Lado A Lado - Novos Rumos escrita por Cíntia


Capítulo 80
A vida continua


Notas iniciais do capítulo

Meninas, muito obrigada pelos comentários. Eles me animaram bastante... Valeu...
Espero que gostem desse capítulo... nele fechamos algumas pontas da história... Espero que gostem e comentem muito....



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“- Que bom que a nossa história teve um final feliz – Laura

– Quem disse que é o final? É só o começo e nossa história vai ficar cada vez mais e mais feliz. – Edgar

Lado a Lado

Por Edgar

O caso de assassinato de Catarina teve desdobramentos interessantes depois da prisão de Caniço. Num primeiro momento, ele se recusou a confessar. Estava firme em seu argumento de que era inocente, e eu o culpado. Mas após algum tempo, resolveu assumir tudo e contou a história a polícia.

Ele tinha ido à casa de Catarina para receber dinheiro pelos trabalhos que fizera. Me viu saindo e entrou. Teve uma discussão com ela, que estando em dificuldades financeiras, se recusou a pagar o que devia. Num acesso de raiva, por vingança, sentindo-se enganado, ele acabou esfaqueando-a no abdômen e ela morreu.

Era uma confissão simples, mas coerente com que sabíamos... E eu achava que terminaria com ele atrás das grades por um bom tempo...

Só que o destino trouxe um revés. Dias após a confissão, a delegacia foi invadida por homens armados em plena madrugada, um momento em que o efetivo policial era pequeno, e não conseguiriam reagir ao ataque.

Muitos presos foram soltos por esses homens, dentre eles estava Caniço... A polícia ainda não tinha descoberto quem eram e qual o propósito exato daqueles homens armados. Desconfiavam que se tratava de uma gangue que decidira soltar seus comparsas.

Após a fuga, tinham recuperado poucos fugitivos... Sendo que Caniço continuava foragido e já não havia muitas esperanças de capturá-lo.

Ao menos algo bom veio dessa história, ele já tinha confessado. Deixando a investigação do assassinato de Catarina como concluída e tirando toda a suspeita que caia em mim ou Laura. Isso nos trouxera um baita alívio.

Os jornais anunciaram a resolução do caso, o primeiro a fazer isso foi o Correio da República através do jornalista Antônio Ferreira (eu soube de tudo em primeira mão). Pouco depois, ainda voltei com uma reportagem sobre a fuga em massa, denotando o quão estranho aquilo me aparecia. Mas a verdade é que decidi não me aprofundar. Caniço estava solto, mas a tensão havia diminuído e eu estava satisfeito.

E somente pela elucidação do assassinato, a maioria dos jornais elogiava o delegado Praxedes, que não se fazia de rogado e gostava da publicidade e glória conseguida.

Mas de todos os cidadãos da cidade, talvez eu fosse o mais feliz com o esclarecimento desse crime. Pois com isso eu podia prosseguir com a minha vida em paz e sem medo.

Eu e Laura estávamos cada vez mais animados com a gravidez dela. O clima era bom e o médico nos disse que ela e o bebê estavam bem saudáveis... Já se começava a notar a sua barriga saliente, mais ainda quando nós dois estávamos entre 4 paredes.

Assim decidimos contar às crianças que elas ganhariam um irmãozinho ou irmãzinha. E para isso bolamos um programa inusitado, resolvemos levar Pedrinho e Cecília ao circo.

Laura e eu sabíamos que se minha sogra imaginasse sobre esse programa, nos criticaria... Afinal o circo ficava em um bairro de periferia, e seu público eram pessoas humildes.

Mas nós não importávamos com isso, na verdade, até gostávamos desse contato, das pessoas, do ambiente, queríamos que nossos filhos crescessem com uma noção do mundo. E além de tudo, o espetáculo era “mágico”, sabíamos que Pedrinho e Cecília ficariam encantados... Queríamos ver esse encantamento em seus olhares.

Ao entrarmos na tenda do circo, percebi que as crianças estavam ansiosas. A verdade, é que eu e Laura também.

O show começou. E ficamos admirados com as várias apresentações, como uma em que uma moça se enroscava em uma fita que estava amarrada no teto indo até o chão, ela se movia de forma suave, fazia acrobacias, uma música a acompanhava e parecia uma espécie de dança, um balé nas alturas.

Também ficamos apreensivos com os malabaristas e trapezistas, que faziam acrobacias, pulavam, correndo riscos, o que dava um frio na espinha, pois ficavam a um ponto de cair, ou deixar seus objetos despencarem de uma altura considerável e perigosa.

Em certos momentos, Laura e eu percebíamos espanto e admiração especiais dos nossos filhos por algumas atrações.

Cecília ficou especialmente sorridente, até soltou gritinhos e palavras de incentivos quando os cachorros adestrados faziam seus truques, dançavam, andavam em duas patas, pulavam obstáculos. A mesma coisa quando apareceram dois cavaleiros montados em seus cavalos, fazendo acrobacias entre eles e com os animais.

Pedrinho era mais contido... Mas em certos momentos, se percebia o brilho em seus olhos, um interesse profundo, e até mesmo palavras de admiração saiam dos seus lábios. Ele ficou especialmente encantado com o mágico. Também se entusiasmo muito com o leão, seu porte grande e ameaçador.

No fim do espetáculo, as crianças saíram animadas da tenda, conversavam entusiasmadamente entre si. Comentando as atrações que acharam mais interessantes. Sorriam, pulavam, discutiam. Pareciam tão felizes... E Laura e eu íamos atrás deles fascinados com isso:

– Tão bonitinhos os cachorrinhos... Vou ensinar Sherazade a fazer aquilo – comentou Cecília

– Melhor seria se tivéssemos um leão. Bem grande... Já pensou? – rebateu Pedrinho

– Mas ele podia nos morder. – contestou Cecília

– A Sherazade também morde de brincadeira às vezes. Mas acho que não pode se ter um leão em casa.

– E a mordida dela não dói... – ela ficou pensativa e continuou - E a moça que se agarrou e dançou na corda. Você gostou?

– Gostei... Mas o que eu queria mesmo é saber como o mágico fez aquelas coisas sumirem?

– Foi magia, Pedrinho!

– Foi magia não... Foi apenas um truque.

Em certo ponto eles pediram a nossa opinião. E após mais um pouco de debate... Laura e eu nos olhamos cúmplices. Tinha chegado o momento de contarmos pra eles:

– É bom ver vocês assim. Vocês gostaram do circo, né? – comecei

– Gostei – Pedrinho respondeu

– Eu adorei – Cecília como sempre mais eufórica

– Eu e seu pai temos uma novidade pra contar – Laura disse sorrindo

– Nós esperamos que gostem dela – completei

– Logo... Vocês irão ganhar um irmãozinho ou irmãzinha... Quem sabe da próxima vez que viermos ao circo, ele já venha com a gente- Laura esclareceu

– Tem um bebê na sua barriga, mãe? – Pedrinho perguntou impressionado

– Tem, meu filho. Tem – Laura se curvou um pouco e acariciou o rosto do nosso filho

– Eu sabia!- ele disse animado, já tínhamos conversado sobre bebês antes.

– Mas vai ser um menino ou menina? – Cecília perguntou confusa

– Ainda não dá pra saber, meu amor. Só quando nascer...– Laura respondeu

– Mas sendo menino ou menina nós vamos amá-lo muito. E espero que vocês também. Certo?– disse pegando minha filha no colo

– Certo... – respondeu Cecília

– Mas podemos torcer, né? –Pedrinho falou

– É claro. O que você prefere? – perguntei

– Um menino ... – Laura e eu nos olhamos, era comum meninos torcerem por irmãos, e depois nos viramos pra ele que continuou - Eu já tenho uma irmã, agora podia ser um irmão!

– E você, filha? O que prefere?- Laura indagou

– Um menino – ela estava firme

– Mas não vai querer uma menina pra brincar? Uma irmãzinha?– eu estava surpreso

– Eu gosto de brincar com meninos, às vezes até mais que meninas... - ela continuou certeira, e Laura e eu rimos.

– Tá bom, filha. Mas se vier uma menina... Vocês vão brincar e cuidar dela, viu? Quero que seja muito amada e que não fique sozinha. – Laura falou

– Tá – responderam Cecília e Pedrinho juntos

Cecília pediu que eu a colocasse no chão e se aproximou de Laura, olhava pra mãe com admiração. Só então disse:

– Posso tocar? – sua mão estava próxima à barriga de Laura

– É claro, meu amor... Se você quiser também, Pedrinho... Só precisa ser cuidadoso. – Laura afirmou

Os dois sorriram e começaram a tocar na barriga de Laura com delicadeza:

– Eu cuidar de você. – Pedrinho disse olhando pra barriga

– E eu vou brincar muito com você – Cecília sorria

E eu olhei para os 3, ou melhor os 4. Contentes, esperançosos, carinhosos. Me emocionava tanto. Como era bom ver e poder participar daquele momento com eles. Eles eram a minha família. E eu estava tão feliz e orgulhoso deles. Tão contente de ter conquistado aquilo, do nosso clima de confiança.

Poucos dias depois, fizemos um jantar com nossos pais, Guerra e Celinha, algo mais íntimo como queríamos pra anunciar a gravidez. E todos pareceram muito animados com a notícia.

Pois de certa forma, isso demonstrava uma reconciliação definitiva entre eu e Laura, e o momento de graça que vivia a nossa família... Um novo bebê serviria para abençoar e fortalecer a comunhão que recentemente tínhamos conquistado.

Os avós já estavam animados e fazendo planos pro novo neto, falavam do sexo da criança, nome, o futuro dele. As avós e Celinha também discorriam sobre compras, roupinhas e brinquedos. Guerra me parabenizou contente.

Dentre todos, a Baronesa me parecia especialmente entusiasmada, mesmo que tentasse pressionar Laura em relação aos seus planos de continuar trabalhando na sua escola, que logo já seria inaugurada... A verdade é que eu imaginava o motivo de tal empolgação ... Ela nunca tinha concordado sobre eu e Laura vivermos separados, e de certa forma, aquele momento de união devia ser uma vitória pra ela.

Eu cheguei até a falar com Laura pra chamarmos Lauro e Isabel pro jantar e dar a novidade ... Mas pela reação dela, imaginei que não era necessário... Isabel e Lauro deviam ter tido conhecimento da gravidez até mesmo antes de mim.

E no caso um evento muito importante se aproximava. Faltavam poucos dias para o casamento deles.

O pai e o irmão de Lauro já estavam na cidade, pareciam boas pessoas, conheceram e gostaram de Isabel, Seu Afonso, Neto e Tia Jurema. Lauro também já começava a falar com eles sobre montar um negócio no Rio, estava decidido a se estabelecer aqui.

No dia marcado, todos compareceram ao casamento, além dos familiares, também havia um monte de amigos. Até mesmo tia Jurema resolveu ir depois que o padre se comprometeu a não tratá-la mal por sua religião.

Eu e Laura éramos seus padrinhos. Neto, Cecília e Pedrinho carregavam as alianças. Seu Afonso levou Isabel até o altar, ela usava um lindo vestido branco de noiva.

O casamento foi lindo. Os noivos pareciam muito felizes e emocionados. E depois, todos foram pro morro, onde Tia Jurema celebrou mais uma cerimônia e aconteceu a festa que foi regada a muito samba, comida e animação.

Lá eu ficava cada vez mais admirado com Laura animada num vestido vermelho, um pouco mais colado que o habitual, mostrando a barriga já evidente da gravidez. Nós recebemos muitos parabéns pelo bebê... As crianças e eu erámos carinhosos e atentos com a mãe.

Apesar de que em certo ponto da festa, Pedrinho e Cecília desapareceram das nossas vistas, e foram brincar livremente , correram, jogaram bola, soltaram pipa.

Já estava anoitecendo quando nos despedimos de Isabel e Lauro. Levamos Neto (que ia passar uns dias conosco) e nossos filhos pra casa. Laura e eu esperávamos que eles dormissem logo após o banho, pois tinham gastado muito energia durante o dia.

Mas eles estavam agitados, e conversavam muito sobre o casamento, suas brincadeiras, o bebê que chegaria em breve. Tivemos que contar histórias e nos desdobrar para que os 3 dormissem.

Quando entramos no quarto, estávamos tão cansados ... A verdade é que eu não esperava que aquela noite de sábado terminasse tão rápido, mas as nossas energias tinham sido sugadas... Sugadas de uma forma boa.

Eu e Laura nos deitamos, abracei sua cintura, mantendo seu corpo bem próximo do meu, sentia o doce aroma exalado por seu pescoço e cabelo. E enquanto ela apagava as últimas velas, eu pensava ...

Ainda sentia muita falta e me lembrava com melancolia de Melissa. Mas a ideia de que ela estava bem já me ajudava. Tinha fé que ela seria feliz e que eu ficaria ciente disso.

E tinha grandes esperanças de felicidade. Na verdade, eu já me sentia feliz. Muito feliz... Tinha tantas pessoas que me proporcionavam isso. Havia os meus filhos: Pedrinho, Cecília, e o bebê que Laura ainda esperava, e que eu amava imensamente.

Tinha Laura ao meu lado, uma companheira pra todos os momentos, uma mulher de fibra, e opiniões que me encantava em todos os aspectos. Meu amor por ela que já era grande aumentava a cada dia, além da vontade de tê-la perto de mim de corpo e alma.

Depois de tantos problemas, finalmente nós estávamos vivendo o sonho que tínhamos no início do nosso casamento. E a sensação era tão boa que eu não conseguia definir em palavras. Só sabia que era bom demais, nunca tinha sido tão bom, e que eu lutaria com todas as minhas forças ou com minha vida se fosse preciso, para que nada, nem ninguém estragassem esse nosso sonho tão sublime e real.

– Eu te amo, Laura... E estou tão feliz... Você... Vocês me fazem assim. Nunca mais me abandone – sussurrei em seu ouvido já em meio à escuridão

– Não... nunca... Você nos terá pra sempre.... Eu amo você, Edgar ... E nunca estive tão feliz... Obrigada por me fazer sentir assim. – ela respondeu com intensidade

Nos beijamos com avidez, mas estávamos cansados, e voltamos pra nossa posição de aconchego. Acabamos dormindo assim, de maneira plácida, sentindo uma vasta felicidade no peito, entregues nos braços do outro. Sendo que do futuro só tínhamos boas e grandes expectativas.


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Notas finais do capítulo

Gostaram da ida ao circo? Eu que gosto de circo até hoje, fiz uma pesquisa sobre ele no passado e descobri coisas interessantes que coloquei aqui, a verdade é que talvez tenha tomado algumas liberdades também, mas espero que tenham gostado, ahhh, nesse site tem umas fotos interessantes: http://fottus.com/fotos-historicas/circo-no-inicio-do-seculo-passado/

E então gostaram do capítulo? Terminou com um clima de final de história, né? Mas bem, não é o fim ainda... Pelos meus planos ainda vamos ter um capítulo narrado pela Laura... Assim, vou continuar pedindo por comentários, eles me animam a escrever e o quero que o último capítulo seja um fechamento com chave de ouro.