Estávamos passando agora a Costa Rica. A maioria de algumas partes do país era de bairros de lata, favela né, mas não conseguia enxergar com pormenor, porque estávamos passando em altura. Durante a viagem, eu notei que alguém me seguia de olhares. Mas, quando eu olhava, não tinha ninguém me olhando. Outra admiradora minha?

                - Já estamos chegando…? – Bárbara espreitava por um olho. Naquele momento, estávamos sobrevoando o México.

                - Ainda falta um bom bocado, só mais 1/5 de toda a viagem. – Eu encostava minha cabeça na cabeça dela, que estava encostada sobre meu ombro. – Dá para fazer mais uma horinha de sono.

                Nesse momento, com nossos sussurros, Vicent acordou. Quando ele nos viu tão grudados assim, ficou pasmado e fez uma expressão indescritível, bufando raiva e expelindo ódio.

                - Welcome to the Los Angeles’ airport! Hope you like our city. Welcome to the Los Angeles’ airport! Hope you like our city. – Uma gravação ficava tocando isso toda hora. Meu inglês sempre foi ruim, então eu simplesmente ignorei esses avisos. Rezei para que não fosse avisando que um avião ia embater com aquele aeroporto naquele preciso minuto.

                - Caaara, que empolgante! – Bárbara saltitava no meio da multidão. – Vamos logo procurar alguém para ajudar a gente!

                - Calma, estagiária! – Vicent gritava, gesticulando para que Bárbara chegasse perto deles. – Karl, faça algo para parar essa moça.

                Karl assoviou, e logo Bárbara veio correndo, que nem um cachorro querendo brincar de pegar o pau (na realidade, Bárbara queria mesmo pegar o pau… não de madeira, mas do Karl).

                - Bárbara, a gente agora precisa pegar o avião para Sidney. – Ele apontava no placar que falava “Sidney, Australia”. – Para isso, teremos que ir nessa direção.

                - Eu acho que nós temos que ir por aquela direção! – Bárbara apontava no placar que falava “Lisbon, Portugal”.

                - Se eu não tivesse a certeza que você tem o cabelo preto, eu diria que você é loira. – Vicent retorcia os olhos e andava na direção que ele supunha ser a correta.

                - Bárbara, acho melhor a gente seguir o Vicent. Ele tem cara de CDF, capaz que seja muito bom a inglês. – Eu falava para ela, enquanto andava atrás de Vicent.

                Então, nós passámos para o outro lado do aeroporto, e nos dirigimos para o avião que nos levaria até Sidney, na Austrália. Seria uma viagem bem longa.

                - Here you can see Hawaii. Please look outside to see Hawaii´s Islands. – Vicent estava dormindo e Bárbara tentando fazer o mesmo.

                A hospedeira ficava falando sobre tudo o que nós passávamos, mas eu não percebia nadinha, porque… eu sou um zero a inglês. Não sei sequer se ia conseguir viver durante 3 semanas na Nova Zelândia, sem saber nada de inglês. Eu e Bárbara teremos que nos apoiar sempre a Vicent.

Eu não conseguia dormir. Caso a senhora fizesse o favor de calar a boca com informações e histórias sobre cada ilhazinha, eu faria o favor de tentar dormir. Mas, nessas condições… não creio.

                - Here you can see Salomão´s Islands. Salomão´s Islands are Brasil´s territory. For them: Oi! – Era a 100ª vez que essa garota falava naquele avião.

Estava enchendo, porque eu não conseguia dormir, e ainda nem tinha passado metade da viagem. A comida era horrível, foi a Bárbara que escolheu para nós, e eu nem sequer toquei nela. No outro avião, eu também não tinha dormido nem comido. Me sentia um esqueleto. Ainda por cima, quando chegássemos, ainda teríamos que dar com o porto e ir de barco até o raio de uma ilha lá. E, a partir de hoje, eu comecei odiando ilhas. E hospedeiras também.

- We are already in Australia! On your right, Townsville. On your left, Coral´s sea. If you look on your left, you may see the Corals. It´s a lot of corals in Coral´s sea! Whales and dolphins too! – Acho que isso significa que estamos chegando… finalmente.

- Eu estou vendo um tubarão ali. – Bárbara apontava na janela. – Vicent, o que a senhora falou sobre tubarões?

- Não falou nada. Pelo que ela fala, só descreve baleias e golfinhos, e outros pequenos animais marinhos. Nada de tubarões. – Vicent abria seu guia turístico da Austrália, em inglês, claro. – Hum, que estranho. Nessa costa da Austrália, não é natural ter tubarões. Provavelmente, deve ser uma época especial, e deve ter falta de alimento onde eles residem, ou onde passam no seu percurso migratório.

- Será que eles nos vão atacar?! – Bárbara agarrava com força meu braço e botava sua perna por cima da minha.

- Claro que não. Só deve dificultar a vida do cara que nos vai levar no seu barco. – Vicent puxava a cadeira para frente.