O Sol Negro E A Lua Branca escrita por Gabby


Capítulo 29
Alfa


Notas iniciais do capítulo

DON'T FLOPING ME, HONEYS!
Desculpem a demora, mas agora estou de volta e vou abalar as estruturas de vocês! Tenho uma meta e tal. Esse capítulo é mais light, mas preparem-se para forninhos destruidores nos próximos capítulos! HUAHUAHHUA *se engasga* Agradecimentos a Iachiro, Néphélibate, Byakuya e Scatha.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/360133/chapter/29

Ichigo estava deitado na cama de seu quarto. Sua cabeça latejava, mas ele já havia se acostumado. Perdera a noção do tempo em que ficara naquela cama. Geralmente, dormia. Outras vezes, ficava em um estado de vegetação — um olho no mundo dos sonhos, outro na vida real. Quando ficava lúcido, sentia fortes dores de cabeça, tontura e cansaço. Não fazia ideia de quanto tempo estava ali, mas lembrava-se perfeitamente do que havia acontecido — muitas vezes, flashs das cenas irrompiam em sua mente sem permissão.

As cortinas pesadas e um pouco sujas tampavam a luz do sol que deveria entrar pela janela. Na verdade, Ichigo gostava do escuro — a luz agredia seus olhos sensíveis.

Isshin apareceu no quarto e, rapidamente e sem olhar para o filho, abriu as cortinas e também a janela. Ichigo desviou os olhos, enquanto a luz ofuscante do sol e uma brisa de ar puro entravam. O ruivo segurou com força o lençol, cogitando virar para o lado e voltar a dormir.

— Ichigo — chamou Isshin, antes que Ichigo se virasse.

Ichigo lentamente abriu os olhos e ergueu a cabeça. Viu o seu pai com uma mão na cintura e a testa franzida, com uma pequena barba. Atrás dele, podia-se ver algumas casas do reino, algumas pessoas caminhando e uma vasta planície, de onde o Castelo se erguia, pequenino, por causa da tamanha distância. Imaginou o que se passava dentro dele; pensou em Rukia e como ela estaria.

Ichigo recebera os primeiros socorros no castelo dos Kuchiki e lembrava-se de Rukia em mais ou menos o mesmo estado dele. Ele adormeceu. Quando acordou, estava em um quarto aleatório do castelo. Notou que o seu pai estava lá, preocupadíssimo, sentado em uma poltrona, com as mãos na testa, os cotovelos nas pernas e os olhos vermelhos. Também havia um médico, de um pouco menos de trinta anos, com um rosto redondo e olhos confiáveis. Ele tagarelou um pouco sobre o estado de Ichigo, no linguajar médico, mas o ruivo não entendeu nada. George — o nome do médico —, percebendo a pouca compreensão de Ichigo, aproximou-se dele e sussurrou, com gravidade: “Você ficou em coma durante uma semana, Ichigo. Tínhamos que alimenta-lo, dar-lhe água, e você não acordava. Ficou quase a beira da morte, de tanta exaustão.” Isso o assustou muito. Depois, quando ficara estável, fora transferido para casa — onde estava mais confortável, já que era o seu lar. George o visitava regularmente, mas ele não tivera mais notícias do Castelo, se não um “Estão todos bem.”.

— Ichigo, cê está mesmo me escutando? — indagou Isshin, preocupado. Ele não respondeu. — Porra, garoto, fala comigo!

Ichigo piscou, atordoado.

— Tô, pai.

— Como você está se sentindo?

Ichigo queria responder algo como “Um trapo”, pois era a verdade, porém não queria preocupar seu pai ainda mais.

— Tô bem — respondeu simplesmente, se esforçando para as palavras soarem legíveis. — Você não contou nada disso pra Karin e pra Yuzu, contou?

Isshin balançou a cabeça.

— Contei, não.

— Que bom, então.

Ichigo inclinou a cabeça para o lado, pronto para adormecer de novo. Ainda estava com sono e não tinha a mínima vontade de conversar ou de se levantar. Mais de duas semanas de cama o deixaram preguiçoso e sedentário.

— Ichigo, — começou seu pai — precisamos falar sobre o que você passou. Sobre as trevas que habitam nosso mundo...

— Não estou a fim de conversar sobre isso agora, pai — cortou Ichigo.

— Mas nós precisamos conversar sobre isso logo, Ichigo! — rebateu Isshin. — Há quanto tempo você sabe?

Ichigo suspirou, vendo que não seria fácil de fazer o pai desistir de abordar aquele assunto.

— Há alguns meses. — respondeu, se rendendo. Quanto mais rápido encerrassem essa conversa, mais cedo ele voltaria a dormir. — Fecha a cortina, por favor.

Isshin cruzou os braços, rígido, e não fechou as cortinas.

— Por que você não me contou antes?

— Por que o senhor não me contou antes? — rebateu Ichigo, com raiva. Sentou-se na cama, com a coluna ereta. — Teve dezoito anos para falar do Sobrenatural para mim, mas não me contou nada. Imaginei que não quisesse falar do assunto.

A expressão de Isshin se fragilizou e ele se aproximou de Ichigo.

— Fiz isso para te proteger, filho... — Sua voz soou baixa e esganiçada, como um pedido de desculpa. Ele ergueu a mão para tocar no ombro do filho, porém Ichigo se esquivou.

— E fez um ótimo trabalho. — o ruivo disse, sarcástico.

Isshin sabia que havia errado, mas ouvir do filho que não conseguira protegê-lo era tocante. Segurou as lágrimas, para que Ichigo não o visse chorando e se culpasse.

Ele ouviu um barulho e foi até a janela. Havia uma carruagem de luxo parada na frente da casa.

— Deve ser o Dr. Spencer. — disse, para que Ichigo escutasse. O filho o chamava de George, mas Isshin achava que chama-lo pelo primeiro nome era desrespeitoso.

O pai desceu e Ichigo ficou esperando. Gostava de George — o médico sempre fora gentil com ele —, porém desagradava-o o fato de que precisaria ficar respondendo as dezenas de perguntas que o doutor sempre fazia quando o visitava. Na verdade, algumas das perguntas nem tinham a ver com a saúde de Ichigo. O Dr. Spencer era muito tagarela.

Para a surpresa de Ichigo, quem subiu não foi George — mas sim Rukia. Hesitante, ela bateu na porta aberta de Ichigo, para chamar atenção do mesmo. Os dois ficaram se encarando por alguns instantes, depois Rukia adentrou o quarto, olhando ao redor. No quarto de Ichigo, só havia um criado-mudo com um copo de água em cima — Ichigo acordava muitas vezes com sede —, a cama e um baú onde ele guardava suas roupas. Os pouquíssimos sapatos que tinha ficavam juntos em um cantinho. Não se parecia em nada com o fabuloso quarto que a princesa tinha no castelo.

— Olá. — ela saudou, direcionando o olhar para Ichigo de novo.

Ele percebeu o quanto parecia apático. A última vez que se vira no espelho, estava pálido, com os olhos caídos e com o cabelo embaraçado — que, já desembaraçado, não era muito legal. Agora, provavelmente estava pior ainda.

— O que você está fazendo aqui? — ele soltou, mas não pretendia ser grosso. Era só uma curiosidade espontânea, que não soube colocar em palavras bonitas.

Rukia ficou envergonhada. Estava com um vestido azul claro e seu cabelo estava preso em um coque. Estava bonita, mas parecia acabada.

— Só queria ver como você estava. — ela respondeu, baixinho. — Soube que ficou em coma por uma semana.

Ichigo fez sinal para que ela se aproximasse. Rukia sentou-se na ponta da cama; o ruivo pôde sentir o cheiro forte de perfume.

— Desculpa. Eu to bem agora. E você?

Ela assentiu com a cabeça.

— Estou muito orgulhosa de você. Salvou todos nós.

Ichigo a beijou.

Não foi premeditado, tampouco durou o suficiente para ser cronometrado. Ichigo apenas se inclinou para a frente e tocou seus lábios nos dela. Tinha alguma esperança, lá no fundo do seu âmago, de Rukia retribuir. Mas isto não aconteceu. Por respeito, ela não se afastou, mas deixou seus frios lábios selados.

Ele se afastou dela.

— Desculpa.

Os olhos de Rukia estavam ocos.

— Estou orgulhosa de você — repetiu, quase roboticamente. E saiu do quarto.

///

Com cuidado, Ishida prendeu os pulsos de Hiyori. As correntes eram fortes o bastante para conter um animal grande, e não combinavam com os pulsos finos da menina.

— Isso é mesmo necessário? — perguntou Shinji, apoiado na parede.

Grimmjow olhou para ele.

— Os novatos ficam loucos, descontrolados, em sua primeira Lua Cheia. — explicou. — E há certo poder na loucura.

Hiyori, sentada no chão, não apresentava nenhuma resistência enquanto Uryuu a prendia. Sabia bem o que ocorria quando os lobisomens se transformavam e o quanto eram destrutivos.

— Eu não vou me lembrar de você quando acontecer, Hirako — ela falou. — Não vou sentir nada por ninguém.

— Só raiva — complementou Grimmjow, de braços cruzados. Tentara tornar Hiyori sua protegida, mas ela se desviara de todas as suas investidas. Quando Grimmjow tentava conversar com ela, Hiyori ficava quieta ou o mandava embora. Quando contava algo do universo lobisomem, ela negava com a cabeça e dizia que não era um deles.

— Raiva de você. — ela retrucou, olhando audaciosamente para Grimmjow.

Yoruichi respirou ruidosamente. Sabia que a adaptação para a vida de licantrope era difícil, mas ela gostaria que Hiyori não dificultasse tanto as coisas. Incomodava Yoruichi este claro preconceito que a menina tinha dos seres do Submundo.

— Grimmjow a Transformou para você sobreviver — ela disse.

Hiyori cuspiu no chão, mal-humorada.

— Preferia ter morrido.

Yoruichi revirou os olhos. Pelo menos, se estivesse morrido, não ficaria fazendo drama para ela.

Eles estavam no porão do castelo — um lugar arcaico, mal iluminado, com tralhas e teias de aranha. Ninguém vinha ali e isto tornava o lugar perfeito. Ninguém os incomodaria; ninguém, que não estivesse naquele local, se machucaria. E ninguém ouviria os berros.

— Acho que já a prendi — falou Uryuu.

Hiyori, que estava sentada no chão empoeirado, puxou as correntes com força. Não ameaçaram ceder. Eram suficientemente longas para que ela ficasse em pé e pudesse dar um ou dois passos, mas resolveu ficar sentada pois sabia que teria uma noite muito longa pela frente.

Grimmjow segurou as correntes e puxou com bastante força — força de lobisomem — mas elas ainda não cederam.

— São realmente muito fortes. — constatou ele.

Shinji engoliu em seco.

— Eram usadas na prisão de lobisomens, quando os caçadores precisavam interrogá-los.

— Tortura-los, você quer dizer — corrigiu Hiyori, se levantando. — Para os betas contarem as informações sobre o bando, principalmente sobre o alfa.

O osso do maxilar de Grimmjow ficou saliente.

— Antes de, claro, a Lei do Pacto ser vitalizada. — completou Ishida, com a voz aguda, tentando acalmar Grimmjow. A lei que exigia uma suposta amizade entre os seres do Submundo que não cometiam crimes e os caçadores era recente, de aproximadamente dez anos. Antes disso, caçadores matavam qualquer um sem motivo, apenas por serem quem eram. Os únicos seres mágicos que não eram oprimidos naquela época eram os magos. Todos eles eram de famílias nobres e ricas e sempre tiveram um acordo de ajuda mútua para com os caçadores.

Grimmjow aproximou-se perigosamente de Hiyori, fazendo com que ela encarasse seus olhos. Hiyori sentiu a respiração quente do príncipe quando ele disse, de modo venenoso:

— Sugiro uma mordaça.

Fez-se um silêncio. Hiyori e Grimmjow ficaram se encarando. Uryuu ficou paralisado, buscando ajuda com o olhar. Afinal, pegaria ou não a mordaça? Não sabia. Se obedecesse ao príncipe, Hiyori ficaria furiosa com ele. Se não obedecesse, seria Grimmjow que ficaria furioso. Ishida não sabia quem era pior — uma lobisomem novata em Lua Cheia ou o filho do Alfa.

— Traga a mordaça — ordenou Yoruichi.

Todos ficaram-na observando. A intenção de Yoruichi não era favorecer o príncipe do Hueco Mundo, mas sim colocar Hiyori em seu lugar. Agora, não era mais uma caçadora e sim uma licantrope. Urraria, morderia. Já estava na hora de ela lidar com isso.

— Mas... — protestou Hiyori.

— Traga a mordaça, Ishida. — ela cortou, olhando inquisitivamente para todos.

Ishida assentiu, nervoso. Hiyori implorou para Hirako com o olhar, para que ele se manifestasse. Porém, ele apenas mordeu o lábio inferior e ficou quieto. Não iria contra a vontade de Yoruichi.

///

Hiyori não conseguia dormir. Shinji e Uryuu já cochilavam; o primeiro sentado no chão, o segundo em uma poltrona. Esperaram e a observaram durante horas, porém Hiyori não demonstrou nenhum comportamento agressivo demais. Tinha uma raiva crescente no peito, uma energia que passava para seus dedos e deformavam suas unhas em garras. Ela apertava seus lábios, os caninos já anormalmente afiados, fazendo com que eles machucassem sua boca. Grimmjow e Yoruichi a observavam, pacientemente.

Reinava um silêncio sepulcral quando Hiyori, no meio da noite, teve um surto. Estava cansada de conter-se, suas pálpebras já estavam se fechando. Ela foi dominada por ira; começou a se debater. As correntes fizeram um barulho metálico, que acordou Hirako e Ishida.

— Calma, calma. — Shinji se levantou e se aproximou dela.

Seu nariz e sua mandíbula se deformaram em um focinho de lobo, assim rasgando a mordaça. Ela, em um único golpe, atingiu de raspão Hirako com as garras. Ele distanciou-se rapidamente, voltando para onde o resto do grupo estava.

— Shinji e Ishida, subam — ordenou Yoruichi, a mais calma diante da situação. Não era a primeira vez que ela presenciava um licantrope se descontrolando diante da Lua Cheia. Além disso, o pouco vínculo que ela tinha com Hiyori e a capacidade de se distanciar a tornavam a mais lógica do grupo. — Ishida, trate do ferimento de Hirako. Arranhões de lobisomens geralmente causam infecção.

Ele assentiu e levou Shinji, cambaleante, escada a cima. Hirako dirigiu um olhar amigo para Hiyori, porém os olhos dela cintilaram, amarelos, e ela rugiu, com ira. Sua amiga não habitava mais aquele corpo.

Com os caçadores fora do recinto, Yoruichi sentiu-se mais confortável para fazer o que fosse necessário. O controle de um lobisomem era um momento particular dos membros do Submundo e os caçadores nunca entenderiam o misto de emoções que era fazê-lo.

Hiyori se transformou e se deformou tanto que, no fim, nem mais parecia ela. Levantava-se e uivava, puxando as correntes com tanta força que, por um momento, Yoruichi temeu que se rompessem. Não podia mais deixar Hiyori fazer tanto barulho — uma hora ou outra, ela chamaria atenção dos habitantes do castelo.

— Grimmjow, controle-a logo — Yoruichi pediu, impaciente. Ao ver o olhar de interrogação do rapaz, exclamou: — Vamos! Você precisa ser o alfa dela! Foi você que a transformou, afinal de contas. Seu pai nunca te ensinou a controlar o bando, não?

Grimmjow balançou a cabeça em negativa.

— Não desse jeito.

Yoruichi bufou. Será que precisava ensinar tudo a estas pessoas?

— Imponha-se, Grimmjow. Mostre-a quem manda, a quem ela deve obedecer, mostre-a seu poder. Mostre-a que você é o Alfa.

Grimmjow aproximou-se dela, hesitante. Lembrou-se do seu pai, como ele tratava os subordinados, como ele agia e como todos o respeitavam e obedeciam.

Agora você é o Alfa, Grimmjow.

Seus olhos brilharam, poderosos, e ele uivou. Foi um som forte, autoritário, incontestável, como o seu pai.

Abalada, Hiyori se encolheu. Estava com medo e abaixava a cabeça perante Grimmjow. Com as garras, entalhava pequenos riscos no chão. Não passava de um animal acuado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Desculpa quaisquer erros.