– Eu olhei para frente e ela já tinha entrado no colégio, eu abri a porta e saí do carro, o Bruce ficou sem entender e me gritou:

– O que tá fazendo?

– Essa é a hora em que eu vou sozinha pra escola e você também sem correr o risco de ser visto com uma gorda órfã.

*********

– Ah... Oi Bruce.

– Estou indo para casa.

– Cadê a barb...sua namorada?

– Ela foi com a Natália.

– Hoje é o dia da carona oficial - Eu sorri e entrei no carro e ele permaneceu um pouco sério.

– Então você com o Noah quem diria que você faria o tipo dele...

– Pois é.. vai vê ele gosta de algum conteúdo sem ser a aparência, diferente de certas pessoas né?

– Está insinuando que a Priscila...

– Eu estou insinuando nada, se a carapuça serviu, o que posso fazer?

– Vocês estão namorando?

– Porque quer saber? - Eu o olhei e ele ainda permanecia olhando para frente.

– Porque preciso saber se meu segredo está seguro.

– Ah fica tranquilo, ele não sabe que você é meu primo e nem vai saber, imagina quanto humilhação pra mim

*********

Ele sorriu irônico. Argh que guri chato viu? Insuportável eu diria. Nós caminhamos até atrás e subimos, nossa dois loucos e bêbados. Teve um momento que ele conseguiu entrar pela minha janela e assim que eu ia pegar a barra da janela eu escorreguei e o reflexo dele foi rápido, eu estava uma parte presa e a outra solta, eu senti a mão do Bruce segurando a minha, eu estava nervosa, acho que o efeito da bebida havia passado, era um momento de apreensão, eu não morreria pela queda, mas seria algo bem tenso. Eu me recompus e com dificuldade consegui entrar, estava ofegante e assustada ao mesmo tempo e parece que ele havia recuperado os sentidos também, eu me sentei na cama enquanto ele ficou em pé parado um pouco.

– Obrigada Bruce, salvou minha vida praticamente.

– Eu acho que desloquei o ombro. - Ele como sempre fazendo piadinhas pelo meu peso.

– Porque você é assim hein? Não pode ser agradável comigo?

*********

– Você tá louca Sophie? Quer estragar minha reputação?

– Estragar sua reputação? Você mesmo falou que era meu priminho.

– Não estou falando disso....

– Ah do orfã e gorda? Mas como? Foi algo mesmo que você disse.

Ele suspirou colocando suas duas mãos no cabelo enquanto depois me olhava, foi a primeira vez que o Bruce me olhava calmo e com paciência sem ter aquela raiva fulminante no olhar.

– Desculpa por isso, eu realmente sou ruim algumas vezes com você sem motivo e meus amigos gostaram de você de verdade, acho que podemos conviver sem brigas.

Eu não sei porque eu senti sinceridade no que ele havia falado e eu suspirei, de fato minha vida era cheia demais de danificações pra que eu me preocupasse com uma briga de um menino do colegial, o meu "primo".

– Tudo bem, só quero entender porque falou que eu morava com você?

– Porque é a verdade.

– Você entendeu minha pergunta - Ele era irritante as vezes.

– Ei ei nervosinha, tá. Eu quis falar porque uma hora eles iriam descobrir e sei lá você pareceu tão divertida e todos eles gostaram de você.

– Então você falou porque seus amigos me aprovaram - Eu olhei e era verdade aquilo, era tudo questão de aprovação social.

– Não é bem isso...

– Confessa Bruce, é melhor.

– Tudo bem, em partes sim, em outras partes eu não queria mais que todos os dias de manhã você saísse do carro e chegasse aqui sozinha e estou cansado de ficar nesse pé de guerra. Amigos?

Ele estendeu a sua mão me olhando, parecia ser sincero mas certamente eu ficaria com um pé atrás nunca se sabe, todas as vezes que eu acreditava sempre dava alguma merda, então era melhor prevenir. Eu toquei a sua mão e balançamos em sinal de um cumprimento.

– Tudo bem. Amigos ainda não, conhecidos fica melhor.

*********

– Você está diferente Bruce, de verdade. O que aconteceu?

– Não sei, eu pensei bastante desde a noite em que voltamos no bar. Não quero continuar brigando por nada sabe?

– Entendo, que bom então, fico contente que tenha se tocado das coisas.

Ele não falou nada, a minha mão estava pausada na lateral do banco e foi quando eu senti seus dedos tocarem a minha mão, aquilo foi totalmente inesperado, eu continuei olhando para frente, senti aquele choque percorrendo pelo meu corpo, era estranho e eletrizante aquilo.

*********

Eu abri meus olhos e estava molhada de suor, eu olhei era aqueles olhos assustados, ele estava me segurando gentilmente nos seus braços. Eu tentei me recompor e estava na minha cama, era a noite certamente foi um pesadelo, tudo parecia normal e aos poucos eu fui me sentando na cama e ele me soltando, percebi que ele estava com uma bermuda e sem blusa era o Bruce.

– Porque está aqui? - Eu o olhei um pouco confusa.

– Eu não sei... eu tive um sonho ruim com você e... quando cheguei aqui na porta eu ouvi seus gritos.

– Eu estou confusa - Senti meu rosto molhado e passei a minha mão, eram lágrimas que certamente veio pelo sonho intenso, aquela reações que aquele lobo haviam me causado era de apavorar e só de me lembrar do reino pegando fogo e sendo destruído me fez estremecer.

– Teve um pesadelo também? - Era o Bruce tentando me acalmar, irônico não é? Talvez fosse, mas não me importei com isso, o sonho tinha sido muito mais assustador.

*********

Ele tentou se virar mais uma vez só que agora a luz veio na minha direção, eu olhei as suas costas e havia um sinal, ela estava brilhando. PUTA QUE PARIU, Não podia ser ele, claro que não podia. BRUCE? Sério?? O irmão do Nathan? O outro menino perdido do reino?

– Fica parado - Eu protestei e ele ficou quieto com uma parte das costas virada para mim. Meus dedos trêmulos foram até o seu sinal, eu toquei com a ponta dos meus dedos deslizando, era um sinal até grande.

– Está ardendo Sophie - Ele protestou.

– Eu não acredito - Eu retirei os meus dedos lentamente das suas costas e fiquei calada, ainda era muita coisa pra processar eu não podia falar aquilo para ele, certamente ele surtaria ou me chamaria de louca.

*********

– O que está fazendo aqui?

– Vim ficar do seu lado se você quiser conversar.

– Mas eu não quero conversar com você.

– Tudo bem, então apenas ficarei do seu lado.

Eu fiquei em silêncio e ele também, não contei o tempo em que ficamos assim, eu sabia que os meninos não gostavam de conversar e se éramos pra ser amigos aquele poderia ser o momento.

*********

Ele suspirou e se levantou da minha cama um pouco mais calmo, ele estava sem a blusa com a sua calça de dormir, seus cabelos molhados tinham indicado que ele havia tomado banho. Ele ficou em pé na minha direção e esboçou um sorriso.

– Eu realmente nunca achei que você fosse me ajudar a lidar com isso, obrigado.

Antes que eu pudesse falar alguma coisa eu senti seus braços envolta da minha cintura e a sua cabeça molhada apoiada no meu ombro, eu era um pouco mais baixa do que ele, isso fez com que minha cabeça ficasse mais levantada encostando o meu queixo no seu ombro. Minhas duas mãos se encostaram nas suas costas o que senti meu dedo arder por estar se aproximando daquele sinal, assim que ele se afastou eu o olhei ainda esboçando um sorriso sem jeito e ele encostou suas duas mãos na minha bochecha e deu um beijo na minha testa, senti aquele choque percorrendo pelo meu corpo e em seguida ele saiu pela porta.

*********

Ele estava atrás da rocha do outro lado da praia o que o deixava escondido. Eu caminhei e me sentei ao seu lado, ele estava quieto e permanecemos assim um pouco enquanto eu olhava para o horizonte e a sua voz quebrou o silêncio.

– Veio aqui me perguntar porque bati nele não é?

– Você quer me contar?

Eu o olhei e ele deu mais um gole enquanto me olhou e em seguida virou para frente. O Bruce era lindo, ainda mais sobre a luz daquele luar, seus cabelos estavam grudados sobre a testa, seus olhos ainda era um mistério, eu me estremeci ao lembrar disso. 

– Eu fiz o que eu teria feito com qualquer outra menina, não se sinta especial

Claro que ele tinha que ser grosso, eu ri por isso e peguei outra cerveja que estava perto dele em uma caixa e dei um gole enquanto olhava o horizonte.

– Por que está rindo?

– Porque aprendi que essa sua defesa não adianta comigo mais.

– Eu... tá, você venceu. - Ele se deu por vencido, sua expressão de surpresa aos poucos foi se desaparecendo.

– Eu não quero saber Bruce, quer dizer, eu queria sim, mas é algo que se você quiser me falar é só me dizer. Eu não vou sumir não é?

Eu dei um sorriso e ele concordou com isso, eu fiz menção em levantar e deixá-lo um pouco sozinho e ele segurou no meu braço para que eu ficasse ali.

– Não vai agora

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- Pra quem não gostava de falar comigo está virando rotina vim aqui a noite?

Eu falei rindo e ele sorriu enquanto se levantava da minha cama. Ele estava com uma bermuda e uma camiseta e seus cabelos estavam molhados grudados na testa e sinal que tinha tomado um banho também, era que eu demorava muito no banheiro.

– Eu só queria passar aqui pra falar algumas coisas antes de ir dormir.

– O que queria me falar?

Eu o olhei e ele se aproximou de mim, naquele momento eu senti um frio percorrer no meu corpo, eu prendi minha respiração enquanto ele se aproximou, aqueles olhos que agora estavam escuros estavam fixos nos meus, eu não tinha forças para nada, muito menos para me mover, o mais difícil daquilo era que não queria me mexer e nem sair dali, me permitiria e estava sem defesas naquele momento, existem momentos que você deseja apenas isso, se deixar levar. Aquelas correntes elétricas percorriam entre nossos corpos, senti a sua mão encostar na minha como se fosse " sem querer".

– Sophie eu...

*********

– Não encoste nela

Aquela voz ecoava na minha mente um pouco longe e aos poucos eu fui abrindo meus olhos, eu olhei era o Bruce em pé na frente da cama com a espada apontada para o Nathan que permanecia imóvel e silencioso. Aquilo só podia ser um sonho de verdade, eu me levantei um pouco mais rápido, confesso que me senti um pouco tonta por ter levantado de vez.

– O que está acontecendo?

Eu me sentei na cama e fiquei olhando o Bruce que estava ainda esperando uma resposta do Nathan, eu senti uma tensão no ar e a ausência de palavras pioravam isso. Como ninguém não fez nada eu tratei de me levantar e me aproximei do Bruce abaixando a sua espada.

*********

Meus olhos se abriram calmamente, aquelas informações eram toda ao mesmo tempo, sentimentos foram invadidos naquele momento enquanto eu percebia uma figura se formando na minha frente, eu olhei eram aqueles olhos cor de mel que permaneciam assustados com meu corpo em seus braços enquanto tentava alisar meu rosto para que eu acordasse.

- Sophie, você está bem?

Sua voz era longe, eu estava agora consciente do que tinha acontecido, aquele rosto não era mais estranho, era ele o menino que tanto me desprezou que estava nos seus braços, aquele menino que havia sentido todos aqueles sentimentos quando me beijou.

- Eu... estou sim.

- Quer que eu chame o Yukiw?

- Não, eu estou bem. E... eu me lembro de você.

- Como Sophie? - Ele ficou com seus olhos arregalados enquanto eu tentava me levantar e puxar a coberta contra meu corpo e aos poucos ele foi me soltando.

- Eu não sei... quando a gente... - A palavra não saía, era algo muito insano até mesmo para que eu pronunciasse, talvez se ele fosse um desconhecido era tudo mais fácil, só que aquele Bruce diante de mim era um ser que tinha uma bagagem e aquela barreira que eu tanto fiz em relação a ele tinha quebrado no momento em que eu o esqueci, só que agora eu estava cautelosa, afinal ele já tinha me magoado o suficiente.

- Se beijou? - Ele continuou a minha frase.

- Sim. - Eu me estremeci e ele ficou um pouco mais cabisbaixo enquanto entendia o porquê daquela minha reação.

- Tudo bem eu vou deixar você processar e descansar um pouco.... - Ele mal terminou de falar eu o puxei fazendo continuar sentado na cama e resolvi ser sincera.

- Bruce eu.. sei que é tudo confuso, eu me lembro de tudo, de todas as vezes em que me insultou, mas de todas as vezes que me defendeu também e quis me proteger, mesmo não sendo consciente das suas ações. Eu também sei que o tempo em que estivemos aqui nesse reino nós evoluímos e... eu não queria que nos machucássemos. Talvez eu não seja aquilo que você tanto queira, eu não tenho perfil pra isso, eu não sou uma Priscilla da vida e... talvez seja melhor pararmos no início do que nos machucarmos depois.

- Tanto faz Sophie. Já que se lembra eu vou indo para o mundo real, sinceramente esse reino me deixou exausto e preciso da minha casa um pouco. Como faço pra voltar?

Eu me estremeci, como sempre ele tinha umas atitudes loucas e inesperadas. Eu o indiquei para o espelho e expliquei como fazia para voltar para casa e assim ele o fez, apenas deu um beijo na minha testa bem friamente e saiu. Eu olhei aquele quarto vazio e aquela poltrona em que ele ficou quando eu estava desmemoriada, uma lágrima caiu no meu rosto, eu comecei a chorar, memórias ainda começaram a surgir:

- Ehipo, meu povo. Recebemos hoje o filho herdeiro de Hanbre e lhes digo que não há o que temer, Bruce Sylian vem em paz e hoje é um dia especial para nós, quem sabe até unificar os reinos e formar uma Garotch novamente.

Eu segurei em sua mão, nossos dedos se entrelaçavam era bem intenso sentir o choque pelo meu corpo, as sensações que isso me causava era única. Logo ouvi os aplausos e comemorações de todos. Aos poucos todos iam cumprimentar o Bruce que já estava entrosado com o povo da minha região.

********

- Pinxexa, pinxexa - Era a pequena Jú que agora me puxava para que eu a carregasse. Eu a segurei e dei vários beijinhos. O Bruce olhava todos da região um pouco curioso, porém mais tranquilo.

- Quem é exxe? ( quem é esse?)

-Esse é o amigo da princesa, ele é o Bruce, um príncipe.

- Pinxipe é bonito.

- Obrigado, mas você é ainda mais linda de todo o reino - Ele a olhou e ela sorriu enquanto se jogava para o seu colo. Pela primeira vez eu vi o Bruce brincando com a Jú e rodando ela no seu colo, pareciam duas crianças de verdade.

********

- O que está achando do reino?

- É tudo lindo Sophie, de verdade eu ainda acho que estou drogado.

 Nós dois rimos enquanto passeávamos pelo jardim, era toda a tarde enquanto eu mostrava as plantas e conversávamos sobre as linhagens dos Calton's e Sylian's.

- Eu não sei se é só você que tem essa sensação... - Ele mudou de assunto subitamente.

- Qual sensação?

- Quando nos tocamos... uma energia.

- Sim, talvez seja pela magia - Eu tentei desconversar.

Ele parou de frente para mim me olhando, os raios de sol ainda iluminavam aquele final de tarde, eu podia ver claramente as cores dos seus olhos agora tão de perto, seus lábios estavam entreabertos e parecia que em outra vida um homem daquele tipo ficaria tão perto de mim.

- Sente isso?

Ele colocou seu indicador  no dorso da minha mão e conforme foi subindo pelo meu antebraço eu senti seus três dedos subindo em direção ao meu braço e quando pararam no meu ombro subiram até minha nuca. Era um choque eletrizante, eu fiquei parada o olhando enquanto ele ficava ofegante observando as minhas reações e tirou seus dedos do meu rosto, assim quando não mantivemos mais contato o incrível choque ainda permaneceu por um tempo no meu corpo e aquilo me deixou atordoada me fazendo sorrir um pouco sem graça.

- Vamos, já está tarde.

********

- Sophie, está melhor? - Era o Yukiw certamente ciente das coisas que haviam acontecido. Meus olhos estavam inchados de tanto chorar, eu tentei esconder e ele certamente deve ter percebido.

- Eu me lembrei de tudo Yukiw, me lembrei do Bruce, do dia em que me levaram na caverna, era o rosto da Lilyh claramente para mim, minha raiva enquanto a olhava.

- Ela disse porquê fez isso?

- Disse que o pai dela foi morto durante a guerra dos Sylian e Calton, por isso queria vingança e por isso recrutou os Winxy e Quillans.

- É um bom motivo, mas ainda continuaremos atentos. Se sua memória voltou, sinal que o feitiço tinha sido ela.

- É eu acho que sim. Yukiw... amanhã preciso voltar para o mundo real.

- Tudo bem minha rainha, eu sei que precisa e as coisas aqui não tem sido fácil para você. Descanse um pouco e depois pode partir, porém não demore muito de voltar.

- Eu não consigo mais não voltar aqui Yukiw.

Ele me olhou e se aproximou da minha cama. Eu sorri enquanto senti seu abraço. Ele era carinhoso e atencioso do modo dele, eu sorri enquanto senti seus braços envolta do meu corpo me dando um abraço apertado, talvez era daquilo que eu precisava.

- Boa Noite minha menina e até logo.

- Boa noite Yukiw.

Ele saiu do meu quarto enquanto eu me deitei na cama novamente,ainda tinha o cheiro do Bruce por ali o que me fazia ficar um pouco mais  triste por um momento, tentei fechar meus olhos e queria apenas uma coisa: apagar.