Somente Amigos escrita por Awdrey Knight


Capítulo 12
Capítulo 12 - Percy




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Olhei no relógio, meia-noite. Pronto, faziam oficialmente quatro dias que Annabeth não falava comigo. E também era meu aniversario de 18 anos, mas eu não conseguia me sentir nem um pouco animado, por isso. Tudo o que eu conseguia pensar era na expressão de desapontamento de Annabeth quando eu contei para ela o que tinha acontecido. Suas palavras ainda reverberavam em minha mente “Eu não acredito que você fez isso!”, “Eu esperava mais de você.”, ou ainda “Você tem namorada, pelo amor dos deuses! Não pensou o que isso vai fazer com ela?”. Realmente eu não tinha pensado, eu não tinha pensado em nada. E agora ficava aqui, trancado em meu quarto durante dias em um estado dormente de depressão, não indo nem para a escola.

Minha mãe perguntou o que estava acontecendo logo na terça-feira quando Annabeth não apareceu para o café da manhã, e eu acabei mentindo que estava doente e a tinha mandado para escola sem mim. Ela reparou na mentira na hora, claro, mesmo quando eu estava doente Annabeth sempre vinha tomar café da manhã comigo, de fato passava até mais tempo aqui em casa me fazendo companhia. Mas minha mãe entendeu de alguma forma que eu não queria falar sobre isso e deixou quieto.

Já Rachel comprou a história de doente no primeiro minuto, e todo dia depois da aula vinha me visitar, trazendo minha lição de casa e doces de presente. O que só fazia a culpa dentro de mim aumentar cada vez mais. Eu estava me sentindo um canalha, eu sou um canalha, verdade seja dita. Mas não conseguia confessar que a tinha traído, ainda mais que havia sido com alguém que eu nem ao menos gostava.

Mas o pior era que Annabeth não falava mais comigo. Na história da nossa amizade nunca houve brigas como essa, eram sempre coisas bobas que nos faziam rir poucos minutos depois. E eu me sentia horrível por ter-la desapontado dessa maneira. Eu sei que não é lógico pensar assim, afinal não tinha sido ela que eu tinha traído, mas sim Rachel. Porem, de certa forma eu tinha traído nosso “código de confiança moral”, em que toda nossa amizade era baseada. A gente sempre acreditava que o outro faria a coisa certa não importando em que situação, e agora isso havia sido perdido. E com certeza essa perda era o pior da situação.

Faziam horas que eu tentava dormir sem sucesso. Era impossível fechar os olhos sem que a briga com Annabeth se desenrolasse em minha cabeça. Eu sentia meu peito doido, como se alguém tivesse me dado um soco naquele local. O arrependimento e a culpa estavam me corroendo por dentro, e tudo que eu queria era que aquela situação passasse. Que eu pudesse de alguma forma pudesse refazer o passado, ou colocar para fora aqueles sentimentos.

Passam-se mais alguns minutos antes de eu ouvir batidas na janela. Felicidade e uma ânsia desesperada se espalham por todo o meu ser. Eu só conheço uma pessoa que entra pela minha janela. Quando a abro lá esta ela parada na escada de incêndio. Num primeiro momento a fico encarando quase como se fosse uma miragem, os pés descalços, a calça de flanela xadrez, os dedos batucando na perna de nervoso, uma blusa de manga longa justa que mostra claramente a cintura fina e os cabelos loiros anormalmente bagunçados.

- Você vai mesmo me deixar parada aqui nesse frio só de pijamas? – ela diz num tom irritado, mas deixa escapar um sorriso de lado.

- Não! Quer dizer, entra – digo as pressas, e atrapalhado saio da frente da janela para que ela possa entrar. Não consigo evitar que um sorriso bobo se estampe em meu rosto. Ela esta aqui! Ela realmente esta aqui. É tudo que eu consigo pensar. Eu estava morrendo de medo que ela nunca mais fosse falar comigo.

- Feliz aniversario – ela diz depois de algum tempo um pouco sem graça. Há um ar de estranhamento entre nós que é incomum, onde um não consegue ficar totalmente à vontade com o outro.

- Obrigado – agradeço e sem ter mais o que dizer um silencio constrangedor se apodera do quarto. E então na ânsia de fazer as coisas voltarem a ser como eram antes começo a cuspir palavras em um ritmo acelerado e tão desesperado, quanto eu me sentia – Annabeth me perdoa, por favor. Eu sei que eu sou um canalha, que eu não mereço. Mas eu não agüento mais. Por favor, por favor – eu estou implorando agora, e me segurando pra não começar a chorar – Eu... Eu não sei...

- Percy, - ela me interrompe e um nó se forma na minha garganta – você não precisa se desculpar comigo. Eu é nunca devia ter parado de falar com você. E sou eu que tenho que pedir desculpas. Eu fiquei tão irritado quando você me contou, mas a verdade é que você não fez nada pra mim. E eu não tinha o direito de ter brigado com você daquele jeito. Então ai vai, você me perdoa, Percy?

O nó da minha garganta se desfaz. Eu não consigo acreditar que ela esta se desculpando comigo. O alivio toma conta de mim e eu me aproximo dela segurando suas mãos. Apesar de tudo, eu ainda sinto que quem deve se desculpar aqui sou eu. Por isso começo a mexer a cabeça em negativa.

- Você tinha todo o direito. Annabeth, você é minha amiga, minha melhor amiga e eu sinto que de alguma forma... – de repente eu não sei o que acontece, é como se todas as emoções que estiveram presas dentro de mim nesses últimos dias quisessem escapar e eu começo a chorar. A cena é completamente ridícula, eu chorando desesperadamente abraço Annabeth e em meio aos soluços fico pedindo desculpas sem parar. Eu simplesmente não consigo me controlar. Ela me leva até a minha cama e começa a fazer cafuné na minha cabeça tentando me acalmar, enquanto eu choro em seu ombro, e ela fica repetindo que esta tudo bem. Eu não chorava assim fazia anos desde que eu era uma criança, e possivelmente é por isso que ela parece assustada com a minha reação e esta me tratando como se eu fosse um dos seus irmãos gêmeos mais novos.

- Desculpa – eu falo novamente, mas já estou controlado agora. Levanto a cabeça e enxugo as lagrimas do rosto com as costas da mão – Eu não queria ter me descontrolado desse jeito.

- Está tudo bem – ela diz e sorri de lado, o que me faz pensar que daqui há alguns dias ela estará fazendo piada disso, mas eu não me importo. Chorar até que me fez bem, eu não sinto mais aquela dor no peito. Ela então estica as mãos acariciando o meu rosto – E você, esta bem agora?

Eu faço que sim com a cabeça e fico apreciando seu carinho. Acabo por deitar no seu colo e ela fica acariciando meus cabelos. No começo tudo se passa em silencio, mas em pouco tempo começamos a conversar. Primeiro ela pergunta se Rachel vinha trazendo a minha lição de casa, assumindo que era ela que todo dia entregava para a ruiva me trazer. E eu acabo rindo da situação, e assumo que estava mesmo achando estranho Rachel ter se preocupado com os deveres. Então ela me conta como foi a semana na escola, como tinha andado raivosa por causa da briga e estava descontando em todo mundo. Nós riamos juntos das situações, como Grover fugindo dela ou Thalia perdendo a paciência, coisas que eram típicas daqueles dois. Ela também diz que tem feito Bianca de psicóloga, e que é impressionante como ela ouvia a tudo atentamente e conseguia sempre arranjar um jeito de acalmá-la. E aparentemente ela vem fazendo a equipe de esgrima treinar mais duro do que nunca e ri pensando em como Zane, Clarisse, Alex e Nico devem estar rezando para que eu volte para a escola logo. Então mais séria ela me promete que não contou o que eu fiz para ninguém. Mas que eu tinha a obrigação de contar para Rachel, afinal de contas era ela que eu tinha traído.

- Eu sei – digo pesaroso. – Vou contar esse fim de semana, depois do meu aniversario.

- Bom mesmo! – ela diz brincando, e continua – Só não vai encharcar a camisa da coitada, como você fez com a minha – ela então abre um sorriso e passa as costas da mão na minha bochecha e eu sei que ela esta tirando uma com a minha cara, e por isso também abro um sorriso.

 - Você sabe que eu te amo, né?

- Claro que eu sei seu cabeça-de-alga – ela diz rindo, e então séria – Eu também te amo – e se inclina me dando um beijo demorado na bochecha. E então olha para meu relógio e leva um susto a fazendo saltar da cama – Droga Percy, já passou das 2 e a gente tem que acordar cedo.

Ela já está passando pela janela quando eu imploro para que ela fique. Tenho a impressão de que se ela for embora tudo não terá passado de um sonho. E ela acaba por concordar, deitamos então na minha cama ela apoiada contra meu peito e eu a prendendo em meus braços, como se para impedir que ela fugisse. Nos cobrimos e é minha vez de acariciar seus cabelos.

- Boa noite – digo e dou um beijo em sua testa.

- Boa noite – ela responde boceja, e em pouco tempo fecha os olhos. E eu continuo a lhe fazer carinho até que sinto que ela já dorme pesado, só então finalmente me permito dormir.

Acordo sentindo o vazio do lugar que Annabeth devia ocupar em meus braços e por alguns instantes me desespero achando que tudo não passou de um sonho. É quando vejo o bilhete que me deixou avisando que foi se arrumar para a escola e já volta. Me deito, agora de bruços como eu costumo dormir normalmente. E espero fingindo que estou dormindo, nesses dias umas das coisas que eu mais senti falta foi o jeito como ela costuma me acordar todas as manhãs, até mesmo da mordida no ombro eu tinha saudades. Em poucos minutos ela passa pela minha janela novamente, agora vestindo o uniforme.

- Percy – ela chama suavemente me sacudindo pelo ombro, e eu não consigo evitar abrir um sorriso – Você esta acordado! – sua a voz é tão indignada que só faz o sorriso em meu rosto crescer.

- Não to não – falo quase que como uma criança e cubro a cabeça com a coberta.

Ela finalmente ela desiste e joga o peso em cima de mim, então tirando o cobertor do meu rosto pergunta:

- Era isso que você queria?

- Aham – concordo, e ela se aproxima para me morder. Mas no ultimo segundo me viro, e ela cai na cama comigo ao seu lado.

- Percy! – ela reclama, mas esta rindo. Eu então fico de lado apoiando a cabeça em uma mão e a prendendo no lugar com o braço livre.

- Acho que hoje eu é que quero te morder – ela me encara, e por algum motivo a uma tensão no ar. Eu me aproximo lentamente, como se saboreasse o momento, o tempo todo a encarando. Annabeth estava estranhamente parada, como se não ousasse se mexer. Com cuidado afasto um pouco a gola da camisa e retiro alguns fios de cabelo do caminho, eu podia sentir seu cheiro de morangos frescos e hortelã, por causa da proximidade. Então finalmente a mordo. Só quando paro, percebo que exagerei, meus dentes deixaram uma marca feia no encontro do pescoço com o ombro, e a tendência é ficar pior com o tempo.

- Desculpa – digo e me aproximando planto um beijo no local da mordida.

                - Tudo bem – ela diz e da um riso nervoso – eu provavelmente já fiz muito pior.

                A tensão entre nós aumentava a cada segundo. De alguma maneira uma das mãos de Annabeth tinha ido parar no meu ombro e a outra na minha cintura. Já a minha mão livre estava agora em seu rosto acariciando sua bochecha. Eu me aproximava cada vez mais dela, era quase como se uma força mais forte que a gravidade nos aproximasse. Já estávamos a menos de cinco centímetros um do outro, quando ouço a porta se abrir e a voz da minha mãe.

                - Filho, você vai para a... – ela então para. Annabeth, que levou um susto quando a porta se abriu esta agora em pé ao lado da cama esfregando a testa, que ela bateu na minha ao tentar levantar as pressas. Enquanto eu estou sentado na cama, mais vermelho que nunca encarando meus joelhos. E minha mãe fica alternando o olhar entre mim e Annabeth, com um sorriso no rosto – Vocês...?

                - A gente fez as pazes – Annabeth interrompe minha mãe. – Só que o seu filho acordou achando que é o Drácula.

                - Ah é? – pergunta minha mãe soando incrédula.

                - Isso mesmo – continua Annabeth e abaixa a gola mostrando a mordida – Acho que dessa vez vai demorar um mês pra sair. O que acha, Sally?

                E com isso as duas saem do quarto. Ela sabia realmente como distrair minha mãe, eu já podia ouvir as duas na cozinha conversando sobre como eu podia ser irresponsável.

                Fico pensando no que quase aconteceu. Se minha mãe não tivesse chegado, será que teríamos realmente nos beijado? Balanço a cabeça tentando esquecer a história, eu já tinha problemas suficientes no momento para criar novos. Sem falar que as coisas tinham acabado de voltar ao normal com Annabeth e eu não queria fazer nada para arruinar tudo de novo. Começo a tirar a camisa decidido a tomar um banho gelado, quando ela entra no quarto novamente.

                - Quase esqueci – ela diz, e então se apoiando em mim me morde no ombro, depois sussurra no meu ouvido – Feliz aniversario, Percy – e sem mais nem menos sai do quarto fechando a porta. Fico um tempo encarando a porta antes de voltar a mim. É, definitivamente um banho gelado.

                Demos sorte e o metro tinha dois acentos vazios um ao lado do outro.

                - Você vai hoje lá em casa, certo? – pergunto só para poder quebrar o silencio.

                - Claro que sim, cabeça-de-alga. É o seu aniversario! E já ia esquecendo... – então ela tira do bolso do blazer um saquinho cheio de jujubas azuis, me fazendo abrir um sorriso. Ela sempre fazia isso nos meus aniversários, comprava vários saquinhos de jujuba e separava todas as azuis para me dar.

                - Obrigado! – digo feliz e segurando seu rosto planto um beijo em sua bochecha, e então brincando – Oh princesa, perdoe minha ousadia. O que possivelmente posso estar fazendo para ressarci-la por meu ato? – Annabeth ri um pouco, mas logo entra na brincadeira.

                - Como admitiu seu erro e hoje é o dia de seu nome, sua punição será leve, servo. Eu o condeno a não deixar que meus pés toquem o chão, até que eu diga o contrario.

                - Você ordena e assim é feito – respondo fazendo reverencia e vejo que ela esta segurando o riso. Essa brincadeira é uma das mais antigas nossas. Quando éramos crianças Annabeth sempre fazia o papel da princesa, e eu variava entre servo ou príncipe. De uma maneira ou de outra ela sempre dava um jeito de mandar em mim.

                - Nossa carruagem chegou, princesa – então me agacho para que ela possa subir nas minhas costas. Algumas pessoas olham quando eu passo com ela nas costas, mas eu não ligo, as ruas de Nova York já viram coisas muito mais estranhas. O caminho até a Academia Yancy é curto, e Annabeth muito leve e fácil de carregar, mas decido mexer com ela do mesmo jeito.

                - Princesa, não sei se agüento tanto peso por mais tempo – digo rindo. E ela acaba mordendo meu pescoço para se vingar – Ai! Não sabia que vampiros andavam a luz do dia.

                - Como não sabia se você mesmo é um, – ela diz também rindo – e eu tenho prova. A mordida que me deu hoje mais cedo já esta ficando roxa!

                - Tem razão milady. São as forças do habito, eu simplesmente não pude resistir. Mas você, é claro, pode me morder quando quiser. Eu vivo para te servir – com essa ela ri alto.

                - Eu vou me lembra disso – ela diz junto a minha orelha, a mordendo logo depois. A essa distancia eu já podia ver os portões da Academia Yancy, então resolvi sair correndo, fazendo com que Annabeth as minhas costas soltasse um gritinho. Só parei quando já tinha corrido metade do corredor principal.

                - Satisfeita? – pergunto um pouco ofegante.

                - Sim, na verdade acho que merece uma recompensa – ela diz. E pega uma das jujubas azuis, a colocando na minha boca. É quando percebo Grover e Thalia nos encarando de forma engraçada. Por isso coloco Annabeth no chão.

                - Eai, gente? – pergunta ela abrindo a porta do armário, ignorando completamente a expressão no rosto dos amigos. Por isso resolvi fazer o mesmo.

                - E então? Os dois resolverão fazer as pazes? – insiste Thalia.

                - Pazes? – pergunto me fazendo de idiota. Alias sou muito bom nisso.

                - Caramba! – diz Thalia começando a ficar irritada. – Vocês vão realmente fingir que nada aconteceu, e ainda por cima nem vão contar pra gente o motivo da briga.

                - Thalia, - começa Annabeth fingindo preocupação e pondo um semblante sério – você sabe que eu te amo, mas já esta começando a me preocupar. A única coisa que aconteceu essa semana, é que o Perseu aqui teve um grave caso de Preguissite Aguda, e vinha se recusando a vir para a escola.

                - Preguissite Aguda, é mesmo? – responde Thalia incrédula.

                - Mas é claro! – concordo. Então passo os braços pelos ombros de Annabeth sorridente.  – Eu seria incapaz de brigar com alguém tão perfeito – digo agora tascando um beijo na bochecha da minha amiga.

                - Aham, claro. Vou fingir que acredito. Por enquanto. Mas um dia ainda vão me contar a verdade.

                - Pelos deuses, vocês são ainda mais malucos do que eu achava! – fala Grover pela primeira vez, fazendo com que todos rissem.

                - E bem mais do que você imagina agora – respondo de brincadeira, enquanto vamos em direção a aula de saúde.


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