Victoria:
Liam ainda estava sentado do lado de fora da casa, encostado na porta. Eu conseguia ouví- lo morrer, seu coração cada vez batia mais devagar, seu sangue era consumido pelo veneno.
Eu não queria me sentir culpada por tudo isso. Realmente não queria. Nunca havia me sentido culpada pela morte de nenhuma outra criatura, muito menos de um caçador de vampiros.
Mas Liam era diferente. Eu o amava e não podia fazer nada para mudar isso. Eu poderia agir como um vampiro normal e deixá -lo morrer ou poderia abrir a porta e embarcar numa viagem que poderia nos matar apenas para poder salvá -lo.
Bati minha cabeça contra a porta. Não queria pensar. Não queria ter sentimentos. Nessas horas que eu gostaria de ser fria como a Alisson.
Me levantei e abri a porta. Liam não estava mais lá. Ele havia ido embora. Droga!
O chão da varanda da casa estava lotado de sangue da perna de Liam. Eu conseguia sentir o cheiro de sangue vindo com a brisa fria do anoiter de Londres. O cheiro vinha da floresta.
Liam estava machucado, quase morto. Sem forças para lutar contra nada. Poderiam ter vários animais famintos naquela floresta. Inclusive um animal centenário chamado vampiro.
Eu não queria pensar nisso, não mesmo. Comecei a correr para dentro da floresta, precisava achar Liam antes que outra criatura encontrasse- o primeiro.
[...]
Começou a escurecer mais rápido. As árvores faciam sombras negras enormes, uma fina chuva começava a cair sobre a floresta. O rastro de sangue que Liam estava deixando estava sumindo no meio da chuva que começava a aumentar aos poucos.
Eu precisava encontra- lo. Eu devia isso a ele.
Fechei meus olhos e inspirei profundamente. Tentando achar o rastro de Liam novamente.
–Onde você está, Liam? -Sussurei a pergunta.
A chuva aumentou rapidamente e agora havia se tranformado em um verdadeiro temporal. O vento subtamente começou a ficar mais forte e frio consequêntemente jogando dezenas de folhas de árvore contra meu corpo. Trovões soavam no céu e raios clareavam a escuridão da floresta.
Abri meus olhos e tive uma grande surpresa. No chão lamasento coberto de folhas secas da floresta havia uma trilha de fogo levando para o meio da floresta.
Eu não sei como aquilo estava acontecendo pois estava chovendo forte sobre a cidade de Londres mas de alguma forma havia fogo fumegante, isso era incrívelmente assustador.
Poderia ser mais uma armadilha de algum caçador. Mas poderia ser algum tipo de sinal que me levaria diretamente há Liam. Eu tinha que arriscar.
Segui a trilha entre as árvores e fiquei imaginando como aquele fogo ainda não tinha se espalhado e consumido a floresta inteira.
[...]
Havia um círculo de fogo no meio da floresta. As chamas laranja vivo dançavam com o vento deixando tudo ainda mais sinistro. A chuva ainda não havia parado e parecia que a cada momento ela aumentava.
Aquela trilha de fogo havia me trazido até aqui por algum motivo. Mas qual? Qual motivo? Não havia nada aqui. Nada do que eu precisava. Liam não estava aqui.
Ou estava?
E se ele estivesse no meio do enorme círculo de fogo? Não, se ele estivesse dentro daquele círculo de chamas vivas, ele não estaria vivo.
Ele tinha que estar vivo. Eu nunca me perdoaria se deixasse ele morrer daquela forma.
Me aproximei do fogo que consumia a floresta e fechei meus olhos me consentrando no fogo. Eu havia conseguido fazer aquela trilha de fogo aparecer e me levar até Liam, talvez eu conseguisse fazer o fogo desaparecer também.
"Flammis tenebris. Revertere ad locum de quo egressus es, ire ad inferos. Et dilectus meus in pace. Adepto de!" -Sussurrei.
(Tradução: chamas das trevas. Voltem para o lugar de onde vieram, voltem para o mundo inferior. E deixe meu amado em paz. Sumam!"
Não me pergunte de onde eu tirei esse Latim. Eu sempre solbe falar um pouco, mas falar coisas como essas, fazer praticamente um ritual. Eu nunca havia feito isso.
Abri cuidadosamente primeiro apenas o olho direito e depois o esquerdo. Tinha medo do que havia acontecido. Para minha surpresa o ritual havia dado certo.
As chamas alaranjadas fumegantes haviam sumido, agora restara apenas um círculo de folhas queimadas de onde subia uma pequena e fraca fumaça. No meio do círculo estava Liam.
Ele estava jogado no chão lamasento. Havia um pouco de sangue perto de sua perna, provavelmente o machucado estava a cada momento pior. Ele estava desmaido, parecia desnutrido. Mas por sorte havia ficado intácto pelo fogo.
Me consentrei no silêncio e graças á todos os Deuses eu consiguia ouvir a respiração falhada e as batidas fracas de seu coração. Ele ainda estava vivo!
Corri até ele e tentei acordá- lo.
–Liam, acorda. Por favor!- Falei enquanto passava minhas mãos em volta de seu rosto.
"Por favor!!" -Sussurei e deixei algumas lágrimas amargas escaparem e molharem meu rosto.
Ele deu um resmungo e lentamente foi abrindo os olhos.
–Vic! -Exclamou fracamente. -Você veio me salvar. -Ele encostou sua mão gelada em meu rosto me fazendo sorrir entre as lágrimas.
–É claro que eu vim. Não poderia deixá- lo morrer. -Encostei nossas testas.
–Eu... Eu te amo Victoria. -Sussurou ao meu ouvido.
–Eu também te amo, Liam. -Disse com a voz embargada pelo choro.
Liam inclinou a cabeça, agora eu podia sentir sua respiração quente junto a minha. Nossos lábios se juntaram em um beijo cheio de paixão e desejo. O beijo durou alguns quinze segundos, mas mesmo assim foi o melhor beijo que eu já recebi na minha vida.
Quando nos separamos, Liam me recebeu com um sorriso fraco.
–Eu fico feliz em ter te conhecido. Pena que é tarde demais. -Sua voz estava fraca e triste.
–Não fala assim. Esse não é o fim. -Mais lágrimas escorreram pelo meu rosto.
–Eu sinto muito. -Ele estava quase desmaiando novamente.
–Eu não vou deixá -lo morrer. Eu vou salvá- lo. Eu juro. -Prometi.
–Você já me salvou.
Fui arrastando Liam até minha casa. Irei descobrir um jeito de ajudá- lo. Não importa o que eu tenha que fazer, irei salvá- lo.