Duas garotas numa cidade que nunca dorme, sentadas lado a lado num dos acentos do metrô em plena madrugada, a morena tinha os olhos fechados e a cabeça apoiada no ombro da ruiva que acariciava os cabelos negros também de olhos fechados. Ambas estavam exaustas de mais um dia de trabalho. Tudo que Jessica pensava era em chegar em casa e dormir profundamente e Santana parecia querer o mesmo.

Desceram na estação correspondente e seguiram de mãos dadas sem falar nada, apenas dominadas pelo cansaço. Pararam na porta do apartamento da ruiva e olharam-se por alguns instantes, uma de frente para a outra, mãos dadas.

- Bom resto de noite... – Jessica olhava pra Santana, esperando que ela fosse se convidar para ficar.

- Pra você também hermosa... – a ruiva sorriu pelo elogio em espanhol – Estou tão cansada que vou desmaiar na cama assim que chegar! – deu um selinho na ruiva e foi em direção as escadas. Parou no meio da subida, olhou para Jessie e soprou-lhe um ultimo beijo, a ruiva fingiu recebê-lo no coração e simulou desmaiar.

Despedidas feitas, Jessica entrou em casa e rumou para o banheiro. Apesar do cansaço, precisava de um banho morno para levar embora as cargas negativas e o estresse que havia passado naquela noite. Sentiu a água quente percorrer seu corpo e fechou os olhos, relaxando. E começou a pensar. A hora do banho era o melhor momento para refletir e tomar decisões, colocar as ideias no lugar.

Havia estranhado a latina não ter mencionado nada sobre dormirem juntas hoje. Não tinha pretensão de fazer nada, mas havia se acostumado a adormecer ouvindo o ritmo da sua respiração e sentindo seu abraço e essa sensação era viciante.

Saiu do banho, vestiu-se com seu pijama mais velho e confortável, afinal não tinha pra quem se mostrar. Deitou na cama e em meio a pensamentos lembrou-se que hoje era seu aniversário. Não deu muita importância para o fato, virou-se de lado e caiu num sono pesado.

Acordou assustada, com a impressão de ter ouvido alguém batendo na porta. Virou-se de lado na cama, ainda estava escuro, não devia ter dormido nada. Quando estava se entregando ao sono novamente, outra batida! Imediatamente pensou em Santana. Mas ela tinha a chave, com certeza abriria e daria um susto nela, como adorava fazer. Estava com preguiça e medo de levantar-se, mas pensou que o prédio podia estar pegando fogo e ela corria o risco de virar churrasquinho. Não duvidava nada, aquela construção era velha e nem elevador tinha. Mais uma batida na porta.

-Ahhh que bostaaa! Quero dormir! – ela falou consigo mesma. Conversar sozinha era normal pra quem vivia só. Assim ela exercitava seu português. Colocou suas pantufas e foi a passos de sonâmbulos em direção a porta, respirou fundo e a abriu. Ninguém.

- Ahhh velhoooo só pode ser zueraaaa – Ela falava sozinha pra também espantar o medo que começava a sentir. Ia fechar a porta e voltar a dormir quando reparou que havia uma marca no chão do corredor. Uma flecha indicando a escada para o andar de cima. Estava tudo escuro, e foi pintada com tinta fluorescente. – Isso deve estar aí pro caso de incêndio, aquele nóia do sindico deve ter pintado porcamente e ainda pintou pra lado errado, indicando pra subirem ao invés de descerem... – Fechou a porta, decidida a voltar a dormir quando ouviu seu celular tocar, indicando que ela havia recebido uma mensagem de um número desconhecido: “SEGUE LOGO A DROGA DAS SETAS!”

Mas que merda é essa? – ela estava executando bem seu português hoje, mas não com um vocabulário muito nobre  - Ok... vou subir!

E lá foi ela, de pijamas de flanela compridos, pantufas e pouco ânimo. Subiu 3 lances de escada e sabia que não tinha mais pra onde subir, o prédio tinha 5 andares. Observou o local e já tava blasfemando contra o FDP que havia mandado aquela mensagem quando viu um X logo acima de uma escada discreta. Ela nunca tinha ido praquele andar e não conhecia muito, mas já que estava lá, resolveu abrir a portinha sob a pintura. Estava agora na cobertura. Nem sabia que aquilo existia. Tudo escuro, apenas a luz da lua cheia a ajudava a enxergar, de repente soou um estalo e tudo se acendeu. E o que ela viu a deixou boquiaberta.

Alguns varais com luzinhas de natal cercavam todo o local, 3 rapazes sentados com violoncelos , 2 com violinos, 1 num teclado. Usavam smoking e formavam um semi-círculo.. Um tapete grande no chão, e um sofá de 2 lugares sobre ele. Parecia aconchegante. Jessica continuava parada, absorvendo toda aquela informação visual quando um dos rapazes se dirigiu até ela, pegou na sua mão e a guiou até o sofá.

A ruiva se sentou imaginando o que viria a seguir, mas uma parte dela não acreditava que isso pudesse realmente estar acontecendo. Era tudo muito irreal. Talvez ainda estivesse sonhando... Então ela apareceu.

Um vestido púrpura longo, esvoaçante, os cabelos levemente ondulados, soltos chegava abaixo dos seios. Ao ver aquela deusa a menos de 2 metros a sua frente, imediatamente Jessica se sentiu envergonhada pelo pijama azul marinho com coelhinhos cor-de-rosa que vestia e pelos cabelos bagunçados e inconscientemente se encolheu tentando se esconder no sofá, mas claro, ela era o centro das atenções e não conseguiria fazer isso.

A latina a observava com um sorriso bobo no rosto, se divertindo ao ver a garota atônita com a situação, respirou fundo e começou:

- Jessie... eu queria te surpreender e... – ela deu de ombros – eu não sou muito boa em expressar meus sentimentos – ela agora olhava para o chão, ficava tímida ao falar de suas emoções – E a algum tempo eu descobri que poderia mostrar o que sentia através da música. Mesmo assim, quero deixar claro que mesmo com a ajuda dela, eu não conseguiria colocar em palavras o que você me faz sentir, o quanto já significa pra mim... – ela estava com a voz um pouco falha, parecia estar prestes a chorar, mas sorriu ao ver a ruiva calada, olhos brilhantes ouvindo aquela declaração – Espero que você goste.

Os garotos então começaram uma melodia, introduzindo a música e Jessie imediatamente sorriu. Amava aquela canção ela estava mais lenta, com ar mais romântico!

http://www.youtube.com/watch?v=qW8RyHSzwWo

In the blink of an eye

Num piscar de olhos

I was falling from the sky

Eu estava caindo do céu

In the blur you took my breath away

Em um borrão, você me tirou o fôlego

Santana começou a cantar e o coração da ruiva disparou ao ouvir aquela voz rouca e ao mesmo tempo suave, única, ela se sentiu no céu.

And my heart starts beating

E meu coração começa a bater

And my lungs start breathing

E meus pulmões começam a respirar

And the voice in my head starts screaming

E a voz na minha cabeça começa a gritar

I'm alive!

Eu estou viva!

A latina tinha a mão junto ao peito e nessa ultima frase abriu os braços e gritou com olhos fechados, a máximos pulmões “Eu estou vivaaaa”. A ruiva até arregalou os olhos com a intensidade que ela mostrava em cada verso que cantava.

You're like a laserlight, burning down      

Você é como um laser de luz, queimando

Burning down, on me

Queimando, em mim

Elas agora estavam mais próximas, se olhavam nos olhos... Tanta coisa podia ser dita entre aqueles versos, naquele olhar. Jessie começava a ficar emocionada, nunca ouvira uma voz tão linda, ainda mais cantando para ela. Se sentia lisonjeada, especial. Santana parecia cantar com muito sentimento.

You make me feel good,

Você me faz sentir bem,

You make me feel safe,

Você me faz sentir segura,

You make me feel like I could live another day

Você me faz sentir como se eu pudesse viver mais um dia

You make me feel good,

Você me faz sentir bem,

You make me feel safe,

Você me faz sentir segura,

You know i wouldn't have it any other way

Você sabe que eu não faria de outra maneira

Tudo que ela cantava a ruiva também sentia. Se sentia segura, feliz, com a sensação de que poderia encarar qualquer coisa! Santana era seu anjo!

A latina se aproximou mais dela, pegou na sua mão e a puxou para que se levantasse. Estavam em pé, frente a frente, rostos bem próximos. Santana segurava os dois lados do rosto de Jessie que tinha um sorriso bobo e a olhava com olhos de adoração.

You and me, face to face

Você e eu, cara a cara

And there's so much I could say

E há tantas coisas que eu poderia dizer

On these words and forever seem the silence

Nestas palavras e pra sempre ficar em silêncio

Can you hear, that box bre-brea-breaking

Você pode ouvir, o som saindo

And the world starts sha-sha-shaking

E o mundo começa a tremer

They keep talking, talking, talking

Eles continuam falando, falando, falando

But we're walking, walking, to the light

Mas estamos caminhando, caminhando para a luz

Tonight, tonight

Essa noite, essa noite

E ela cantou mais uma vez o refrão, mãos dadas, olhares grudados.

A música acabou e elas continuavam se encarando, sem notar nada ao seu redor. Santana então a puxou para um abraço e sussurou:

- Te desejo que esse seja o mais feliz dos seus aniversários!

- Já está sendo! – a ruiva respondeu, ainda mantendo a latina num abraço apertado.

Separaram-se quando ouviram um barulho e lembraram que havia mais pessoas lá. Os garotos começaram a pegar seus instrumentos, ajeitaram o mais rápido possível e foram rumando para a saída, passando pelas garotas que agora os observavam e davam um aceno discreto de agradecimento para eles. Voltaram a se encarar.

- Santana...eu não sei o que dizer... Está tão lindo – ela observava a decoração  naquele lugar que ela sequer conhecia antes - Até músicos?

- Amigos do Kurt e Rachel... ficaram bem felizes em ajudar e mostrar seus talentos! Inclusive, essa decoração é obra do Kurt... mas eu que dei a ideia – ela deu de ombros envergonhada – Vem, senta aqui comigo! – elas se sentaram no sofá confortável – Segundo meus cálculos, está quase na hora!

- Hora do quê?

- Do sol nascer! Vamos ver o nascer do sol juntinhas! Tudo se iluminando de repente! É isso que acontece comigo quando você aparece... Tudo brilha!  - ela fez uma careta – Isso não sou eu, essa melação e essas declarações... mas eu sinto que com você não preciso de “armaduras” e quero que você saiba que realmente você é muito importante pra mim e já não me imagino aqui em New York sem sua presença, suas conversas e...

A latina foi interrompida pela ruiva que colocou o dedo indicador em seus lábios, um sinal para que ela se calasse.

- San... – ela respirou fundo, estava certa do que ia dizer - Eu te amo! – a latina abriu um sorriso imenso ao ouvir isso - Amo como você me faz sentir, amo como você me trata, amo seus olhos assim, grudados nos meus! – ela deu um sorriso tímido e se calou observando a latina com cara de quem segurava o choro.

- Eu também te amo! – ela estava séria – Estava tão triste antes... achava que não conseguiria dizer essas palavras para mais ninguém, mas isso mudou. É só olhar pra você que a palavra amor vem na minha cabeça e eu penso: “é, eu realmente amo essa garota!” – ela continuava com um olhar firme, mas emocionado – e é isso...só penso em você!

- Eu realmente acho que estou sonhando... é tudo muito perfeito! Eu te amar, você me amar de volta... e fazer isso tudo pra mim... – a ruiva falava olhando ao redor, tímida por expressar seu insegurança.

- Shiu... – agora foi  vez da latina colocar pedir para Jessie se calar colocando o indicador em seus lábios – Já sei como te mostrar que isso não é um sonho! – jogou seu corpo devagar por cima da garota forçando-a a se deitar no sofá e começaram um beijo lento, cheio de carinho. Nada importava naquele momento, só os lábios, a dança das línguas na boca uma da outra, as mãos da ruiva deslizando pelas costas da latina.

Uma luz começou a surgir, mesmo de olhos fechados enquanto se beijavam as meninas puderam perceber e interromperam o ato para observar o céu negro começar a se iluminar, colocando cor em tudo que podia alcançar, um céu marrom, depois rosa e lilás e finalmente um azul intenso. As meninas estavam hipnotizadas assistindo aquele espetáculo maravilhoso que acontecia todos os dias e nunca tinham parado para admirá-lo.

- Oh Deus, obrigada pelos meu olhos, pelo dom da visão que me deste para ver algo tão belo! – A ruiva olhava maravilhada.

- Deus, obrigada pelos meus olhos, que além de me permitirem ver o nascer do sol, me permitem enxergar essa ruiva linda ao meu lado... – elas trocaram um olhar e Jessica ameaçava um sorriso  quando Santana continuou – Mais sexy do que nunca com esse pijama de coelhinhos!

- Ahhhhhhh Sannn  - ela cobria o rosto com vergonha – Eu nem imaginava! – ela fazia uma tentativa inútil de cobrir o pijama com os braços – Você aí como uma Deusa e eu parecendo uma mendiguinha! – ela agora cruzou os braços fingindo-se de emburrada.

- Eu disse que você tá sexy...por que posso imaginar o tesouro que esse pijama está cobrindo – ela deslizou as mãos por baixo da blusa da ruiva sentindo a pele quente que rapidamente ficou arrepiada, subiu pelas laterais da sua cintura e parou com um olhar hesitante encarando-a quando chegou bem próximo aos seios. Ela notou que Jessica estava sem sutiã e engoliu em seco. Era muita tentação.

A ruiva apenas encarou a latina com um olhar firme, disposta a deixar acontecer o que quer que fosse mas Santana  fechou os olhos, respirando fundo e desceu as mãos delicadamente, sorrindo, enquanto pegava nas mãos de Jessie, que agora tinha uma cara confusa pensando “e os meus peitos?”

-  Jessica Paradiso... – a ruiva fez uma careta ao ouvir o sobrenome do seu avô, preferia “dos Anjos”, seu nome do orfanato, mas Santana continuou – Não faz mais sentido se você não estiver comigo... Então eu estou aqui, vestida de princesa, toda linda para te impressionar e quero saber, você quer ser minha namorada?

A ruiva sentiu o coração acelerado, o mundo pareceu mais colorido. Lá estava aquela latina linda, com olhos brilhantes pedindo para ser sua namorada! Existia presente de aniversário melhor que esse?

- É o que eu mais desejo, desde que nos conhecemos! – Sorriram um sorriso lindo, iluminado como o sol que havia acabado de nascer e dessa vez foi Jessica que a surpreendeu com um beijo terno, passando os braços pelo seu pescoço e segurando sua nuca, acariciando os cabelos negros. Um beijo lento, bem aproveitado, sentiam a textura dos lábios, das línguas que se tocavam. Dividiam o mesmo ar, o mesmo lugar no espaço. Pausaram o beijo e ficaram se olhando, testas unidas.

- San... a decoração aqui ficou muito linda, sua voz é maravilhosa, quero ouvir muitas outras vezes cantando pra mim, mas... – a ruiva fez uma cara de sapeca e mordeu os lábios – Será que a minha namorada, a mulher mais linda do mundo, não gostaria de me acompanhar ao meu apartamento, especificamente até minha cama?