Perfectly Wrong escrita por Juliiet, Nana


Capítulo 38
Que não seja tarde demais


Notas iniciais do capítulo

Nem sei o que dizer aqui. Não é irresponsabilidade nem descuido. Eu só me perdi no caminho e realmente não sabia como escrever (embora sempre saiba o que escrever). Vocês me desculpam?
Esse capítulo não foi o melhor que escrevi na vida, mas eu to me perdoando por ele por ser quase uma transição pra um acontecimento maior. Espero que vocês me perdoem também.
Um agradecimento especial pra todo mundo que recomendou. KK, A Garota dos livros, The Stolen Girl e Snow Girl. Muito obrigada mesmo *.* Eu realmente não mereço vocês.
Quem quiser falar comigo (estou precisando de amigos ahuehuahe), sobre a demora das postagens ou mesmo os problemas da vida, me adicionem no facebook ou falem comigo no twitter, sei lá haesuhsueha eu sei que demoro bastante pra responder aos reviews, embora já tenha começado a responder os do cap passado. Vou tentar terminar todos amanhã.
Bom, curtam aí < 3



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– Vamos, Cherry! – implorei, cogitando, e não pela primeira vez, simplesmente puxar o pé daquela mulher teimosa e arrastá-la para fora da cama.

Cherry apenas olhou para mim com os olhos apertados enquanto enfiava mais um dos seus pop tarts de chocolate chip na boca.

– Não – respondeu, ainda mastigando, brindando-me com a linda vista dos seus dentes sujos de chocolate.

Rolei os olhos e fiz uma mini oração silenciosa pedindo paciência para lidar com aquele ser irritante. Afinal, ela tinha prometido que iria me acompanhar! E agora ficava apenas deitada na cama vestida com uma blusa gigante dos The Vaccines e um prato cheio de pop tarts em cima da barriga enquanto eu tinha tido acordado às cinco da manhã para poder sair e não me atrasar para o trabalho depois.

– Caramba, Cherry! Eu ganhei quatro quilos por causa das festas e agora mal consigo entrar nos meus jeans! - falei, jogando-me na cama ao lado dela e olhando desejosamente para o prato em sua barriga. – Você prometeu que ia correr comigo hoje. Eu odeio correr sozinha.

Eu não gostava tanto de correr, para começar, mas sozinha era ainda pior. No entanto, minhas calças não iam voltar a entrar no meu corpo confortavelmente sozinhas – e como eu estava prestes a pedir demissão, não era a melhor hora para começar a pagar uma academia, onde eu podia fazer uma aula de pilates ou coisa do tipo – não que essa opção fosse muito melhor. Pelo menos a vista do Riverside Park era linda.

– Está fazendo uns quatro graus lá fora, Max – Cherry falou, sem comida mastigada na boca dessa vez, coisa pela qual eu agradeci internamente. – Sem chance de eu sair da minha cama quentinha para correr.

Já sem paciência, levantei-me – mais porque estava começando a ficar com preguiça também, deitada ali, e nada me dissuadiria de ir para uma saudável corrida matinal – e coloquei as mãos nos quadris, olhando irritadamente para Cherry.

– Ótimo, você não vai correr comigo e eu não vou com você para sua consulta com o obstetra depois do trabalho – anunciei, batendo meu pé impacientemente no chão.

Cherry sentou-se subitamente na cama, derrubando pop tarts por todo o edredom e me fuzilando com aqueles olhos verdes ferozes. O que me fez lembrar exatamente porque costumávamos chamá-la de Cereja Assassina.

– Você prometeu, Max – ela sibilou, baixando os cachos descontrolados com as mãos para talvez poder me ameaçar sem parecer ter um ninho de pássaros na cabeça.

Dei de ombros.

– Você também me prometeu que ia me ajudar a voltar a ser gostosa.

– Você já é gostosa.

– Vou ficar ainda mais quando meu culote não ficar para fora do cós dos meus jeans. E nem vou começar com todo o discurso “se exercitar é saudável”, porque você já sabe.

Cherry jogou o rosto nas mãos com um suspiro dramático, mas eu sorri, porque sabia que ela tinha capitulado. Arrastou-se da cama, não sem me lançar mais um dos seus olhares assassinos, antes de ir até o armário para pegar algo mais apropriado para o tempo do que uma blusa velha. Eu já estava vestida com calças de corrida, top, uma blusa de manga comprida e nikes cor de rosa. Tinha até conseguido prender meu cabelo no que quase parecia um rabo de cavalo e estava pronta para começar a ser saudável.

Ou quase. Eu não podia exatamente parar de comprar doces da Papabubbles. Eles iam acabar falindo.

– Espero que você saiba que essa foi uma chantagem suja – Cherry comentou, fechando o zíper da jaqueta leve que tinha vestido por cima de uma blusa de poliéster que devia ser quente como as chamas do inferno. A mulher sabia se vestir rápido quando queria.

– Eu sei – respondi, puxando-a antes que sequer pudesse amarrar os tênis. Ela podia fazer isso no elevador. – Estamos perdendo tempo.

– Espero que isso me renda uma passagem de primeira classe para o céu quando eu morrer – resmungou, mas se deixou levar.

Cherry estava certa. Estava congelando lá fora, mas fomos nos aquecendo à medida que começamos a correr. Eu estava tão fora de forma que em vinte minutos já sentia que meus pulmões iam explodir. Cherry, no entanto, estava se divertindo bastante, apesar de ter reclamado tanto. Aparentemente, ela sempre esquecia que gostava de correr porque tinha muita preguiça de sair da cama e começar. O céu estava nublado, mas a luz do inverno era clara e eu franzia meus olhos mesmo atrás das lentes dos meus óculos escuros. Continuamos por mais uma hora e eu resolvi que já estava de bom tamanho. Tínhamos que voltar para casa e tomar banho ou nos atrasaríamos para o trabalho.

E também tinha o pequeno fato de que mais um passo ia me fazer ter um infarto.

– Cara, você tem certeza que tem os dois pulmões inteiros? – Cherry perguntou rindo enquanto voltávamos para casa, eu ainda resfolegando tanto que mal conseguia fazer as palavras saírem. Então me conformei em apenas mostrar o dedo do meio para aquela amiga maligna. – Precisa de um andador? Talvez um tubo de oxigênio? – terminou com mais uma risada.

Eu teria rolado os olhos, mas não tinha energia sobrando para gastar em mais gestos inúteis, então apenas a deixei rir e terminei o caminho calada.

Um rápido banho de chuveiro me ajudou com os músculos que já começavam a ficar um pouco doloridos, mas não consegui me convencer a vestir nada que não fosse o epítome do conforto para o trabalho. Como eu ia ficar o dia inteiro dentro do escritório, ninguém ia me julgar por usar calças jeans com elástico na cintura, não é?

Porque, ao contrário de Cherry, a corrida não tinha me deixado num humor muito bom. Quem levantasse sequer uma sobrancelha para a minha escolha de roupas naquele dia ia acabar com ela derretida embaixo do café fumegante que seria meu melhor amigo durante o resto do dia.

– Vamos sair um pouco mais cedo da galeria, ok? – Cherry avisou quando saí do quarto, entregando-me uma xícara de café. – Não quero chegar atrasada na consulta.

– Tudo bem – concordei, bebendo um gole e sentando no braço do sofá. – Você é a chefe mesmo, não é como se eu fosse me encrencar.

Cherry levantou as pontas dos lábios no que quase pareceu um sorriso e foi colocar sua caneca vazia na lava louças.

Por dentro, eu estava um pouco nervosa por Cherry estar, da sua maneira, meio que animada com a consulta com o obstetra. Isso queria dizer que ela estava cada vez mais séria sobre ter o bebê. Não que eu não estivesse alegre por isso, mas eu me preocupava com o vai e vem dos humores dela e com o tal do Sebastian. Cherry sempre me parecera super forte e com tudo resolvido na vida, mas na verdade, ela estava mais perdida que eu quando o assunto era sua vida pessoal e sentimental. Eu tinha medo que ela acabasse ficando com um cara que era obviamente o maior otário do continente apenas porque sentia a obrigação de dar um pai para a criança que estava esperando.

Mas a decisão era dela. E eu, como amiga, precisava apenas ficar por perto, apoiá-la e ajudá-la no que precisasse. Também queria que soubesse que, se escolhesse a outra saída, meus sentimentos seriam os mesmos.

Mas como chegar e simplesmente dizer essas coisas? Não era exatamente material para conversa durante o café da manhã. E eu realmente não queria arruinar o bom humor que a corrida tinha dado a pelo menos uma de nós. Bom, talvez eu pudesse falar algo no caminho para o médico.

– Termina esse café e vamos logo – Cherry falou, jogando duas barras de cereal em cima de mim ao voltar da cozinha. – Já que vamos sair mais cedo, prefiro não chegar atrasada.

Nem me dei ao trabalho de repetir que ela era a chefe, apenas tomei o resto do meu café num só gole e peguei minha bolsa e casaco, tudo isso enquanto enfiava aquela maldita barra de cereal na boca, o tempo todo desejando que fosse um sanduíche de sorvete.

...

Bem como eu previra, no minuto em que cheguei ao trabalho passei a ficar trancada na minha sala e não pude sair nem pra almoçar. Eu tinha tantos telefonemas para fazer e coisas para ver antes da exposição – sem falar nos portfólios de novos artistas em cima da minha mesa que eu precisava dar uma olhada – que JJ acabou me trazendo uma salada do McDonald’s com gosto de papelão e uns três litros de café pra que eu não morresse de fome. Mas vê-lo comer aquela montanha de coisas misturadas que a gente chamava de hot dog do carrinho da esquina foi quase tortura. E ele fez questão de comer na minha frente de propósito, talvez como uma forma de punição por eu estar fazendo cosplay de estivador – palavras dele.

Eu detestava fazer dieta. Por que mesmo que eu estava me dando ao trabalho?

Ah, é. O culote pulando das calças jeans.

Talvez eu só devesse comprar jeans maiores.

Mas tirando o fato de eu estar com um desejo eterno por hot dogs, o dia estava indo razoavelmente bem. Agitado, mas sem nenhum problema. E eu estava trabalhando apressadamente e sem pausa, justamente porque ia sair mais cedo para o ultrassom da Cherry. Por isso que, por volta das quatro horas, quando eu já estava com quase tudo organizado e JJ colocou a cabeça para dentro da minha sala dizendo que tinha alguém lá querendo me ver, eu disse que tudo bem.

E então meu coração foi parar em algum lugar na minha garganta. Porque a primeira pessoa que me veio à cabeça era a que eu mais queria ver. E a que eu mais tinha medo de ver.

Eu não o via há quatro dias e já parecia como uma eternidade, por mais piegas que isso soasse. Era apenas uma prévia do que minha vida sem ele seria. E o ponto era...eu não queria precisar passar por isso. Ficar sem ele, eu queria dizer. Eu não queria ficar sem ele. Eu não queria ficar longe, eu não queria precisar fazer um esforço hercúleo para bani-lo da minha mente durante o dia para que eu pudesse funcionar e ter uma vida mais ou menos normal. Não queria chegar em casa ao fim do expediente e deitar na minha cama que, apesar de nunca ter tido o corpo dele sobre ela, parecia mais vazia e fria que antes.

Eu não queria nada disso.

Havia esperado que ele me procurasse. Que talvez ele viesse atrás de mim na casa de Cherry ou pelo menos me ligasse. Uma mensagem de texto teria acalmado meu coração. Mas não. Silêncio total.

Eu sabia que iria procurá-lo eventualmente, quando reunisse coragem o suficiente. Sabia que não conseguiria me manter longe por muito tempo e que engoliria meu orgulho e apareceria em seu apartamento com meus sentimentos transbordando por minha pele. Nem era uma questão de orgulho, no fundo. Não era, pelo menos para mim, uma brincadeira em que o que quebrasse o silêncio primeiro era o perdedor. Eu nunca tinha sido muito boa com joguinhos, de qualquer maneira. De minha parte era só medo. Medo de dizer a verdade. De me expor e de não ouvir o mesmo em resposta. Eu podia não ser uma brincadeira para Asher – realmente não achava que era – mas também não era a mulher que ele amava o suficiente para colocar isso em palavras.

E eu sabia que não podia passar mais tempo sem poder dizer isso. Que eu o amava. A cada vez que eu engolia as palavras, parecia que era algo de mim que eu estava perdendo.

Ele havia sido casado e eu havia sido estúpida. Só porque eu queria dividir meus dias com ele não significava que ele precisava fazer o mesmo. Mas eu queria que ele fizesse. Porque eu não sabia se conseguiria suportar viver à margem de sua vida. Estava disposta a tentar, mas, por mais egoísta e mesquinho que isso soasse, eu queria ser o centro dos seus pensamentos, a pessoa mais importante para ele.

Eu mesma me respeitava menos por isso.

Então eu não estava apenas uma bagunça do lado de fora. Eu estava usando o equivalente emocional de calças jeans com elástico na cintura. E durante os oito segundos em que esperei que a pessoa que estava ali para me ver abrisse a porta da minha sala, minhas mãos começaram a suar e tudo o que eu conseguia ouvir era o sangue sendo bombeado em meus ouvidos. E enquanto uma pequena parte de mim esperava que não fosse ele, a maioria esmagadora das minhas células ansiava por sua presença, de qualquer maneira que conseguisse.

Então foi claramente um desapontamento quando, ao invés de Asher, quem entrou em minha sala foi uma mulher.

Eu não a conhecia, nunca a tinha visto, até porque certamente teria lembrado. Ela era sem dúvida uma das mulheres mais elegantes que via na vida, além de ser claramente nova-iorquina. Eu podia morar ali há anos, mas ainda havia algo sobre as mulheres nascidas e criadas naquela cidade que eu nunca conseguiria imitar. Não era possível distinguir o quê, mas era quase como se elas pudessem olhar de cima para você, fazendo com que você se sentisse uma baratinha num carpete sujo, e ainda continuar parecendo completamente agradáveis. E estilosas.

Aliás, estilo era algo que não faltava à minha visitante. Ela era uma mulher mais velha, embora eu não fosse capaz de adivinhar sua idade. Ela não era classicamente bonita, com um rosto ossudo e pálido, embora perfeitamente maquiado – e eu apostaria meu braço direito que eram diamantes de verdade em suas orelhas –, mas tinha algo definitivamente atraente sobre ela. Usava calças pretas, uma blusa de caxemira vermelha e com gola alta, e botas com saltos altíssimos. E parecia uma mulher em uma missão.

– Boa tarde – comecei, saindo de trás da minha mesa para cumprimentá-la. Ela tirou os imensos óculos escuros do rosto e percorreu-me de alto a baixo com os olhos, não parecendo muito contente com o que via. – Sou Maxine Hyde, em que posso ajudá-la?

Eu tinha minha mão estendida para apertar a sua, mas quase a recolhi de volta antes que a mulher enlaçasse seus dedos ossudos no meu, depois de um tempo rudemente longo. Era óbvio que eu estava sendo julgada – até mesmo testada – por alguma razão completamente desconhecida. Para mim, quero dizer. Comecei a sentir uma pequena centelha de raiva. Quem diabos era aquela mulher que entrava no meu local de trabalho sem hora marcada e sem sequer se apresentar e ficava me olhando como se eu fosse um insetinho embaixo de uma lente de microscópio?

– Eu sei quem você é, querida – sua voz era rouca e firme, traía uma personalidade que não devia ser facilmente contrariada. Aquela era obviamente uma mulher que estava acostumada a dar ordens e ser obedecida. – O que resta saber é o que você quer.

Puxei minha mão da dela o mais rapidamente que pude sem ser mal educada. Não importava que ela tivesse uma atitude grosseira e absurda, era eu que estava no meu local de trabalho e precisava me comportar de acordo. Mas minha reação instintiva era perguntar como no inferno aquela mulher me conhecia se eu nunca a tinha visto na vida. E o que raios ela queria dizer com aquilo?

Porém controlei meu temperamento e lhe brindei com meu sorriso falso e gelado, que normalmente usava para lidar com clientes de quem não gostava, mas com quem precisava ser educada.

– Perdão – falei, colocando alguns fios que haviam escapado do meu rabo de cavalo atrás da orelha. – Nós já nos conhecemos?

A mulher apertou os lábios e moveu a cabeça quase imperceptivelmente, embora seu perfeito cabelo loiro branco não tenha se mexido sequer um milímetro. Ela devia estar carregando seu próprio peso em laquê naqueles fios.

– Bem, você é obviamente bonita – ela começou a dizer, ignorando completamente minha pergunta e começando a andar pelo meu escritório, como se estivesse avaliando tudo. – Mas também eu não esperava outra coisa. Ele sempre gostou de coisas bonitas.

Ok, aquilo estava indo longe demais.

– Quem é você? – perguntei, cruzando os braços. – Eu realmente não acredito que a conheço.

Ela voltou a pousar os olhos em mim, o desgosto claro em seus traços.

– Embora seu gosto pessoal seja extremamente duvidoso – ela continuou, como se eu não tivesse dito nada. – Devo dizer, querida, que você parece terrivelmente confortável nessa roupa. E não digo isso como um elogio. E, céus, esse sotaque...

E com isso minha paciência acabou. Eu só esperava que aquela mulher não fosse uma das patrocinadoras da galeria ou Cherry provavelmente beberia meu sangue numa taça de cristal depois por chutá-la dali.

– Olha, dona – comecei, resistindo ao impulso de puxar as mangas da minha blusa para cima, mas, mais uma vez, foi como falar com uma parede.

– Você obviamente tem um bom emprego, é independente e, à primeira vista, parece ter bom senso – me interrompeu, finalmente fixando seu olhar cinzento e intimidador no meu. – Então o que eu realmente quero saber é: o que você pode querer com um vagabundo como meu neto?

Aquela mulher tinha bebido? Eu nem sabia quem ela era, como ela esperava que eu estivesse versada em sua árvore genealógica?

– Do que diabos você está falan – eu nem consegui terminar a frase. Não quando o reconhecimento chegou aos meus sentidos com a força de uma pancada.

Os olhos.

Eu conhecia aqueles olhos.

Eu estava apaixonada aqueles olhos.

Eram tão parecidos com os de Asher que eu não conseguia entender como não havia notado antes. Ou reconhecido. O ar de autoridade e elegância que ela tinha ao seu redor correspondia a tudo o que eu já tinha ouvido falar sobre ela. Não que fosse muita coisa. Apenas um comentário aqui e ali.

E agora eu conseguia entender a relutância de Asher em falar sobre a avó. Porque eu não tinha dúvida de que quem estava na minha frente era Vivian Lockwood.

Asher estava certo. Ela definitivamente parecia uma pessoa difícil.

– Você é a avó do Asher – murmurei como uma idiota, mas sem conseguir me parar mesmo assim.

Vivian deu um sorrisinho condescendente que começou a me deixar irritada novamente. E pensar que eu quis tanto conhecer aquela mulher e agora só queria que ela me dissesse por que estava na minha galeria e então desse o fora.

– E você é a namoradinha do meu neto, certo. Agora que terminamos com as apresentações, vamos ao que interessa. O que você quer dele?

Aquela mulher era de verdade? O que ela queria dizer com aquilo? O que eu queria com Asher? O que qualquer mulher quer de um homem por quem está apaixonada, talvez? Não que fosse da conta dela, e foi o que deixei claro quando disse:

– Sra. Lockwood, o que acontece entre seu neto e eu é assunto nosso e eu agradeceria se você não viesse mais ao lugar onde eu trabalho me importunar com esse tipo de pergunta – absurda, imprópria e cara de pau.

Ela não pareceu surpresa com minha resposta, era quase como se estivesse esperando por algo assim. O sorriso continuava enfeitando seus lábios finos, embora não fosse particularmente agradável. Eu não tinha ideia do que fazer com aquela mulher. Por um lado, ela era irritante como o inferno – e eu certamente podia passar o resto do dia sem ter que lidar com toda aquela arrogância – mas, ao mesmo tempo, ela era a avó do Asher. Do meu Asher. Quer dizer, eu nem sabia se ainda podia chamá-lo de meu. Eu só não queria destruir as coisas ainda mais entre nós. Não queria fazê-lo se afastar de mim ainda mais.

Vivian se aproximou, invadindo meu espaço pessoal. Ela era uma coisinha minúscula, tão magra que parecia facilmente quebrável. Mas sua personalidade se projetava, preenchendo o lugar, tornando-a maior, mais forte. Intimidadora.

– Diga-me, Maxine – falou, batendo levemente no ombro da minha blusa com a mão, como se estivesse limpando alguma sujeira que a estava incomodando. – Você não se importa nem um pouco que meu neto esteja prestes a abrir mão de uma herança formidável por sua causa?

Dei alguns passos para trás, nervosa por ela ter me tocado. O aperto de mão havia sido diferente, era algo que eu havia permitido. Aquele pequeno encostar de dedos em meu ombro me fazia sentir quase ameaçada. Recuei para trás da minha mesa, onde me sentia menos vulnerável e mais confiante. Eu não tinha que ter medo daquela vadia da terceira idade, devia simplesmente mandá-la embora.

Pelo menos isso me daria uma desculpa para procurar seu neto.

Mas eu não consegui me obrigar a fazer isso. Suas palavras me intrigavam e tentavam. Ali estava alguém que tinha conhecimento – eu supunha – praticamente ilimitado sobre a vida de Asher Lockwood.

Se apenas eu deixasse meus princípios de lado e barganhasse por informações.

O que eu sabia que não faria, mas me sentia tentada de qualquer maneira.

– Eu não sei do que você está falando – foi minha resposta, enquanto eu apoiava as mãos em minha mesa. E era verdade. Eu não tinha ideia de que herança ela estava falando, muito menos o que ela tinha a ver com a coisa toda. Eu sempre achei que Asher fosse um fodido na vida, que vivia do seguro-desemprego.

Ou se prostituindo.

– Nem isso ele se deu ao trabalho de contar? – ela perguntou com desdém.

Aparentemente eu estivera errada durante todo o tempo, mas não queria saber. Embora a curiosidade me atiçasse, eu sabia que não queria ouvir nada sobre Asher que não viesse da boca dele. Da boca deliciosa dele. Deliciosa e disposta.

Vai sonhando, Max.

Asher disposto a me contar algo sobre si mesmo? Improvável, ainda mais agora.

– Eu acho que você deveria ir embora agora – falei, o mais educada que consegui fazer as palavras soarem, o que não era muito, de qualquer jeito.

Porém, antes que Vivian tivesse a chance de dizer o que quer que fosse dizer – e ela iria dizer alguma coisa, já tinha até puxado o ar para isso – meu celular tocou. Alcancei-o como se fosse um bote salva-vidas, dando boas vindas à distração como daria para qualquer coisa que desviasse minha atenção da situação absurda que estava vivendo.

– Alô? – esperava que o alívio não fosse tão evidente na minha voz quando atendi a ligação.

Bom, não importava. O alívio teve uma vida curta e morreu violentamente quando ouvi a voz desesperada da minha mãe.

E antes mesmo que ela pudesse terminar de dizer o que havia de errado com meu pai, eu já tinha agarrado minha bolsa e saído correndo do escritório, deixando para trás uma Vivian estarrecida e um coração em pedaços.

Era hora de voltar para casa.

Enquanto corria para fora da galeria e praticamente me jogava na frente de um táxi para fazê-lo parar, eu só pensava em uma coisa.

Que não seja tarde demais.


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Notas finais do capítulo

Se tiver alguma coisa errada ou que não esteja fazendo sentido, vocês podem me avisar? Eu revisei com muito sono mesmo :(
Muito obrigada, gente!