Girls On Fire escrita por JessieVic


Capítulo 52
Capítulo 52


Notas iniciais do capítulo

Segue mais um cap!



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Jessie tentou se sentar na cama como podia se apoiando só com um braço. Sentiu os braços da latina a envolverem num abraço apertado enquanto suas costas balançavam com os soluços de um choro aflito.

- Desculpa... desculpa... – a ruiva murmurava entre o choro – Por favor, me desculpe... - soluçava enquanto segurava o rosto de Santana, querendo averiguar se realmente ela estava na sua frente, que não era imaginação.

- Desculpar do que? – a latina tentava dar um sorriso calmante e conter a agonia por ver a namorada com o rosto machucado. Passou a mão secando as lágrimas que não paravam de cair e notou o corte um pouco abaixo do olho esquerdo, agora com alguns pontos.

- Eu te deixei lá... eu não aguentei... – ela falava sem encarar a namorada, se sentia muito culpada – O que aconteceu depois?

- Eu... eu não acho que seja bom falar disso...

- Preciso saber... eles fizeram algo pra você? – ela passava a mão pelo rosto da latina com desespero, sentindo o peito arder de pânico.

- Não meu amor... não fizeram nada... continuaram a mexer com você... – ela sentia ânsia só de lembrar – Até que a policia chegou!

- Eu pedi tanto a Deus... – ela balançava a cabeça e mais uma onda de choro invadia as duas – Eu preferia morrer do que te ver sofrer, te ver ser tocada por aqueles nojentos...

- Olha pra você... – a latina fazia carinho nos cabelos da namorada a olhando orgulhosa – Você me defendeu, me salvou... sobrou tudo pra você! – ela beijou delicadamente o rosto dela, próximo ao corte – Todos os machucados... eu fui obrigada a assistir esse show de horrores...

- Eu não aguentei San... – ela soluçava – Eu fui fraca e desmaiei... te deixei sozinha!

- Não... não diz isso que me machuca mais! – ela beijou sua testa – Você é a mulher mais corajosa que eu já vi! – ela sorriu e a ruiva se calou, concordando. No fundo, ela ainda se culpava por ter “abandonado” a namorada.

- Eu achei... eu achei que tinha acontecido o pior... como antes... Acordei e não te vi – ela falava com a voz embargada.

- Não... não... não chora meu bem! – a latina a abraçava como podia, tentando não apertar o braço engessado – Seu coração... sua correntinha nos protegeu! Tá tudo bem agora, o pior passou.... – os olhos vermelhos de chorar de ambas se encararam – Vamos enfrentar o resto juntas!

- Eu te amo tanto! – a ruiva ainda a encarava – Não podia te perder! – ela soluçava e ao mesmo tempo tentava sorrir, feliz por sua namorada estar bem.

- Eu também... Você é minha vida agora! – Santana deu um beijo suave nos lábios da ruiva e voltou a abraçá-la.

Tracy se aproximou, vendo que ambas pareciam mais calmas agora. Veio junto com o médico que havia atendido Jessie.

- O doutor disse que podemos ir... não há mais nada a fazer aqui no hospital! – ela falou e só nesse momento a ruiva percebeu sua presença. Sorriu fraco e a abraçou como podia.

- Tracy... eu...eu... – ela não sabia se agradecia por ela estar ali, se chorava e lamentava por esse pesadelo acontecer novamente.

- Vai ficar tudo bem Jess... dessa vez o final foi mais feliz... – ela sorriu com lágrimas nos olhos vendo o sofrimento da menina – Vou levar vocês pra casa... já está amanhecendo. Depois tomamos as demais providências.

O medico prescreveu alguns analgésicos e deu maiores explicações sobre o cuidado com o braço engessado da ruiva. Ela tinha fraturado o osso rádio um pouco abaixo do cotovelo e precisaria ter o braço imobilizado por 2 meses para o osso se calcificar novamente. Santana ouvia as instruções com atenção. Voltariam ao hospital em breve para observar a recuperação dela.

Tracy assinou os documentos do hospital e acompanhou as garotas até a porta. Enquanto Jessie entrava no carro com cuidado, a loira cochichou com a latina.

- Você sabe, seus pais vão precisar saber disso! – Santana concordou com a chefe mas ao mesmo tempo sentiu-se entrar em pânico pensando nisso. Tentou dar um sorriso tranquilizador ao entrar no carro e sentar-se ao lado da ruiva que estava calada, com um olhar aflito. Apertou sua mão, em sinal de que estava com ela.

Ao mesmo tempo que queria o colo da sua mãe, sabia que essa notícia abalaria um pouco as coisas e seus pais pensariam 2 vezes para deixá-la continuar vivendo em New York. E Bellatrix? Como reagiria a essa notícia? Ela havia pedido tantas vezes pra Santana proteger seu tesouro... ela sabia o quanto Jessie já havia sofrido antes e ficaria muito preocupada. Dava medo de enfrentar tudo isso. O conto de fadas encantado delas parecia ter acabado.

O caminho até em casa foi silencioso, ninguém queria conversar. Tracy parou na farmácia para comprar os remédios receitados e aproveitou para pegar um calmante, sentia que seria necessário. Ainda remoia as palavras cheias de preconceito que o policial tinha falado para ela e Santana, sugerindo que eram algum tipo de vadia e pediram para ser atacadas. Voltou para o carro e o silencio ainda pairava. Olhava pelo retrovisor às vezes e via as meninas com a expressão preocupada, a latina acariciando os cabelos da ruiva, que tinha a cabeça apoiada no seu ombro e parecia pensativa.

Chegaram e Tracy subiu com as garotas, constatou que elas ficariam bem e prometeu voltar mais tarde.

- Tem certeza que não quer ajuda Santana? – a loira olhava para a ruiva sentada no sofá calada, com um olhar perdido – Talvez ela fique assim por um tempo... as lembranças escondidas devem ter voltado com força... ela sofreu muito da outra vez.

- Eu acho que tá tudo bem... eu, eu vou dar o tempo dela – Santana tentou falar com certeza mas tinha medo do que viria. Não sabia o que esperar.

- Os remédios estão aqui, você ouviu o doutor explicando né? – a garota fez que sim com a cabeça - Mais tarde eu volto aqui... qualquer coisa é só você me ligar! – ela viu o olhar aflito da latina – Promete que vai ligar? Estou aqui para o que precisarem! Não precisa tentar ser forte, somos seres humanos, somos frágeis!

A latina assentiu sentindo as lágrimas virem a tona. Se sentia tão fragilizada, com medo... Abraçou Tracy apertado, tentando agradecer o apoio. A loira foi em direção a ruiva que sorriu automaticamente e agradeceu com um abraço sem falar muito. Ela e Santana trocaram um olhar preocupado e ela foi embora.

A morena voltou e se sentou ao lado da ruiva, mexeu em seu cabelo tentando chamar sua atenção, a garota a olhou triste. Santana sentia um aperto no coração sempre que olhava aqueles olhos verdes escondidos num rosto inchado, cheio de hematomas. Respirou fundo tentando ser forte. Sabia que se começasse a chorar, Jessie faria o mesmo e isso não levaria a lugar algum.

- Eu preciso de um banho... volto já! Você vai ficar bem? – a latina ligou a TV, tentando quebrar o silencio que pairava no ambiente.

Jessica apenas assentiu, não tinha vontade de falar nada. A latina estava preocupada, mas resolveu deixá-la sozinha com seus pensamentos. Foi em direção ao banheiro, fechou a porta e enquanto tirava sua roupa rasgada, sentia o corpo dolorido. Não conseguiu mais segurar e caiu num choro histérico, tentava ao máximo não fazer barulho. Ligou logo o chuveiro e entrou embaixo da água quente, deixando ela correr pelo seu corpo que balançava com soluços. Esfregava seu corpo com raiva, passava a bucha com força tentando desgrudar as lembranças de ser tocada daquela maneira. Esfregou até sentir a pele arder.

Sentia-se envergonhada, com medo... tudo parecia ter acontecido tão rápido, ela podia lembrar do dia anterior, ela e Jessie sorrindo, amando-se felizes e agora lá estavam, com fantasmas que demorariam a ir embora, cicatrizes que pareciam que iam levar uma eternidade para ser curadas. Pensou na sua família, realmente pensou em voltar pra casa, esconder-se pra sempre do mundo. Não queria viver num mundo podre como aquele. Mas sabia que em nenhum lugar estaria livre de uma situação daquelas. Lembrou de Lola, a garota que ela apenas conhecia por uma foto e sua história era um mistério. Por isso a namorada evitava falar dela, fugia sempre. Deveria ser muito doloroso pensar em como ela tinha a perdido. Não foi um fim de namoro natural, consentido por ambas as partes que caiu na rotina. Elas foram separadas por uma crueldade do destino. Santana chorava, com os braços apoiados na parede, cabeça abaixada deixando a água cair na sua nuca, olhos fechados. Levou um susto ao ouvir a porta abrindo devagar.

Olhou rápido, com o coração disparado procurando uma toalha, pensou logo em invasores. Notou que estava mais assustada que o normal, o susto por serem atacadas permaneceria por um tempo. Viu apenas a ruiva com uma carinha triste parada em frente a porta a observando. Parecia uma criança de rua abandonada.

- Eu queria tomar banho... mas acho que não consigo sozinha. Me ajuda? – ela falou de um modo que cortou o coração já apertado da latina.

- Eu já estou terminando aqui... – Santana desligou o chuveiro e saiu do box tentando mostrar seu melhor sorriso.

- Não tem problema chorar... é bom quando sai bem alto...Gritar também ajuda a aliviar – Jess falou a encarando séria – Eu ouvi você lá de fora. É o único modo de ajudar a dor e o medo irem embora. Pode chorar, não precisa fingir pra mim. Eu também quero muito chorar – ela já começava a ficar com a voz embargada e as lágrimas escorreram novamente.

Santana não conseguiu conter as lágrimas, caminhou até a namorada ainda com o corpo molhado e a abraçou forte, tentando consolar-se e consolá-la.

- Estamos juntas... e vamos permanecer assim ok?! – ela olhou para ruiva que concordou – Vou te ajudar com isso... – ela começou a desabotoar a saia da garota que ficou parada se mexendo como podia para ajudar. Santana olhou a meia-calça toda rasgada e sentiu um arrepio lembrando o quão próximo um dos rapazes tinham chegado de violá-la. Sentiu o corpo da menina arrepiar-se, era medo da lembrança talvez... Tirou a calcinha e olhou para sua intimidade sem nenhuma malícia, apenas se consolou por ver aquela área intacta, graças a Deus não deu tempo de tocarem aquele corpo que agora, mais do que nunca parecia tão frágil.

Tirou a camiseta e o sutiã com cuidado para não mover muito o braço imobilizado e engoliu em seco quando olhou os ombros, braços e a barriga de pele tão clara cheia de hematomas roxos. Beijava cada mancha com carinho, deixando as lágrimas escorrerem por lembrar da violência que aquele corpo tinha sofrido hora antes.

Jessie apenas fechava os olhos sentindo os beijos, sentindo-se amada. Santana queria tanto saber o que passava naquela cabeça, o que a namorada estava pensando. Não queria perguntar nada sobre a experiência anterior, esperava que quando fosse a hora certa, a ruiva falaria sobre sua ex-namorada e o que de fato havia acontecido.

Depois de proteger o braço engessado com um saco plástico a latina a levou para o banho. Lavou seu corpo deslizando o sabonete com carinho pelo corpo dolorido. Lavou os cabelos cor de fogo com cuidado prestando atenção para que não caísse água no seu rosto e molhasse os pontos abaixo do olho. Não que as lágrimas já não estivessem fazendo isso desde que ela tinha acordado no hospital. Enquanto fazia isso acabava se distraindo das suas preocupações, atenta em cuidar da namorada que a olhava com um olhar cansado e por vezes sorria de leve, agradecendo por ela estar ao seu lado, viva e aparentemente bem.

- Ela era tão corajosa... – Jessie falou depois de muito tempo em silêncio – Diferente de mim... – ela abaixou a cabeça triste.

Estavam no quarto agora e Santana depois de se vestir e vestir a ruiva secava os cabelos dela com cuidado sentadas no centro da cama. Sentiu-se aliviada por ouvir a voz da namorada. Não sabia o que dizer diante daquela afirmação, queria que a garota continuasse a falar e se desesperava cada vez mais por ver como ela parecia se culpar.

- Quem Jess? A Lola? – ela perguntou, virando a ruiva para encará-la nos olhos – O que aconteceu meu amor, me diz...

A ruiva fechou os olhos, tomando fôlego e coragem para voltar aquela lembrança que fez o máximo para esquecer:

Trabalhávamos juntas no Coyote, foi nosso segundo emprego na cidade. Passamos bons e maus momentos lá, como acontece com todas mas depois de um tempo ela não parecia mais satisfeita e conseguiu um emprego numa boate, ela gostava mais de lá, achava que pagavam melhor. Eu não gostava daquela clientela, preferia ficar onde estava. Discutimos por isso. O combinado era não nos separarmos mas cada vez estávamos mais distantes. Depois de dois anos em New York ela pareceu ficar muito deslumbrada e não parecia mais a minha Lola, cheia de sonhos – a ruiva deu um olhar de cortar o coração e olhou pra Santana que fez sinal pra que ela continuasse, enquanto fazia ela deitar-se devagar na cama e ela fazia o mesmo – Íamos trabalhar juntas, mas em determinada parte do caminho nos separávamos e nos encontrávamos só na volta. Naquele dia fomos caladas o percurso todo. Ela estava zangada comigo por mais uma vez tocar no assunto dela estar cada vez mais diferente nas atitudes e a boate não ser um bom lugar, apesar da grana que ela estava recebendo. Aquele valor não era normal para uma garota que apenas trabalhava de “bar-girl” – ela pausou suspirando profundamente – Comecei a ficar com muito medo do que ela pudesse estar fazendo para nossa vida começar a ser melhor – as lembranças vinham a tona na mente da ruiva e parecia que ela tinha voltado no tempo:

- Eu já disse, você não precisa se preocupar com isso! As coisas estão melhores agora não é? Conseguimos alugar aquele loft que você sempre cobiçou! E agora vai poder deixá-lo do jeitinho que sonhávamos! – a morena de olhos verdes falava com sua voz mais convincente, deslizando a mão sobre o braço da ruiva que evitava encará-la enquanto caminhavam lado-a-lado a caminho do trabalho.

- Dolores... eu tenho medo! Aquela boate parece aquelas coisas cheia de mafiosos que aparecem nos filmes... – elas pararam de andar, haviam chegado no ponto em que se separavam. Parece o filme do Constantine...

- Uaaau me chamando pelo nome inteiro, devo me preocupar mesmo... – ela tentava descontrair, mas Jessica ainda a olhava séria.

- Me promete que vai sair de lá? Volta pro Coyote... não importa se não pudermos pagar a droga daquele aluguel! Eu quero estar com você em New York, não importa onde! – ela acabou se rendendo aqueles olhos. Não queria dar o braço a torcer e ter que implorar.

- Eu não posso sair... – ela deu um sorriso triste – Não mais...

- E porque não meu Deus? O que você fez ou faz lá? – a ruiva gritava. A conversa tinha voltado ao lugar de sempre e isso a cansava.

- Porque eu não quero! – era a vez dela gritar, também estava cansada de brigar sempre pelo mesmo motivo – Eu te amo, quero te fazer feliz aqui! Não é nenhum crime tentar ganhar mais dinheiro!

- Dinheiro, dinheiro! Você só pensa nessa merda de dinheiro! – Jessie a olhava com raiva – As vezes acabo concluindo que você ama mais ele do que eu!

- Eu não vou mais brigar com você por isso! Cansei de me explicar! – ela deu de ombros – Nos vemos mais tarde! – tentou dar um beijo de despedida mas a ruiva desviou o rosto com um olhar de decepção.

- Até mais! – falou séria e sem encarar a morena foi em direção a seu trabalho.

Jessica passou a noite inteira pensando na ultima discussão que tinha tido com Lola e como sempre sentiu-se arrependida. Não gostava de separar-se dela daquele modo, sem uma despedida digna. Sentia falta da sua companhia, ela agora parecia distante, quase não conversavam e quando faziam isso, terminava em discussão. Resolveu criar coragem e ir até aquele lugar pra ver como era de verdade. Talvez Lola estivesse falando a verdade e a boate não era tão má assim. Ela precisava aprender a ceder. Mas como fazer isso quando sua maldita intuição dizia que tinha algo errado?

Pediu para Tracy se podia sair mais cedo e explicou o real motivo, queria ver Lola. A loira assentiu, também andava preocupada com aquelas duas garotas que conhecera assim que chegaram a New York. Percebia que Jessica continuava a mesma garota pé no chão que tinha vindo do Brasil a alguns anos, mas Lola sempre fora mais ambiciosa e descontente com a vida que levavam.

Jessica rumou para a boate, planejando na mente o que iria falar para a namorada quando aparecesse lá. Resolvera dar uma trégua, não pediria mais pra que ela saísse, se ficar lá lhe fizesse feliz. Estava próxima a boate, quando olhou para a rua ao lado, um beco sem saída onde vários moradores de rua e gente mal encarada ficavam. Ela sempre tinha medo de passar sozinha por esses lugares, mas um barulho chamou sua atenção.

Sentiu seu coração disparar quando ouviu uma voz conhecida e através da pouca luz que a lua cheia derramava no céu, viu sua namorada no meio de uma discussão com dois rapazes altos. Um branco e um negro. Estavam bem vestidos, de roupa social, cabelos bem penteados. Seus olhos espantados se cruzaram um pouco antes de Lola receber o primeiro soco no rosto do negro que parecia ser o mais forte.


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Notas finais do capítulo

Quem aí tá com dó da Jess? Eu fico agoniada pra escrever...

Desculpem qualquer erro, sou totalmente leiga nessas questões de hospitais e também nem imagino como é o procedimento legal nesses casos de tentativa de estupro.

Eu tenho licença poética aqui, então por favor, não comparem muito com a realidade, apesar do que aconteceu com elas ter sido, infelizmente a realidade para muitas meninas.