Almost Human escrita por MsNise


Capítulo 14
Mudanças


Notas iniciais do capítulo

Adivinhem quem voltou?! Isso mesmo, euzinha HDUSAHDISA
Sei que passei MUITO tempo sem escrever pra cá, então eu fiz outro big capítulo pra recompensar a minha demora de mais de um mês.
Vamos para os agradecimentos: Wanderer, me ajudando sempre, sempre e sempre porque eu, com algum dom incrível, sempre consigo empacar. E MsAbel que sempre revisa pra mim os capítulos que eu escrevo ♥
Espero que vocês tenham sentido a minha falta e que gostem da minha volta (até rimou) haha
Até lá embaixo :** (leiam hihi)



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O tempo escorreu por entre meus dedos e se aniquilou, como se nunca houvesse existido.

As coisas ocorreram maravilhosamente bem. Fortuitamente as coisas mudaram de maneira drástica. Como em um acidente de carro, onde se está decidido um destino, mas ele é desviado ou simplesmente interrompido por outro carro, que também tinha um objetivo.

Ponderei sobre como as coisas estavam e me surpreendi ao constatar que estavam indo bem. Mas essa constatação não apareceu de um dia para o outro ou no prazo de uma semana. Não. Ela demorou. Chegou lenta e sorrateiramente, uma mudança equivalente à mudança de ritmo de uma música, quando essa chega a seu ápice.

Na primeira semana estava um clima complicado. Susan ainda era a atração nova, o brinquedinho, o maior alvo das fofocas. Comentavam sobre mim também, uns me tomando como um herói, o que eu definitivamente não era, e outros agindo como se eu fosse culpado de um crime.

Queria explicar a eles que aquilo foi instintivo, minha atitude. Na hora eu não pensei em nada, eu arrisquei a minha vida e a de todos os presentes, inclusive de Susan. Só conseguia pensar que ela era uma humana e que devíamos mostrá-la que não era a única. Entretanto, não me deram brecha, opção. Julgaram-me por um crime que não era um crime; por um ato que só visava ajudar.

Estava tão desnorteado e embasbacado com a minha atitude quanto todos os presentes na caverna, mas não foi me dada a chance para falar isso em alto e bom som. Não foi me dada a chance sequer de respirar antes que mais uma reviravolta acontecesse em minha cabeça.

Essa reviravolta aconteceu quando eu percebi que meu cérebro não era mais capaz de acompanhar o que acontecia à minha volta.

Sunny e Kyle entraram no refeitório na hora do jantar, ou melhor, na hora das aulas da Peg, que voltaram a acontecer depois de um bom tempo. Estava hipnotizado pelas coisas que Peg estava falando, mas minha atenção me foi desviada pelo barulho estrondoso que Kyle fez ao entrar. Era a primeira vez que ele assistiria a uma aula de Peg e somente por Sunny ter o arrastado até lá.

Revirei meus olhos ao perceber que ele havia chamado a atenção de todos, mas eles se paralisaram em uma volta com a cena que presenciei. Kyle se sentou ao lado de Susan e eu não vi repulsa em seu olhar. Pelo contrário, ele a cumprimentou usando o apelido que poucos utilizavam e sorriu para ela, como se fossem velhos amigos.

Nunca consegui entender essa história de uma pessoa virar amiga da outra repentinamente. Amizade requer tempo e conhecimento. Você a ajuda a crescer, coloca os tijolos no lugar e no tempo certo. É uma construção que pode ser derrubada facilmente, mas para construí-la você precisa de muito cimento e tijolo, e sempre tenta fazê-la forte o suficiente para uma tempestade qualquer não derrubá-la. Amizade repentina é construída com madeira, ela é derrubada na primeira rajada de vento ou na primeira esbarrada que você dê nela. Não é firme, não é forte, é fraca, se suprime, se acaba em um piscar de olhos.

Senti que meus olhos saltaram das suas órbitas.

Eu sabia que no momento em que pedi desculpa para Susan eu não estava sendo verdadeiro o bastante. Eu teria de conhecê-la, compreendê-la, como foi com Peg. Ela não era uma intrusa e eu não tinha de aceitá-la nessa condição. Era apenas uma coisa que me incomodava sobre ela e eu sabia que eu não iria deixar de me arrepender assim, de uma hora para outra. Era como a amizade; requeria tempo e conhecimento.

Entretanto Susan não facilitou minha obstinação. Agia como se eu não existisse e me ignorava sempre que tinha a oportunidade de fazê-lo. Algo nela me lembrava Kyle; além da aparência física, ela não era de desistir fácil do rancor. O guardava dentro de si e demorava em libertá-lo. Eu insistia mais no começo, tentava várias formas de aproximação, mas quando percebi que era inútil, abandonei o barco e deixei a maré me carregar para a ilha certa.

Peg havia aceitado minha condição de humano que erra facilmente, mas isso era esperado. Nosso amor somente crescia, se isso fosse possível. Havíamos nos acostumado mais à presença um do outro; agora ela dificilmente se sentia constrangida. A chama de nosso amor queimava devagar o que tinha por perto. Crescia sorrateiramente, imperceptivelmente, mas era definitiva. Era real.

Levei-a para fora da caverna um dia desses. Era noite e eu queria lhe mostrar a beleza das estrelas sem as luzes da cidade e, principalmente, sem o clima de velório de Walter. Creio que ela merecia esse descanso de todas as coisas que a incomodavam tanto.

Deitamo-nos na areia do deserto e deixamos a brisa quente e pesada varrer nossos rostos.

- É bom ter o privilégio de ver as estrelas novamente – comentei pegando um punhado de areia no chão do deserto e o deixando escorregar por meus dedos entreabertos.

- Acho que nunca tinha prestado atenção, não quando vivia na cidade – disse Peg, franzindo o cenho delicadamente para o céu.

- Quando eu vivia na cidade, na verdade, eu lamentava. - refleti, me lembrando de minhas noites frustradas. – Não conseguia ver as estrelas como elas mereciam ser vistas, por causa das luzes da cidade. Lembro-me de me debruçar na varanda de meu quarto e ficar montando desenhos no céu, apesar de eles não fazerem muito sentido. Eu costumava achar um significado para cada desenho. Quando tinha diversas estrelas alinhadas eu acreditava que era um sinal para eu sempre andar adiante, nunca desistir, seguir a marca delas.

Deixei que meus olhos perdessem o foco e se enchessem de lágrimas. Não era saudade, muito menos nostalgia, era a lembrança. Ela em si era bonita, mas quando me recordo do contexto em que eu me encontrava, percebo que prefiro o de hoje. Pelo menos aqui eu recuperei o amor que havia perdido.

- Como seria ir para o meio das estrelas? – Peg me perguntou, encarando o céu, completamente alheia à melancolia que havia me invadido.

- Você deve poder imaginar melhor que eu. Já viveu em vários outros planetas – disfarcei meu tom de voz facilmente. Foi preciso somente sonhar como ela.

- Nenhum se igualaria – ela negou, hipnotizada.

- É – concordei com um suspiro.

Ficamos assim, em silêncio, por um tempo. Foi agradável. O vento assobiava em meus ouvidos e chicoteava a minha face, mas era uma coisa boa de sentir. Sentir o vento quente penetrar pelos poros de meu corpo fazia-me sentir mais vivo, apesar de eu acreditar seriamente estar sonhando. Como a dor pode recompensar de uma maneira tão boa? O amor é a recompensa do ódio?

Peguei na mão de Peg e as entrelacei. Ela sabia que isso significava muito pra mim. Ela sabia que um gesto, um detalhe, era como um mundo para mim. Era como se tudo que eu acreditasse se tornasse real, apenas por um gesto pequeno facilmente ignorado.

- Já viu neve? – perguntei com curiosidade.

- Ah... não – ela completou a fala com um risinho fraco.

- É lindo. Uma vez eu viajei e estava nevando no lugar onde eu estava, então eu comecei a fazer anjo na neve – ri ao me lembrar. Eu era apenas uma criança, não havia sequer atingido a idade que poderiam me considerar adolescente, e estava deitado na neve, fazendo um anjo nela. Costumava pensar que eu era meu próprio anjo da guarda e que somente eu podia cuidar de mesmo, mas mais tarde constatei que essa teoria era errática.

- Anjo na neve? Nunca vi isso – comentou franzindo o cenho.

- Sério? – a surpresa invadiu meu tom de voz.

- Sim. Como é? – ela sentou-se de frente para mim e cruzou as pernas diante de si, em seguida apoiou os cotovelos nos joelhos e me olhou com os olhinhos brilhando.

Ri de sua admiração e resolvi mostrar a ela, em vez de eu fazer.

- Deite-se – pedi, me sentando com um sorriso sapeca no rosto.

- Por quê?

- Pra eu te mostrar.

- Mas não é você que vai fazer?

- Não, é você que vai. Eu vou fazer você fazer.

Meio confusa ela me obedeceu. Deitou-se com cuidado e ficou observando enquanto eu me levantava e logo depois me ajoelhava a seu lado.

- Assim – disse, pegando seus dois braços e os abrindo, em seguida passando para suas pernas. – Agora você os balança.

- Como? – perguntou ela. – Assim? – ela ergueu os braços e as pernas, os levantando da areia, não cumprindo o efeito desejado.

- Não, não – ri de seu gesto e fui me postar ao seu lado novamente, posicionando seus braços no lugar certo. – Talvez eu não tenha me expressado da maneira correta. Assim – segurei seus braços e os arrastei pela areia, ora ao lado do corpo dela, ora abertos como se para receber o abraço de alguém. – Agora você move suas pernas ao mesmo tempo – e assim ela o fez.

Apoiei-me em meus joelhos novamente e fiquei olhando com satisfação seu olhar encantado. Ela ria como uma criança que é colocada pela primeira vez em uma balança. De qualquer forma, é bom escutá-la feliz. É bom vê-la sorrindo; faz coisas estranhas acontecerem dentro de mim. Ela ressuscitou a parte morta que havia dentro de mim e eu devia minha vida a ela por isso.

A lua e as estrelas iluminavam seu rosto inocente e fascinado. Alguma coisa subiu por meu peito e eu me vi incapaz de falar ou demonstrar aquilo que estava sentindo. Não era como o choro, mas meus olhos se encheram de lágrimas. Meu peito não segurava aquilo que eu sentia, eu engasgava com meu próprio sentimento, meu sorriso rasgava meu rosto. Aquilo era o amor. Mas ia além do amor, era a felicidade. A felicidade você sente em momentos raros de sua vida; é uma onda de prazer tão grande que seu corpo não consegue extravasar.

Hipnotizado eu desloquei meu peso para um joelho só e estiquei um dos meus pés para trás de mim. Paralisei os braços de Peg no lugar e fiquei ao seu lado, quase em cima dela. Ela me encarou com um sorriso tão grande quanto o meu, mas não tão feliz. Nenhuma felicidade no mundo era maior que a minha. Aproximei meu rosto do dela lentamente, então colei nossos lábios.

Desprendi uma de minhas mãos e a coloquei do lado do rosto de Peg, sem parar de beijá-la. Com o braço livre ela engatou meu pescoço, nos aproximando ainda mais. Deslizei minha outra mão para sua cintura e fui levantando meu tronco delicadamente, puxando-a comigo. Fiquei ajoelhado e ela sentada novamente. Minha mão que pendia em seu rosto escorregou para sua cintura e eu a abracei com força.

Não havia mais nenhuma distância possível entre nós, apenas aproximação. Entretanto, quando ela foi colocar sua outra mão em meu pescoço ela parou. Seu braço escorregou até estar ao lado de meu rosto e ela parou o beijo sem fôlego, encostando nossas testas com cuidado.

- O que... foi? – eu também respirava penosamente.

- Eu... – ela fez uma pausa e passou os dedos de sua mão livre pela areia, procurando por algo. – Acho que senti alguma coisa. – concluiu se afastando de mim.

Ela tateou no escuro, procurando. Pegou um montinho de areia e abriu milimetricamente os dedos, deixando a areia escorrer por eles e o vento a levar. Quando a areia havia quase se esvaído de seus dedos foi possível ver o que ela havia sentido. Com a boca aberta de surpresa eu estendi minha mão e peguei um dos anéis que estava em sua mão.

Era uma aliança. Tinha dois nomes gravados dentro dela, os quais não eram possíveis de ver à noite. Assoprei cuidadosamente o que tinha na palma de minha mão e limpei um pouco da areia que tinha nela. Coloquei em meu dedo anelar da mão direita e para minha surpresa serviu. Entrou meio arranhado, consequência da areia, mas indiscutivelmente serviu.

Levantei meus olhos para Peg e a peguei sorrindo, exibindo sua aliança para si mesma. Ela encontrou o meu olhar e algo aconteceu ali, naquele momento. Uma conexão única nos uniu. Foi como se aquilo tivesse sido forjado para nós. Aquele momento, aquele encontro. O próprio nós. O amor.

O amor. Um sentimento tão único, tão simples, tão grandioso, tão complexo, tão meu, tão nosso, tão de todos. É como se a vida de todas as pessoas dependesse dele. Desse complexo que logo que é experimentado é desvendado como uma mágica. Desse complexo simples. Desse grande tão pequeno. Desse único tão compartilhado. Desse meu tão de todos.

Puxei seu rosto para o meu e a beijei. Não precisávamos de palavras, os gestos diziam mais do que qualquer pessoa seria capaz de falar.

A noite continuou em sua infinitude e os dias se estenderam também. As coisas sutilmente começaram a mudar, como em um filme, onde quando você menos espera, o casal principal se beija. Se você não estivesse entretido você teria percebido a evolução, mas é assim na vida. Você fica tão entretido tentando desvendar as situações e as coisas que se esquece de perceber coisas pequenas.

Jamie estava crescendo e, como conseqüência disso, mudando.

O trabalho duro já começava a fazer parte de sua rotina recém restabelecida. E as confusões do coração já começavam a preencher sua cabeça também.

Ele não me contou coisa alguma, mas eu ouvi uma conversa entre ele e Melanie tempos atrás. Estava indo para meu quarto depois de um dia de trabalho quando parei por um momento para escutar a conversa. Não era de meu feitio escutar a conversa dos outros, mas por algum motivo aquela chamara minha atenção.

- Então – suspirou Mel. – Como vai seu coração? – ela deu um riso brincalhão.

- Batendo – rebateu Jamie, não tão à vontade.

- E posso saber por quem?

- Por ninguém.

- Por favor, eu sei quando você está mentindo.

- Sabe, é? Pois não parece – escutei um farfalhar de pés arrastando na areia e meu corpo se preparou para uma fuga rápida, se fosse preciso.

- Você está estranho. Seu ânimo conversador diminuiu, você não come mais tanto quanto antes e volta e meia eu o pego preso em seus próprios pensamentos. Só apaixonados agem assim – concluiu ela e eu escutei mais um barulho de passos, mas não queria sair dali até descobrir por quem o coração de Jamie batia. Queria entender minha própria curiosidade.

- Eu não estou apaixonado, apenas não sei o que fazer com minha própria cabeça – bufou Jamie com raiva, tirando o biombo da entrada e dando de cara com minha expressão assustada.

Encaramo-nos por um tempo até eu perceber que era eu que tinha me justificar, ou mentir, se assim fosse melhor. Disfarcei rapidamente que estava escutando a conversa.

- Oi – disse, tentando não ficar sem graça.

- Ah, oi, Ian. Eu te assustei? – me perguntou ele, aparentemente sem desconfiar de nada, com os olhos meio perdidos.

- Não, não. Está tudo bem – respondi.

- Que bom - comentou apressadamente, com os olhos fixos para além de mim. – Se você me dá licença...

- Claro, fique à vontade – ele saiu em passos largos e firmes. O acompanhei com os olhos até ele virar a esquina.

Algo nele me lembrava de mim quando me apaixonei por Peg. A confusão, a história de não saber como agir, a complexidade de ser outro alguém porque você quer esconder seu próprio eu para não ser julgado. Tentar se entender é o pior desafio.

- Ian? – chamou Mel, encostada no batente da porta de braços cruzados.

- Diga – disse, virando meus olhos para ela e esquecendo-me de meus pensamentos.

- Pode entrar aqui por um minutinho? – pediu, abrindo espaço para mim.

- Tudo bem – dei de ombros e entrei.

O quarto dela e de Jared estava diferente do que eu me lembrava. Tinha mais traços femininos espelhados pelo local, como roupas e objetos. Sem contar que havia a ausência de um colchão no chão.

- Você estava escutando a conversa, não é? – perguntou, colocando o biombo no lugar novamente.

- Não, não, eu... – dava para perceber que eu estava mentindo, por dois motivos muito óbvios. Primeiro, eu respondi muito rápido. Segundo, faltou a complementação por eu ter respondido muito rápido. – Ok – suspirei. – Sim, eu estava escutando.

- E o que achou?

- Que ele está apaixonado.

- Por quem?

- Não faço ideia.

Ela veio se postar em minha frente, com uma sobrancelha erguida. Mas não conseguiu aguentar por muito tempo; cruzou seus braços e começou a andar de um lado para o outro, preocupada.

- Por que ele não quer me contar? Eu sou a irmã mais velha dele – refletiu, tentando organizar sua cabeça.

- E você acha que eu contei para Kyle que estava apaixonado por Peg? – perguntei rindo e me sentando no colchão.

Ela continuou andando de um lado para o outro, encarando o chão como se ali estivesse a resposta procurada.

- É diferente – disse ela.

- Você tem razão. De qualquer maneira, era mais fácil para mim e para Kyle.

Ela me olhou incrédula por minha atitude de falar aquilo. Ela queria minha ajuda, e eu estava apenas bagunçando mais sua cabeça.

- Ficarei de olho nele – concluí com um risinho.

- Queria que ele confiasse em mim para me contar – desabafou, se jogando no colchão com uma cara frustrada.

- Não é falta de confiança – expliquei, afagando sua mão. – Ela está com vergonha, acha que isso é errado, e não quer que ninguém saiba caso ele erre.

- Por que você acha isso? – ela me perguntou.

- Porque ele é parecido comigo.

Ela me olhou por um momento, então deitou na cama com um suspiro.

- Será que algum dia eu vou parar de me preocupar? – me perguntou, encarando o teto.

- Não – resolvi mostrar-lhe a verdade de uma vez por todas.

Mais um suspiro da parte dela.

Ficamos em silêncio, cada um com seus devaneios. O lugar despertou um pensamento especial em minha cabeça. Lembrei-me de quando tivemos aquela conversa difícil sobre sermos mais abertos um com o outro. Foi quando eu percebi que me sentia confuso em relação a ela. Agora, com os meus dedos encostando o peito de sua mão, eu não sinto nada. Nenhuma atração. Sequer vi Peg nela quando ela ficou toda preocupada.

- Mel – disse com a voz meio longe.

- Hm – perguntou.

- Você... – senti dificuldade em concluir a frase. – Se sente confusa, ainda? Em relação a nós, você sabe.

Ela ponderou por um momento, olhando para o nada. Uma careta engraçada se insinuou em seu rosto. Esperei pacientemente enquanto ela se decidia.

- Não – uma paz preencheu o quarto com essa fala. – Eu não estou confusa. Não mais. Eu estava certa, eu acho. O sentimento foi embora quando o libertamos. Agora, eu só sinto um carinho enorme por você.

- Isso é bom – disse com um sorriso no rosto.

- É ótimo – concordou sorrindo também.

Naquela noite quando voltei para o meu quarto e de Peg – Susan havia sido transferida para o quarto de Candy e Lacey - a encontrei com uma expressão serena no rosto.

- O que aconteceu? – perguntei me deitando na cama, ao seu lado.

- Acho que Susan está começando a te perdoar – ela comentou como se despretensiosa e me deu as costas.

- Por que acha isso? – perguntei.

- Ela falou para mim que você foi muito corajoso aquele dia.

Pensei sobre o assunto, virava e mexia abrindo minha boca como se para falar algo, mas em seguida a fechava sem encontrar as palavras certas.

- Isso é sério? – mas quando perguntei num sussurro, quase para mim mesmo, Peg já estava dormindo.

O que Peg disse se concretizou. Percebi isso quando em um dia de colheita, Susan me incluiu em sua lista de pessoas para me dar uma garrafa de água. Ela sempre pulava o grupo onde eu estava, me fazendo revirar os olhos. Mas podia ser por outro motivo também. Ela deu o agrado para Jamie e sorriu de maneira tímida quando ele a encarou profundamente.  

Acreditei ter sido o único a perceber isso, mas quando levantei meus olhos flagrei Jared o observando também com um sorriso malicioso no rosto. Jamie continuou encarando Susan enquanto ela entregava garrafa de água aos outros, e do outro lado da colheita ela olhou para ele e sorriu encantadoramente.

Outro dia observei ao longe enquanto Susan limpava os espelhos, a escada sendo segurada por Jamie e Peg.

Ela desequilibrou-se e um de seus pés escorregou da escada, fazendo-a soltar um gritinho desesperado e cair de uma vez, tomada pelo susto. O tombo foi tão rápido que não deu nem tempo de ela balançar seus braços e Jamie já estava segurando-a pela cintura.

Permita-me explicar melhor. Não foi como nos livros em que a garota cai exatamente no colo do garoto, foi um pouco mais real, embora igualmente romântico. Ela chegou a cair em pé, mas, logo que o fez, torceu o pé, tendo que cambalear alguns passos para trás e arriscando cair de costas no chão, porém Jamie foi rápido o bastante para aparar a queda segurando-a pela cintura.

Peg não tinha forças o suficiente para manter a escada reta, portanto ela abandonou o barco e deixou a escada cair com um estrondo forte no chão, chamando a atenção de todos.

Andei depressa até eles, o bastante para escutar Jamie perguntando baixinho:

- Susi – chamou ele, usando o apelido. – Você está bem?

- Só o meu pé que está doendo, porque eu o torci – em seguida ela girou o calcanhar e gemeu de dor.

- Vem, eu te ajudo a andar – Jamie colocou uma de suas mãos na cintura dela e a fez colocar o braço em volta de seu pescoço, logo depois entrelaçou suas mãos que pendiam no seu ombro.

Ele olhou para ela para ver se seria capaz de andar e ela retribuiu o olhar profundamente, lançando um sorriso tímido e depois desviando os olhos com vergonha. Com esse suporte, os dois cambalearam trôpegos pela caverna, seguindo para o consultório de Doc. 

Todos ficaram olhando.

Caminhei até Peg, percebendo que suas minúsculas mãos tremiam de nervosismo. Abracei seus ombros e apoiei minha cabeça na sua. Ela jogou os braços na minha cintura e suspirou.

- Tudo bem? – questionei com a voz abafada por seus longos cabelos louros.

- Foi só o susto mesmo – sua voz estava abafada por causa de minha camisa. Senti que ela sorriu pelo movimento de seus lábios. – Eles combinam, não é?

- Uhum – murmurei, incomodado com alguma coisa indiscernível.

Peg suspirou novamente, ao passo que eu continuei a encarar o chão de areia tentando descobrir o que tanto me pinicava no fundo de minha alma.

Ela tomou meu rosto em suas mãos e encostou nossas testas.

- Tudo bem? – perguntou preocupada.

- Sim – suspirei e lhe dei um selinho delicadamente.

As coisas começaram a melhorar então. Todos já haviam se acostumado com a presença de Susan, tanto que só usavam o apelido Susi para se referir a ela. Até a nossa relação melhorou; éramos considerados quase amigos. Jamie a cada dia parecia mais apaixonado. Peg estava cada vez mais à vontade. Mel estava cada vez mais minha amiga. Jared estava cada vez se dando melhor comigo. A relação de Kyle e Sunny estava evoluindo. Até Maggie e Sharon estavam revendo seus conceitos.

Amadurecemos junto com nossas idades. Agora eu tenho 27 anos. Peg tem 20. Jamie tem 16. Jared tem 32. Melanie tem 23. Susan tem 15.

Passaram-se dois anos.


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Notas finais do capítulo

E aí? Gostaram? Deixem reviews com a opinião de vocês, tô sentindo tanta falta de vocês nas minhas atualizações ♥
Bom, eu pedi pra vocês lerem aqui porque eu quero mostrar que tenho uma fanfic original também, pra quem tiver curiosidade: http://fanfiction.com.br/historia/390992/Um_Livro_Que_Comecou_Um_Amor
Está beeem no comecinho e é a Wanderer que me ajuda com os capítulos e revisa eles também pra mim, então se vocês tiverem tempo leiam e comentem lá também ♥
Bom, até o próximo capítulo. E não se esqueçam dos reviews haha ;**



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