lá. – Falei.

Por mais que ela não tocara no assunto até então, pude perceber a expectativa de Kat aumentar. Concordou com a cabeça diversas vezes.

- Por que você não fala? – Perguntei.

Ela apenas disse não com a cabeça. Fui até ela, toquei seus ombros e a balancei para frente e para trás. Ela segurou o meu braço e me mordeu forte até demais.

- Aw! – Gritei. – Olha, se você quiser ir você tem que falar comigo!

Agora não entendia mais nada. Não lembro dela ter agido assim comigo antes.

- Tá bom. – Disse Kat, mau humorada. – Eu quero ir com você.

Rapidamente, peguei o vídeo game e pouco antes de apertar play, segurei sua mão. Dessa vez ela não reclamou, apenas olhou com uma feição assustadoramente malvada para mim até sermos transportados para o outro mundo.

Chegando lá, tudo parecia normal, como se tivéssemos acordando na manhã seguinte a nossa última aventura. Nos levantamos e percebemos que Lifa não estava em casa. Trocamos olhares hesitantes e caminhamos para o lado de fora. Estava tudo muito frio... Chegava a ser estranho. A poucos metros a frente, a Chikorita estava parada olhando para cima. Olhei para a mesma direção dela e então pude ver.

Articuno voava pelo céu deixando partículas de gelo resfriarem todo o solo. Era simplesmente incrível. Ele reluzia na luz do sol, fazendo pequenos cristais encrustados que decoravam sua pele reluzissem. Sobrevoava a pequena cidade sem objetivo aparente, mas quando cruzou o olhar comigo e com Kat, desceu rapidamente em nossa direção.

- Enfim encontrei vocês. – Disse Articuno com uma voz profunda. – Preciso que venham comigo imediatamente.

Impressionados, eu e Kat não conseguimos responder. Lifa, afobada, soltou algumas palavras:

- Mestre Articuno! É uma honra!

- Não podemos perder tempo! É sobre o desaparecimento de nosso mestre! A profecia deixada por ele pouco antes de seu desaparecimento comprovou que teríamos uma ajuda externa para encontrá-lo. Vocês são o que chamam de humanos, certo?

Kat apenas concordou com a cabeça. Estava odiando parecer um retardado com meus olhos esbugalhados de Psyduck. Articuno esperou que eu assentisse, e assim fiz. Então continuou:

- Suspeitamos que tenha sido Ho-Oh quem armou uma armadilha contra o mestre Lugia. Precisamos de vocês para desmascarar o terrível traidor!

Pude finalmente falar, depois de escutar tudo com atenção:

- Seria incrível! – Hesitei. – Quer dizer... uma honra! Podemos partir agora mesmo, não é Kat?

- Sim! – Respondeu ela como se estivesse saíndo de um transe. –

- Era tudo o que precisava ouvir. – Disse Articuno. – Montem em mim, iremos até a fortaleza do Sol.

Ainda sem acreditar que viajaria em cima do lendário Articuno, subi. Ele levantou vôo sem mais delongas e alcançou uma altitude alta rapidamente. Tivemos quen os segurar nas penas de Articuno para não cair. Lifa estava talvez ainda mais encantada que nós. Parecia ser uma verdadeira honra andar em cima de Articuno.

Algum tempo depois, o frio começou a sumir. Por dois motivos: a fortaleza do Sol estava se aproximando e porque Moltres passou a nos acompanhar de perto. Zapdos surgiu por entre as nuvens da esquerda, e logo os três pássaros lendários viajavam lado a lado em busca de seu mestre.

Ao longe, pudemos avistar a grande fortaleza. Ela flutuava no ar e brilhava como a própria estrela. Parecia ser feita do que chamam de pedra do sol, uma pedra que brilha somente em contato com o sol. Havia ali muitas coisas que eu e Kat desconhecíamos sobre o mundo Pokemon.

A entrada para o castelo flutuante se encontrava aberta. Estranhamente, o hall principal estava em completa escuridão, entrando em contraste com o exterior.

- Eu sou o raio, que provocou a chama. – Começou uma voz grave no meio à escuridão.

- Eu sou a chama, que surgiu do raio. – Continuou outra.

- Eu sou a chuva, que apagou o fogo. – Finalizou o terceiro.

Não era nenhum enigma, eu e Kat entendemos na hora. Eram as três feras lendárias, protetoras de Ho-Oh. Todas as três, ali reunidas. Um frio percorreu minha barriga, o que fez com que eu, por instinto, segurasse uma das patas de Kat. Ela não hesitou em segurar também. Lifa estava tão maravilhada que, mesmo no escuro, era possível ver o brilho nos seus olhos.

- Sabemos o que vocês fizeram! – Proclamou Zapdos.

- Olha se não é o raiozinho que está falando? – Provocou Raikou.

O clima começou a ficar tenso entre os Pokemons. Eu, Kat e Lifa não passavamos de intrusos em uma guerra pessoal muito antiga. Seríamos massacrados ali. Pude perceber que o level de todos eles marcavam 70.

- Não pensei que vocês seriam capazes de fazer isso... – Falou Suicune calmamente.

- Digo o mesmo, irmão. – Rebateu Articuno.

- Chega disso tudo! – Gritou a voz mais poderosa dentre as seis. Era Entei. – Temos que resolver isso aqui e agora!

Todos pareciam estar de acordo para destruirem tudo e a todos. Até chegaram a se esquecer de nós três, os Pokemons mais frágeis de todos que se encontravam lá. A ave e a fera de eletricidade começaram a emitir um brilho intenso, enquanto o fogo de Moltres iluminava a grande sala com uma forte luz vermelha.

Por um instânte, o temor tomou conta de todos nós. Uma luz realmente forte como o Sol surgiu. Quase cegos, eu e Kat olhamos em direção a essa luz. O lendário Pokemon Sol Ho-Oh aparecera majestosamente.