Eu mostrava a casa para Mari. O caminhão com os poucos móveis, que eu e Danny havíamos comprado de um antiquário, chegaria em meia hora.

Mari estava boquiaberta. Ela olhava para cima e alisava algumas paredes da sala principal.

–O que achou? - perguntei.

–Eu amei Lili! É lindo! Vocês pintaram tudo de novo?

–Tudo, menos aquela parede. - apontei para a parede vermelha com desenhos pretos que decidimos manter - Ela é tão linda, me faz pensar, não sei porque.

–Vocês já terminaram tudo? - ela perguntou agora olhando para a minha parede preferida.

–Falta só o jardim, mas vamos arrumar tudo depois que mudarmos. - observei as escadas e suspirei - Mari, eu e o Daniel conversamos, queremos que você e o Henry venham morar aqui.

–Não posso Lili. Sabe, já transferimos tudo do apartamento pro nosso nome, e também não queremos incomodar sabe.

–Não seria incômodo! Você é minha melhor amiga e Henry é o melhor amigo de Daniel!

Quando ela abriu a boca para falar algo foi interrompida pela porta dupla de mogno ranger ao se abrir. Vi meu namorado e o seu amigo entrarem rindo.

–Oi amor. - Daniel veio em direção a mim e me beijou.

–Oi, más notícias Danny, Mari não quer vir morar aqui.

Ele olhou para a Mari e balançou a cabeça negativamente.

–O namoradinho dela também não quer.

Olhei para Henry que levantou as mãos em rendição. Mandei um olhar um tanto quanto safado para minha melhor amiga. Já havia entendido tudo.

–Vocês querem ficar sozinhos! - falei rindo para Mari.

–Não, Lili, nada a ver cara. - ela ficou vermelha.

–Tudo bem, vamos respeitar isso. - comecei a rir o que os deixou muito sem graça.

O caminhão descarregou tudo, eu e Mari deixamos os garotos carregarem tudo e fomos até o jardim. Contei à ela que faríamos uma festa de inauguração da casa. Eu e Daniel decidimos que seria uma festa à caráter.

–Vai ser uma festa com tema antigo sabe, pra combinar com a casa. Tipo "escolha sua época".

–Perfeito! Quando vai ser? - ela sorriu.

–No sábado.

**

Era sábado. Eu e Danny já estávamos instalados à dois dias e tudo estava quase em ordem. Mari me ajudou a decorar tudo para a festa. Como o tema era diverso, montamos um estilo rock de várias épocas diferentes. Claro que nos anos como 1800 não existia rock, arrumamos outra forma de representar.

Cuidamos também dos salgados e das bebidas. Mari escolheu as músicas que tocariam. Cuidou da lista de convidados, que particularmente eram em sua maioria parentes e amigos de Danny, já que eu não conhecia muita gente.

Quando olhei tudo de cima, suspirei cansada e satisfeita com o resultado. Como a sala central era bem grande, couberam várias décadas.

–Ficou ótimo. - falei com as mãos na cintura - Obrigada pela ajuda Mari.

–De nada. Se não se importar, vou pra casa me arrumar pra festa.

–Claro! Também vou tomar um banho.

Nós nos despedimos e eu entrei no banheiro do me quarto. Deixei que a água quente e relaxante batesse em meus músculos cansados. Soltei um gemido de prazer ao ver que estava relaxando com aquele banho.

Fechei os chuveiro, me sequei e me enrolei na toalha saindo do banheiro. Levei um susto ao ver que Daniel já estava em casa.

–Oi. - sorri para ele - Você não estava lá não sei aonde arrumando não sei o quê?

–Sim estava, mas já acabei. - ele se aproximou de mim puxando minha toalha.

–O que você estava fazendo hein moço?

–Não importa. - ele sorriu e beijou meu pescoço.

–Importa sim!

–Curiosa você, não acha? - ele riu e continuou beijando meu pescoço, o que me arrepiava por inteiro.

Eu o afastei argumentando que precisava me arrumar para a festa que seria em algumas horas. Ele se sentou na cama chateado e ficou me olhando enquanto me trocava.

Escolhi os anos da década de 70. Eu gostava da onda Hippie, o rock do Woodstock. Aquilo tudo de Janis Joplin, Jimi Hendrix, e tudo mais, sempre me fascinava.

Coloquei uma saia comprida e floral, e uma regata azul que ficava um pouco larga. Coloquei uma rasteirinha bem simples e peguei meus óculos redondos das lentes vermelhas transparentes. Soltei meus cabelos e não passei maquiagem alguma.

–Como estou? - perguntei para Daniel que estava quase dormindo na cama.

–Parecendo a Janis Joplin. - ele riu.

–Então está perfeito! - me olhei no espelho e realmente estava lindo - Você não vai se arrumar? - perguntei.

–Vou tomar um banho rápido e já vou. Pode me esperar lá em baixo eu já vou.

Não discuti com ele. Os convidados logo chegariam também. Eu não estava esperando muitas pessoas, na verdade eu não fazia ideia de quantas pessoas viriam. A campainha tocou e era a Mari.

–Oi! - ela me abraçou - Você é Janis Joplin? - ela riu e eu revirei os olhos.

–E você é.... a princesa Isabel por acaso?

Ela sorriu. Mari vestia um vestido lindo, da cor creme e com uma saia bem rodada. Usava um chapéu daqueles bem bonitos que as mulheres usavam no ano de 1800 por aí. Estava linda. Percebi que ela estava sem corpete e fiz uma piada.

–Você está sem corpete?

–Se lhe dissessem pra usar um bacalhau na cabeça você usaria? - ela falou se lembrando do filme Alice no País da Maravilhas que sempre víamos juntas -Pra mim, corpete é como bacalhau.

Nós duas rimos e eu a convidei para entrar. Avistei Henry com um terno chique logo atrás dela, ele me cumprimentou e entrou.

Logo mais convidados chegaram. A maioria eram familiares de Daniel que eu não conhecia. Eu estava nervosa, ele estava demorando a sair do quarto.

–Lili! - Circe me chamou.

–Oi Ci. - sorri - Você está linda.

–Obrigada. - ela sorriu e alisou o vestido rosa claro que usava - Você também está.

Ficamos conversando um pouco até que perdi a fala ao ver Daniel descendo as escadas. Ele estava lindo com um terno preto parecendo um lorde, daqueles que viviam nas fazendas de café antigamente e tinham casarões grandes, como o nosso. Seus cabelos pretos estavam penteados com gel para trás. Ele cumprimentava todos com um aperto de mão e um sorriso torto e sexy.

Eu pedi licença para Ci e fui até ele, tinha vontade de beijá-lo ali mesmo. Ele estava tão atraente que eu me sentia um caco de lixo perto dele.

–Você está lindo. - falei - Muito lindo.

–Não mais que você. - ele colocou uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha - Me acompanha até o jardim? - ele me ofereceu o braço.

–Claro. - sorri.

Nós saímos pela porta dos fundos e fomos em direção ao jardim que estava todo bagunçado porque ainda estávamos organizando tudo. Ele me conduziu até o centro, onde a luz do luar batia em sua pele pálida. Ele sorria e seus olhos negros brilhavam. Ele beijou minha mão e colocou a mão na minha cintura me fazendo colocar as minhas no seu pescoço e começou a dançar comigo.

–Danny, não tem música.- falei.

–Eu sei. - ele sussurrou no meu ouvido me deixando arrepiada.

Ele me girou lentamente. Quando me virei ele estava ajoelhado segurando uma caixinha branca.

–Lili Bennet, - ele falou com aquele olhar sedutor, me trazendo lágrimas - eu sei que só estamos juntos a seis meses, e ainda é cedo, mas acontece que não consigo mais esperar. Eu me apaixonei pela minha professora de violão. E eu quero que ela se case comigo.

Eu não cabia dentro de mim. Eu o amava mais que tudo. Gritei um grande "sim" que ecoou na noite escura que estava sendo iluminada apenas pela lua.

Ali, naquela noite, naquele jardim, naquele luar que iluminava um beijo mais que apaixonado, percebi que minha vida começava de fato ao lado do homem que eu realmente amava.